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Questões - UNESP 2021 | Gabarito e resoluções

Questão 1
2021Inglês

(UNESP - 2021- 1 fase - DIA 2) Examine a tira de Alex Culang e Raynato Castro. Para que a histria tivesse um desfecho favorvel garota, seria necessrio

Questão 1
2021Português

(UNESP - 2021 - 2 FASE) Examine a tira de Andr Dahmer. Contribui para o efeito de humor da tira o recurso

Questão 2
2021Português

(UNESP - 2021 - 2 FASE) Leia a crnica de Machado de Assis, publicada em 19.05.1888. Eu perteno a uma famlia de profetas aprs coup, post facto, depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em holands. Por isso digo, e juro se necessrio for, que toda a histria desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa dos seus dezoito anos, mais ou menos. Alforri-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar. Neste jantar, a que os meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notcias dissessem trinta e trs (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simblico. No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha lngua), levantei-me eu com a taa de champanha e declarei que, acompanhando as ideias pregadas por Cristo, h dezoito sculos, restitua a liberdade ao meu escravo Pancrcio; que entendia que a nao inteira devia acompanhar as mesmas ideias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens no podiam roubar sem pecado. Pancrcio, que estava espreita, entrou na sala, como um furaco, e veio a abraar-me os ps. Um dos meus amigos (creio que ainda meu sobrinho) pegou de outra taa, e pediu ilustre assembleia que correspondesse ao ato que eu acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entregueia carta ao molecote. Todos os lenos comovidos apanharam as lgrimas de admirao. Ca na cadeira e no vi mais nada. De noite, recebi muitos cartes. Creio que esto pintando o meu retrato, e suponho que a leo. No dia seguinte, chamei Pancrcio e disse-lhe com rara franqueza: Tu s livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, j conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que Oh! meu senh! fico. Um ordenado pequeno, mas que h de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje ests mais alto que eu. Deixa ver; olha, s mais alto quatro dedos Artura no qu diz nada, no, senh Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-ris; mas de gro em gro que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha. Eu vaio um galo, sim, senh. Justamente. Pois seis mil-ris. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete. Pancrcio aceitou tudo; aceitou at um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me no escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, no podia anular o direito civil adquirido por um ttulo que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos. Tudo compreendeu o meu bom Pancrcio; da para c, tenho-lhe despedido alguns pontaps, um ou outro puxo de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe no chamo filho do diabo; coisas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que at alegre. O meu plano est feito; quero ser deputado, e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes de abolio legal, j eu, em casa, na modstia da famlia, libertava um escravo, ato que comoveu a toda a gente que dele teve notcia; que esse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar (simples suposio) ento professor de Filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente polticos, no so os que obedecem lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: s livre, antes que o digam os poderes pblicos, sempre retardatrios, trpegos e incapazes de restaurar a justia na terra, para satisfao do cu. (Machado de Assis. Crnicas escolhidas, 2013.) 1 aprs coup: a posteriori. 2 post facto: aps o fato. 3 coup du milieu: bebida, s vezes acompanhada de brindes, que se tomava no meio de um banquete. O termo que melhor caracteriza o narrador da crnica

Questão 2
2021Português

(UNESP - 2021 - 1 FASE) Para responder s questes de 02 a 06, leia o trecho do conto-prefcio Hipotrlico, que integra o livro Tutameia, de Joo Guimares Rosa. H o hipotrlico. O termo novo, de impesquisada origem e ainda sem definio que lhe apanhe em todas as ptalas o significado. Sabe-se, s, que vem do bom portugus. Para a prtica, tome-se hipotrlico querendo dizer: antipodtico, sengraante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinio alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se ver, embirrando o hipotrlico em no tolerar neologismos, comea ele por se negar nominalmente a prpria existncia. Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrlicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inrcia que soneja em cada canto do esprito, e que se refestela com os bons hbitos estadados. Se que um no se assuste: saia todoo-mundo a empinar vocbulos seus, e aonde que se vai dar com a lngua tida e herdada? Assenta-nos bem modstia achar que o novo no valer o velho; ajusta-se melhor prudncia relegar o progresso no passado. [...] J outro, contudo, respeitvel, o caso enfim de hipotrlico, motivo e base desta fbula diversa, e que vem do bom portugus. O bom portugus, homem-debem e muitssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades ntimas. Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente: E ele muito hiputrlico... Ao que, o indesejvel maante, no se contendo, emitiu o veto: Olhe, meu amigo, essa palavra no existe. Parou o bom portugus, a olh-lo, seu tanto perplexo: Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer? . Mas no existe. A, o bom portugus, ainda meio enfigadado, mas no tom j feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptrio: O senhor tambm hiputrlico... E ficou havendo. (Tutameia, 1979.) De acordo com o narrador, o hipotrlico revela, em relao prtica do neologismo, uma postura

Questão 2
2021Português

(UNESP - 2021- 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 02 a 05, leia a crnica A obra-prima, de Lima Barreto, publicada na revista Careta em 25.09.1915. Marco Aurlio de Jesus, dono de um grande talento e senhor de um slido saber, resolveu certa vez escrever uma obra sobre filologia. Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e que daria ao esprito inculto dos brasileiros as noes exatas da lngua portuguesa. Trabalhou durante trs anos, com esforo e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria trazer confuso, dificuldade de hoje, o saber de amanh. Era uma obra-prima pelas generalizaes e pelos exemplos. A quem dedic-la? Como dedic-la? E o prefcio? E Marco Aurlio resolve meditar. Ao fim de igual tempo havia resolvido o difcil problema. A obra seria, segundo o velho hbito, precedida de duas palavras ao leitor e levaria, como demonstrao de sua submisso intelectual, uma dedicatria. Mas duas palavras, quando seriam centenas as que escreveria? No. E Marco Aurlio contou as duas palavras uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance nico, genial, destacou em relevo, ao alto da pgina duzentas e uma palavras ao leitor. E a dedicatria? A dedicatria, como todas as dedicatrias, seria a plida homenagem de seu talento ao esprito amigo que lhe ensinara a pensar Mas plida homenagem Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expresso comum: plida homenagem? No. E pensou. E de sua grave meditao, de seu profundo pensamento, saiu a frase lmpida, a grande frase que definia a sua ideia da expresso e, num gesto, sulcou o alto da pgina de oferta com a frase sublime: lvida homenagem do autor Est a como um grande gramtico faz uma obra-prima. Leiam-na e vero como a coisa bela. (Stiras e outras subverses, 2016.) O cronista traa um retrato do gramtico Marco Aurlio, evidenciando, sobretudo, a sua

Questão 3
2021Português

(UNESP - 2021 - 1 FASE) Para responder s questes de 02 a 06, leia o trecho do conto-prefcio Hipotrlico, que integra o livro Tutameia, de Joo Guimares Rosa. H o hipotrlico. O termo novo, de impesquisada origem e ainda sem definio que lhe apanhe em todas as ptalas o significado. Sabe-se, s, que vem do bom portugus. Para a prtica, tome-se hipotrlico querendo dizer: antipodtico, sengraante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinio alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se ver, embirrando o hipotrlico em no tolerar neologismos, comea ele por se negar nominalmente a prpria existncia. Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrlicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inrcia que soneja em cada canto do esprito, e que se refestela com os bons hbitos estadados. Se que um no se assuste: saia todoo-mundo a empinar vocbulos seus, e aonde que se vai dar com a lngua tida e herdada? Assenta-nos bem modstia achar que o novo no valer o velho; ajusta-se melhor prudncia relegar o progresso no passado. [...] J outro, contudo, respeitvel, o caso enfim de hipotrlico, motivo e base desta fbula diversa, e que vem do bom portugus. O bom portugus, homem-debem e muitssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades ntimas. Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente: E ele muito hiputrlico... Ao que, o indesejvel maante, no se contendo, emitiu o veto: Olhe, meu amigo, essa palavra no existe. Parou o bom portugus, a olh-lo, seu tanto perplexo: Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer? . Mas no existe. A, o bom portugus, ainda meio enfigadado, mas no tom j feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptrio: O senhor tambm hiputrlico... E ficou havendo. (Tutameia, 1979) Considerando que sonejar constitui um neologismo formado pelo radical sono e pelo sufixo -ejar, que exprime aspecto frequentativo, a inrcia que soneja em cada canto do esprito (2o pargrafo) contribui, segundo o narrador, para

Questão 3
2021Português

(UNESP - 2021- 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 02 a 05, leia a crnica A obra-prima, de Lima Barreto, publicada na revista Careta em 25.09.1915. Marco Aurlio de Jesus, dono de um grande talento e senhor de um slido saber, resolveu certa vez escrever uma obra sobre filologia. Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e que daria ao esprito inculto dos brasileiros as noes exatas da lngua portuguesa. Trabalhou durante trs anos, com esforo e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria trazer confuso, dificuldade de hoje, o saber de amanh. Era uma obra-prima pelas generalizaes e pelos exemplos. A quem dedic-la? Como dedic-la? E o prefcio? E Marco Aurlio resolve meditar. Ao fim de igual tempo havia resolvido o difcil problema. A obra seria, segundo o velho hbito, precedida de duas palavras ao leitor e levaria, como demonstrao de sua submisso intelectual, uma dedicatria. Mas duas palavras, quando seriam centenas as que escreveria? No. E Marco Aurlio contou as duas palavras uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance nico, genial, destacou em relevo, ao alto da pgina duzentas e uma palavras ao leitor. E a dedicatria? A dedicatria, como todas as dedicatrias, seria a plida homenagem de seu talento ao esprito amigo que lhe ensinara a pensar Mas plida homenagem Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expresso comum: plida homenagem? No. E pensou. E de sua grave meditao, de seu profundo pensamento, saiu a frase lmpida, a grande frase que definia a sua ideia da expresso e, num gesto, sulcou o alto da pgina de oferta com a frase sublime: lvida homenagem do autor Est a como um grande gramtico faz uma obra-prima. Leiam-na e vero como a coisa bela. (Stiras e outras subverses, 2016.) As modificaes feitas pelo gramtico nas expresses empregadas no prefcio e na dedicatria de sua obra manifestam seu desconforto

Questão 3
2021Português

(UNESP - 2021 - 2 FASE) Leia a crnica de Machado de Assis, publicada em 19.05.1888. Eu perteno a uma famlia de profetasaprs coup,post facto,depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em holands. Por isso digo, e juro se necessrio for, que toda a histria desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa dos seus dezoito anos, mais ou menos. Alforri-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar. Neste jantar, a que os meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notcias dissessem trinta e trs (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simblico. No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha lngua), levantei-me eu com a taa de champanha e declarei que, acompanhando as ideias pregadas por Cristo, h dezoito sculos, restitua a liberdade ao meu escravo Pancrcio; que entendia que a nao inteira devia acompanhar as mesmas ideias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens no podiam roubar sem pecado. Pancrcio, que estava espreita, entrou na sala, como um furaco, e veio a abraar-me os ps. Um dos meus amigos (creio que ainda meu sobrinho) pegou de outra taa, e pediu ilustre assembleia que correspondesse ao ato que eu acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entregueia carta ao molecote. Todos os lenos comovidos apanharam as lgrimas de admirao. Ca na cadeira e no vi mais nada. De noite, recebi muitos cartes. Creio que esto pintando o meu retrato, e suponho que a leo. No dia seguinte, chamei Pancrcio e disse-lhe com rara franqueza: Tu s livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, j conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que Oh! meu senh! fico. Um ordenado pequeno, mas que h de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje ests mais alto que eu. Deixa ver; olha, s mais alto quatro dedos Artura no qu diz nada, no, senh Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-ris; mas de gro em gro que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha. Eu vaio um galo, sim, senh. Justamente. Pois seis mil-ris. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete. Pancrcio aceitou tudo; aceitou at um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me no escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, no podia anular o direito civil adquirido por um ttulo que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos. Tudo compreendeu o meu bom Pancrcio; da para c, tenho-lhe despedido alguns pontaps, um ou outro puxo de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe no chamo filho do diabo; coisas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que at alegre. O meu plano est feito; quero ser deputado, e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes de abolio legal, j eu, em casa, na modstia da famlia, libertava um escravo, ato que comoveu a toda a gente que dele teve notcia; que esse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar (simples suposio) ento professor de Filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente polticos, no so os que obedecem lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: s livre, antes que o digam os poderes pblicos, sempre retardatrios, trpegos e incapazes de restaurar a justia na terra, para satisfao do cu. (Machado de Assis.Crnicas escolhidas, 2013.) 1aprs coup: a posteriori. 2post facto: aps o fato. 3coup du milieu: bebida, s vezes acompanhada de brindes, que se tomava no meio de um banquete. O trecho profetas aprs coup, post facto, depois do gato morto (1pargrafo) sugere que o narrador se considera um profeta de fatos ou eventos

