(UNESP - 2021 - 1ª fase - DIA 2)
De maneira que, assim como a natureza faz de feras homens, matando e comendo, assim também a graça faz de feras homens, doutrinando e ensinando. Ensinastes o gentio bárbaro e rude, e que cuidais que faz aquela doutrina? Mata nele a fereza, e introduz a humanidade; mata a ignorância, e introduz o conhecimento; mata a bruteza, e introduz a razão; mata a infidelidade, e introduz a fé; e deste modo, por uma conversão admirável, o que era fera fica homem, o que era gentio fica cristão, o que era despojo do pecado fica membro de Cristo e de S. Pedro. […] Tende-os [os escravos], cristãos, e tende muitos, mas tende-os de modo que eles ajudem a levar a vossa alma ao céu, e vós as suas. Isto é o que vos desejo, isto é o que vos aconselho, isto é o que vos procuro, isto é o que vos peço por amor de Deus e por amor de vós, e o que quisera que leváreis deste sermão metido na alma.
(Antônio Vieira. “Sermão do Espírito Santo” (1657). http://tupi.fflch.usp.br.)
O Sermão do Espírito Santo foi pregado pelo Padre Antônio Vieira em São Luís do Maranhão, em 1657, e recorre
a metáforas, para defender a liberdade de natureza de todos os animais criados por Deus
à ironia, para condenar a escravização de nativos e africanos nas lavouras de algodão.
a antíteses, para reconhecer a escravização dos nativos como um caminho possível do trabalho missionário.
à retórica barroca, para contestar a ideia de que os africanos e os nativos merecem a liberdade e a salvação.
à retórica clássica, para acusar os proprietários de escravos de descuidar dos direitos humanos dos nativos.