(UNICAMP - 2020 - 1ª FASE)
Que dizer das personagens? Creio que têm a força e ao mesmo tempo a fraqueza da caricatura. Mas, pensando melhor, não poderemos também alegar em defesa do romancista que a caricatura é uma tendência reconhecida e aceita da arte moderna, principalmente da pintura? Não haverá muito de deformação na obra de grandes pintores como Portinari, Di Cavalcante e Segall – todos eles inconformados com a sociedade em que vivem?
Adaptado de Erico Verissimo, Prefácio, em Caminhos Cruzados. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 20-21.
Tarsila do Amaral, A negra, 1923. Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo.
A ideia de deformação aplica-se ao quadro de Tarsila e ao romance Caminhos cruzados, de Érico Veríssimo, porque tal procedimento artístico acentua
a crítica do modernismo à violência da escravidão e às desigualdades sociais, presentes no quadro e nas personagens do romance, respectivamente.
o imaginário da burguesia nacional, pois tanto as protagonistas do romance quanto a imagem da mulher negra retratam os traços característicos das reformas sociais do Estado Novo.
os princípios estéticos do movimento modernista, pois as duas expressões artísticas apresentam-se como reflexo dos valores da elite cafeeira paulista.
a moral implícita da modernidade, pois o narrador do livro e a representação do corpo negro criticam o comportamento social das personagens femininas no século XX.