(UNESP - 2024)
Era a Índia que nos sustentava nas dificuldades de nossas circunstâncias. Era um aspecto de nossa identidade, da identidade comum que tínhamos desenvolvido e que, na Trinidad multirracial, se tornara uma identidade racial.
Era essa a identidade que eu levara para a Índia em minha primeira visita em 1962. Ao chegar, percebi que isso nada significava na Índia. A ideia de uma comunidade indiana — na verdade uma ideia europeia de nossa identidade indiana — apenas tinha sentido quando a comunidade era muito pequena, minoritária e isolada. Na torrente da Índia, com suas centenas de milhões, onde a ameaça eram o caos e o vazio, essa noção europeia em nada ajudava.
(V.S. Naipaul. Índia: um milhão de motins agora, 1997.)
O excerto traz o relato de um escritor de ascendência indiana, nascido em Trinidad e Tobago, quando de sua primeira viagem para a Índia. Segundo ele, há
um impasse sociopolítico na Índia atual, pois o país teve um passado glorioso, mas não conseguiu se reorganizar política e economicamente após o fim do domínio colonial britânico sobre a região.
uma continuidade entre a Índia do período de colonização europeia e a Índia independente, pois os indianos que vivem dentro e fora do país sentem-se pertencentes ao mesmo grupo nacional-identitário.
uma identidade comum de origem religiosa, que se manifesta de maneira igual no conjunto de indianos que vivem na Índia e nas comunidades de descendentes de indianos organizadas em outros países.
um descompasso entre a percepção da Índia que se tem de fora do país asiático, e que é afetada por valores nacionais de origem europeia, e a percepção que os próprios indianos têm de seus vínculos sociais.
uma ruptura entre o passado histórico indiano, que se associa ao domínio político-militar que o país exerceu sobre o subcontinente asiático, e o presente de superpopulação provocada pela colonização europeia.