(UFPR - 2016 - 2ª FASE)
O amor não pode existir sem o reconhecer-se em um outro, a liberdade não pode existir sem o reconhecimento recíproco. Essa reciprocidade na figura humana, por seu turno, tem de ser livre para poder retribuir a doação de Deus [...]. É por isso que Deus pode “determinar” os homens no sentido de que ao mesmo tempo os capacita e os obriga à liberdade. Ora, não é preciso acreditar nas premissas teológicas para entender que, se desaparecesse a diferença assumida no conceito de criação, e no lugar de Deus entrasse um sujeito qualquer, entraria em cena uma dependência de tipo inteiramente não causal. Seria esse o caso, por exemplo, se um homem quisesse interferir na combinação causal dos cromossomos paterno-maternos segundo suas próprias preferências, sem ao menos supor contrafaticamente um consenso com o outro concernido.
(HABERMAS, J. Fé e Saber. São Paulo: Editor Unesp, 2013, p. 24-25.)
Para Habermas, as intervenções pré-natais não terapêuticas na composição genética dos seres humanos têm consequências que podem minar a autocompreensão da ética da humanidade. Qual é a diferença conceitual entre uma criação atribuída a Deus e uma criação atribuída a um outro “sujeito qualquer”? Justifique sua resposta.