(UNB - 2018)
Texto I
Não há nada que diferencie tanto a sociedade ocidental de nossos dias das sociedades mais antigas da Europa e do Oriente do que o conceito de tempo. Tanto para os antigos gregos e chineses quanto para os nômades árabes ou para o peão mexicano de hoje, o tempo é representado pelos processos cíclicos da natureza, pela sucessão dos dias e das noites, pela passagem das estações. Os nômades e os fazendeiros costumavam medir e ainda hoje o fazem seu dia do amanhecer até o crepúsculo e os anos em termos de tempo de plantar e de colher, das folhas que caem e do gelo derretendo nos lagos e rios. O homem do campo trabalhava em harmonia com os elementos, como um artesão, durante tanto tempo quanto julgasse necessário. O homem ocidental civilizado, entretanto, vive num mundo que gira de acordo com os símbolos mecânicos e matemáticos das horas marcadas pelo relógio. É ele que vai determinar seus movimentos e dificultar suas ações. O relógio transformou o tempo, transformando o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um sabonete ou um punhado de passas de uvas. Se não houvesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria continuado a explorar os trabalhadores. O relógio representa um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou do que qualquer outra máquina.
O homem que não conseguir ajustar se deve enfrentar a desaprovação da sociedade e a ruína econômica a menos que abandone tudo, passando a ser um dissidente para o qual o tempo deixa de ser importante. O operário transforma se em um especialista em “olhar o relógio”, preocupado apenas em saber quando poderá escapar para gozar as escassas e monótonas formas de lazer que a sociedade industrial lhe proporciona; para “matar o tempo”, programará tantas atividades mecânicas com tempo marcado como ir ao cinema, ouvir rádio e ler jornais quanto permitir o seu salário e o seu cansaço. Agora são os movimentos do relógio que vão determinar o ritmo da vida do ser humano.
George Woodcock. A ditadura do relógio. In: Os grandes escritos anarquistas. Porto Alegre: L&PM Editores (com adaptações).
Texto II
Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas como cousas.
Não quero separá las de si próprias, tratando as por presentes.
(...)
Alberto Caeiro. In: Poemas Inconjuntos. Internet: <www.dominiopublico.gov.br>.
Texto III
Norbert Elias afirma que são necessários vários anos para aprender o que o tempo realmente é. Crianças levam nove anos para aprender a compreender os complicados mecanismos de representação do tempo, os relógios. Para o autor, é interessante, ainda, como, uma vez que o processo termina, as pessoas tendem a esquecer se de como foi complexo entender o mecanismo do “tempo”.
In: Kant e Prints. Campinas, Série 2, v. 4, n. 1, p. 109 119, jan. jun./2009 (traduzido e adaptado).
Considerando que os textos e as imagens apresentados têm caráter unicamente motivador, redija, utilizando a modalidade padrão da língua escrita, um texto expositivo-argumentativo sobre o seguinte tema.
A PRESSA NOSSA DE CADA DIA: O TEMPO NA CONTEMPORANEIDADE