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Questões - UNESP 2021 | Gabarito e resoluções

Questão 11
2021HistóriaPortuguês

(UNESP - 2021 - 1 FASE) Para responder s questes, leia o texto extrado da primeira parte, intitulada A terra, da obra Os sertes, de Euclides da Cunha. A obra resultou da cobertura jornalstica da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897], as cercanias de Canudos, fugindo monotonia de um canhoneio1frouxo de tiros espaados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale nico. Pequenos arbustos, icozeiros2virentes viando em tufos intermeados de palmatrias3de flores rutilantes, davam ao lugar a aparncia exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma rvore nica, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetao franzina. O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo cho e protegido por ela braos largamente abertos, face volvida para os cus um soldado descansava. Descansava... havia trs meses. Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4estrondada, o cinturo e o bon jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversrio possante. Cara, certo, derreando-se violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, no fora percebido. No compartira, por isto, a vala comum de menos de um cvado de fundo em que eram jogados, formando pela ltima vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concesso: livrara-o da promiscuidade lgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali h trs meses braos largamente abertos, rosto voltado para os cus, para os sis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traos fisionmicos, de modo a incutir a iluso exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, sombra daquela rvore benfazeja. Nem um verme o mais vulgar dos trgicos analistas da matria lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilho da vida sem decomposio repugnante, numa exausto imperceptvel. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares. (Os sertes, 2016.) 1 canhoneio: descarga de canhes. 2 icozeiro: arbusto de folhas coriceas, flores de tom verde-plido e frutos bacceos. 3 palmatria: planta da famlia das cactceas, de flores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou rseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ritter von Mannlicher. Considerando o contexto histrico de produo do texto, o soldado abandonado e seu adversrio possante podem ser identificados, em termos polticos, como

Questão 11
2021Português

(UNESP - 2021 - 2 FASE) Leia o trecho do ensaio As mutaes do poder e os limites do humano, de Newton Bignotto, para responder a questo. A modernidade se construiu a partir do Renascimento luz da famosa assero do filsofo italiano Pico della Mirandola em seu Discurso sobre a dignidade do homem (1486), segundo o qual fomos criados livres e com o poder de escolher o que desejamos ser. Diferentemente dos outros seres, o homem pode constituir a prpria face e transitar pelos caminhos mais elevados, ou degenerar at o nvel inferior das bestas. Para Pico della Mirandola, o homem um ser autoconstrudo, e, por isso, no podemos atribuir a foras transcendentes nem os sucessos nem os fracassos. A liberdade para forjar sua prpria natureza um dom que implica riscos. Se com frequncia preferimos olhar apenas para a fora de uma vontade, que decidiu explorar o mundo com as ferramentas da razo, desde a era do Barroco sabemos que o real comporta um lado escuro, que no pode ser simplesmente esquecido. Ao lado do racionalismo triunfante, sempre houve um grito de alerta quanto s trevas que rondavam as sociedades modernas. O sculo XX viu essas trevas ocuparem o centro da cena mundial e enterrou para sempre a ideia de que o progresso da civilizao iria nos livrar de nossas fraquezas e defeitos. O sculo da tcnica e dos avanos espetaculares da cincia foi tambm o sculo dos massacres e do aparecimento da morte em escala industrial. Tudo se passa como se a partir de agora no pudssemos mais esquecer da besta, que Pico della Mirandola via como uma das possibilidades de nossa natureza. O monstro, que rondava a razo, e que por tanto tempo pareceu poder ser por ela derrotado, aproveitou-se de muitas de suas conquistas para criar uma nova identidade, que nos obriga a conviver com a barbrie no seio mesmo de sociedades que tanto contriburam para criar a imagem iluminada do Ocidente. (Adauto Novaes (org.). Mutaes, 2008. Adaptado.) Est empregado em sentido figurado o termo que qualifica o substantivo na expresso

