(UNICAMP - 2001 - 2 FASE)Na coluna De zero a dez, de Rubem Tavares, publicada na revista Business Travell, 34, no primeiro semestre de 2000, p. 13, encontram-se, entre outras, as seguintes notas, parcialmente adaptadas: Para os lunticos que insistem em soltar bales de grande porte, causando incndios e srios riscos segurana dos vos: segundo o Controle de Trfego Areo, em 1998 foram registradas 99 ocorrncias em Guarulhos. Em todo o ano passado foram registradas 33 ocorrncias e, neste ano, s no perodo de janeiro a abril, j foram 31. As autoridades deveriam enquadrar os responsveis por crime inafianvel e trancafi-los em presdios por longos anos. No seria o caso de a Prefeitura pagar por cada nova pichao feita na cidade? claro que sim. Se todos entrassem com uma ao simultaneamente, com certeza o prefeito encontraria novas atribuies para a Guarda Municipal. Vide sugesto na nota anterior que tambm poderia ser aplicada nestes casos. a) Qual a concluso implcita na seqncia neste ano, s no perodo de janeiro a abril, j foram 31, que se encontra na primeira nota? b) Explicite a sugesto dada no final da segunda nota.
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE) Quando o treinador Leo foi escolhido para dirigir a seleo brasileira de futebol, o jornal Correio Popular publicou um texto com muitas imprecises, do qual consta a seguinte passagem: Durante sua carreira de goleiro, iniciada no Comercial de Ribeiro Preto, sua terra natal, Leo, de 51 anos, sempre imps seu estilo ao mesmo tempo arredio e disciplinado. Por outro lado, costumava ficar horas aprimorando seus defeitos aps os treinos. Ao chegar seleo brasileira em 1970, quando fez parte do grupo que conquistou o tricampeonato mundial, Leo no dava um passo em falso. Cada atitude e cada declarao eram pensadas com um racionalismo tpico de sua famlia, j que seus outros dois irmos, Edmlson, 53 anos, e dson, 58, so mdicos. (Correio Popular, Campinas, 20/10/2000.) a) O que aconteceria com Leo se ele, efetivamente, ficasse aprimorando seus defeitos? Reescreva o trecho de maneira a eliminar o equvoco. b) A expresso, por outro lado, no incio do segundo perodo, contribui para tornar o trecho incoerente. Por qu? c) Por que o emprego da palavra racionalismo inadequado nessa passagem?
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE) A breve tira a seguir fornece um bom exemplo de como o contexto pode afetar a interpretao e at mesmo a anlise gramatical de uma seqncia lingstica. a) Supondo que a fala da moa fosse lida fora do contexto dessa tira, como voc a entenderia? b) Se a fala da moa fosse considerada uma continuao da fala do rapaz, poderia ser entendida como uma nica palavra, de derivao no prevista na lngua portuguesa. Que palavra seria e o que significaria? c) As duas leituras possveis para a fala da moa no esto em contradio; ao contrrio, reforam-se. O que significar essa fala, se fizermos simultaneamente as duas leituras?
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE)O texto abaixo foi publicado na seo Cartas do leitor da Folha de S. Paulo de 30/08/2000. Referida a um crime que teve repercusso na imprensa escrita e falada, esta carta d uma notvel demonstrao de machismo e desprezo pelas mulheres. A recente morte violenta de uma jornalista choca a todos porque, nesse fato, o assassino foge ao perfil comum de tais tipos, mas certas situaes que levam a isso esto a, nos crculos milionrios, meios artsticos, esportivos e de poder. Tudo porque o homem no aprende. H milnios, gosta de passar aos demais uma imagem de eterna juventude e virilidade, posando com fmeas muito mais jovens. Fingem acreditar que elas esto a por am-los. So poucas vezes atradas pelo seu intelecto, e muitas pela fama, poder e dinheiro. A durabilidade de tais ligaes, no geral, termina quando tal fmea atinge seu objetivo. Pior ainda, quando essa fmea mostra tambm intelecto e capacidade de sobrevivncia sem seu protetor. Duro, triste, real. (Larcio Zanini, Gara, SP) a) O texto usa, em relao s mulheres, um termo fortemente conotado, e lhes atribui um comportamento que as desqualifica. Transcreva uma frase em que o termo ocorre, associado descrio de comportamentos que desqualificariam as mulheres. Sublinhe o termo em questo na sua frase. b) Quais os traos de carter das mulheres em relao aos quais os homens deveriam se precaver, segundo o autor dessa carta? c) A quem se refere o autor da carta, na frase o homem no aprende?
