(UERJ - 2016) A EDUCAO PELA SEDA Vestidos muito justos so vulgares. Revelar formas vulgar. Toda revelao de uma vulgaridade abominvel. Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar. STRAUSZ, Rosa.Mnimo mltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1990. O conto contrasta dois tipos de texto em sua estrutura. Enquanto o segundo pargrafo se configura como narrativo, o primeiro pargrafo se aproxima da seguinte tipologia
(UERJ -2016) No ltimo quadrinho, formula-se uma analogia moral, quando se sugere que no possvel ver tudo o que acontece frente dos olhos. A partir dessa analogia, pode-se chegar seguinte concluso:
(UERJ 2016) A ARTE DE ENGANAR Em seu livro Pernas pro ar, Eduardo Galeano recorda que, na era vitoriana, era proibido mencionar calas na presena de uma jovem. Hoje em dia, diz ele, no cai bem utilizar certas expresses perante a opinio pblica: O capitalismo exibe o nome artstico de economia de mercado; imperialismo se chama globalizao; suas vtimas se chamam pases em via de desenvolvimento; oportunismo se chama pragmatismo; despedir sem indenizao nem explicao se chama flexibilizao laboral etc. A lista longa. Acrescento os inmeros preconceitos que carregamos: ladro sonegador; lobista consultor; fracasso crise; especulao derivativo; latifndio agronegcio; desmatamento investimento rural; lavanderia de dinheiro escuso paraso fiscal; acumulao privada de riqueza democracia; socializao de bens ditadura; governar a favor da maioria populismo; tortura constrangimento ilegal; invaso interveno; peste pandemia; magricela anorxica. Eufemismo a arte de dizer uma coisa e acreditar que o pblico escuta ou l outra. um jeitinho de escamotear significados. De tentar encobrir verdades e realidades. Posso admitir que perteno terceira idade, embora esteja na cara: sou velho. Ora, poderia dizer que sou seminovo! Como carros em revendedoras de veculos. Todos velhos! Mas o adjetivo seminovo os torna mais vendveis. Coitadas das palavras! Elas so distorcidas para que a realidade, escamoteada, permanea como est. No conseguem, contudo, escapar da luta de classes: pobre ladro, rico corrupto. Pobre viciado, rico dependente qumico. Em suma, eufemismo um truque semntico para tentar amenizar os fatos. Frei Betto Adaptado de O Dia, 21/03/2015. Frei Betto inicia seu texto com uma citao do escritor uruguaio Eduardo Galeano, recorrendo a recurso comum de argumentao. Esse recurso constitui um argumento de:
(Uerj- 2016) Sobretudo compreendam os críticos a missão dos poetas, escritores e artistas, neste período especial e ambíguo da formação de uma nacionalidade. São estes os operários incumbidos de polir o talhe e as feições da individualidade que se vai esboçando no viver do povo. O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba pode falar com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera? José de Alencar, prefácio a Sonhos douro, 1872. Adaptado de ebooksbrasil.org. De acordo com José de Alencar, a caracterização da identidade nacional brasileira, no século XIX, estava vinculada ao processo de:
(UERJ - 2016) A EDUCAO PELA SEDA Vestidos muito justos so vulgares. Revelar formas vulgar. Toda revelao de uma vulgaridade abominvel. Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar. STRAUSZ, Rosa.Mnimo mltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1990. pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar. A expresso destacada refora o sentido geral do texto, porque remete a uma ao baseada no seguinte aspecto:
(Uerj 2016) A EDUCAÇÃO PELA SEDA Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abominável. Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar. Rosa Amanda Strausz Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990. A narrativa condensada do texto sugere uma crítica relacionada à educação, tema anunciado no título. Essa crítica dirige-se principalmente à seguinte característica geral da vida social:
(Uerj 2015) A crônica é um gênero textual que frequentemente usa uma linguagem maisinformal e próxima da oralidade, pouco preocupada com a rigidez da chamada norma culta.Um exemplo claro dessa linguagem informal, presente no texto, está em:
(UERJ -2015) SEPARAO Voltou-se e mirou-a como se fosse pela ltima vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremedivel. 1No ntimo, preferia no t-lo feito; mas ao chegar porta 2sentiu que 14nada poderia evitar a reincidncia daquela cena tantas vezes contada na histria do amor, que a histria do mundo. 10Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreenso e um anelo1, 15como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que no fosse e que no deixasse de ir, por isso que era tudo impossvel entre eles. (...) Seus olhares 4fulguraram por um instante um contra o outro, depois se 5acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que no havia nada a fazer. 6Disse-lhe adeus com doura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar2 aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas 16o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, 11sentindo o pranto formar-se muito longe em seu ntimo e subir em busca de espao, como um rio que nasce. 17Fechou os olhos, tentando adiantar-se agonia do momento, mas o fato de sab-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categricos3 de suas vidas, 12no lhe dava foras para desprender-se dela. 8Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrvel e dolorosa busca. Sabia, tambm, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua mquina de viver e ele teria, mesmo como um autmato, de sair, andar, fazer coisas, 9distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. 18E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que no era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele 7abenoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou 3imagin-la em sua dolorosa mudez, j envolta em seu espao prprio, perdida em suas cogitaes prprias um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas. 13De sbito, sentindo que ia explodir em lgrimas, correu para a rua e ps-se a andar sem saber para onde... MORAIS, Vincius de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrvel e dolorosa busca. (ref. 8) Neste trecho, existe um contraste que busca acentuar o seguinte trao relativo mulher amada:
