(UNESP - 2011/2 - 1a fase) O sertanejo O moo sertanejo bateu o isqueiro e acendeu fogo num toro carcomido, que lhe serviu de braseiro para aquentar o ferro; e enquanto esperava, dirigiu-se ao boi nestes termos e com um modo afvel: Fique descansado, camarada, que no o envergonharei levando-o ponta de lao para mostr-lo a toda aquela gente! No; ningum h de rir-se de sua desgraa. Voc um boi valente e destemido; vou dar-lhe a liberdade. Quero que viva muitos anos, senhor de si, zombando de todos os vaqueiros do mundo, para um dia, quando morrer de velhice, contar que s temeu a um homem, e esse foi Arnaldo Louredo. O sertanejo parou para observar o boi, como se esperasse mostra de o ter ele entendido, e continuou: Mas o ferro da sua senhora, que tambm a minha, tenha pacincia, meu Dourado, esse h de levar; que o sinal de o ter rendido o meu brao. Ser dela, no ser escravo; mas servir a Deus, que a fez um anjo. Eu tambm trago o seu ferro aqui, no meu peito. Olhe, meu Dourado. O mancebo abriu a camisa, e mostrou ao boi o emblema que ele havia picado na pele, sobre o seio esquerdo, por meio do processo bem conhecido da inoculao de uma matria colorante na epiderme. O debuxo de Arnaldo fora estresido com o suco do coipuna, que d uma bela tinta escarlate, com que os ndios outrora e atualmente os sertanejos tingem suas redes de algodo. Depois de ter assim falado ao animal, como a um homem que o entendesse, o sertanejo tomou o cabo de ferro, que j estava em brasa, e marcou o Dourado sobre a p esquerda. Agora, camarada, pertence a D. Flor, e portanto quem o ofender tem de haver-se comigo, Arnaldo Louredo. Tem entendido?... Pode voltar aos seus pastos; quando eu quiser, sei onde ach-lo. J lhe conheo o rasto. O Dourado dirigiu-se com o passo moroso para o mato; chegado beira, voltou a cabea para olhar o sertanejo, soltou um mugido saudoso e desapareceu. Arnaldo acreditou que o boi tinha-lhe dito um afetuoso adeus. E o narrador deste conto sertanejo no se anima a afirmar que ele se iludisse em sua ingnua superstio. (Jos de Alencar. O sertanejo. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, [s.d.]. tomo II, p. 79-80. Adaptado) Ser dela, no ser escravo; mas servir a Deus, que a fez um anjo. Com esta viso que o sertanejo tem de sua senhora, fica perfeitamente caracterizado no relato um dos traos fundamentais da literatura do Romantismo:
(UNESP - 2011/2 - 2 FASE) A figura representa o ciclo hidrolgico. (Ivo Karmann. Decifrando a Terra, 2010. Adaptado.) Descreva o ciclo hidrolgico a partir da precipitao, indicando a energia que o move, e aponte as diferenas entre o ciclo hidrolgico lento e o rpido.
(UNESP - 2011 - 2 FASE) E a verdade, o que ser? A filosofia busca a verdade, mas no possui o significado e substncia da verdade nica. Para ns, a verdade no esttica e definitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito. No mundo, a verdade est em conflito perptuo. A filosofia leva esse conflito ao extremo, porm o despe de violncia. Em suas relaes com tudo quanto existe, o filsofo v a verdade revelar-se a seus olhos, graas ao intercmbio com outros pensadores e ao processo que o torna transparente a si mesmo. Eis porque a filosofia no se transforma em credo. Est em contnuo combate consigo mesma. (Karl Jaspers, 1971.) Com base no texto, responda se a verdade filosfica pretende ser absoluta, justificando sua resposta com uma passagem do texto citado. Ainda de acordo com o fragmento, explique como podemos compreender os conflitos entre filosofia e religio e cite o principal movimento filosfico ocidental do perodo moderno que se caracterizou pelos conflitos com a religio.
