(ENEM - 2009)
A partida
Acordei pela madrugada. A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três.
Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais nem uma hora naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor. Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus?
LINS, Osman. "A partida". Melhores contos. Seleção e prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.
No texto, o personagem-narrador, na iminência da partida, descreve a sua hesitação em separar-se da avó. Esse sentimento contraditório fica claramente expresso no trecho:
“A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir” (ℓ. 1-2).
“Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco” (ℓ. 4-5).
“Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama” (ℓ. 11-12).
“Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e amor” (ℓ. 7-9).
“Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras...” (ℓ. 13-14).