Questão 4
2021Português

(UNESP - 2021- 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 02 a 05, leia a crnica A obra-prima, de Lima Barreto, publicada na revista Careta em 25.09.1915. Marco Aurlio de Jesus, dono de um grande talento e senhor de um slido saber, resolveu certa vez escrever uma obra sobre filologia. Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e que daria ao esprito inculto dos brasileiros as noes exatas da lngua portuguesa. Trabalhou durante trs anos, com esforo e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria trazer confuso, dificuldade de hoje, o saber de amanh. Era uma obra-prima pelas generalizaes e pelos exemplos. A quem dedic-la? Como dedic-la? E o prefcio? E Marco Aurlio resolve meditar. Ao fim de igual tempo havia resolvido o difcil problema. A obra seria, segundo o velho hbito, precedida de duas palavras ao leitor e levaria, como demonstrao de sua submisso intelectual, uma dedicatria. Mas duas palavras, quando seriam centenas as que escreveria? No. E Marco Aurlio contou as duas palavras uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance nico, genial, destacou em relevo, ao alto da pgina duzentas e uma palavras ao leitor. E a dedicatria? A dedicatria, como todas as dedicatrias, seria a plida homenagem de seu talento ao esprito amigo que lhe ensinara a pensar Mas plida homenagem Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expresso comum: plida homenagem? No. E pensou. E de sua grave meditao, de seu profundo pensamento, saiu a frase lmpida, a grande frase que definia a sua ideia da expresso e, num gesto, sulcou o alto da pgina de oferta com a frase sublime: lvida homenagem do autor Est a como um grande gramtico faz uma obra-prima. Leiam-na e vero como a coisa bela. (Stiras e outras subverses, 2016.) Em Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expresso comum: plida homenagem? (8o pargrafo), o termo sublinhado est empregado na acepo de

Questão 4
2021Português

(UNESP - 2021 - 1 FASE) Para responder s questes de 02 a 06, leia o trecho do conto-prefcio Hipotrlico, que integra o livro Tutameia, de Joo Guimares Rosa. H o hipotrlico. O termo novo, de impesquisada origem e ainda sem definio que lhe apanhe em todas as ptalas o significado. Sabe-se, s, que vem do bom portugus. Para a prtica, tome-se hipotrlico querendo dizer: antipodtico, sengraante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinio alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se ver, embirrando o hipotrlico em no tolerar neologismos, comea ele por se negar nominalmente a prpria existncia. Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrlicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inrcia que soneja em cada canto do esprito, e que se refestela com os bons hbitos estadados. Se que um no se assuste: saia todoo-mundo a empinar vocbulos seus, e aonde que se vai dar com a lngua tida e herdada? Assenta-nos bem modstia achar que o novo no valer o velho; ajusta-se melhor prudncia relegar o progresso no passado. [...] J outro, contudo, respeitvel, o caso enfim de hipotrlico, motivo e base desta fbula diversa, e que vem do bom portugus. O bom portugus, homem-debem e muitssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades ntimas. Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente: E ele muito hiputrlico... Ao que, o indesejvel maante, no se contendo, emitiu o veto: Olhe, meu amigo, essa palavra no existe. Parou o bom portugus, a olh-lo, seu tanto perplexo: Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer? . Mas no existe. A, o bom portugus, ainda meio enfigadado, mas no tom j feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptrio: O senhor tambm hiputrlico... E ficou havendo. (Tutameia, 1979) O efeito cmico do texto deriva, sobretudo, da ambiguidade da expresso

