(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia o excerto deAuto da Barca do Infernodo escritor portugus Gil Vicente (1465?-1536?). A pea prefigura o destino das almas que chegam a um brao de mar onde se encontram duas barcas (embarcaes): uma destinada ao Paraso, comandada pelo anjo, e outra destinada ao Inferno, comandada pelo diabo. Vem um Frade com uma Moa pela mo []; e ele mesmo fazendo a baixa1comeou a danar, dizendo FRADE: Tai-rai-rai-ra-r ta-ri-ri-r; Tai-rai-rai-ra-r ta-ri-ri-r; T-t-ta-ri-rim-rim-r, huha! DIABO: Que isso, padre? Quem vai l? FRADE:Deo gratias2!Sou corteso. Diabo: Danas tambm o tordio3? FRADE: Por que no? V como sei. DIABO: Pois entrai, eu tangerei4e faremos um sero. E essa dama, porventura? FRADE: Por minha a tenho eu, e sempre a tive de meu. DIABO: Fizeste bem, que lindura! No vos punham l censura no vosso convento santo? FRADE: E eles fazem outro tanto! DIABO: Que preciosa clausura5! Entrai, padre reverendo! FRADE: Para onde levais gente? DIABO: Para aquele fogo ardente que no temestes vivendo. FRADE: Juro a Deus que no te entendo! E este hbito6no me vai7? DIABO: Gentil padre mundanal8, a Belzebu vos encomendo! FRADE: Corpo de Deus consagrado! Pela f de Jesus Cristo, que eu no posso entender isto! Eu hei de ser condenado? Um padre to namorado e tanto dado virtude? Assim Deus me d sade, que eu estou maravilhado! DIABO: No faamos mais detena9embarcai e partiremos; tomareis um par de remos. FRADE: No ficou isso na avena10. DIABO: Pois dada est j a sentena! FRADE: Por Deus! Essa seria ela? No vai em tal caravela minha senhora Florena? Como? Por ser namorado e folgar cuma mulher? Se h um frade de perder, com tanto salmo rezado?! DIABO: Ora ests bem arranjado! FRADE: Mas ests tu bem servido. DIABO: Devoto padre e marido, haveis de ser c pingado11 (Auto da Barca do Inferno, 2007.) 1baixa: dana popular no sculo XVI. 2Deo gratias: graas a Deus. 3tordio: outra dana popular no sculo XVI. 4tanger: fazer soar um instrumento. 5clausura: convento. 6hbito: traje religioso. 7val: vale. 8mundanal: mundano. 9detena: demora. 10avena: acordo. 11ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo (segundo o imaginrio popular, processo de tortura que ocorreria no inferno). No excerto, o escritor satiriza, sobretudo,
(UNESP - 2017/2 - 1 FASE) Leia o soneto Alma minha gentil, que te partiste, do poeta portugus Lus de Cames (1525?-1580) Alma minha gentil, que te partiste to cedo desta vida descontente, repousa l no Cu eternamente, e viva eu c na terra sempre triste Se l no assento etreo, onde subiste, memria desta vida se consente, no te esqueas daquele amor ardente que j nos olhos meus to puro viste. E se vires que pode merecer-te alguma coisa a dor que me ficou da mgoa, sem remdio, de perder-te, roga a Deus, que teus anos encurtou, que to cedo de c me leve a ver-te, quo cedo de meus olhos te levou. (Sonetos, 2001.) Embora predomine no soneto uma viso espiritualizada da mulher (em conformidade com o chamado platonismo), verifica-se certa sugesto ertica no seguinte verso:
