(ENEM - 2012)
Verbo ser
QUE VAI SER quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser: pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. R. Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer.
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
A inquietação existencial do autor com a autoimagem corporal e a sua corporeidade se desdobra em questões existenciais que têm origem
no conflito do padrão corporal imposto contra as convicções de ser autêntico e singular.
na aceitação das imposições da sociedade seguindo a influência de outros.
na confiança no futuro, ofuscada pelas tradições e culturas familiares.
no anseio de divulgar hábitos enraizados, negligenciados por seus antepassados.
na certeza da exclusão, revelada pela indiferença de seus pares.