(UNESP - 2011 - 1 FASE) A questo toma por base duas passagens do livroA linguagem harmnica da Bossa Nova, do docente e pesquisador da Unesp Jos Estevam Gava. Momento Bossa Nova Nos anos 1940, o samba-cano j era uma alternativa para o samba tradicional, batucado, quadrado. Em sua gnese foram empregados recursos correntes na msica erudita europeia e na msica popular norte-americana. J era algo mais sofisticado, praticado por compositores e arranjadores com maior preparo musical e sempre de ouvido aberto para as solues propostas pela msica estrangeira. O jazz, por exemplo, mais tarde permitiria fuses interessantes como o samba-jazz e o samba moderno, com arranjos grandiosos e com base nos instrumentos de sopro. Mas, em termos de poesia e expressividade, o samba-cano tendia a manter seu carter escuro, sombrio, com muitos elementos que lembravam a atmosfera tensa e pessimista do tango argentino e do bolero, gneros latinos por excelncia. O samba-cano esteve desde logo ambientado em Copacabana, lugar de vida noturna intensa, boates enfumaadas, mulheres adultas e fatais envoltas num clima de pecado e traio, enquanto a Bossa Nova ambientou-se mais para o Sul, em Ipanema, alm de tornar-se representativa de um pblico mais jovem, amante do sol e da praia. Nesse ambiente solar, a mulher passou a ser a garota da praia, a namorada. Deu-se um descanso s imagens de amante proibida e vingativa, com uma navalha na liga. E as letras da Bossa Nova no tinham nada de enfumaado. Eram uma saga ocenica: a nado, numa prancha ou num barquinho, seus compositores prestaram todas as homenagens possveis ao mar e ao vero. Esse mar e esse vero eram os de Ipanema (Castro, 1999, p. 59). A Bossa Nova levou aos extremos a tendncia intimista de cantar sobre temas do cotidiano, sem muita complicao potica. Em vez da negatividade do samba-cano, explorou ao mximo a positividade expressiva e um otimismo sem precedentes. Esse foi o grande trao distintivo entre a Bossa Nova e o samba-cano. O otimismo diante do amor trouxe consigo imagens de paz e estabilidade possibilitadas por relacionamentos amorosos felizes e amores correspondidos, sem as cores patolgicas e dramticas que tanto marcavam os sambascanes. Mesmo a dor, quando ocorria, era encarada como um estgio passageiro, deixando de assumir o antigo carter terminal. Em plenos anos 1950, quando nas rdios predominava o derramamento vocal e sentimental, Tom Jobim j buscava um retraimento expressivo pautado por um discurso potico/musical mais sereno, mais em tom de conversa do que de splica. Se os mais jovens identificavam-se com essas coisas novas, os mais velhos e tradicionalistas viam-nas com estranheza, sendo compreensvel que as descrevessem como canes bobas e ingnuas, no obstante a sofisticao harmnica e rtmica. (Jos Estevam Gava. A linguagem harmnica da Bossa Nova. So Paulo: Editora Unesp, 2002.) ... sendo compreensvel que as descrevessem como canes bobas e ingnuas, no obstante a sofisticao harmnica e rtmica. Nesta passagem, a sequncia no obstante a poderia ser substituda, sem prejuzo do sentido, por
(UNESP - 2011/2 - 2 FASE) Enquanto os homens se contentaram com suas cabanas rsticas, enquanto se limitaram a costurar com espinhos ou com cerdas suas roupas de peles, a enfeitarem-se com plumas e conchas, a pintar o corpo com vrias cores, a aperfeioar ou embelezar seus arcos e flechas, a cortar com pedras agudas algumas canoas de pescador ou alguns instrumentos grosseiros de msica em uma palavra: enquanto s se dedicavam a obras que um nico homem podia criar e a artes que no solicitavam o concurso de vrias mos, viveram to livres, sadios, bons e felizes quanto o poderiam ser por sua natureza. O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acredit-lo. Quantos crimes, guerras, assassnios, misrias e horrores no teria poupado ao gnero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: Defendei-vos de acreditar nesse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos so de todos e que a terra no pertence a ningum. (Jean-Jacques Rousseau. Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. Adaptado.) Cite a principal diferena estabelecida por Rousseau entre a vida em estado de natureza e a vida na sociedade civil, e explique o significado dessa diferena no mbito da filosofia poltica.
