(UEL - 2009)
De há muito observara que, quanto aos costumes, é necessário às vezes seguir opiniões, que sabemos serem muito incertas, tal como se fossem indubitáveis [...]; mas, por desejar então ocupar-me somente com a pesquisa da verdade, pensei que era necessário agir exatamente ao contrário, e rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não restaria algo em meu crédito, que fosse inteiramente indubitável [...] E, tendo notado que nada há no eu penso, logo existo, que me assegure de que digo a verdade, exceto que vejo muito claramente que, para pensar, é preciso existir, julguei poder tomar como regra geral que as coisas que concebemos mui clara e mui distintamente são todas verdadeiras [...].
(DESCARTES, R. Discurso do Método. Quinta Parte. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 46-47.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Descartes, é correto afirmar:
A dúvida metódica permitiu a Descartes compreender que todas as ideias verdadeiras procedem, mediata ou imediatamente, das impressões de nossos sentidos e pela experiência.
A clareza e a distinção das ideias verdadeiras representam apenas uma certeza subjetiva, além da qual, apesar da radicalização da dúvida metódica, não se consegue fundamentar a objetividade da certeza científica.
Somente com o cogito, a concepção cartesiana das ideias claras e distintas, inatas ao espírito humano, garante definitivamente que o objeto pensado pelo sujeito é determinado pela realidade fora do pensamento.
Do exercício da dúvida metódica, no itinerário cartesiano, a certeza subjetiva do cogito constitui a primeira verdade inabalável e, portanto, modelo das ideias claras e distintas.
A dúvida cartesiana, convertida em método, rende-se ao ceticismo e demonstra a impossibilidade de qualquer certeza consistente e definitiva quanto à capacidade do intelecto de atingir a verdade.