(ENEM - 2015)
Aquarela
O corpo no cavalete
é um pássaro que agoniza
exausto do próprio grito.
As vísceras vasculhadas
principiam a contagem
regressiva.
No assoalho o sangue
se decompõe em matizes
que a brisa beija e balança:
o verde – de nossas matas
o amarelo – de nosso ouro
o azul – de nosso céu
o branco o negro o negro
CACASO. In: HOLLANDA, H. B (Org.). 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.
Situado na vigência do Regime Militar que governou o Brasil, na década de 1970, o poema de Cacaso edifica uma forma de resistência e protesto a esse período, metaforizando
as artes plásticas, deturpadas pela repressão e censura.
a natureza brasileira, agonizante como um pássaro enjaulado.
o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexidade com a Ditadura.
o emblema nacional, transfigurado pelas marcas do medo e da violência.
as riquezas da terra, espoliadas durante o aparelhamento do poder armado.