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE) STF d vitria ao governo no julgamento do artigo 20 Pela diferena de um voto, o governo saiu vitorioso ontem no julgamento do pedido de liminar contra o artigo 20 da Lei de Responsabilidade Fiscal. Uma retificao no voto do ministro Marco Aurlio de Mello garantiu a deciso do STF, que confirmou a constitucionalidade do artigo que estabelece os limites de gastos com pessoal para os trs poderes. A reviso promovida pelo ministro Marco Aurlio favoreceu o governo, que corria o risco de ficar impedido de aplicar cortes de despesas com folha de pagamento previstas na lei, especialmente em relao aos Poderes Legislativo e Judicirio no mbito dos Estados e Municpios.Existem ainda no STF outras cinco aes propostas pela oposio contra dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal. (O Estado de S. Paulo, 12/10/2000.) (nota: o ttulo de ministro dado aos juzes do Supremo Tribunal Federal) a) No texto acima, ocorrem vrios termos de jargo tcnico que remetem a diversas fases do andamento de um processo no judicirio. Transcreva pelo menos trs. b) O que os termos retificao e reviso informam sobre a participao do juiz Marco Aurlio de MeIlo no julgamento da questo? c) Do que trata o artigo 20 da lei de Responsabilidade Fiscal? Responda, com base no texto.
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE)Veja e leia a tira abaixo, publicada no Caderno Imveis, da Folha de S. Paulo de 06/08/2000: a) Para apreender o humor dessa tira, o leitor deve compartilhar com o autor de uma opinio, no necessariamente correta, sobre caractersticas associadas arquitetura. Que caractersticas so essas? b) A tira leva concluso de que Pequeno Castor um sonhador. D dois sentidos de sonhador e explique como cada um deles pode se relacionar com a escolha profissional anunciada por Pequeno Castor.
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE)Leia agora as seguintes estrofes, que se encontram em passagens diversas de A farsa de Ins Pereira de Gil Vicente: Ins: Andar! Pero Marques seja! Quero tomar por esposo quem se tenha por ditoso de cada vez que me veja. Por usar de siso mero, asno que leve quero, e no cavalo folo; antes lebre que leo, antes lavrador que Nero. Pero: I onde quiserdes ir vinde quando quiserdes vir, estai quando quiserdes estar. Com que podeis vs folgar que eu no deva consentir? (nota: folo, no caso, significa bravo, fogoso) a) A fala de Ins ocorre no momento em que aceita casar-se com Pero Marques, aps o malogrado matrimnio com o escudeiro. H um trecho nessa fala que se relaciona literalmente com o final da pea. Que trecho esse? Qual o pormenor da cena final da pea que ele est antecipando? b) A fala de Pero, dirigida a Ins, revela uma atitude contrria a uma caracterstica atribuda ao seu primeiro marido. Qual essa caracterstica ? c) Considerando o desfecho dos dois casamentos de Ins, explique por que essa pea de Gil Vicente pode ser considerada uma stira moral.
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE)Considere o seguinte trecho de A Sibila, romance de Agustina Bessa-Lus: Mas Quina amava o mundo, as suas manifestaes de poder, de grandeza e superficiais ouropis; amava, se no a multido, os que venciam, o espalhafato e a exterioridade. Admirava todas as coisas bafejadas pelo xito; invejava tudo quanto lhe parecia culminncia de situaes, de felicidade moda, classe, saber. Isto condenou-a. Esse apego apaixonado ao momentneo manteve-a sempre ao nvel do efmero. Criou asas, sem jamais poder voar. Havia nela uma admirvel capacidade de entusiasmo que podia arrast-la ao sobre-humano. Mas o instinto prtico pesava-lhe como chumbo no corao, e ela subordinava aos interesses a chama que Prometeu furtou e cujo valor ela nunca compreendeu. (nota: Prometeu, mito da Antigidade grega, conhecido por ter tirado dos deuses a posse do fogo) a) O trecho fala da personagem central do romance, Quina. Segundo o narrador, sua personalidade sustentava-se sobre uma contradio entre dois plos reconhecveis nesse trecho. Como voc resumiria essa contradio? b) Nesse trecho, observa-se uma clara inteno de anlise de carter por parte do narrador em relao a Quina. Pode-se dizer que h uma relao entre essa preocupao de anlise e o fato de a crtica haver considerado essa obra um romance sem intriga. Por qu?