(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia o excerto deAuto da Barca do Infernodo escritor portugus Gil Vicente (1465?-1536?). A pea prefigura o destino das almas que chegam a um brao de mar onde se encontram duas barcas (embarcaes): uma destinada ao Paraso, comandada pelo anjo, e outra destinada ao Inferno, comandada pelo diabo. Vem um Frade com uma Moa pela mo []; e ele mesmo fazendo a baixa1comeou a danar, dizendo FRADE: Tai-rai-rai-ra-r ta-ri-ri-r; Tai-rai-rai-ra-r ta-ri-ri-r; T-t-ta-ri-rim-rim-r, huha! DIABO: Que isso, padre? Quem vai l? FRADE:Deo gratias2!Sou corteso. Diabo: Danas tambm o tordio3? FRADE: Por que no? V como sei. DIABO: Pois entrai, eu tangerei4e faremos um sero. E essa dama, porventura? FRADE: Por minha a tenho eu, e sempre a tive de meu. DIABO: Fizeste bem, que lindura! No vos punham l censura no vosso convento santo? FRADE: E eles fazem outro tanto! DIABO: Que preciosa clausura5! Entrai, padre reverendo! FRADE: Para onde levais gente? DIABO: Para aquele fogo ardente que no temestes vivendo. FRADE: Juro a Deus que no te entendo! E este hbito6no me vai7? DIABO: Gentil padre mundanal8, a Belzebu vos encomendo! FRADE: Corpo de Deus consagrado! Pela f de Jesus Cristo, que eu no posso entender isto! Eu hei de ser condenado? Um padre to namorado e tanto dado virtude? Assim Deus me d sade, que eu estou maravilhado! DIABO: No faamos mais detena9embarcai e partiremos; tomareis um par de remos. FRADE: No ficou isso na avena10. DIABO: Pois dada est j a sentena! FRADE: Por Deus! Essa seria ela? No vai em tal caravela minha senhora Florena? Como? Por ser namorado e folgar cuma mulher? Se h um frade de perder, com tanto salmo rezado?! DIABO: Ora ests bem arranjado! FRADE: Mas ests tu bem servido. DIABO: Devoto padre e marido, haveis de ser c pingado11 (Auto da Barca do Inferno, 2007.) 1baixa: dana popular no sculo XVI. 2Deo gratias: graas a Deus. 3tordio: outra dana popular no sculo XVI. 4tanger: fazer soar um instrumento. 5clausura: convento. 6hbito: traje religioso. 7val: vale. 8mundanal: mundano. 9detena: demora. 10avena: acordo. 11ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo (segundo o imaginrio popular, processo de tortura que ocorreria no inferno). No excerto, o trao mais caracterstico do diabo
(UNESP - 2017/2 - 1 FASE) Leia o soneto Alma minha gentil, que te partiste, do poeta portugus Lus de Cames (1525?-1580) Alma minha gentil, que te partiste to cedo desta vida descontente, repousa l no Cu eternamente, e viva eu c na terra sempre triste. Se l no assento etreo, onde subiste, memria desta vida se consente, no te esqueas daquele amor ardente que j nos olhos meus to puro viste. E se vires que pode merecer-te alguma coisa a dor que me ficou da mgoa, sem remdio, de perder-te, roga a Deus, que teus anos encurtou, que to cedo de c me leve a ver-te, quo cedo de meus olhos te levou. (Sonetos, 2001.) De modo indireto, o soneto camoniano acaba tambm por explorar o tema da
(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia o excerto deAuto da Barca do Infernodo escritor portugus Gil Vicente (1465?-1536?). A pea prefigura o destino das almas que chegam a um brao de mar onde se encontram duas barcas (embarcaes): uma destinada ao Paraso, comandada pelo anjo, e outra destinada ao Inferno, comandada pelo diabo. Vem um Frade com uma Moa pela mo []; e ele mesmo fazendo a baixa1comeou a danar, dizendo FRADE: Tai-rai-rai-ra-r ta-ri-ri-r; Tai-rai-rai-ra-r ta-ri-ri-r; T-t-ta-ri-rim-rim-r, huha! DIABO: Que isso, padre? Quem vai l? FRADE:Deo gratias2!Sou corteso. Diabo: Danas tambm o tordio3? FRADE: Por que no? V como sei. DIABO: Pois entrai, eu tangerei4e faremos um sero. E essa dama, porventura? FRADE: Por minha a tenho eu, e sempre a tive de meu. DIABO: Fizeste bem, que lindura! No vos punham l censura no vosso convento santo? FRADE: E eles fazem outro tanto! DIABO: Que preciosa clausura5! Entrai, padre reverendo! FRADE: Para onde levais gente? DIABO: Para aquele fogo ardente que no temestes vivendo. FRADE: Juro a Deus que no te entendo! E este hbito6no me vai7? DIABO: Gentil padre mundanal8, a Belzebu vos encomendo! FRADE: Corpo de Deus consagrado! Pela f de Jesus Cristo, que eu no posso entender isto! Eu hei de ser condenado? Um padre to namorado e tanto dado virtude? Assim Deus me d sade, que eu estou maravilhado! DIABO: No faamos mais detena9embarcai e partiremos; tomareis um par de remos. FRADE: No ficou isso na avena10. DIABO: Pois dada est j a sentena! FRADE: Por Deus! Essa seria ela? No vai em tal caravela minha senhora Florena? Como? Por ser namorado e folgar cuma mulher? Se h um frade de perder, com tanto salmo rezado?! DIABO: Ora ests bem arranjado! FRADE: Mas ests tu bem servido. DIABO: Devoto padre e marido, haveis de ser c pingado11 (Auto da Barca do Inferno, 2007.) 1baixa: dana popular no sculo XVI. 2Deo gratias: graas a Deus. 3tordio: outra dana popular no sculo XVI. 4tanger: fazer soar um instrumento. 5clausura: convento. 6hbito: traje religioso. 7val: vale. 8mundanal: mundano. 9detena: demora. 10avena: acordo. 11ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo (segundo o imaginrio popular, processo de tortura que ocorreria no inferno). Com a fala E eles fazem outro tanto!, o frade sugere que seus companheiros de convento
(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia o excerto de Auto da Barca do Inferno do escritor portugus Gil Vicente (1465?-1536?). A pea prefigura o destino das almas que chegam a um brao de mar onde se encontram duas barcas (embarcaes): uma destinada ao Paraso, comandada pelo anjo, e outra destinada ao Inferno, comandada pelo diabo. Vem um Frade com uma Moa pela mo []; e ele mesmo fazendo a baixa1comeou a danar, dizendo FRADE: Tai-rai-rai-ra-r ta-ri-ri-r; Tai-rai-rai-ra-r ta-ri-ri-r; T-t-ta-ri-rim-rim-r, huha! DIABO: Que isso, padre? Quem vai l? FRADE:Deo gratias2!Sou corteso. Diabo: Danas tambm o tordio3? FRADE: Por que no? V como sei. DIABO: Pois entrai, eu tangerei4e faremos um sero. E essa dama, porventura? FRADE: Por minha a tenho eu, e sempre a tive de meu. DIABO: Fizeste bem, que lindura! No vos punham l censura no vosso convento santo? FRADE: E eles fazem outro tanto! DIABO: Que preciosa clausura5! Entrai, padre reverendo! FRADE: Para onde levais gente? DIABO: Para aquele fogo ardente que no temestes vivendo. FRADE: Juro a Deus que no te entendo! E este hbito6no me vai7? DIABO: Gentil padre mundanal8, a Belzebu vos encomendo! FRADE: Corpo de Deus consagrado! Pela f de Jesus Cristo, que eu no posso entender isto! Eu hei de ser condenado? Um padre to namorado e tanto dado virtude? Assim Deus me d sade, que eu estou maravilhado! DIABO: No faamos mais detena9embarcai e partiremos; tomareis um par de remos. FRADE: No ficou isso na avena10. DIABO: Pois dada est j a sentena! FRADE: Por Deus! Essa seria ela? No vai em tal caravela minha senhora Florena? Como? Por ser namorado e folgar cuma mulher? Se h um frade de perder, com tanto salmo rezado?! DIABO: Ora ests bem arranjado! FRADE: Mas ests tu bem servido. DIABO: Devoto padre e marido, haveis de ser c pingado11 (Auto da Barca do Inferno, 2007.) 1baixa: dana popular no sculo XVI. 2Deo gratias: graas a Deus. 3tordio: outra dana popular no sculo XVI. 4tanger: fazer soar um instrumento. 5clausura: convento. 6hbito: traje religioso. 7val: vale. 8mundanal: mundano. 9detena: demora. 10avena: acordo. 11ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo (segundo o imaginrio popular, processo de tortura que ocorreria no inferno). Assinale a alternativa cuja mxima est em conformidade com o excerto e com a proposta do teatro de Gil Vicente.