Questão 12
2021Português

(UNESP - 2021 - 2 FASE) Leia o trecho do ensaio As mutaes do poder e os limites do humano, de Newton Bignotto, para responder a questo. A modernidade se construiu a partir do Renascimento luz da famosa assero do filsofo italiano Pico della Mirandola em seu Discurso sobre a dignidade do homem (1486), segundo o qual fomos criados livres e com o poder de escolher o que desejamos ser. Diferentemente dos outros seres, o homem pode constituir a prpria face e transitar pelos caminhos mais elevados, ou degenerar at o nvel inferior das bestas. Para Pico della Mirandola, o homem um ser autoconstrudo, e, por isso, no podemos atribuir a foras transcendentes nem os sucessos nem os fracassos. A liberdade para forjar sua prpria natureza um dom que implica riscos. Se com frequncia preferimos olhar apenas para a fora de uma vontade, que decidiu explorar o mundo com as ferramentas da razo, desde a era do Barroco sabemos que o real comporta um lado escuro, que no pode ser simplesmente esquecido. Ao lado do racionalismo triunfante, sempre houve um grito de alerta quanto s trevas que rondavam as sociedades modernas. O sculo XX viu essas trevas ocuparem o centro da cena mundial e enterrou para sempre a ideia de que o progresso da civilizao iria nos livrar de nossas fraquezas e defeitos. O sculo da tcnica e dos avanos espetaculares da cincia foi tambm o sculo dos massacres e do aparecimento da morte em escala industrial. Tudo se passa como se a partir de agora no pudssemos mais esquecer da besta, que Pico della Mirandola via como uma das possibilidades de nossa natureza. O monstro, que rondava a razo, e que por tanto tempo pareceu poder ser por ela derrotado, aproveitou-se de muitas de suas conquistas para criar uma nova identidade, que nos obriga a conviver com a barbrie no seio mesmo de sociedades que tanto contriburam para criar a imagem iluminada do Ocidente. (Adauto Novaes (org.). Mutaes, 2008. Adaptado.) Diticos: expresses lingusticas cuja interpretao depende da pessoa, do lugar e do momento em que so enunciadas. Por exemplo, eu designa a pessoa que fala eu. Expresses como aqui, hoje devem ser interpretadas em funo de onde e em que momento se encontra o locutor, quando diz aqui e hoje. (Ernani Terra. Leitura do texto literrio, 2014. Adaptado.) Verifica-se a ocorrncia de ditico no seguinte trecho:

Questão 12
2021PortuguêsGeografia

(UNESP - 2021 - 1 FASE) Para responder s questes, leia o texto extrado da primeira parte, intitulada A terra, da obra Os sertes, de Euclides da Cunha. A obra resultou da cobertura jornalstica da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897], as cercanias de Canudos, fugindo monotonia de um canhoneio1frouxo de tiros espaados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale nico. Pequenos arbustos, icozeiros2virentes viando em tufos intermeados de palmatrias3de flores rutilantes, davam ao lugar a aparncia exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma rvore nica, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetao franzina. O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo cho e protegido por ela braos largamente abertos, face volvida para os cus um soldado descansava. Descansava... havia trs meses. Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4estrondada, o cinturo e o bon jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversrio possante. Cara, certo, derreando-se violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, no fora percebido. No compartira, por isto, a vala comum de menos de um cvado de fundo em que eram jogados, formando pela ltima vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concesso: livrara-o da promiscuidade lgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali h trs meses braos largamente abertos, rosto voltado para os cus, para os sis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traos fisionmicos, de modo a incutir a iluso exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, sombra daquela rvore benfazeja. Nem um verme o mais vulgar dos trgicos analistas da matria lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilho da vida sem decomposio repugnante, numa exausto imperceptvel. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares. (Os sertes, 2016.) 1 canhoneio: descarga de canhes. 2 icozeiro: arbusto de folhas coriceas, flores de tom verde-plido e frutos bacceos. 3 palmatria: planta da famlia das cactceas, de flores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou rseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ritter von Mannlicher. A paisagem retratada no texto mostra-se compatvel com o clima que registra

Questão 12
2021Português

(UNESP - 2021- 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 12 a 16, leia o trecho do romance Grande serto: veredas, de Guimares Rosa. Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas no por disfarar, no pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. No crio receio. O senhor homem de pensar o dos outros como sendo o seu, no criatura de pr denncia. E meus feitos j revogaram, prescrio dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoada, ningum me caa. Da vida pouco me resta s o deo-gratias; e o troco. Bobeia. Na feira de So Joo Branco, um homem andava falando: A ptria no pode nada com a velhice... Discordo. A ptria dos velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anis velhos sem valor, as pedras retiradas ele dizia: aqueles todos anis davam at choque eltrico... No. Eu estou contando assim, porque o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? Isso como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Gois, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em So Romo, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, so outras coisas. A lembrana da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem no misturam. Contar seguido, alinhavado, s mesmo sendo as coisas de rasa importncia. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim que eu conto. [...] Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. (Grande serto: veredas, 2015.) No texto, o narrador

Questão 13
2021Inglês

(UNESP - 2021 - 2 FASE) Leia o texto para responder a questo. Culture is language: why an indigenous tongue is thriving in Paraguay On a hillside monument in Asuncin, a statue of the mythologized indigenous chief Lambar stands alongside other great leaders from Paraguayan history. The other historical heroes on display are of mixed ancestry, but the idea of a noble indigenous heritage is strong in Paraguay, and uniquely in the Americas can be expressed by most of the countrys people in an indigenous language: Paraguayan Guaran. Guaran is our culture its where our roots are, said Tomasa Cabral, a market vendor in the city. Elsewhere in the Americas, European colonial languages are pushing native languages towards extinction, but Paraguayan Guaran a language descended from several indigenous tongues remains one of the main languages of 70% of the countrys population. And unlike other widely spoken native tongues such as Quechua, Aymara or the Mayan languages it is overwhelmingly spoken by non-indigenous people. Miguel Vern, a linguist and member of the Academy of the Guaran Language, said the language had survived partly because of the landlocked countrys geographic isolation and partly because of the linguistic loyalty of its people. The indigenous people refused to learn Spanish, he said. The imperial governors had to learn to speak Guaran. But while it remains under pressure from Spanish, Paraguayan Guaran is itself part of the threat looming over the countrys other indigenous languages. Paraguays 19 surviving indigenous groups each have their own tongue, but six of them are listed by Unesco as severely or critically endangered. The benefits of speaking the countrys two official languages were clear. Spanish remains the language of government, and Paraguayan Guaran is widely spoken in rural areas, where it is a key requisite for many jobs. But the value of maintaining other tongues was incalculable, said Alba Eiragi Duarte, a poet from the Ava Guaran people. Our culture is transmitted through our own language: culture is language. When we love our language, we love ourselves. (William Costa. www.theguardian.com, 03.09.2020. Adaptado.) The text is mainly about

Questão 13
2021Português

(UNESP - 2021 - 1 FASE) Para responder s questes de 09 a 15, leia o texto extrado da primeira parte, intitulada A terra, da obra Os sertes, de Euclides da Cunha. A obra resultou da cobertura jornalstica da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897], as cercanias de Canudos, fugindo monotonia de um canhoneio1frouxo de tiros espaados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale nico. Pequenos arbustos, icozeiros2virentes viando em tufos intermeados de palmatrias3de flores rutilantes, davam ao lugar a aparncia exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma rvore nica, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetao franzina. O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo cho e protegido por ela braos largamente abertos, face volvida para os cus um soldado descansava. Descansava... havia trs meses. Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4estrondada, o cinturo e o bon jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversrio possante. Cara, certo, derreando-se violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, no fora percebido. No compartira, por isto, a vala comum de menos de um cvado de fundo em que eram jogados, formando pela ltima vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concesso: livrara-o da promiscuidade lgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali h trs meses braos largamente abertos, rosto voltado para os cus, para os sis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traos fisionmicos, de modo a incutir a iluso exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, sombra daquela rvore benfazeja. Nem um verme o mais vulgar dos trgicos analistas da matria lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilho da vida sem decomposio repugnante, numa exausto imperceptvel. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares. (Os sertes, 2016.) 1 canhoneio: descarga de canhes. 2 icozeiro: arbusto de folhas coriceas, flores de tom verde-plido e frutos bacceos. 3 palmatria: planta da famlia das cactceas, de flores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou rseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ritter von Mannlicher. Alm da primeira parte intitulada A terra, outras duas partes, intituladas O homem e A luta, compem Os sertes. Verifica-se assim, na prpria estrutura da obra, uma ntida influncia do

Questão 13
2021Português

(UNESP - 2021- 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 12 a 16, leia o trecho do romance Grande serto: veredas, de Guimares Rosa. Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas no por disfarar, no pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. No crio receio. O senhor homem de pensar o dos outros como sendo o seu, no criatura de pr denncia. E meus feitos j revogaram, prescrio dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoada, ningum me caa. Da vida pouco me resta s o deo-gratias; e o troco. Bobeia. Na feira de So Joo Branco, um homem andava falando: A ptria no pode nada com a velhice... Discordo. A ptria dos velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anis velhos sem valor, as pedras retiradas ele dizia: aqueles todos anis davam at choque eltrico... No. Eu estou contando assim, porque o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? Isso como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Gois, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em So Romo, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, so outras coisas. A lembrana da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem no misturam. Contar seguido, alinhavado, s mesmo sendo as coisas de rasa importncia. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim que eu conto. [...] Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. (Grande serto: veredas, 2015.) No trecho O senhor homem de pensar o dos outros como sendo o seu, no criatura de pr denncia, o narrador caracteriza seu interlocutor como

