(UNICAMP - 2016 - 2 fase) O poema abaixo de autoria de Manoel de Barros e foi publicado no Livro sobre nada, de 1996. A cincia pode classificar e nomear todos os rgos de um sabi mas no pode medir seus encantos. A cincia no pode calcular quantos cavalos de fora existem nos encantos de um sabi. Quem acumula muita informao perde o condo de adivinhar: divinare. Os sabis divinam. (Manoel de Barros, Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 53.) a) No poema h uma estrutura tpica de provrbios com uma finalidade crtica. Aponte duas caractersticas dessa estrutura. b) Considerando que o poeta joga com os sentidos do verbo adivinhar e da sua raiz latina divinare, justifique o neologismo usado no ltimo verso.
(UNICAMP - 2016 - 2 fase) (...) E, pginas adiante, o padre se portou ainda mais excelentemente, porque era mesmo uma brava criatura. Tanto assim, que, na despedida, insistiu: - Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida um dia de capina com sol quente, que s vezes custa muito a passar, mas sempre passa. E voc ainda pode ter muito pedao bom de alegria... Cada um tem a sua hora e a sua vez: voc h de ter a sua. (Joo Guimares Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga, em Sagarana. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001, p. 380.) (...) Ento, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lbios lambuzados de sangue, e de seu rosto subia um srio contentamento. Da, mais, olhou, procurando Joo Lomba, e disse, agora sussurrando, sumido: - Pe a bno na minha filha..., seja l onde for que ela esteja... E, Dionra... Fala com a Dionra que est tudo em ordem! Depois morreu. (Idem, p. 413.) a) O segundo excerto, de certo modo, confirma os ditos do padre apresentados no primeiro. Contudo, a hora e a vez do protagonista no so asseguradas, segundo a narrativa, pela reza e pelo trabalho. O que lhe garantiu ter a sua hora e a sua vez? b) A hora e a vez de Nh Augusto relacionam-se aos encontros que ele tem com outro personagem, Joozinho Bem-Bem, em dois momentos da narrativa. Em cada um desses momentos, Nh Augusto precisa realizar uma escolha. Indique quais so essas escolhas que importam para o processo de transformao do personagem protagonista.
(UNICAMP - 2016 - 2 fase) Leia o soneto abaixo, de Lus de Cames: C nesta Babilnia, donde mana Matria a quanto mal o mundo cria; C donde o puro Amor no tem valia, Que a Me, que manda mais, tudo profana; C, onde o mal se afina e o bem se dana, E pode mais que a honra a tirania; C, onde a errada e cega Monarquia Cuida que um nome vo a desengana; C, neste labirinto, onde a nobreza, Com esforo e saber pedindo vo s portas da cobia e da vileza; C neste escuro caos de confuso, Cumprindo o curso estou da natureza. V se me esquecerei de ti, Sio! (Disponvel em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf. Acessado em 08/09/2015.) a) Uma oposio espacial configura o tema e o significado desse poema de Cames. Identifique essa oposio, indicando o seu significado para o conjunto dos versos. b) Identifique nos tercetos duas expresses que contemplam a noo de desconcerto, fundamental para a compreenso do tema do soneto e da lrica camoniana.
(UNICAMP - 2016 - 2 fase) (...) Eram boas cinco horas da tarde quando desembarcamos no Terreiro do Pao. Assim terminou a minha viagem a Santarm; e assim termina este livro. Tenho visto alguma coisa do mundo, e apontado alguma coisa do que vi. De todas quantas viagens porm fiz, as que mais me interessaram sempre foram as viagens na minha terra. Se assim pensares, leitor benvolo, quem sabe? pode ser que eu tome outra vez o bordo de romeiro, e v peregrinando por esse Portugal fora, em busca de histrias para te contar. Nos caminhos de ferro dos bares que eu juro no andar. Escusada a jura, porm. Se as estradas fossem de papel, f-las-iam, no digo que no. Mas de metal! Que tenha o governo juzo, que as faa de pedra, que pode, e viajaremos com muito prazer e com muita utilidade e proveito na nossa boa terra. (Almeida Garret, Viagens na Minha Terra. Cotia, SP: Ateli Editorial, 2012, p. 316.) a) Considerando a crtica ao contexto histrico e poltico de Portugal, o que significam as referncias s possveis estradas de papel, de metal e de pedra? b) Utilizando elementos do enredo, identifique e descreva o personagem do romance que centraliza a crtica hipocrisia ideolgica e poltica de Portugal, expressa no excerto acima de maneira irnica.
