(UFU - 2018 - 2ª FASE)
— A quem estais carregando,
irmãos das almas,
embrulhado nessa rede?
dizei que eu saiba.
— A um defunto de nada,
irmão das almas,
que há muitas horas viaja
à sua morada.
(...)
— E de onde que o estais trazendo,
irmãos das almas,
onde foi que começou
vossa jornada?
— Onde a caatinga é mais seca,
irmão das almas,
onde uma terra que não dá
nem planta brava.
— E foi morrida essa morte,
irmãos das almas,
essa foi morte morrida
ou foi matada?
— Até que não foi morrida,
irmão das almas,
esta foi morte matada,
numa emboscada.
— E o que guardava a emboscada,
irmão das almas
e com que foi que o mataram,
com faca ou bala?
— Este foi morto de bala,
irmão das almas,
mas garantido é de bala,
mais longe vara.
— E quem foi que o emboscou,
irmãos das almas,
quem contra ele soltou
essa ave-bala?
— Ali é difícil dizer,
irmão das almas,
sempre há uma bala voando
desocupada.
NETO. João Cabral de Melo. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
A) Levando-se em consideração o trecho de Morte e vida severina, aponte três recursos estruturais como, por exemplo, sonoridade e ritmo, que evidenciam a construção do texto.
B) Texto crítico, que evidencia um universo desesperançado, Morte e vida severina estabelece, por meio de seus versos, várias críticas a mazelas sociais. Com base na obra e no excerto, explique a metáfora da ave-bala.