Questão 14
2021Inglês

(UNESP - 2021 - 2 FASE) Leia o texto para responder a questo. Culture is language: why an indigenous tongue is thriving in Paraguay On a hillside monument in Asuncin, a statue of the mythologized indigenous chief Lambar stands alongside other great leaders from Paraguayan history. The other historical heroes on display are of mixed ancestry, but the idea of a noble indigenous heritage is strong in Paraguay, and uniquely in the Americas can be expressed by most of the countrys people in an indigenous language: Paraguayan Guaran. Guaran is our culture its where our roots are, said Tomasa Cabral, a market vendor in the city. Elsewhere in the Americas, European colonial languages are pushing native languages towards extinction, but Paraguayan Guaran a language descended from several indigenous tongues remains one of the main languages of 70% of the countrys population. And unlike other widely spoken native tongues such as Quechua, Aymara or the Mayan languages it is overwhelmingly spoken by non-indigenous people. Miguel Vern, a linguist and member of the Academy of the Guaran Language, said the language had survived partly because of the landlocked countrys geographic isolation and partly because of the linguistic loyalty of its people. The indigenous people refused to learn Spanish, he said. The imperial governors had to learn to speak Guaran. But while it remains under pressure from Spanish, Paraguayan Guaran is itself part of the threat looming over the countrys other indigenous languages. Paraguays 19 surviving indigenous groups each have their own tongue, but six of them are listed by Unesco as severely or critically endangered. The benefits of speaking the countrys two official languages were clear. Spanish remains the language of government, and Paraguayan Guaran is widely spoken in rural areas, where it is a key requisite for many jobs. But the value of maintaining other tongues was incalculable, said Alba Eiragi Duarte, a poet from the Ava Guaran people. Our culture is transmitted through our own language: culture is language. When we love our language, we love ourselves. (William Costa. www.theguardian.com, 03.09.2020. Adaptado.) According to the text, the fact that 70% of Paraguayan population speak Guaran makes the language

Questão 14
2021Português

(UNESP - 2021 - 1 FASE) Para responder s questes de 09 a 15, leia o texto extrado da primeira parte, intitulada A terra, da obra Os sertes, de Euclides da Cunha. A obra resultou da cobertura jornalstica da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897], as cercanias de Canudos, fugindo monotonia de um canhoneio1frouxo de tiros espaados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale nico. Pequenos arbustos, icozeiros2virentes viando em tufos intermeados de palmatrias3de flores rutilantes, davam ao lugar a aparncia exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma rvore nica, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetao franzina. O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo cho e protegido por ela braos largamente abertos, face volvida para os cus um soldado descansava. Descansava... havia trs meses. Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4estrondada, o cinturo e o bon jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversrio possante. Cara, certo, derreando-se violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, no fora percebido. No compartira, por isto, a vala comum de menos de um cvado de fundo em que eram jogados, formando pela ltima vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concesso: livrara-o da promiscuidade lgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali h trs meses braos largamente abertos, rosto voltado para os cus, para os sis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traos fisionmicos, de modo a incutir a iluso exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, sombra daquela rvore benfazeja. Nem um verme o mais vulgar dos trgicos analistas da matria lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilho da vida sem decomposio repugnante, numa exausto imperceptvel. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares. (Os sertes, 2016.) 1 canhoneio: descarga de canhes. 2 icozeiro: arbusto de folhas coriceas, flores de tom verde-plido e frutos bacceos. 3 palmatria: planta da famlia das cactceas, de flores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou rseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ritter von Mannlicher. Considerando-se o contexto, o termo que qualifica o substantivo na expresso adversrio possante (4pargrafo) tem sentido oposto ao termo que qualifica o substantivo em

