(UFPR - 2017 - 2 FASE) O filsofo alemo Walter Benjamin produziu uma vasta obra que contempla temas que vo da filosofia, passando pela literatura, crtica cultural, teoria da histria, religio e arte. Em seu ensaio sobre o cinema, intitulado A obra de arte na era de sua reprodutibilidade tcnica (1936), Benjamin demonstra que dadas as transformaes estruturais pelas quais passaram as sociedades ocidentais e o modo como foram remodeladas pelas dinmicas do capitalismo, a arte no fazia mais sentido se concebida apenas como objeto de culto, portadora de identidade esttica nica. Nas palavras de Benjamin, com a reprodutibilidade tcnica, a obra de arte se emancipa, pela primeira vez na histria, de sua existncia parasitria, destacandose do ritual. A obra de arte reproduzida cada vez mais a reproduo de uma obra de arte criada para ser reproduzida. A chapa fotogrfica, por exemplo, permite uma grande variedade de cpias; a questo da autenticidade das cpias no tem nenhum sentido. Mas, no momento em que critrio de autenticidade deixa de aplicar-se produo artstica, toda a funo social da arte se transforma. Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se em outra prxis: a poltica. (BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade tcnica. In: Magia e tcnica, arte e poltica. So Paulo: Brasiliense, 1987, p. 171-172.) Considerando esse fragmento do ensaio de Benjamin, responda: Como as transformaes histricas podem impactar a produo artstica e de que maneira a noo de ritual substituda pela prtica da poltica na arte produzida pelas sociedades capitalistas?
(UFPR - 2017 - 2 FASE) Em As consequncias da modernidade, Anthony Giddens afirma: A modernidade inerentemente globalizante isso evidente em algumas das mais bsicas caractersticas das instituies modernas [...]. Mas o que exatamente a globalizao e como pode ser melhor conceituado o fenmeno? [...] A globalizao pode ser assim definida como a intensificao das relaes sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais so modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distncia e vice-versa. Este um processo dialtico porque tais acontecimentos locais podem se deslocar numa direo anversa s relaes muito distanciadas que os modelam. A transformao local tanto uma parte da globalizao quanto a extenso lateral das conexes sociais atravs do tempo e do espao. Assim, quem quer que estude as cidades hoje em dia, em qualquer parte do mundo, est ciente de que o que ocorre numa vizinhana local tende a ser influenciado por fatores tais como dinheiro mundial e mercado de bens operando a uma distncia indefinida da vizinhana em questo. O resultado no , necessariamente, ou mesmo usualmente, um conjunto generalizado de mudanas atuando numa direo uniforme, mas consiste em tendncias mutuamente opostas. A prosperidade crescente de uma rea urbana em Singapura pode ter causas relacionadas, via uma complicada rede de laos econmicos globais, ao empobrecimento de uma vizinhana em Pittsburgh, cujos produtos locais no so competitivos nos mercados mundiais. (GIDDENS, Anthony. As consequncias da modernidade. So Paulo: Edunesp, 191, p. 60-61.) A partir das concluses de Giddens, compare os aspectos locais aos globais presentes na formao da modernidade e da globalizao.
(UFPR - 2017 - 2 FASE) Os processos histricos cumprem um papel de fundamental importncia na teoria social marxista. A histria e suas diferentes formas de representao auxiliaram Karl Marx e Friedrich Engels na composio de suas anlises sobre as sociedades capitalistas, bem como na elaborao de conceitos como de alienao, dialtica, materialismo, prxis ou mesmo capital. Noutras palavras: qualquer teoria, por mais abstrata que possa nos parecer, somente far sentido se compreendida a partir dos processos histricos que a engendram e a tornam necessria no momento em que formulada. Assim, segundo argumento de Tnia Quintaneiro, os economistas do tempo de Marx no reconhecem a historicidade dos fenmenos que se manifestam na sociedade capitalista, por isso suas teorias so comparveis s dos telogos, para os quais toda religio estranha pura inveno humana, enquanto a deles prprios uma emanao de Deus. Ele questiona a perspectiva para a qual as relaes burguesas de produo so naturais, esto de acordo com as leis da natureza, como se fossem independentes da influncia do tempo, sendo por isso consideradas como leis eternas que devem reger sempre a sociedade. De modo que at agora houve na histria, mas agora j no h. Assim, as instituies feudais teriam sido histricas, ironiza, mas as burguesas seriam naturais e, portanto, imutveis. Para Marx, tanto os processos ligados produo so transitrios, como as ideias, gostos, crenas, categorias dos conhecimentos e ideologias, os quais, gerados socialmente, dependem do modo como os indivduos se organizam para produzir. Portanto, o pensamento e a conscincia so, em ltima instncia, decorrncia da relao homem/natureza, isto , das relaes materiais (QUINTANEIRO, Tnia et. al. Um toque de clssicos: Marx, Durkheim, Weber. Belo Horizonte, 2003, p. 31). A partir da passagem acima, explique como esse entendimento de Marx sobre a histria e seus processos materiais de produo oferece-nos uma explicao sobre a formao do capitalismo moderno, bem como das teorias que o consideram natural no processo de evoluo das sociedades humanas.