Questão 4
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(UNESP - 2021 - 2 FASE) Leia a crnica de Machado de Assis, publicada em 19.05.1888. Eu perteno a uma famlia de profetasaprs coup,post facto,depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em holands. Por isso digo, e juro se necessrio for, que toda a histria desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa dos seus dezoito anos, mais ou menos. Alforri-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar. Neste jantar, a que os meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notcias dissessem trinta e trs (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simblico. No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha lngua), levantei-me eu com a taa de champanha e declarei que, acompanhando as ideias pregadas por Cristo, h dezoito sculos, restitua a liberdade ao meu escravo Pancrcio; que entendia que a nao inteira devia acompanhar as mesmas ideias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens no podiam roubar sem pecado. Pancrcio, que estava espreita, entrou na sala, como um furaco, e veio a abraar-me os ps. Um dos meus amigos (creio que ainda meu sobrinho) pegou de outra taa, e pediu ilustre assembleia que correspondesse ao ato que eu acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entregueia carta ao molecote. Todos os lenos comovidos apanharam as lgrimas de admirao. Ca na cadeira e no vi mais nada. De noite, recebi muitos cartes. Creio que esto pintando o meu retrato, e suponho que a leo. No dia seguinte, chamei Pancrcio e disse-lhe com rara franqueza: Tu s livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, j conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que Oh! meu senh! fico. Um ordenado pequeno, mas que h de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje ests mais alto que eu. Deixa ver; olha, s mais alto quatro dedos Artura no qu diz nada, no, senh Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-ris; mas de gro em gro que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha. Eu vaio um galo, sim, senh. Justamente. Pois seis mil-ris. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete. Pancrcio aceitou tudo; aceitou at um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me no escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, no podia anular o direito civil adquirido por um ttulo que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos. Tudo compreendeu o meu bom Pancrcio; da para c, tenho-lhe despedido alguns pontaps, um ou outro puxo de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe no chamo filho do diabo; coisas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que at alegre. O meu plano est feito; quero ser deputado, e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes de abolio legal, j eu, em casa, na modstia da famlia, libertava um escravo, ato que comoveu a toda a gente que dele teve notcia; que esse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar (simples suposio) ento professor de Filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente polticos, no so os que obedecem lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: s livre, antes que o digam os poderes pblicos, sempre retardatrios, trpegos e incapazes de restaurar a justia na terra, para satisfao do cu. (Machado de Assis.Crnicas escolhidas, 2013.) 1aprs coup: a posteriori. 2post facto: aps o fato. 3coup du milieu: bebida, s vezes acompanhada de brindes, que se tomava no meio de um banquete. Neste jantar, a que os meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notcias dissessem trinta e trs (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simblico. (2pargrafo) No contexto em que se inserem, as oraes sublinhadas expressam, respectivamente, ideia de

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(UNESP - 2021 - 1 FASE) Para responder s questes de 02 a 06, leia o trecho do conto-prefcio Hipotrlico, que integra o livro Tutameia, de Joo Guimares Rosa. H o hipotrlico. O termo novo, de impesquisada origem e ainda sem definio que lhe apanhe em todas as ptalas o significado. Sabe-se, s, que vem do bom portugus. Para a prtica, tome-se hipotrlico querendo dizer: antipodtico, sengraante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinio alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se ver, embirrando o hipotrlico em no tolerar neologismos, comea ele por se negar nominalmente a prpria existncia. Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrlicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inrcia que soneja em cada canto do esprito, e que se refestela com os bons hbitos estadados. Se que um no se assuste: saia todoo-mundo a empinar vocbulos seus, e aonde que se vai dar com a lngua tida e herdada? Assenta-nos bem modstia achar que o novo no valer o velho; ajusta-se melhor prudncia relegar o progresso no passado. [...] J outro, contudo, respeitvel, o caso enfim de hipotrlico, motivo e base desta fbula diversa, e que vem do bom portugus. O bom portugus, homem-debem e muitssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades ntimas. Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente: E ele muito hiputrlico... Ao que, o indesejvel maante, no se contendo, emitiu o veto: Olhe, meu amigo, essa palavra no existe. Parou o bom portugus, a olh-lo, seu tanto perplexo: Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer? . Mas no existe. A, o bom portugus, ainda meio enfigadado, mas no tom j feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptrio: O senhor tambm hiputrlico... E ficou havendo. (Tutameia, 1979) A, o bom portugus, ainda meio enfigadado, mas no tom j feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptrio: O senhor tambm hiputrlico... (11. e 12. pargrafos) Considerando o contexto, o termo sublinhado pode ser substitudo, sem prejuzo para o sentido do texto, por:

Questão 5
2021Português

(UNESP - 2021- 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 02 a 05, leia a crnica A obra-prima, de Lima Barreto, publicada na revista Careta em 25.09.1915. Marco Aurlio de Jesus, dono de um grande talento e senhor de um slido saber, resolveu certa vez escrever uma obra sobre filologia. Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e que daria ao esprito inculto dos brasileiros as noes exatas da lngua portuguesa. Trabalhou durante trs anos, com esforo e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria trazer confuso, dificuldade de hoje, o saber de amanh. Era uma obra-prima pelas generalizaes e pelos exemplos. A quem dedic-la? Como dedic-la? E o prefcio? E Marco Aurlio resolve meditar. Ao fim de igual tempo havia resolvido o difcil problema. A obra seria, segundo o velho hbito, precedida de duas palavras ao leitor e levaria, como demonstrao de sua submisso intelectual, uma dedicatria. Mas duas palavras, quando seriam centenas as que escreveria? No. E Marco Aurlio contou as duas palavras uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance nico, genial, destacou em relevo, ao alto da pgina duzentas e uma palavras ao leitor. E a dedicatria? A dedicatria, como todas as dedicatrias, seria a plida homenagem de seu talento ao esprito amigo que lhe ensinara a pensar Mas plida homenagem Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expresso comum: plida homenagem? No. E pensou. E de sua grave meditao, de seu profundo pensamento, saiu a frase lmpida, a grande frase que definia a sua ideia da expresso e, num gesto, sulcou o alto da pgina de oferta com a frase sublime: lvida homenagem do autor Est a como um grande gramtico faz uma obra-prima. Leiam-na e vero como a coisa bela. (Stiras e outras subverses, 2016.) O cronista narra uma srie de fatos ocorridos no passado. Um fato anterior a esse tempo passado est indicado pela forma verbal sublinhada em

Questão 5
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(UNESP - 2021 - 2 FASE) Leia a crnica de Machado de Assis, publicada em 19.05.1888. Eu perteno a uma famlia de profetasaprs coup,post facto,depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em holands. Por isso digo, e juro se necessrio for, que toda a histria desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa dos seus dezoito anos, mais ou menos. Alforri-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar. Neste jantar, a que os meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notcias dissessem trinta e trs (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simblico. No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha lngua), levantei-me eu com a taa de champanha e declarei que, acompanhando as ideias pregadas por Cristo, h dezoito sculos, restitua a liberdade ao meu escravo Pancrcio; que entendia que a nao inteira devia acompanhar as mesmas ideias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens no podiam roubar sem pecado. Pancrcio, que estava espreita, entrou na sala, como um furaco, e veio a abraar-me os ps. Um dos meus amigos (creio que ainda meu sobrinho) pegou de outra taa, e pediu ilustre assembleia que correspondesse ao ato que eu acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entregueia carta ao molecote. Todos os lenos comovidos apanharam as lgrimas de admirao. Ca na cadeira e no vi mais nada. De noite, recebi muitos cartes. Creio que esto pintando o meu retrato, e suponho que a leo. No dia seguinte, chamei Pancrcio e disse-lhe com rara franqueza: Tu s livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, j conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que Oh! meu senh! fico. Um ordenado pequeno, mas que h de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje ests mais alto que eu. Deixa ver; olha, s mais alto quatro dedos Artura no qu diz nada, no, senh Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-ris; mas de gro em gro que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha. Eu vaio um galo, sim, senh. Justamente. Pois seis mil-ris. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete. Pancrcio aceitou tudo; aceitou at um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me no escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, no podia anular o direito civil adquirido por um ttulo que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos. Tudo compreendeu o meu bom Pancrcio; da para c, tenho-lhe despedido alguns pontaps, um ou outro puxo de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe no chamo filho do diabo; coisas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que at alegre. O meu plano est feito; quero ser deputado, e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes de abolio legal, j eu, em casa, na modstia da famlia, libertava um escravo, ato que comoveu a toda a gente que dele teve notcia; que esse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar (simples suposio) ento professor de Filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente polticos, no so os que obedecem lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: s livre, antes que o digam os poderes pblicos, sempre retardatrios, trpegos e incapazes de restaurar a justia na terra, para satisfao do cu. (Machado de Assis.Crnicas escolhidas, 2013.) 1aprs coup: a posteriori. 2post facto: aps o fato. 3coup du milieu: bebida, s vezes acompanhada de brindes, que se tomava no meio de um banquete. Para evitar a repetio de um verbo j mencionado, o narrador recorre elipse de um verbo na frase

Questão 6
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(UNESP - 2021 - 2 FASE) Leia o poema Ausncia, de Carlos Drummond de Andrade, para responder a questo. Por muito tempo achei que a ausncia falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje no a lastimo. No h falta na ausncia. A ausncia um estar em mim. E sinto-a, branca, to pegada, aconchegada nos meus braos, que rio e dano e invento exclamaes alegres, porque a ausncia, essa ausncia assimilada, ningum a rouba mais de mim. (Corpo, 2015.) Depreende-se do poema que