(UNICAMP - 2016 - 1 fase) Em sua verso benigna, a valorizao da malandragemcorresponde ao elogio da criatividade adaptativa e dapredominncia da especificidade das circunstncias e dasrelaes pessoais sobre a frieza reducionista egeneralizante da lei. Em sua verso maximalista e maligna,porm, a valorizao da malandragem equivale negaodos princpios elementares de justia, como a igualdadeperante a lei, e ao descrdito das instituiesdemocrticas. (Adaptado de Luiz Eduardo Soares, Uma interpretao do Brasil paracontextualizar a violncia, em C. A. Messeder Pereira, Linguagens daviolncia. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 23-46.) Considerando as posies expressas no texto em relao valorizao da malandragem, correto afirmar que:
(UNICAMP - 2016 - 1 fase) Leia com ateno o texto abaixo. Nunca conheci quem tivesse sido to feliz como nasredes sociais (...) Eu tenho inveja de mim no Instagram. (...) Eu queria ser feliz como eu sou no Instagram. Eu queria ter certeza, como eu tenho no Facebook, sobre as minhas posies polticas. E no Twitter, bem, no Twitter eu no sou to feliz nem certa e por isso que de longe essa ganha como rede social de mi corazn. E quanto mais eu me sinto angustiada (quem nunca?), mais eu entro no Instagram e vejo a foto das pessoas superfelizes. E mais angustiada eu fico. Por mais que eu saiba que aquela felicidade de mentira. Outro dia uma editora de moda que faz muito sucesso no Instagram escreveu em uma legenda: at que estou bem depois de tomar um stillnox e um rivotril. (!!!!! Gente!) Mas ufa, ela assumiu. At ento, seus seguidores talvez pudessem achar que ela era uma super-herona que nunca tinha levado porrada (nem conhecido quem tivesse tomado). Ela viaja de um lado para o outro, acorda cedo, mas tem uma decorao linda na mesa, viaja de pas em pas. Trabalha loucamente. Mas ela sempre est disposta e apaixonada pelo que faz. Escuta! Quanta mentira! Nenhuma de ns est apaixonada o tempo todo pelo que faz. Eu, hoje, escrevi esse texto com muito esforo. Eu, hoje, estou achando que euescrevo mal e que perdi o jeito para a coisa. Quem nunca? Quem nunca muitas vezes? Quem estamos querendo enganar? A gente. Mas tem vezes, como agora, em que no d. Eu queria muito voltar no tempo quando as redes sociais no existiam s para lembrar como era... s vezes eu acho que, com todas as vantagens da vida em rede..., talvez a gente se sentisse melhor. Srio. Estou farto de semideuses. Onde que h gente nesse mundo?, grita o Fernando Pessoa l do tmulo. (Adaptado de Nina Lemos, disponvel em http://revistatpm.uol.com.br/blogs/berlimmandaavisar/2015/07/13/nunca-conheci-quem-tivesse-sido-tao-feliz-como-nas-redes-sociais.html.) Considerando os recursos lingusticos e discursivospresentes na configurao do texto, correto afirmar que:
(UNICAMP - 2016 - 1 fase) possvel fazer educao de qualidade sem escola possvel fazer educao embaixo de um p de manga? No s , como j acontece em 20 cidades brasileiras e em Angola, Guin-Bissau e Moambique. Decepcionado com o processo de ensinagem, o antroplogo Tio Rocha pediu demisso do cargo de professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e criou em 1984 o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento). Curvelo, no Serto mineiro, foi o laboratrio da escola que abandonou mesa, cadeira, lousa e giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianas e familiares na pedagogia da roda. A roda um lugar da ao e da reflexo, do ouvir e do aprender com o outro. Todos so educadores, porque esto preocupados com a aprendizagem. uma construo coletiva, explica. O educador diz que a roda constri consensos. Porque todo processo eletivo um processo de excluso, e tudo que exclui no educativo. Uma escola que seleciona no educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, s que cada um no seu ritmo, no podemos uniformizar. Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu dicionrio de terminologias educacionais, todas calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do abrao, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do sabo e at oficinas de cafun. Esta ltima foi provocada depois que um garoto perguntou: Tio, como fao para conquistar uma moleca? Foi a deixa para ele colocar questes de sexualidade na roda. Para resolver a falncia da educao, Tio inventou uma UTI educacional, em que mes cuidadoras fazem biscoito escrevido e folia do livro biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfabetizao. E ainda colocou em uso termos como empodimento, aps vrias vezes ser questionado pelas comunidades: Pode [fazer tal coisa], Tio? Seguida da resposta certeira: Pode, pode tudo. Aos 66 anos, Tio diz estar convicto de que a escola do futuro no existir e que ela ser substituda por espaos de aprendizagem com todas as erramentas possveis e necessrias para os estudantes aprenderem. Educao se faz com bons educadores, e o modelo escolar arcaico aprisiona e h dcadas d sinais defalncia. No precisamos de sala, recisamos de gente. No precisamos de prdio, precisamos de espaos de aprendizado. No precisamos de livros, precisamos ter todos os nstrumentos possveis que levem o menino a aprender. Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e citando Ariano Suassuna para dizer que terceira idade para fruta: verde, madura e podre, Tio diz se entir privilegiado de viver o que j viveu e acreditar na utopia de no haver mais nenhuma criana analfabeta no Brasil. Isso no uma poltica e governo, nem de terceiro setor, uma questo tica, pontua. (Qsocial, 09/12/2014. Disponvel em http://www.cpcd.org.br/portfolio/e_possivel_fazer_educacao_de_qualidade_100_escola/.) Em relao ao trecho E ainda colocou em uso termoscomo empodimento, aps vrias vezes ser questionadopelas comunidades: Pode [fazer tal coisa], Tio? Seguidada resposta certeira: Pode, pode tudo, correto afirmar:
(UNICAMP - 2016 - 1 fase) Cem anos depois Vamos passear na floresta Enquanto D. Pedro no vem. D. Pedro um rei filsofo, Que no faz mal a ningum. Vamos sair a cavalo, Pacficos, desarmados: A ordem acima de tudo. Como convm a um soldado. Vamos fazer a Repblica, Sem barulho, sem litgio, Sem nenhuma guilhotina, Sem qualquer barrete frgio. Vamos, com farda de gala, Proclamar os tempos novos, Mas cautelosos, furtivos, Para no acordar o povo. (Jos Paulo Paes, O melhor poeta da minha rua, em Fernando Paixo(sel. e org.), Para gostar de ler. So Paulo: tica, 2008, p.43.) O tom irnico do poema em relao histria do Brasil peem evidncia
(UNICAMP - 2016 - 1 fase) No conto Amor, de Clarice Lispector, a percepo dapersonagem Ana, em relao ao seu mundo, alterada deforma significativa pelo seguinte acontecimento:
(UNICAMP - 2016 - 1 fase) (...) pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que no via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil ris. Pois est em suas mos ver outras muitas, disse eu. Sim? acudiu ele, dando um bote pra mim. Trabalhando, conclu eu. Fez um gesto de desdm; calou-se alguns instantes, depois disse-me positivamente que no queria trabalhar. O trecho citado diz respeito ao encontro entre Brs Cubase Quincas Borba, no captulo 49, e, mais precisamente,apanha o momento em que Brs d uma esmola ao amigo. Considerando o conjunto do romance, correto afirmarque essa passagem
(UNICAMP -2016 - 1 fase) (...) plantai batatas, gerao de vapor e de p de pedra, *macadamizai estradas, fazei caminhos de ferro, constru passarolas de caro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, mauda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu to diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pes, andai: reduzi tudo a cifras, todas as consideraes deste mundo a equaes de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espcie humana? Que h mais umas poucas dzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas polticos, aos moralistas, se j calcularam o nmero de indivduos que foroso condenar misria, ao trabalho desproporcionado, desmoralizao, infmia, ignorncia crapulosa, desgraa invencvel, penria absoluta, para produzir um rico? *Macadamizar: pavimentar. (Almeida Garrett, Viagens na minha terra. So Paulo: Ateli Editorial, 2012, p.77.) Formou Deus o homem, e o ps num paraso de delcias; tornou a form-lo a sociedade, e o ps num inferno de tolices. (Almeida Garrett, Viagens na minha terra. So Paulo: Ateli Editorial, 2012, p.190.) Vrios discursos organizam a estrutura narrativa do romance Viagens na minha terra, de Almeida Garrett. Isso permite afirmar que a viso de mundo dessa narrativa