(UNESP - 2011/2 - 1a fase) O sertanejo O moo sertanejo bateu o isqueiro e acendeu fogo num toro carcomido, que lhe serviu de braseiro para aquentar o ferro; e enquanto esperava, dirigiu-se ao boi nestes termos e com um modo afvel: Fique descansado, camarada, que no o envergonharei levando-o ponta de lao para mostr-lo a toda aquela gente! No; ningum h de rir-se de sua desgraa. Voc um boi valente e destemido; vou dar-lhe a liberdade. Quero que viva muitos anos, senhor de si, zombando de todos os vaqueiros do mundo, para um dia, quando morrer de velhice, contar que s temeu a um homem, e esse foi Arnaldo Louredo. O sertanejo parou para observar o boi, como se esperasse mostra de o ter ele entendido, e continuou: Mas o ferro da sua senhora, que tambm a minha, tenha pacincia, meu Dourado, esse h de levar; que o sinal de o ter rendido o meu brao. Ser dela, no ser escravo; mas servir a Deus, que a fez um anjo. Eu tambm trago o seu ferro aqui, no meu peito. Olhe, meu Dourado. O mancebo abriu a camisa, e mostrou ao boi o emblema que ele havia picado na pele, sobre o seio esquerdo, por meio do processo bem conhecido da inoculao de uma matria colorante na epiderme. O debuxo de Arnaldo fora estresido com o suco do coipuna, que d uma bela tinta escarlate, com que os ndios outrora e atualmente os sertanejos tingem suas redes de algodo. Depois de ter assim falado ao animal, como a um homem que o entendesse, o sertanejo tomou o cabo de ferro, que j estava em brasa, e marcou o Dourado sobre a p esquerda. Agora, camarada, pertence a D. Flor, e portanto quem o ofender tem de haver-se comigo, Arnaldo Louredo. Tem entendido?... Pode voltar aos seus pastos; quando eu quiser, sei onde ach-lo. J lhe conheo o rasto. O Dourado dirigiu-se com o passo moroso para o mato; chegado beira, voltou a cabea para olhar o sertanejo, soltou um mugido saudoso e desapareceu. Arnaldo acreditou que o boi tinha-lhe dito um afetuoso adeus. E o narrador deste conto sertanejo no se anima a afirmar que ele se iludisse em sua ingnua superstio. (Jos de Alencar. O sertanejo. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, [s.d.]. tomo II, p. 79-80. Adaptado) O emprego da palavra camarada pelo vaqueiro, com relao ao boi, caracteriza: I. Uma expresso de fadiga. II. Uma atitude amistosa para com o boi. III. O tratamento do animal como um companheiro. IV. O desprezo pelo boi como um inimigo. correto o que se afirma apenas em:
(UNESP - 2011 - 1 FASE) A questo toma por base duas passagens do livroA linguagem harmnica da Bossa Nova, do docente e pesquisador da Unesp Jos Estevam Gava. Momento Bossa Nova Nos anos 1940, o samba-cano j era uma alternativa para o samba tradicional, batucado, quadrado. Em sua gnese foram empregados recursos correntes na msica erudita europeia e na msica popular norte-americana. J era algo mais sofisticado, praticado por compositores e arranjadores com maior preparo musical e sempre de ouvido aberto para as solues propostas pela msica estrangeira. O jazz, por exemplo, mais tarde permitiria fuses interessantes como o samba-jazz e o samba moderno, com arranjos grandiosos e com base nos instrumentos de sopro. Mas, em termos de poesia e expressividade, o samba-cano tendia a manter seu carter escuro, sombrio, com muitos elementos que lembravam a atmosfera tensa e pessimista do tango argentino e do bolero, gneros latinos por excelncia. O samba-cano esteve desde logo ambientado em Copacabana, lugar de vida noturna intensa, boates enfumaadas, mulheres adultas e fatais envoltas num clima de pecado e traio, enquanto a Bossa Nova ambientou-se mais para o Sul, em Ipanema, alm de tornar-se representativa de um pblico mais jovem, amante do sol e da praia. Nesse ambiente solar, a mulher passou a ser a garota da praia, a namorada. Deu-se um descanso s imagens de amante proibida e vingativa, com uma navalha na liga. E as letras da Bossa Nova no tinham nada de enfumaado. Eram uma saga