(UNICAMP - 2001 - 2 FASE) O poema abaixo é de Carlos de Oliveira, reconhecidamente um dos maiores escritores portugueses contemporâneos. Como fica patente pelo título e por certos recursos de linguagem do texto, trata-se de um poema em forma de carta, que imita o estilo infantil.
CARTA DA INFÂNCIA
Amigo Luar:
Estou fechado no quarto escuro
e tenho chorado muito.
Quando choro lá fora
ainda posso ver as lágrimas caírem na palma das
minhas mãos e brincar com elas ao orvalho
nas flores pela manhã.
Mas aqui é tudo por demais escuro
e eu nem sequer tenho duas estrelas nos meus olhos.
Lembro-me das noites em que me fazem deitar
tão cedo e te oiço bater, chamar e bater,
na fresta da minha janela.
Pelo muito que te tenho perdido enquanto durmo
Vem agora,
no bico dos pés
para que eles não te sintam lá dentro,
brincar comigo aos presos no segredo
quando se abre a porta de ferro e a luz diz:
Bons dias, amigo.
(nota: brincar aos presos no segredo quer dizer “brincar de presos no segredo”; e presos no segredo, por sua vez, é uma expressão que significa também “presos incomunicáveis”)
a) O remetente e o destinatário dessa “Carta da infância” encontram-se em espaços diferentes e opostos. Como você interpreta essa oposição espacial e quais dos cinco sentidos humanos a traduzem?
b) A partir da oposição entre aqui e lá fora, que outras oposições se estabelecem no poema?
c) Como os versos finais do poema sugerem uma resolução para tais oposições?