(UNICAMP - 2016 - 1ª fase)
(...) plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, *macadamizai estradas, fazei caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai: reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. – No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?
*Macadamizar: pavimentar.
(Almeida Garrett, Viagens na minha terra. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012, p.77.)
Formou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices.
(Almeida Garrett, Viagens na minha terra. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012, p.190.)
Vários discursos organizam a estrutura narrativa do romance Viagens na minha terra, de Almeida Garrett. Isso permite afirmar que a visão de mundo dessa narrativa
compartilha exclusivamente dos valores éticos dos ricos e é demagógica com a miséria social, marca inconfundível do romance de Garrett.
relativiza posições dogmáticas sobre a vida social, cultural e política, permitindo vários ângulos de observação.
denuncia as condições sociais injustas dos pobres da sociedade, o que indica o caráter panfletário do romance de Garrett.
divide o mundo entre ricos e pobres e não leva em consideração que uma vida justa depende da riqueza produzida na sociedade.