(UFU - 2020)
[...] me foram concedidos nove anos de boa saúde e produtividade desde o primeiro diagnóstico, mas agora estou face a face com a morte.
Agora devo escolher como viver durante os meses que me restam. Tenho de viver do modo mais rico, profundo e produtivo que puder.
Nesses últimos anos, tenho sido capaz de ver minha vida como de uma grande altitude, como uma espécie de paisagem, e com uma noção crescente de conexão entre todas as suas partes. Isso não quer dizer que não quero mais nada com a vida. Muito pelo contrário, sinto-me intensamente vivo, e desejo, e espero, no tempo que ainda me resta, aprofundar minhas amizades, dizer adeus àqueles a quem amo, escrever mais, viajar, se tiver forças, atingir novos patamares de compreensão e descortino.
Sinto uma repentina clareza de enfoque e de perspectiva. Não há tempo para o que não é essencial. Devo me concentrar em mim mesmo, no meu trabalho e nos meus amigos. Não assistirei mais ao noticiário da noite. Não vou mais prestar atenção em política ou em discussões sobre aquecimento global.
Não é indiferença, é distanciamento.
SACKS, Oliver. My own life. In: Gratidão. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 23-30. (Adaptado)
A) Por meio de sequências textuais expositivas, Oliver Sacks expressa seus sentimentos e pontos de vista em relação à vida e à morte. Cite dois trechos a partir dos quais é possível inferir que o sentimento predominante do neurologista, conforme ele mesmo afirma, é de gratidão. Justifique sua resposta.
B) Leia o último parágrafo do trecho acima e explique a relação entre, de um lado, o enunciado “Não há tempo para o que não é essencial”, e, de outro, a sequência de enunciados “Não assistirei mais ao noticiário da noite. Não vou mais prestar atenção em política ou em discussões sobre o aquecimento global”.