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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(UNESP - 2013 - 1a fase)A questo toma por base um

(UNESP - 2013 - 1a fase)

A questão toma por base um poema de Luís Delfino (1834-1910) e a reprodução de um mosaico da Catedral de Monreale.

Jesus Pantocrátor1

Há na Itália, em Palermo, ou pouco ao pé, na igreja
De Monreale, feita em mosaico, a divina
Figura de Jesus Pantocrátor: domina
Aquela face austera, aquele olhar troveja.

Não: aquela cabeça é de um Deus, não se inclina.
À árida pupila a doce, a benfazeja
Lágrima falta, e o peito enorme não arqueja
À dor. Fê-lo tremendo a ficção bizantina2.

Este criou o inferno, e o espetáculo hediondo
Que há nos frescos3 de Santo Stefano Rotondo4;
Este do mundo antigo espedaçado assoma...

Este não redimiu; não foi à Cruz: olhai-o:
Tem o anátema5 à boca, às duas mãos o raio,
E em vez do espinho à fronte as três coroas de Roma.

(Luís Delfino. Rosas negras, 1938.)

(1) Pantocrátor: que tudo rege, que governa tudo.
(2) Bizantina: referente ao Império Romano do Oriente (330-1453 d.C.) e às manifestações culturais desse império.
(3) Fresco: o mesmo que afresco, pintura mural que resulta da aplicação de cores diluídas em água sobre um revestimento ainda fresco de argamassa, para facilitar a absorção da tinta.
(4) Santo Stefano Rotondo: igreja erigida por volta de 460 d.C., em Roma, em homenagem a Santo Estêvão (Stefano, em italiano), mártir do cristianismo.
(5) Anátema: reprovação enérgica, sentença de maldição que expulsa da Igreja, excomunhão.

Neste soneto de Luís Delfino ocorre uma espécie de diálogo entre o texto poético e uma impressionante figura de Jesus Cristo Pantocrátor, com 7 m de altura e largura de 13,30 m, criada por mestres especializados na técnica bizantina do mosaico, na abside da catedral de Monreale, construída entre 1172 e 1189. A figura de Cristo Pantocrátor, feita em mosaicos policromos e dourados, pode ser vista ainda hoje na mesma cidade e igreja mencionadas na primeira estrofe. Colocando-se diante dessa representação de Cristo, o eu lírico do soneto

 

A

sustenta que a figura humana ali representada provém de uma religião anticristã, com ligações estreitas com as divindades infernais que martirizavam cristãos.

B

questiona a qualidade plástica e os fundamentos formais de origem bizantina da imagem como destituídos de maior valor estético.

C

utiliza o caráter assustador do mosaico para negar a divindade de Jesus Cristo, servindo-se do poema como um meio de argumentação.

D

entende que a combinação da atitude e dos traços da figura do mosaico mais parecem as de um ídolo pagão oriental do que de um deus cristão venerado pela humanidade.

E

sugere que a figura do mosaico não condiz com a imagem que a tradição cristã legou de um doce e divino homem com feições marcadas pelo martírio e sofrimento na cruz.