ocenica: a nado, numa prancha ou num barquinho, seus compositores prestaram todas as homenagens possveis ao mar e ao vero. Esse mar e esse vero eram os de Ipanema (Castro, 1999, p. 59). A Bossa Nova levou aos extremos a tendncia intimista de cantar sobre temas do cotidiano, sem muita complicao potica. Em vez da negatividade do samba-cano, explorou ao mximo a positividade expressiva e um otimismo sem precedentes. Esse foi o grande trao distintivo entre a Bossa Nova e o samba-cano. O otimismo diante do amor trouxe consigo imagens de paz e estabilidade possibilitadas por relacionamentos amorosos felizes e amores correspondidos, sem as cores patolgicas e dramticas que tanto marcavam os sambascanes. Mesmo a dor, quando ocorria, era encarada como um estgio passageiro, deixando de assumir o antigo carter terminal. Em plenos anos 1950, quando nas rdios predominava o derramamento vocal e sentimental, Tom Jobim j buscava um retraimento expressivo pautado por um discurso potico/musical mais sereno, mais em tom de conversa do que de splica. Se os mais jovens identificavam-se com essas coisas novas, os mais velhos e tradicionalistas viam-nas com estranheza, sendo compreensvel que as descrevessem como canes bobas e ingnuas, no obstante a sofisticao harmnica e rtmica. (Jos Estevam Gava. A linguagem harmnica da Bossa Nova. So Paulo: Editora Unesp, 2002.) A leitura do fragmento como um todo permite concluir que, para o autor,
(UNESP - 2011/2 - 1a fase) O sertanejo O moo sertanejo bateu o isqueiro e acendeu fogo num toro carcomido, que lhe serviu de braseiro para aquentar o ferro; e enquanto esperava, dirigiu-se ao boi nestes termos e com um modo afvel: Fique descansado, camarada, que no o envergonharei levando-o ponta de lao para mostr-lo a toda aquela gente! No; ningum h de rir-se de sua desgraa. Voc um boi valente e destemido; vou dar-lhe a liberdade. Quero que viva muitos anos, senhor de si, zombando de todos os vaqueiros do mundo, para um dia, quando morrer de velhice, contar que s temeu a um homem, e esse foi Arnaldo Louredo. O sertanejo parou para observar o boi, como se esperasse mostra de o ter ele entendido, e continuou: Mas o ferro da sua senhora, que tambm a minha, tenha pacincia, meu Dourado, esse h de levar; que o sinal de o ter rendido o meu brao. Ser dela, no ser escravo; mas servir a Deus, que a fez um anjo. Eu tambm trago o seu ferro aqui, no meu peito. Olhe, meu Dourado. O mancebo abriu a camisa, e mostrou ao boi o emblema que ele havia picado na pele, sobre o seio esquerdo, por meio do processo bem conhecido da inoculao de uma matria colorante na epiderme. O debuxo de Arnaldo fora estresido com o suco do coipuna, que d uma bela tinta escarlate, com que os ndios outrora e atualmente os sertanejos tingem suas redes de algodo. Depois de ter assim falado ao animal, como a um homem que o entendesse, o sertanejo tomou o cabo de ferro, que j estava em brasa, e marcou o Dourado sobre a p esquerda. Agora, camarada, pertence a D. Flor, e portanto quem o ofender tem de haver-se comigo, Arnaldo Louredo. Tem entendido?... Pode voltar aos seus pastos; quando eu quiser, sei onde ach-lo. J lhe conheo o rasto. O Dourado dirigiu-se com o passo moroso para o mato; chegado beira, voltou a cabea para olhar o sertanejo, soltou um mugido saudoso e desapareceu. Arnaldo acreditou que o boi tinha-lhe dito um afetuoso adeus. E o narrador deste conto sertanejo no se anima a afirmar que ele se iludisse em sua ingnua superstio. (Jos de Alencar. O sertanejo. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, [s.d.]. tomo II, p. 79-80. Adaptado) Tomando por base que estresido particpio do verbo estresir, que significa no texto a passagem da marca da senhora para o peito do vaqueiro por meio de papel, tinta e um instrumento furador, complete a lacuna da seguinte frase com a forma adequada do pretrito perfeito do indicativo do verbo estresir: A bordadeira o desenho sobre o pano.
