(UEFS 2013 - Meio do ano)
Houve uma árvore que pensava. E pensava muito. Um dia, transpuseram-na para a praça no centro da cidade. Fez-lhe bem a deferência. Ela entusiasmou-se, cresceu, agigantou-se.
Aí vieram os homens e podaram seus galhos. A árvore estranhou o fato e corrigiu seu crescimento, pensando estar na direção de seus galhos a causa da insatisfação dos homens. Mas, quando ela novamente se agigantou, os homens voltaram e novamente amputaram seus galhos.
A árvore queria satisfazer aos homens por julgá-los seus benfeitores, e parou de crescer. E como ela não crescesse mais, os homens a arrancaram da praça e colocaram outra em seu lugar.
FRANÇA JR. Oswaldo. As laranjas iguais. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p.17.
A leitura do miniconto permite afirmar:
A linguagem prolixa e metafórica do texto aproxima-o do movimento realista, que busca a denúncia das mazelas sociais.
Alguns elementos que compõem a estrutura narrativa desaparecem, como tempo e espaço, por ser um enredo curto e objetivo.
A narrativa metaforiza a insatisfação existencial do ser humano, ao revelar seu descontentamento diante da presença imponente e autônoma da natureza.
O narrador responsabiliza o homem pelos transtornos causados à natureza, que está personificada pela árvore de que trata o texto em análise.
A árvore acaba desistindo de tentar satisfazer o homem, por entender perfeitamente seu comportamento egoísta e seu descaso diante dos esforços feitos por ela a fim de agradá-lo.