Questão 14
2021História

(UNESP - 2021- 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 12 a 16, leia o trecho do romance Grande serto: veredas, de Guimares Rosa. Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas no por disfarar, no pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. No crio receio. O senhor homem de pensar o dos outros como sendo o seu, no criatura de pr denncia. E meus feitos j revogaram, prescrio dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoada, ningum me caa. Da vida pouco me resta s o deo-gratias; e o troco. Bobeia. Na feira de So Joo Branco, um homem andava falando: A ptria no pode nada com a velhice... Discordo. A ptria dos velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anis velhos sem valor, as pedras retiradas ele dizia: aqueles todos anis davam at choque eltrico... No. Eu estou contando assim, porque o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? Isso como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Gois, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em So Romo, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, so outras coisas. A lembrana da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem no misturam. Contar seguido, alinhavado, s mesmo sendo as coisas de rasa importncia. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim que eu conto. [...] Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. (Grande serto: veredas, 2015.) O evento histrico mencionado no texto est relacionado

Questão 15
2021Inglês

(UNESP - 2021 - 2 FASE) Leia o texto para responder a questo. Culture is language: why an indigenous tongue is thriving in Paraguay On a hillside monument in Asuncin, a statue of the mythologized indigenous chief Lambar stands alongside other great leaders from Paraguayan history. The other historical heroes on display are of mixed ancestry, but the idea of a noble indigenous heritage is strong in Paraguay, and uniquely in the Americas can be expressed by most of the countrys people in an indigenous language: Paraguayan Guaran. Guaran is our culture its where our roots are, said Tomasa Cabral, a market vendor in the city. Elsewhere in the Americas, European colonial languages are pushing native languages towards extinction, but Paraguayan Guaran a language descended from several indigenous tongues remains one of the main languages of 70% of the countrys population. And unlike other widely spoken native tongues such as Quechua, Aymara or the Mayan languages it is overwhelmingly spoken by non-indigenous people. Miguel Vern, a linguist and member of the Academy of the Guaran Language, said the language had survived partly because of the landlocked countrys geographic isolation and partly because of the linguistic loyalty of its people. The indigenous people refused to learn Spanish, he said. The imperial governors had to learn to speak Guaran. But while it remains under pressure from Spanish, Paraguayan Guaran is itself part of the threat looming over the countrys other indigenous languages. Paraguays 19 surviving indigenous groups each have their own tongue, but six of them are listed by Unesco as severely or critically endangered. The benefits of speaking the countrys two official languages were clear. Spanish remains the language of government, and Paraguayan Guaran is widely spoken in rural areas, where it is a key requisite for many jobs. But the value of maintaining other tongues was incalculable, said Alba Eiragi Duarte, a poet from the Ava Guaran people. Our culture is transmitted through our own language: culture is language. When we love our language, we love ourselves. (William Costa. www.theguardian.com, 03.09.2020. Adaptado.) No trecho do segundo pargrafo And unlike other widely spoken native tongues, o termo sublinhado expressa

Questão 15
2021Português

(UNESP - 2021 - 1 FASE) Para responder s questes de 09 a 15, leia o texto extrado da primeira parte, intitulada A terra, da obra Os sertes, de Euclides da Cunha. A obra resultou da cobertura jornalstica da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897], as cercanias de Canudos, fugindo monotonia de um canhoneio1frouxo de tiros espaados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale nico. Pequenos arbustos, icozeiros2virentes viando em tufos intermeados de palmatrias3de flores rutilantes, davam ao lugar a aparncia exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma rvore nica, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetao franzina. O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo cho e protegido por ela braos largamente abertos, face volvida para os cus um soldado descansava. Descansava... havia trs meses. Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4estrondada, o cinturo e o bon jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversrio possante. Cara, certo, derreando-se violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, no fora percebido. No compartira, por isto, a vala comum de menos de um cvado de fundo em que eram jogados, formando pela ltima vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concesso: livrara-o da promiscuidade lgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali h trs meses braos largamente abertos, rosto voltado para os cus, para os sis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traos fisionmicos, de modo a incutir a iluso exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, sombra daquela rvore benfazeja. Nem um verme o mais vulgar dos trgicos analistas da matria lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilho da vida sem decomposio repugnante, numa exausto imperceptvel. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares. (Os sertes, 2016.) 1 canhoneio: descarga de canhes. 2 icozeiro: arbusto de folhas coriceas, flores de tom verde-plido e frutos bacceos. 3 palmatria: planta da famlia das cactceas, de flores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou rseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ritter von Mannlicher. Observa-se o emprego de voz passiva no trecho

