(ENEM - 2012)
Pote Cru é meu pastor. Ele me guiará.
Ele está comprometido de monge.
De tarde deambula no azedal entre torsos de
cachorros, trampas, trapos, panos de regra, couros,
de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas
albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,
linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em
gotas de orvalho etc. etc.
Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento
Foi encontrado em osso.
Ele tinha uma voz de oratórios perdidos.
BARROS, M. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro: Record, 2002.
Ao estabelecer uma relação com o texto bíblico nesse poema, o eu lírico identifica-se com o Pote Cru porque
entende a necessidade de todo poeta ter voz de oratórios perdidos.
elege-o como pastor a fim de ser guiado para a salvação divina.
valoriza nos percursos do pastor a conexão entre as ruínas e a tradição.
necessita de um guia para a descoberta das coisas da natureza.
acompanha-o na opção pela insignificância das coisas.