(UEL 2018 - 2a fase)
Leia o fragmento do conto “A fogueira”, de Mia Couto, e responda às questões de 8 a 13.
1 O velho adormeceu, a mulher sentou-se à porta. Na sombra do seu descanso viu o sol vazar, lento rei
2 das luzes. Pensou no dia e riu-se dos contrários: ela, cujo nascimento faltara nas datas, tinha já o seu fim
3 marcado. Quando a lua começou a acender as árvores do mato ela inclinou-se e adormeceu. Sonhou dali
4 para muito longe: vieram os filhos, os mortos e os vivos, a machamba encheu-se de produtos, os olhos a
5 escorregarem no verde. O velho estava no centro, gravatado, contando as histórias, mentira quase todas.
6 Estavam ali os todos, os filhos e os netos. Estava ali a vida a continuar-se, grávida de promessas. Naquela
7 roda feliz, todos acreditavam na verdade dos velhos, todos tinham sempre razão, nenhuma mãe abria a sua
8 carne para a morte. Os ruídos da manhã foram-na chamando para fora de si, ela negando abandonar aquele
9 sonho, pediu com tanta devoção como pedira à vida que não lhe roubasse os filhos.
10 Procurou na penumbra o braço do marido para acrescentar força naquela tremura que sentia. Quando a
11 sua mão encontrou o corpo do companheiro viu que estava frio, tão frio que parecia que, desta vez, ele
12 adormecera longe dessa fogueira que ninguém nunca acendera.
(Adaptado de: COUTO, Mia. A fogueira. In: Vozes anoitecidas. São Paulo, Companhia das Letras, 2013. p. 25).
No trecho, o final do conto é narrado, momento em que ocorre a morte de uma personagem. Considerando o trecho e o conto, assinale a alternativa correta.
O título do conto, “A fogueira”, é essencial para a compreensão do trecho, pois é a mulher que delira com a fogueira inicialmente.
Os filhos do casal assistiam sem piedade à condenação da mãe à morte imposta pelo pai.
É possível traçar uma comparação entre o velho e a fogueira de que trata o título, já que o velho manteve-se forte até o final da história.
A mulher mantém-se sempre esperançosa, resistindo, no desfecho do conto, ao fim que se anunciou em trechos anteriores.
O trecho é marcado pela mescla de sonho e realidade, assim como a fogueira que existe, embora se desconheça quem a acendeu.