(UERJ - 2015) SEPARAO Voltou-se e mirou-a como se fosse pela ltima vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremedivel. 1No ntimo, preferia no t-lo feito; mas ao chegar porta 2sentiu que 14nada poderia evitar a reincidncia daquela cena tantas vezes contada na histria do amor, que a histria do mundo. 10Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreenso e um anelo1, 15como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que no fosse e que no deixasse de ir, por isso que era tudo impossvel entre eles. (...) Seus olhares 4fulguraram por um instante um contra o outro, depois se 5acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que no havia nada a fazer. 6Disse-lhe adeus com doura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar2 aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas 16o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, 11sentindo o pranto formar-se muito longe em seu ntimo e subir em busca de espao, como um rio que nasce. 17Fechou os olhos, tentando adiantar-se agonia do momento, mas o fato de sab-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categricos3 de suas vidas, 12no lhe dava foras para desprender-se dela. 8Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrvel e dolorosa busca. Sabia, tambm, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua mquina de viver e ele teria, mesmo como um autmato, de sair, andar, fazer coisas, 9distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. 18E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que no era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele 7abenoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou 3imagin-la em sua dolorosa mudez, j envolta em seu espao prprio, perdida em suas cogitaes prprias um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas. 13De sbito, sentindo que ia explodir em lgrimas, correu para a rua e ps-se a andar sem saber para onde... MORAIS, Vincius de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986. A hiprbole uma figura empregada na crnica de Vincius de Morais para caracterizar o estado de nimo do personagem. Esta figura est exemplificada em:
(Uerj 2015) SEPARAÇÃO Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. 1No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta 2sentiu que 14nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é a história do mundo. 10Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo1, 15como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles. (...) Seus olhares 4fulguraram por um instante um contra o outro, depois se 5acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. 6Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar2 aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas 16o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, 11sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce. 17Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos3 de suas vidas, 12não lhe dava forças para desprender-se dela. 8Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, 9distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. 18E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele 7abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou 3imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas. 13De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde... MORAIS, Vinícius de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986. Uma metáfora pode ser construída pela combinação entre elementos abstratos e concretos. No texto, um exemplo de metáfora que se constrói por esse tipo de combinação é:
(Uerj 2015) CANÇÃO DO VER Fomos rever o poste. O mesmo poste de quando a gente brincava de pique e de esconder. 1Agora ele estava tão verdinho! O corpo recoberto de limo e borboletas. Eu quis filmar o abandono do poste. O seu estar parado. O seu não ter voz. O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com as mãos. Penso que a natureza o adotara em árvore. Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de passarinhos que um dia teriam cantado entre as suas folhas. Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos. Mas o mato era mudo. Agora o poste se inclina para o chão como alguém que procurasse o chão para repouso. Tivemos saudades de nós. Manoel de Barros Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. 1arrulos canto ou gemido de rolas e pombas No poema, o poste é associado à própria vida do eu poético. Nessa associação, a imagem do poste se constrói pelo seguinte recurso da linguagem:
(Uerj 2015) SEPARAÇÃO Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. 1No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta 2sentiu que 14nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é a história do mundo. 10Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo1, 15como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles. (...) Seus olhares 4fulguraram por um instante um contra o outro, depois se 5acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. 6Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar2 aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas 16o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, 11sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce. 17Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos3 de suas vidas, 12não lhe dava forças para desprender-se dela. 8Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, 9distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. 18E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele 7abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou 3imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas. 13De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde... MORAIS, Vinícius de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986. nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é a história do mundo. (ref. 14) O trecho sublinhado reformula uma expressão anterior. Essa reformulação explicita a seguinte relação de sentido:
