(UEFS-BA-2012)
Ao que, digo ao senhor, pergunto: em sua vida é assim? Na minha, agora é que vejo, as coisas importantes, todas, em caso curto de acaso foi que se conseguiram — pelo pulo fino de sem ver se dar — a sorte momenteira, por cabelo por um fio, um clim de clina de cavalo. Ah, e se não fosse, cada acaso, não tivesse sido, qual é então que teria sido o meu destino seguinte? Coisa vã, que não conforma respostas. Às vezes essa ideia me põe susto. Mas, o senhor veja: cheguei em casa do Mestre Lucas, ele me saudou, tão natural. Achei também tudo o natural, eu estava era cansado. E, quando Mestre Lucas me perguntou se eu vinha era de passeata, ou de recado da fazenda, expliquei que não: que eu tinha merecido licença de meu padrinho, para começar vida própria em Curralinho ou adiante, a fito de desenvolver mais estudos e apuramento só de cidade.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 117-118.
O fragmento em foco faz parte de uma das mais importantes obras da literatura brasileira – “Grande sertão: veredas”. No texto, o narrador
revela-se distanciado do pensamento determinista.
considera o seu destino como fruto de eventos fortuitos.
compreende e assume a responsabilidade do ato de escolher.
questiona o valor de uma trajetória de vida cuja marca é a estabilidade.
mostra-se inconformado com a intervenção de forças superiores no rumo de sua vida.