(UNICAMP - 2016 - 1 fase) Quanto ao conto Negrinha, de Monteiro Lobato, corretoafirmar que:
(UNICAMP - 2016 -1 fase) Morro da Babilnia noite, do morro descem vozes que criam o terror (terror urbano, cinquenta por cento de cinema, e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na lngua Geral). Quando houve revoluo, os soldados espalharam no morro, o quartel pegou fogo, eles no voltaram. Alguns, chumbados, morreram. O morro ficou mais encantado. Mas as vozes do morro no so propriamente lgubres. H mesmo um cavaquinho bem afinado que domina os rudos da pedra e da folhagem e desce at ns, modesto e recreativo, como uma gentileza do morro. (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. So Paulo:Companhia das Letras, 2012, p.19.) No poema Morro da Babilnia, de Carlos Drummond deAndrade,
(UNICAMP - 2016 - 1 fase) Leia o seguinte trecho da obra Terra Sonmbula, de MiaCouto, extrado do Sexto caderno de Kindzu, subintituladoO regresso a Matimati. Lembrei meu pai, sua palavra sempre azeda: agora, somos um povo de mendigos, nem temos onde cair vivos. Era como se ainda escutasse: - Mas voc, meu filho, no se meta a mudar os destinos. Afinal, eu contrariava suas mandanas. Fossem os naparamas, fosse o filho de Farida: eu no estava a deixar o tempo quieto. Talvez, quem sabe, cumprisse o que sempre fora: sonhador de lembranas, inventor de verdades. Um sonmbulo passeando entre o fogo. Um sonmbulo como a terra em que nascera. Ou como aquelas fogueiras por entre as quais eu abria caminho no areal. (Mia Couto, Terra Sonmbula. So Paulo: Companhia de Bolso, 2015, p. 104.) Na passagem citada, a personagem Kindzu recorda osensinamentos de seu pai diante do estado desolador emque se encontrava sua terra, assolada pela guerra, ereflete sobre a coerncia de suas aes em relao a taisensinamentos. Levando em considerao o contexto danarrativa do romance de Mia Couto, correto afirmar que:
(UNICAMP - 2016 - 2 fase) No livro Veneno Remdio - o futebol e o Brasil (So Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 14), o msico, compositor e ensasta Jos Miguel Wisnik afirma que o futebol se tornou uma espcie de lngua geral, vlida para todos, que pe em contato as populaes de todos os continentes. Leia a seguir dois trechos em que o autor explora essa analogia: (...) Nada nos impede de dizer que os lances criativos mais surpreendentes no dispensam a prosa corrente do arroz com feijo do jogo, necessrio a toda partida. Ou de constatar, na literatura como no futebol, que a prosa pode ser bela, ntegra, articulada e fluente, ou burocrtica e andina, e a poesia, imprevista, fulgurante e eficaz, ou firula retrica sem nervo e sem alvo. (...) o futebol o esporte que comporta mltiplos registros, sintaxes diversas, estilos diferentes e opostos, e gneros narrativos, a ponto de parecer conter vrios jogos dentro de um nico jogo. A sua narratividade aberta s diferenas ter relao, muito possivelmente, com o fato de ter se tornado o esporte mais jogado no mundo, como um modelo racional e universalmente acessvel que fosse guiado por uma ampla margem de diversidade interna, capaz de absorver e expressar culturas. a) O autor v o futebol como formas de prosa e de poesia. Embora ambas as formas sejam consideradas necessrias, cada uma tem um lado negativo. Indique-os. b) Apresente dois argumentos por meio dos quais o autor justifica sua afirmao de que o futebol uma espcie de lngua geral.