(UNESP - 2014/2 - 1a fase)
A viagem levou uns vinte minutos. O caminhão parou; via-se um grande portão e, em cima do portão, uma frase bem iluminada (cuja lembrança ainda hoje me atormenta nos sonhos): ARBEIT MACHT FREI – o trabalho liberta.
Descemos, fazem-nos entrar numa sala ampla, nua e fracamente aquecida. Que sede! O leve zumbido da água nos canos da calefação nos enlouquece: faz quatro dias que não bebemos nada. Há uma torneira e, acima, um cartaz: proibido beber, água poluída. Besteira: é óbvio que o aviso é um deboche. “Eles” sabem que estamos morrendo de sede [...]. Bebo, e convido os companheiros a beber também, mas logo cuspo fora a água: está morna, adocicada, com cheiro de pântano.
Isto é o inferno. Hoje, em nossos dias, o inferno deve ser assim: uma sala grande e vazia, e nós, cansados, de pé, diante de uma torneira gotejante, mas que não tem água potável, esperando algo certamente terrível acontecer, e nada acontece, e continua não acontecendo nada.
(Primo Levi. É isto um homem?, 1988.)
A descrição, por Primo Levi, de sua chegada a Auschwitz em 1944 revela
o reconhecimento da própria culpa, por um prisioneiro recolhido a um campo de concentração nazista.
o alívio com o fim da viagem em direção à prisão e a aceitação das condições de vida existentes no campo de concentração.
a expectativa de que, apesar dos problemas na chegada, houvesse tratamento digno aos prisioneiros dos campos de concentração.
a falta de entendimento do funcionamento do campo de concentração e a disposição de colaborar com as autoridades nazistas.
a sensação de horror, angústia e submissão que caracterizavam a condição dos prisioneiros nos campos de concentração nazistas.