(UNESP - 2013/2 - 2 FASE)
Saudade de minha terra
De que me adianta viver na cidade,
Se a felicidade não me acompanhar?
Adeus, paulistinha do meu coração,
Lá pro meu sertão eu quero voltar;
Ver a madrugada, quando a passarada,
Fazendo alvorada, começa a cantar.
Com satisfação, arreio o burrão,
Cortando o estradão, saio a galopar;
E vou escutando o gado berrando,
Sabiá cantando no jequitibá.
Por Nossa Senhora, meu sertão querido,
Vivo arrependido por ter te deixado.
Nesta nova vida, aqui da cidade,
De tanta saudade eu tenho chorado;
Aqui tem alguém, diz que me quer bem,
Mas não me convém, eu tenho pensado,
E fico com pena, mas esta morena
Não sabe o sistema em que fui criado.
Tô aqui cantando, de longe escutando,
Alguém está chorando com o rádio ligado.
Que saudade imensa, do campo e do mato,
Do manso regato que corta as campinas.
Ia aos domingos passear de canoa
Na linda lagoa de águas cristalinas;
Que doces lembranças daquelas festanças,
Onde tinha danças e lindas meninas!
Eu vivo hoje em dia, sem ter alegria,
O mundo judia, mas também ensina.
Estou contrariado, mas não derrotado,
Eu sou bem guiado pelas mãos divinas.
Pra minha mãezinha, já telegrafei,
Que já me cansei de tanto sofrer.
Nesta madrugada, estarei de partida
Pra terra querida que me viu nascer;
Já ouço sonhando o galo cantando,
O inhambu piando no escurecer,
A lua prateada, clareando a estrada,
A relva molhada desde o anoitecer.
Eu preciso ir, pra ver tudo ali,
Foi lá que nasci, lá quero morrer.
(Goiá em duas vozes – o compositor interpreta suas músicas. Discos Chororó. CD nº 10548, s/d.)
Tendo em mente o fato de que é usual a retomada de um mesmo tema por artistas de épocas diferentes, explique o que há de comum entre a letra de Saudade de minha terra e a Canção do Exílio, do poeta romântico Gonçalves Dias, cujos primeiros versos são: Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá. / As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá.