(UNICAMP - 2018 - 1ª FASE)
“Como na Argentina: Os corpos brotam do chão, como na Argentina. Corpo não é reciclável. Corpo não é reduzível. Dá para dissolver os corpos em ácido, mas não haveria ácido que chegasse para os assassinados do século. Valas mais fundas, mais escombros, nada adianta. Sempre sobra um dedo acusando. O corpo é como o nosso passado, não existe mais e não vai embora. Tentaram largar o corpo no meio do mar e não deu certo. O corpo boia. O corpo volta. Tentaram forjar o protocolo – foi suicídio, estava fugindo – e o corpo desmentia tudo. O corpo incomoda. O corpo faz muito silêncio. Consciência não é biodegradável. Memórias não apodrecem. Ficam os dentes.”
(Luís Fernando Veríssimo, “Como na Argentina”, em A mãe do Freud. Porto Alegre: L&PM Editores, 1985, p. 46.)
O texto se refere
ao trauma coletivo das políticas repressivas e crimes de Estado praticados pelos regimes ditatoriais latino-americanos.
à memória dos exilados fugidos dos regimes ditatoriais latino-americanos da segunda metade do século XX.
ao movimento dos Montoneros, em busca de seus filhos e netos desaparecidos no período da ditadura na Argentina.
aos julgamentos em andamento contra o clientelismo do regime peronista praticada na Argentina.