Questão 15
2021Português

(UNESP - 2021- 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 12 a 16, leia o trecho do romance Grande serto: veredas, de Guimares Rosa. Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas no por disfarar, no pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. No crio receio. O senhor homem de pensar o dos outros como sendo o seu, no criatura de pr denncia. E meus feitos j revogaram, prescrio dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoada, ningum me caa. Da vida pouco me resta s o deo-gratias; e o troco. Bobeia. Na feira de So Joo Branco, um homem andava falando: A ptria no pode nada com a velhice... Discordo. A ptria dos velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anis velhos sem valor, as pedras retiradas ele dizia: aqueles todos anis davam at choque eltrico... No. Eu estou contando assim, porque o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? Isso como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Gois, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em So Romo, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, so outras coisas. A lembrana da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem no misturam. Contar seguido, alinhavado, s mesmo sendo as coisas de rasa importncia. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim que eu conto. [...] Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. (Grande serto: veredas, 2015.) Para a formao do neologismo vivimento, o narrador recorreu ao mesmo processo de formao de palavras observado em

Questão 16
2021Português

(UNESP - 2021 - 1 FASE) Leia a narrativa O leo, o burro e o rato, de Millr Fernandes, para responder s questes de 16 a 19. Um leo, um burro e um rato voltaram, afinal, da caada que haviam empreendido juntos1 e colocaram numa clareira tudo que tinham caado: dois veados, algumas perdizes, trs tatus, uma paca e muita caa menor. O leo sentou-se num tronco e, com voz tonitruante que procurava inutilmente suavizar, berrou: Bem, agora que terminamos um magnfico dia de trabalho, descansemos aqui, camaradas, para a justa partilha do nosso esforo conjunto. Compadre burro, por favor, voc, que o mais sbio de ns trs, com licena do compadre rato, voc, compadre burro, vai fazer a partilha desta caa em trs partes absolutamente iguais. Vamos, compadre rato, at o rio, beber um pouco de gua, deixando nosso grande amigo burro em paz para deliberar. Os dois se afastaram, foram at o rio, beberam gua2 e ficaram um tempo. Voltaram e verificaram que o burro tinha feito um trabalho extremamente meticuloso, dividindo a caa em trs partes absolutamente iguais. Assim que viu os dois voltando, o burro perguntou ao leo: Pronto, compadre leo, a est: que acha da partilha? O leo no disse uma palavra. Deu uma violenta patada na nuca do burro, prostrando-o no cho, morto. Sorrindo, o leo voltou-se para o rato e disse: Compadre rato, lamento muito, mas tenho a impresso de que concorda em que no podamos suportar a presena de tamanha inaptido e burrice. Desculpe eu ter perdido a pacincia, mas no havia outra coisa a fazer. H muito que eu no suportava mais o compadre burro. Me faa um favor agora divida voc o bolo da caa, incluindo, por favor, o corpo do compadre burro. Vou at o rio, novamente, deixando-lhe calma para uma deliberao sensata. Mal o leo se afastou, o rato no teve a menor dvida. Dividiu o monte de caa em dois: de um lado, toda a caa, inclusive o corpo do burro. Do outro, apenas um ratinho cinza morto por acaso. O leo ainda no tinha chegado ao rio, quando o rato o chamou: Compadre leo, est pronta a partilha! O leo, vendo a caa dividida de maneira to justa, no pde deixar de cumprimentar o rato: Maravilhoso, meu caro compadre, maravilhoso! Como voc chegou to depressa a uma partilha to certa? E o rato respondeu: Muito simples. Estabeleci uma relao matemtica entre seu tamanho e o meu claro que voc precisa comer muito mais. Tracei uma comparao entre a sua fora e a minha claro que voc precisa de muito maior volume de alimentao do que eu. Comparei, ponderadamente, sua posio na floresta com a minha e, evidentemente, a partilha s podia ser esta. Alm do que, sou um intelectual, sou todo esprito! Inacreditvel, inacreditvel! Que compreenso! Que argcia! exclamou o leo, realmente admirado. Olha, juro que nunca tinha notado, em voc, essa cultura. Comovoc escondeu isso o tempo todo, e quem lhe ensinou tanta sabedoria? Na verdade, leo, eu nunca soube nada. Se me perdoa um elogio fnebre, se no se ofende, acabei de aprender tudo agora mesmo, com o burro morto. Moral: S um burro tenta ficar com a parte do leo. 1 A conjugao de esforos to heterogneos na destruio do meio ambiente coisa muito comum. 2 Enquanto estavam bebendo gua, o leo reparou que o rato estava sujando a gua que ele bebia. Mas isso j outra fbula. (100 fbulas fabulosas, 2012.) A narrativa de Millr Fernandes afasta-se do modelo tradicional da fbula na medida em que emprega um tom