(UNICAMP - 2001 - 2 FASE) Considere o seguinte trecho de A Sibila, romance de Agustina Bessa-Luís:
“Mas Quina amava o mundo, as suas manifestações de poder, de grandeza e superficiais ouropéis; amava, se não a multidão, os que venciam, o espalhafato e a exterioridade. Admirava todas as coisas bafejadas pelo êxito; invejava tudo quanto lhe parecia culminância de situações, de felicidade – moda, classe, saber. Isto condenou-a. Esse apego apaixonado ao momentâneo manteve-a sempre ao nível do efêmero. Criou asas, sem jamais poder voar. Havia nela uma admirável capacidade de entusiasmo que podia arrastá-la ao sobre-humano. Mas o instinto prático pesava-lhe como chumbo no coração, e ela subordinava aos interesses a chama que Prometeu furtou e cujo valor ela nunca compreendeu.”
(nota: Prometeu, mito da Antigüidade grega, é conhecido por ter tirado dos deuses a posse do fogo)
a) O trecho fala da personagem central do romance, Quina. Segundo o narrador, sua personalidade sustentava-se sobre uma contradição entre dois pólos reconhecíveis nesse trecho. Como você resumiria essa contradição?
b) Nesse trecho, observa-se uma clara intenção de análise de caráter por parte do narrador em relação a Quina. Pode-se dizer que há uma relação entre essa preocupação de análise e o fato de a crítica haver considerado essa obra um romance sem intriga. Por quê?