(UERJ 2015) O Corpo Acrobata enredado Em clausura de pele Sem nenhuma ruptura Para onde me leva Sua estrutura? Doce mquina Com engrenagem de msculos Suspiro e rangido O espao devora Seu movimento (Braos e pernas sem exploso) Engenho de febre Sono e lembrana Que arma E desarma minha morte Em armadura de treva. Armando Freitas Filho A ausncia de pontuao nessa ltima estrofe do poema pode nos levar a diferentes leituras do texto. A nica interpretao incoerente desse trecho apresentada em:
(UERJ - 2015) O ARRASTO Estarrecedor, nefando, inominvel, infame. Gasto logo os adjetivos porque eles fracassam em dizer o sentimento que os fatos impem. Uma trabalhadora brasileira, descendente de escravos, como tantos, que cuida de quatro filhos e quatro sobrinhos, que parte para o trabalho s quatro e meia das manhs de todas as semanas, que administra com o marido um ganho de mil e seiscentos reais, que paga pontualmente seus carns, como milhes de trabalhadores brasileiros, baleada em circunstncias no esclarecidas no Morro da Congonha e, levada como carga no porta-malas de um carro policial a pretexto de ser atendida, arrastada morte, a cu aberto, pelo asfalto do Rio. No vou me deter nas verses apresentadas pelos advogados dos policiais.1Todas as vozes tero que ser ouvidas, e com muita ateno voz daqueles que nunca so ouvidos. Mas, antes das verses, o fato que esse porta-malas, ao se abrir fora do script, escancarou um real que est acostumado a existir na sombra. O marido de Cludia Silva Ferreira disse que, se o porta-malas no se abrisse como abriu (por obra do acaso, dos deuses, do diabo), esse seria apenas mais um caso.2Ele est dizendo: seria uma morte annima,3aplainada pela surdez da4praxe, pela invisibilidade, uma morte no questionada, como tantas outras. 5 uma imagem verdadeiramente surreal, no porque esteja fora da realidade, mas porque destampa, por um acaso objetivo (a expresso era usada pelos 6surrealistas), uma cena7recalcada da conscincia nacional, com tudo o que tem de violncia naturalizada e corriqueira, tratamento degradante dado aos pobres, estupidez elevada ao cmulo, ignorncia bruta transformada em trapalhada8transcendental, alm de um ndice grotesco de mtodos de camuflagem e desapario de pessoas.9Pois assim como10Amarildo aquele que desapareceu das vistas, e no faz muito tempo, Cludia aquela que subitamente salta vista, e ambos soam, queira-se ou no, como o verso e o reverso do mesmo. O acaso da queda de Cludia d a ver algo do que no pudemos ver no caso do desaparecimento de Amarildo. A sua passagem meterica pela tela um desfile do carnaval de horror que escondemos.11Aquele carro o carro alegrico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar para que no se transforme no carro alegrico do Brasil. Jos Miguel Wisnik Adaptado de oglobo.globo.com, 22/03/2014. 3 aplainada nivelada 4 praxe prtica, hbito 6 surrealistas participantes de movimento artstico do sculo 20 que enfatiza o papel do inconsciente 7 recalcada fortemente reprimida 8 transcendental que supera todos os limites 10 Amarildo pedreiro desaparecido na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013, depois de ser detido por policiais Aquele carro o carro alegrico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar para que no se transforme no carro alegrico do Brasil. (ref. 11) A sequncia do emprego dos artigos em de um Brasil e do Brasil representa uma relao de sentido entre as duas expresses, intimamente ligada a uma preocupao social por parte do autor do texto. Essa relao de sentido pode ser definida como:
(UERJ 2014/1) O tempo em que o mundo tinha a nossa idade 5Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos seus imprevistos improvisos.1As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. Nenhuma narração tinha fim, o sono lhe apagava a boca antes do desfecho.9Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso.6Não lhe deitávamos dentro da casa: ele sempre recusara cama feita.10Seu conceito era que a morte nos apanha deitados sobre a moleza de uma esteira. Leito dele era o puro chão, lugar onde a chuva também gosta de deitar. Nós simplesmente lhe encostávamos na parede da casa. Ali ficava até de manhã. Lhe encontrávamos coberto de formigas. Parece que os insectos gostavam do suor docicado do velho Taímo.7Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele. Chiças: transpiro mais que palmeira! Proferia tontices enquanto ia acordando.8Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos. Taímo nos sacudia a nós, incomodado por lhe dedicarmos cuidados. 2Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. Como dormia fora, nem dávamos conta. Minha mãe, manhã seguinte, é que nos convocava: Venham: papá teve um sonho! 3E nos juntávamos, todos completos, para escutar as verdades que lhe tinham sido reveladas. Taímo recebia notícia do futuro por via dos antepassados. Dizia tantas previsões que nem havia tempo de provar nenhuma. Eu me perguntava sobre a verdade daquelas visões do velho, estorinhador como ele era. Nem duvidem, avisava mamã, suspeitando-nos. E assim seguia nossa criancice, tempos afora.4Nesses anos ainda tudo tinha sentido: a razão deste mundo estava num outro mundo inexplicável.11Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois mundos. (...) Mia Couto Terra sonâmbula. São Paulo, Cia das Letras, 2007 Um elemento importante na organização do texto é o uso de algumas personificações.Uma dessas personificações encontra-se em: