(UNESP - 2016 - 2ª fase)
Essa questão toma por base o “Soneto LXVII” (“Considera a vantagem que os brutos fazem aos homens em obedecer a Deus”), de Dom Francisco Manuel de Melo (1608-1666).
Quando vejo, Senhor, que às alimárias¹
Da terra, da água, do ar, – peixe, ave, bruto –,
Não lhe esquece jamais o alto estatuto
Das leis que lhes pusestes ordinárias;
E logo vejo quantas artes² várias
O homem racional, próvido³ e astuto,
Põe em obrar, ingrato e resoluto,
Obras que a vossas leis são tão contrárias:
Ou me esquece quem sois ou quem eu era;
Pois do que me mandais tanto me esqueço,
Como se a vós e a mi não conhecera.
Com razão logo por favor vos peço
Que, pois homem tal sou, me façais fera,
A ver se assi melhor vos obedeço.
(A tuba de Calíope, 1988.)
¹alimária: animal irracional.
²arte: astúcia, ardil.
³próvido: providente, que se previne, previdente, precavido.
Que contraste é explorado pelo poema como base da argumentação? Justifique sua resposta. Considerando também outros aspectos, em que movimento literário o poema se enquadra?