(UFPR - 2017 - 2 FASE) Em As prises da misria, Loc Wacquant afirma: A expanso sem precedentes das atividades carcerrias do Estado americano foi acompanhada pelo desenvolvimento frentico de uma indstria privada da carceragem. Nascida em 1983, j conseguiu englobar perto de 7% da populao carcerria, fortalecida com uma taxa de crescimento anual de 45% [...]. Dezessete firmas dividem aproximadamente 140 estabelecimentos espalhados em duas dezenas de estados [...]. Algumas se contentam em gerir penitencirias existentes, s quais fornecem pessoal de vigilncia e servios. Outras fornecem a gama completa dos bens e atividades necessrios deteno: concepo arquitetnica, financiamento, construo, manuteno, administrao, seguro, empregados e at mesmo o recrutamento e o transporte dos prisioneiros oriundos de outras jurisdies [...]. Ao mesmo tempo, a implantao das penitencirias se afirmou como um poderoso instrumento de desenvolvimento econmico e de fomento do territrio. As populaes das zonas rurais decadentes, em particular, no poupam esforos para atra-las. J vai longe a poca em que a perspectiva de acolher uma priso lhes inspirava esse grito de protesto: Not in my backyard. As prises no utilizam produtos qumicos, no fazem barulho, no expelem poluentes na atmosfera e no despedem funcionrios durante as recesses. Muito pelo contrrio, trazem consigo empregos estveis, comrcios permanentes e entradas regulares e impostos. A indstria da carceragem um empreendimento prspero e de futuro radioso, e com ela todos aqueles que partilham do grande encarceramento dos pobres nos Estados Unidos. (WACQUANT, Loic. As prises da misria. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 58-59.) Segundo o autor, o sistema prisional nos Estados Unidos e sua expanso devem ser compreendidos levando em considerao um conjunto de fatores. Um dos mais importantes fatores o econmico. Assim, como podemos explicar a ampliao das unidades prisionais norte-americanas e sua relao com criminalizao da pobreza e da misria nas sociedades atuais?
(UFPR - 2017 - 2 FASE) Considere a citao abaixo, do livro organizado por Ricardo Antunes e Ruy Braga: A utilizao intensiva das novas tecnologias da informao e da comunicao (TICs) nas grandes empresas decorre da suma relevncia que a inovao passou a ter no quadro de intensa competitividade engendrado pela quebra dos monoplios estatais e com o advento das polticas neoliberais que assolaram todo o mundo capitalista nos anos 1990. Com efeito, a convergncia tecnolgica entre a informtica e as redes de telecomunicaes, a telemtica, foi altamente otimizada com a privatizao deste setor, que passou assim a ser concebido e efetivado como um bem de capital dos mais cruciais do capitalismo contemporneo. Em uma economia mundializada, pelas redes telemticas que toda sorte de informaes estratgicas, isto , aquelas relativas s ltimas tendncias de consumo e tecnologia de produo, podem chegar mais rapidamente de todos os cantos do mundo a grandes empresas-rede, cuja caracterstica mais fundamental ter suas cadeias de produo espalhadas nos mais diferentes pontos do planeta. Com isso, para alm de uma coisa tangvel, a concepo de mercadoria se alarga e consubstancia-se em ideias e imagens que podem se materializar tanto em novas mercadorias como em estratgias de marketing. Essa a grande novidade trazida pela tecnologia digital: a possibilidade de se manipular e transformar as informaes tal como se fazia com as matrias-primas da dimenso material, o que permite ao capitalismo de hoje transformar e explorar mercadorias no s no plano material, mas tambm no plano imaterial. (WOLFF, Simone. O trabalho informacional e a reificao da informao sob os novos paradigmas organizacionais. In: ANTUNES, Ricardo; BRAGA, Ruy. Infoproletrios: degradao real do trabalho virtual. So Paulo: Boitempo, 2009, p. 90.) A partir do excerto, como podemos diferenciar o capitalismo material do capitalismo imaterial com a abrangncia crescente das tecnologias de informao?
(UFPR - 2017 - 2 FASE) Considere o fragmento abaixo: Como tem sido bem documentado, desde o final do iluminismo estudos sobre a variao humana distinguiram diferenas raciais como aspectos cruciais da realidade, e um extenso discurso sobre a desigualdade racial comeou a ser elaborado. Com a ateno voltada cada vez mais para as diferenas de gnero e sexo no sculo XIX, o gnero era notavelmente considerado anlogo raa, de modo que o cientista podia usar a diferena racial para explicar a diferena entre gnero e vice-versa. Assim, afirma-se que o leve peso do crebro feminino e as estruturas cerebrais deficientes eram anlogos aos das raas inferiores, e isto explicava as baixas capacidades intelectuais destas raas. Observou-se que a mulher se igualava aos negros pelo crnio estreito, infantil e delicado, to diferente das mais robustas e arredondadas cabeas que caracterizavam os machos de raas superiores. De modo semelhante, as mulheres de raas superiores tinham a tendncia s mandbulas ligeiramente salientes, anlogas, ou to exageradas quanto as mandbulas protuberantes de raas inferiores como os macacos. As mulheres e as raas inferiores eram consideradas impulsivas por natureza, emocionais, mais imitadoras que originais e incapazes do raciocnio abstrato e profundo igual ao do homem branco. A biologia evolucionista estipulou, ainda, mais analogias. A mulher era, em termos evolutivos, o elemento conservador para o homem progressivo, preservando os traos mais primitivos encontrados em raas inferiores, enquanto os homens de raas superiores indicavam o caminho para novas direes culturais e biolgicas. (STEPAN, Nancy Leys, Raa e gnero: o papel da analogia na cincia. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Tendncias e impasses: o feminismo como crtica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p. 74.) Partindo da analogia entre raa e gnero e metforas cientficas no sculo XIX, conforme demonstra Nancy Leys Stepan, de que maneira podemos problematizar o discurso cientfico produzido a partir de concepes hierarquizadas da realidade social e por que elas no fazem mais sentido nos dias de hoje?
(UFPR - 2017 - 2 FASE) Sobre os processos de colonizao levados a cabo por pases ocidentais e a construo de uma identidade cultural imperialista, Edward Said aponta: As formas culturais ocidentais podem ser retiradas dos compartimentos autnomos em que se mantm protegidas e colocadas no meio dinmico global criado pelo imperialismo, ele mesmo revisto como uma disputa viva entre Norte e Sul, metrpole e periferia, brancos e nativos. Assim, podemos considerar o imperialismo como um processo que ocorre como parte da cultura metropolitana, a qual s vezes reconhece, s vezes obscurece a atividade sustentada do prprio imprio. A questo fundamental bastante gramsciana a maneira pela qual as culturas nacionais inglesa, francesa e americana mantiveram a hegemonia nas periferias. Como se obteve dentro delas e como se consolidou sem cessar a anuncia para se exercer o domnio distante de povos e territrios e povos nativos? [...] Mesmo que concedssemos, como muitos o fazem, que a poltica externa norte-americana sobretudo altrusta e devotada a objetivos irreprochveis, como a liberdade e a democracia, h espao para o ceticismo. [...] No estamos repetindo, como nao, o que a Frana e a Inglaterra, Espanha e Portugal, Holanda e Alemanha, fizeram antes de ns? E, no entanto, no tendemos a nos considerar de alguma forma alheios s aventuras imperiais mais srdidas que precederam as nossas? Ademais, no h um pressuposto inquestionado de nossa parte de que nosso destino governar e liderar o mundo, destino este que atribumos a ns mesmos como parte de nossa errncia por regies bravias?. (SAID, Edward. Imperialismo e cultura. So Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 87-92.)