(UNESP - 2011 - 2 FASE) Em troca dos artigos que enriquecem sua vida, os indivduos vendem no s seu trabalho, mas tambm seu tempo livre. As pessoas residem em concentraes habitacionais e possuem automveis particulares com os quais j no podem escapar para um mundo diferente. Tm gigantescas geladeiras repletas de alimentos congelados. Tm dzias de jornais e revistas que esposam os mesmos ideais. Dispem de inmeras opes e inmeros inventos que so todos da mesma espcie, que as mantm ocupadas e distraem sua ateno do verdadeiro problema, que a conscincia de que poderiam trabalhar menos e determinar suas prprias necessidades e satisfaes. (Herbert Marcuse, filsofo alemo, 1955.) Caracterize a noo de liberdade presente no texto de Marcuse, considerando a relao estabelecida pelo autor entre liberdade, progresso tcnico e sociedade de consumo.
(UNESP - 2011/2 - 2 FASE) TEXTO 1 Por isso tambm ns, desde o dia em que soubemos, no cessamos de rezar por vs e pedir a Deus que vos conceda pleno conhecimento de sua vontade, perfeita sabedoria e inteligncia espiritual, a fim de vos comportardes de maneira digna do Senhor, procurando agradar-lhe em tudo, dando fruto de toda obra boa e crescendo no conhecimento de Deus, animados de grande energia pelo poder de sua glria para toda a pacincia e longanimidade. Com alegria, agradecemos a Deus Pai, que vos tornou capazes de participar da herana dos santos no reino da Luz. Que nos livrou do poder das trevas e transportou ao reino do seu Filho amado, no qual temos a redeno: a remisso dos pecados. (Bblia Sagrada. Epstola aos Colossenses 1, 9-14, texto escrito no sculo I.) TEXTO 2 Olhe ao redor deste universo. Que imensa profuso de seres, animados e organizados, sensveis e ativos! Examine, porm, um pouco mais de perto essas criaturas dotadas de vida, os nicos seres dignos de considerao. Que hostilidade e destrutividade entre eles! Quo incapazes, todos, de garantir a prpria felicidade! Quo odiosos ou desprezveis aos olhos de quem os contempla! O conjunto de tudo isso nada nos oferece a no ser a ideia de uma natureza cega, que despeja de seu colo, sem discernimento ou cuidado materno, sua prole desfigurada e abortiva. (David Hume. Dilogos sobre a religio natural, texto escrito em 1779. Adaptado.) Compare ambos os textos e comente uma diferena entre eles no que diz respeito concepo de natureza humana e uma diferena referente concepo de moralidade.