(UNESP - 2017/2 - 1 FASE) Leia o soneto Alma minha gentil, que te partiste, do poeta portugus Lus de Cames (1525?-1580) Alma minha gentil, que te partiste to cedo desta vida descontente, repousa l no Cu eternamente, e viva eu c na terra sempre triste. Se l no assento etreo, onde subiste, memria desta vida se consente, no te esqueas daquele amor ardente que j nos olhos meus to puro viste. E se vires que pode merecer-te alguma coisa a dor que me ficou da mgoa, sem remdio, de perder-te, roga a Deus, que teus anos encurtou, que to cedo de c me leve a ver-te, quo cedo de meus olhos te levou. (Sonetos, 2001.) Se l no assento etreo, onde subiste, memria desta vida se consente, (2 estrofe) Os termos destacados constituem
(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia o soneto XLVI, de Cludio Manuel da Costa (1729-1789). No vs, Lise, brincar esse menino Com aquela avezinha? Estende o brao, Deixa-a fugir, mas apertando o lao, A condena outra vez ao seu destino. Nessa mesma figura, eu imagino, Tens minha liberdade, pois ao passo Que cuido que estou livre do embarao, Ento me prende mais meu desatino. Em um contnuo giro o pensamento Tanto a precipitar-me se encaminha, Que no vejo onde pare o meu tormento. Mas fora menos mal esta nsia minha, Se me faltasse a mim o entendimento, Como falta a razo a esta avezinha. (Domcio Proena Filho (org.). A poesia dos inconfidentes, 1996.) O tom predominante no soneto de
(UNESP - 2017/2 - 1 FASE) A veia satrica do poeta portugus Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805) est bem exemplificada nos seguintes versos:
(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia o soneto XLVI, de Cludio Manuel da Costa (1729-1789). No vs, Lise, brincar esse menino Com aquela avezinha? Estende o brao, Deixa-a fugir, mas apertando o lao, A condena outra vez ao seu destino. Nessa mesma figura, eu imagino, Tens minha liberdade, pois ao passo Que cuido que estou livre do embarao, Ento me prende mais meu desatino. Em um contnuo giro o pensamento Tanto a precipitar-me se encaminha, Que no vejo onde pare o meu tormento. Mas fora menos mal esta nsia minha, Se me faltasse a mim o entendimento, Como falta a razo a esta avezinha. (Domcio Proena Filho (org.).A poesia dos inconfidentes, 1996.) No soneto, o menino e a avezinha, mencionados na primeira estrofe, so comparados, respectivamente,
(UNESP - 2017/2 - 1 FASE) Desde j a cincia entra, portanto, no nosso domnio de romancistas, ns que somos agora analistas do homem, em sua ao individual e social. Continuamos, pelas nossas observaes e experincias, o trabalho do fisilogo que continuou o do fsico e o do qumico. Praticamos, de certa forma, a Psicologia cientfica, para completar a Fisiologia cientfica; e, para acabar a evoluo, temos to somente que trazer para nossos estudos sobre a natureza e o homem o instrumento decisivo do mtodo experimental. Em uma palavra, devemos trabalhar com os caracteres, as paixes, os fatos humanos e sociais, como o qumico e o fsico trabalham com os corpos brutos, como o fisilogo trabalha com os corpos vivos. O determinismo domina tudo. a investigao cientfica, o raciocnio experimental que combate, uma por uma, as hip- teses dos idealistas, e substitui os romances de pura imaginao pelos romances de observao e de experimentao. (mile Zola. O romance experimental, 1982. Adaptado.) Depreendem-se do comentrio do escritor francs mile Zola preceitos que orientam a corrente literria
(UNESP - 2017/2 - 1FASE) Leia o trecho extrado do artigo Cosmologia, 100, de Antonio Augusto Passos Videira e Cssio Leite Vieira Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, rdua e sinuosa. A frase que tem algo da essncia do hoje clssico A estrada no percorrida (1916), do poeta norte-americano Robert Frost (1874-1963) est em um artigo cientfico publicado h cem anos, cujo teor constitui um marco histrico da civilizao. Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos depois de o Homo sapiens deixar uma mo com tinta estampada em uma pedra, a humanidade era capaz de descrever matematicamente a maior estrutura conhecida: o Universo. A faanha intelectual levava as digitais de Albert Einstein (1879-1955). Ao terminar aquele artigo de 1917, o fsico de origem alem escreveu a um colega dizendo que o que produzira o habilitaria a ser internado em um hospcio. Mais tarde, referiu-se ao arcabouo terico que havia construdo como um castelo alto no ar. O Universo que saltou dos clculos de Einstein tinha trs caractersticas bsicas: era finito, sem fronteiras e esttico o derradeiro trao alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein nas dcadas seguintes. Em Consideraes Cosmolgicas na Teoria da Relatividade Geral, publicado em fevereiro de 1917 nos Anais da Academia Real Prussiana de Cincias, o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes: a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema terico j classificado como a maior contribuio intelectual de uma s pessoa cultura humana. Esse bloco matemtico impenetrvel (mesmo para fsicos) nada mais do que uma teoria que explica os fenmenos gravitacionais. Por exemplo, por que a Terra gira em torno do Sol ou por que um buraco negro devora avidamente luz e matria. Com a introduo da relatividade geral, a teoria da gravitao do fsico britnico Isaac Newton (1642-1727) passou a ser um caso especfico da primeira, para situaes em que massas so bem menores do que as das estrelas e em que a velocidade dos corpos muito inferior da luz no vcuo (300 mil km/s). Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917), impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma pequena joia, Teoria da Relatividade Especial e Geral, na qual populariza suas duas teorias, incluindo a de 1905 (especial), na qual mostrara que, em certas condies, o espao pode encurtar, e o tempo, dilatar. Tamanho esforo intelectual e total entrega ao raciocnio cobraram seu pedgio: Einstein adoeceu, com problemas no fgado, ictercia e lcera. Seguiu debilitado at o final daquela dcada. Se deslocados de sua poca, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta. Porm, a historiadora da cincia britnica Patricia Fara lembra que aqueles eram tempos de cosmologias, de vises globais sobre temas cientficos. Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do gelogo alemo Alfred Wegener (1880-1930), marcada por uma viso cosmolgica da Terra. Fara d a entender que vrias reas da cincia, naquele incio de sculo, passaram a olhar seus objetos de pesquisa por meio de um prisma mais amplo, buscando dados e hipteses em outros campos do conhecimento. Folha de S.Paulo, 01.01.2017. Adaptado. Ao escrever a seu colega dizendo que o que produzira o habilitaria a ser internado em um hospcio (3pargrafo), Einstein reconhece, em relao ao artigo de 1917, seu carter
(UNESP - 2017 - 1 FASE) Os parnasianos brasileiros se distinguem dos romnticos pela atenuao da subjetividade e do sentimentalismo, pela ausncia quase completa de interesse poltico no contexto da obra e pelo cuidado da escrita, aspirando a uma expresso de tipo plstico. (Antonio Candido. Iniciao literatura brasileira, 2010. Adaptado.) A referida atenuao da subjetividade e do sentimentalismo est bem exemplificada na seguinte estrofe do poeta parnasiano Alberto de Oliveira (1859-1937):
(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia o excerto do livroViolncia urbana, de Paulo Srgio Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida. De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos. Evite falar com estranhos. noite, no saia para caminhar, principalmente se estiver sozinho e seu bairro for deserto. Quando estacionar, tranque bem as portas do carro [...]