(ITA - 2004 - 1ª FASE)
TEXTO 1
Valorizar o professor do ciclo básico
1Como não sou perito em futurologia, devo limitar-me a fazer um exercício de observação. Presto atenção ao que se passa na escola hoje e suponho que, daqui a 525 anos, as tendências atuais persistirão 6com maior ou menor intensidade. Provavelmente, 7o analfabetismo dos adultos 8terá sido erradicado e o acesso à instrução 9primária terá sido generalizado.
10Tudo indica que a demanda continuará 11a crescer em relação ao ensino secundário 12e superior. Se os poderes públicos 13não investirem sistematicamente na 14expansão desses dois níveis, a escola 15média e a universidade serão, em grande parte, privatizadas.
16A educação a distância será promovida tanto pelo Estado como pelas instituições particulares. Essa alteração no uso de 20espaços escolares tradicionais levará a resultados contraditórios. De um lado, aumentará o número de informações e instrumentos didáticos de alta precisão. 24De outro lado, a elaboração pessoal dos 25dados e a sua crítica poderão sofrer com a 26falta de um diálogo sustentado face a face 27entre o professor e o aluno.
28É preciso pensar, desde já, nesse desafio que significa aliar eficiência técnica e 30profundidade ou densidade cultural.
31O risco das avaliações sumárias, por meio de testes, crescerá, pois os processos informáticos visam a poupar tempo e reduzir os campos de ambiguidade e 35incerteza. Com isso, ficaria ainda mais raro o saber que duvida e interroga, esperando com paciência, até vislumbrar uma razão que não se esgote no simplismo 39do certo versus errado. Poderemos ter 40especialistas cada vez mais peritos nas 41suas áreas e massas cada vez mais incapazes de entender o mundo que as rodeia. De todo modo, o futuro depende, em larga escala, do que pensamos e fazemos no 45presente.
46Uma coisa me parece certa: o professor do ciclo básico deve ser valorizado em termos de preparação e salário, caso contrário, os mais belos planos ruirão como 50castelos de cartas.
(BOSI, Alfredo. Caderno Sinapse. Folha de S. Paulo, 29/07/2003.)
TEXTO 2
Diretrizes de salvação para a Universidade Pública
1"... poder-se-ia alegar que não é muito 2bom o ensino das matérias que se costuma 3lecionar nas universidades. Todavia, não 4fossem essas instituições, tais matérias 5geralmente não teriam sido sequer ensinadas, 6e tanto o indivíduo como a sociedade 7sofreriam muito com a falta delas..."
Adam Smith
(...) A grande característica distintiva 10de uma Universidade pública reside na sua qualidade geradora de bens públicos. 12Estes, por definição, são bens cujo 13usufruto é necessariamente coletivo e 14não podem ser apropriados exclusivamente 15por ninguém em particular.
16Quanto ao grau de abrangência, os 17bens públicos podem ser classificados em 18locais, nacionais ou universais.
19O corpo de bombeiros de uma cidade, 20por exemplo, é um bem público local, o serviço da guarda costeira de um país é um bem público nacional, ao passo que a proteção de áreas ambientais importantes do planeta, como a Amazônia, 25deve ser vista como bem público universal, assim como qualquer outra atividade protetora de patrimônios da humanidade ou de segurança global, como é o caso da proteção contra vírus de computador, 30para citar um exemplo mais atual, 31embora ainda não plenamente 32reconhecido.
33Incluem-se no elenco dos bens públicos as atividades relacionadas à produção 35e transmissão da cultura, ao pensamento filosófico e às investigações científicas não alinhadas com qualquer interesse econômico mais imediato.
39A Universidade surgiu na civilização 40porque havia uma necessidade 41latente desses bens e legitimou-se pelo 42reconhecimento de sua importância para a 43humanidade.
44Portanto, ela nasceu e legitimou-se 45como instituição social pública e não 46como negócio privado, como muitos agora 47a querem transformar, inclusive a 48OMC, contradizendo o próprio Adam 49Smith, o patriarca da economia de mercado, 50como bem o indica a passagem 51acima epigrafada, retirada de "A Riqueza 52das Nações".
53As tecnologias podem ser "engenheiradas", 54transformando-se em produtos 55de mercado, mas o conhecimento que as 56originou é uma conquista da humanidade 57e, portanto, um bem público universal, 58como é o caso, por exemplo, das 59atividades do Instituto Politécnico de Zurique, 60de onde saiu Albert Einstein, e do laboratório Cavendish da Universidade de Cambridge, onde se realizaram os experimentos que levaram a descobertas fundamentais da física, sem as quais 65não teriam sido possíveis as maravilhas tecnológicas do mundo moderno, da lâmpada elétrica à internet. (...)
(SILVA, José M. A. Jornal da Ciência, 22/07/2003. Extraído de: http://www.jornaldaciencia.org.br, 15/07/2003.)
Os índices nos cantos superiores esquerdo das palavras indicam a linha do texto original.
Na Matemática, a ordem dos elementos relacionados pela conjunção e não é significativa. Desse modo, se “A e B” é verdadeiro, “B e A” também o será. Mas, na linguagem natural, nem sempre a inversão resulta adequada. Assinale a opção em que a mudança da ordem NÃO causa qualquer alteração de sentido.
Estes, por definição, são bens cujo usufruto é necessariamente coletivo e não podem ser apropriados exclusivamente por ninguém em particular. (Texto 2, linhas 12 a 15).
A Universidade surgiu na civilização porque havia uma necessidade latente desses bens e legitimou-se pelo reconhecimento de sua importância para a humanidade. (Texto 2, linhas 39 a 43).
As tecnologias podem ser “engenheiradas”, (...) mas o conhecimento que as originou é uma conquista da humanidade e, portanto, um bem público universal (...) (Texto 2, linhas 53 a 58).
Provavelmente, o analfabetismo dos adultos terá sido erradicado e o acesso à instrução primária terá sido generalizado. (Texto 1, linhas 6 a 9).
[A Universidade] legitimou-se como instituição social pública e não como negócio privado, como muitos agora a querem transformar, (...) (Texto 2, linhas 44 a 47).