(AFA - 2023)
TEXTO V
O que mais a impressionou no passeio foi a miséria | |
geral, a falta de cultivo, a pobreza das casas, o ar triste, | |
abatido da gente pobre. Educada na cidade, ela tinha dos | |
roceiros ideia de que eram felizes, saudáveis e alegres. | |
5 | Havendo tanto barro, tanta água, por que as casas não |
eram de tijolos e não tinham telhas? Era sempre aquele | |
sapé sinistro /.../. Por que ao redor dessas casas não | |
havia culturas, uma horta, um pomar? Não seria tão fácil, | |
trabalho de horas? /.../ Mesmo nas fazendas, o espetáculo | |
10 | não era mais animador. Todas soturnas, baixas, quase |
sem o pomar olente e a horta suculenta. /.../ E todas essas | |
questões desafiavam a sua curiosidade, o seu desejo de | |
saber, e também a sua piedade e simpatia por aqueles | |
párias, maltrapilhos, mal alojados, talvez com fome, | |
15 | sorumbáticos!... |
/.../ aproveitou a ocasião para interrogar a respeito o | |
tagarela Felizardo. | |
Olga encontrou o camarada cá embaixo, cortando a | |
machado as madeiras mais grossas; /.../ Ela lhe falou. | |
20 | – Bons dias, sá dona. |
– Então trabalha-se muito, Felizardo? | |
– O que se pode. | |
/.../ | |
– É grande o sítio de você? | |
25 | – Tem alguma terra, sim senhora, sá dona. |
– Você por que não planta para você? | |
– Quá, sá dona! O que é que a gente come? | |
– O que plantar ou aquilo que a plantação der em dinheiro. | |
30 | – Sá dona tá pensando uma coisa e a coisa é outra. |
Enquanto planta cresce, e então? Quá, sá dona, não é | |
assim. | |
/.../ | |
– Terra não é nossa... E frumiga?... Nós não tem | |
35 | ferramenta... isso é bom pra italiano ou alamão, que |
governo dá tudo... governo não gosta de nós... | |
(BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: O Estado de São Paulo / Klick Editora, 1997, p. 97-98.)
O emprego do advérbio “não”, em diversas passagens do Texto V, demarca carências de personagens que representam pessoas excluídas. Esse uso só NÃO se verifica na alternativa:
“...governo não gosta de nós...” (linha. 36)
“Nós não tem ferramenta...” (linha. 34 e 35)
“Terra não é nossa...” (linha. 34)
“...o espetáculo não era mais animador.” (linha. 9 e 10)