(UEFS-BA-2013 - Meio do ano)
Agora, Fanfarrão, agora falo
contigo, e só contigo. Por que causa
ordenas que se faça uma cobrança
tão rápida e tão forte contra aqueles
que ao Erário só devem tênues somas?
Não tens contratadores, que ao rei devem
de mil cruzados centos e mais centos?
Uma só quinta parte que estes dessem,
não matava do Erário o grande empenho?
O pobre, porque é pobre, pague tudo,
e o rico, porque é rico, vai pagando
sem soldados à porta, com sossego!
Não era menos torpe, e mais prudente,
que os devedores todos se igualassem?
Que, sem haver respeito ao pobre ou rico,
metessem no Erário um tanto certo,
à proporção das somas que devessem?
Indigno, indigno chefe! Tu não buscas
o público interesse. Tu só queres
mostrar ao sábio augusto um falso zelo,
poupando, ao mesmo tempo, os devedores,
os grossos devedores, que repartem
contigo os cabedais, que são do reino.
CARTA VII, versos 246 a 268. In: OLIVEIRA, Tarquínio J. B. de. As Cartas Chilenas – fontes textuais. São Paulo: Referência, 1972. p. 175.
Erário: conjunto dos recursos financeiros públicos; os dinheiros e bens do Estado; tesouro, fazenda.
No fragmento das Cartas Chilenas, é possível reconhecer, como principal denúncia,
a pobreza que assola o Brasil do século XVIII e a indiferença dos administradores portugueses.
o tratamento desigual dado aos pobres e aos ricos da Colônia em relação às cobranças de impostos.
o comportamento bajulador dos ricos do Brasil-Colônia para não pagar seus impostos à Metrópole.
a denúncia de uma cobrança indevida aos pobres colonos por parte do administrador português da época.
os desmandos administrativos da Metrópole, que inverte a condição social dos colonos, ao transformar ricos em pobres.