. De madrugada, no pare em sinal vermelho. Se for assaltado, no reaja entregue tudo. provvel que voc j esteja exausto de ler e ouvir vrias dessas recomendaes. Faz tempo que a ideia de integrar uma comunidade e sentir-se confiante e seguro por ser parte de um coletivo deixou de ser um sentimento comum aos habitantes das grandes cidades brasileiras. As noes de segurana e de vida comunitria foram substitudas pelo sentimento de insegurana e pelo isolamento que o medo impe. O outro deixa de ser visto como parceiro ou parceira em potencial; o desconhecido encarado como ameaa. O sentimento de insegurana transforma e desfigura a vida em nossas cidades. De lugares de encontro, troca, comunidade, participao coletiva, as moradias e os espaos pblicos transformam-se em palco do horror, do pnico e do medo. A violncia urbana subverte e desvirtua a funo das cidades, drena recursos pblicos j escassos, ceifa vidas especialmente as dos jovens e dos mais pobres , Dilacera famlias, modificando nossas existncias dramaticamente para pior. De potenciais cidados, passamos a ser consumidores do medo. O que fazer diante desse quadro de insegurana e pnico, denunciado diariamente pelos jornais e alardeado pela mdia eletrnica? Qual tarefa impe-se aos cidados, na democracia e no Estado de direito? (Violncia urbana,2003.) O modo de organizao do discurso predominante no excerto
(UNESP - 2017/2 - 1FASE) Leia o trecho extrado do artigo Cosmologia, 100, de Antonio Augusto Passos Videira e Cssio Leite Vieira Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, rdua e sinuosa. A frase que tem algo da essncia do hoje clssico A estrada no percorrida (1916), do poeta norte-americano Robert Frost (1874-1963) est em um artigo cientfico publicado h cem anos, cujo teor constitui um marco histrico da civilizao. Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos depois de o Homo sapiens deixar uma mo com tinta estampada em uma pedra, a humanidade era capaz de descrever matematicamente a maior estrutura conhecida: o Universo. A faanha intelectual levava as digitais de Albert Einstein (1879-1955). Ao terminar aquele artigo de 1917, o fsico de origem alem escreveu a um colega dizendo que o que produzira o habilitaria a ser internado em um hospcio. Mais tarde, referiu-se ao arcabouo terico que havia construdo como um castelo alto no ar. O Universo que saltou dos clculos de Einstein tinha trs caractersticas bsicas: era finito, sem fronteiras e esttico o derradeiro trao alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein nas dcadas seguintes. Em Consideraes Cosmolgicas na Teoria da Relatividade Geral, publicado em fevereiro de 1917 nos Anais da Academia Real Prussiana de Cincias, o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes: a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema terico j classificado como a maior contribuio intelectual de uma s pessoa cultura humana. Esse bloco matemtico impenetrvel (mesmo para fsicos) nada mais do que uma teoria que explica os fenmenos gravitacionais. Por exemplo, por que a Terra gira em torno do Sol ou por que um buraco negro devora avidamente luz e matria. Com a introduo da relatividade geral, a teoria da gravitao do fsico britnico Isaac Newton (1642-1727) passou a ser um caso especfico da primeira, para situaes em que massas so bem menores do que as das estrelas e em que a velocidade dos corpos muito inferior da luz no vcuo (300 mil km/s). Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917), impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma pequena joia, Teoria da Relatividade Especial e Geral, na qual populariza suas duas teorias, incluindo a de 1905 (especial), na qual mostrara que, em certas condies, o espao pode encurtar, e o tempo, dilatar. Tamanho esforo intelectual e total entrega ao raciocnio cobraram seu pedgio: Einstein adoeceu, com problemas no fgado, ictercia e lcera. Seguiu debilitado at o final daquela dcada. Se deslocados de sua poca, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta. Porm, a historiadora da cincia britnica Patricia Fara lembra que aqueles eram tempos de cosmologias, de vises globais sobre temas cientficos. Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do gelogo alemo Alfred Wegener (1880-1930), marcada por uma viso cosmolgica da Terra. Fara d a entender que vrias reas da cincia, naquele incio de sculo, passaram a olhar seus objetos de pesquisa por meio de um prisma mais amplo, buscando dados e hipteses em outros campos do conhecimento. Folha de S.Paulo, 01.01.2017. Adaptado. Em Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, rdua e sinuosa. (1o pargrafo), o termo destacado exerce a mesma funo sinttica do trecho destacado em: