(PUC-Camp - 2018)
Lembrando e pensando a TV
[1] Houve um tempo em que a TV − acreditem, ó jo-
vens! − ainda não existia. Ouvia-se rádio, ia-se ao cine-
ma. Mas um dia chegou às casas das pessoas um apa-
relho com o som vivo do rádio acoplado a vivas ima-
[5] gens, diferentes das do cinema, imagens chegadas de
algum lugar do presente, “ao vivo”. Logo saberíamos
que todas as imagens do mundo, inclusive os filmes do
cinema, poderiam estar ao nosso alcance, naquela
telinha da sala. Modificaram-se os hábitos das famílias,
[10] seus horários, sua disponibilidade, seus valores. A TV
chegou para reinar.
A variedade da programação já indicava o amplo
alcance do novo veículo: notícias, reportagens, musi-
cais, desenhos animados, filmes, propagandas, seria-
[15] dos, esportes, programas humorísticos, peças de teatro
− tudo desfilava ali, diante dos nossos olhos, ainda no
tubo comandado por grandes válvulas e com imagem
em preto e branco. Boa parte dos primeiros aparelhos
de TV tinham telas de 16 a 21 polegadas, acondicio-
[20] nadas numa enorme e pesada caixa de madeira. Havia
uns três ou quatro canais, com alcance bastante limitado
e programação restrita a cinco ou seis horas por dia.
Mais tarde as transmissões passariam a ser via satélite
e ocupariam as 24 horas do dia.
[25] Os custos da programação eram pagos pela publi-
cidade, que tomava boa parte do tempo de transmissão.
Vendia-se de tudo, de automóveis a margarina, de xaro-
pes para tosse a apartamentos. Filmetes gravados e
propagandas ao vivo sucediam-se e misturavam-se a
[30] notícias sobre exploração espacial, enquanto documen-
tários estrangeiros falavam da revolução russa, da
II Guerra, do nazismo e do fascismo, das convicções
pacifistas de Ghandi, das ideias do físico Einstein sobre
a criação e a legitimação da ONU etc. etc. Já as incur-
[35] sões históricas propiciadas pelos filmes nos levavam ao
tempo de Moisés e do Egito Antigo, ao Império Romano
e advento do Cristianismo, tudo entremeando-se ao
humor de Chaplin, às caretas de Jerry Lewis e às trapa-
lhadas das primeiras comédias nacionais do gênero
[40] chanchada. Houve também o tempo em que as famílias
se agrupariam diante dos festivais da canção, torcendo
por músicas de protesto, baladas românticas ou de
ritmos populares “de raiz”. Enfim, a TV oferecia a um pú-
blico extasiado um espetáculo variadíssimo, tudo nas
[45] poucas polegadas do aparelho, que não tardou a incor-
porar outras medidas, outros sistemas de funcionamen-
to, projeção em cores e controle remoto.
As telas de plasma, o processo digital e a interface
com a informática foram dotando a TV de muitos outros
[50] recursos, até que, bem mais tarde, tivesse que enfrentar
a concorrência de outras telas, muito menores, portáteis,
disponíveis nos celulares, carregados de aplicativos e
serviços. Apesar disso, nada indica que a curto prazo
desapareçam da casa os aparelhos de TV, enriquecidos
[55] agora por incontáveis dispositivos.
No plano da cultura e da educação, a televisão
teve e tem papel importante. Os telecursos propiciam
informação escolar específica nas áreas de Matemática,
Física, História, Química, Língua e Literatura, fazendo
[60] as vezes da educação formal por meio de incontáveis
dispositivos pedagógicos, inclusive a dramatização de
conteúdos. Aqui e ali há entrevistas com artistas, políti-
cos, pensadores e personalidades várias, atualizando
ideias e promovendo seu debate. No campo da política,
[65] é relevante, às vezes decisivo, o papel que a TV tem na
formação da opinião pública. A ecologia conta, também,
com razoável cobertura, informando, por exemplo, sobre
os benefícios da reciclagem de lixo, da cultura de pro-
dutos orgânicos e da energia solar.
[70] Seja como forma de entretenimento, veículo de
informação, indução aos debates e repercussão atuali-
zada dos grandes temas de interesse social, a TV vem
garantindo seu espaço junto a bilhões de pessoas no
mundo todo. Por meio dela, acompanhamos ao vivo mo-
[75] mentos agudos da política internacional, a divulgação
de um novo plano econômico do governo, a escalada da
violência urbana. Ao toque de uma tecla do controle re-
moto, você pode se transferir, aleatoriamente, do palco
de um ataque terrorista para o final meloso de uma co-
[80] média romântica.
Numa espécie de espelhamento multiplicativo e
fragmentário da nossa vida e dos poderes da nossa
imaginação, a TV vem acompanhando os passos da
vida moderna e ditando, mesmo, alguns deles, sem dar
[85] sinal de que deixará tão cedo de nos fazer companhia.
(Percival de Lima e Souto, inédito)
As telas de plasma, o processo digital e a interface com a informática foram dotando a TV de muitos outros recursos, até que, bem mais tarde, tivesse que enfrentar a concorrência de outras telas, muito menores, portáteis, disponíveis nos celulares, carregados de aplicativos e serviços. Apesar disso, nada indica que a curto prazo desapareçam da casa os aparelhos de TV, enriquecidos agora por incontáveis dispositivos.
Considerado o trecho acima, em seu contexto, comenta-se apropriadamente:
A forma verbal tivesse exprime uma condição, considerada hipotética.
A substituição de bem mais tarde por “posteriormente” mantém todos os traços de sentido da formulação original.
A palavra destacada em muitos outros recursos constitui força de expressão, porque nenhum outro recurso foi mencionado anteriormente na frase ou no período final do parágrafo 3.
Transpondo a frase As telas de plasma, o processo digital e a interface com a informática foram dotando a TV de muitos outros recursos para a voz passiva, tem-se corretamente a forma verbal “foi sendo dotada”.
Em seguida à enumeração de elementos que propiciaram o ganho de recursos para a TV, surge a expressão até que, anunciando com antecipação que as vantagens agregadas chegariam a seu ponto máximo.