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE)O poema abaixo de Carlos de Oliveira, reconhecidamente um dos maiores escritores portugueses contemporneos. Como fica patente pelo ttulo e por certos recursos de linguagem do texto, trata-se de um poema em forma de carta, que imita o estilo infantil. CARTA DA INFNCIA Amigo Luar: Estou fechado no quarto escuro e tenho chorado muito. Quando choro l fora ainda posso ver as lgrimas carem na palma das minhas mos e brincar com elas ao orvalho nas flores pela manh. Mas aqui tudo por demais escuro e eu nem sequer tenho duas estrelas nos meus olhos. Lembro-me das noites em que me fazem deitar to cedo e te oio bater, chamar e bater, na fresta da minha janela. Pelo muito que te tenho perdido enquanto durmo Vem agora, no bico dos ps para que eles no te sintam l dentro, brincar comigo aos presos no segredo quando se abre a porta de ferro e a luz diz: Bons dias, amigo. (nota: brincar aos presos no segredo quer dizer brincar de presos no segredo; e presos no segredo, por sua vez, uma expresso que significa tambm presos incomunicveis) a) O remetente e o destinatrio dessa Carta da infncia encontram-se em espaos diferentes e opostos. Como voc interpreta essa oposio espacial e quais dos cinco sentidos humanos a traduzem? b) A partir da oposio entre aqui e l fora, que outras oposies se estabelecem no poema? c) Como os versos finais do poema sugerem uma resoluo para tais oposies?
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE)O burocrata lrico que protagoniza o romance O amanuense Belmiro, de Ciro dos Anjos, avesso a comportamentos extremados, espontneos ou instintivos, caracterstica que aparece registrada em suas anotaes. Uma das raras excees ocorre no episdio da noite de Carnaval, descrito no captulo 7, A donzela Arabela. a) Resumidamente, o que acontece a Belmiro nessa noite? b) Como esses acontecimentos alteram o balano entre presente e passado em suas notas ou apontamentos pessoais?
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE)Em Ubirajara, tal como em Iracema e em O Guarani, Jos de Alencar prope uma interpretao de Brasil em que o ndio exerce um papel central. a) Que sentido tm as sucessivas mudanas de nome do protagonista no romance? b) Qual o papel das notas explicativas nesse romance? Do que elas tratam em sua maior parte? c) Como o romance e suas notas tratam o ritual antropofgico, no empenho de construir uma viso do perodo pr-cabralino?
(UNICAMP - 2001 - 2 FASE)Considere o poema abaixo: INVENTRIO Povoam o escritrio vrios utenslios uns bastante sbrios outros indiscretos Por exemplo: a mesa sbria. Rumina todos os papis no oco das gavetas O que a mesa expele para a superfcie simples dejeto livre de mistrio O arquivo tambm mvel discreto e diz muito pouco de interesse humano A caneta, o lpis o papel, o cesto so s instrumentos sem vontade prpria Dois os indiscretos: minhas duas mos lcera no estmago da repartio Aparentemente peas quase iguais s demais: os mesmos modos funcionais Contudo preciso v-Ias em sua marca: no rastro dos dedos no selo do gesto Ali onde transgridem a tica da classe que probe os objetos de serem pessoais Onde desconhecem o acordo em vigor que as coisas transforma em armas submissas No pactuam hostis minhas duas mos acidulam o ar da repartio (Francisco Alvim, Amostra Grtis. ln: Poesias Reunidas (1968-1988). So Paulo, Duas Cidades, 1988.) a) De qual critrio se serve o poeta para classificar as diferenas entre os vrios utenslios que povoam o escritrio? Por que essa classificao destoa tanto da nossa percepo habitual? b) Como aparece a presena humana em meio ao ambiente da repartio?