(UNESP - 2011/2 - 1a fase) Um gnio chamado Marlson Diz o ditado que chegar fcil; passar que so elas!. Pois, l, no final do Elevado, ele chegou junto ao lder daquele instante, ultrapassou e saiu iniciando um show de resistncia, em passadas vigorosas e perfeitas no seu bal de viver para correr e correr para viver. Atuao linda de se ver a sua contnua busca da vantagem, a partir da metade do percurso, alargando a cada quilmetro, uma superioridade impressionante. Marlson Gomes dos Santos voltou para encantar. Cinco anos depois de ter sido bi, retornou para ser, mais que um ganhador, um tricampeo nico entre os brasileiros, numa deliciosa emoo esportiva que encerra com pompa o ano de 2010. Pisou de novo o asfalto paulistano no momento em que sentiu que estava pronto para deslumbrar. Subiu de novo ao degrau mais alto daquele pdio que lhe to familiar, lugar exato que ocupou em 2005. Foi como se o topo reservado ao melhor entre os melhores estivesse esperando por ele durante esse tempo todo em que no disputou. Campeo de tantas e tantas provas, recordista da srie completa de corridas de fundo sul-americanas, o homem que deixou, por duas vezes, os norte-americanos fascinados ao voar baixo pelas ruas de New York chegou Avenida Paulista com o plano pronto para maravilhar todo este pas. Ele sabia (porque ele sempre sabe que vai levantar o trofu de vencedor) que nos daria um Feliz Ano Novo sado do fundo de seu corao. O mundo testemunhou pelas imagens de televiso, ao vivo, um novo registro espetacular desse brasileiro brasiliense, um fenmeno que sabe vencer na hora que quer, na competio que escolhe para, como na maioria absoluta das vezes, passear isolado, l na frente, deixando atrs de si uma esteira de coadjuvantes que o seguem com admirao e respeito. Esse talento inigualvel vai legar s geraes futuras muitas lies de sua arte. E como vai! De hoje em diante, garotos e meninas desta terra tero muitos motivos para se dedicar prtica esportiva. Quem viver ver quantos competidores surgiro com a mesma nsia de chegar primeiro e experimentar como delicioso viver para correr e correr para viver. Tomara que com a mesma simplicidade desse verdadeiro gnio. (Fernando Solra: www.gazetaesportiva.net) Levando em considerao que o jornalista Fernando Solra se refere Corrida Internacional de So Silvestre, indique, com base nos dados fornecidos pela prpria crnica, o nmero de provas dessa tradicional corrida que Marlson Gomes dos Santos no disputou depois do ano em que foi bicampeo:
(UNESP - 2011 - 2 FASE) O Iluminismo a sada do homem de um estado de menoridade que deve ser imputado a ele prprio. Menoridade a incapacidade de servir-se do prprio intelecto sem a guia de outro. Imputvel a si prprios esta menoridade se a causa dela no depende de um defeito da inteligncia, mas da falta de deciso e da coragem de servir-se do prprio intelecto sem ser guiado por outro. Sapere aude! Tem a coragem de servires de tua prpria inteligncia! (Immanuel Kant, 1784.) Esse texto do filsofo Kant considerado uma das mais sintticas e adequadas definies acerca do Iluminismo. Justifique essa importncia comentando o significado do termo menoridade, bem como os fatores sociais que produzem essa condio, no campo da religio e da poltica.
(UNESP - 2011/2 - 2 FASE) Leia o texto, extrado do livro VII da obra magna de Plato (A Repblica), que se refere ao clebre mito da caverna e seu significado no pensamento platnico. Agora, meu caro Glauco continuei cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que dissemos, comparar o mundo que a viso nos revela morada da priso e a luz do fogo que a ilumina ao poder do sol. No que se refere subida regio superior e contemplao de seus objetos, se a considerares como a ascenso da alma ao lugar inteligvel, no te enganars sobre o meu pensamento, posto que tambm desejas conhec-lo. Quanto a mim, tal minha opinio: no mundo inteligvel, a ideia do bem percebida por ltimo e a custo, mas no se pode perceb-la sem concluir que a causa de tudo quanto h de direto e belo em todas as coisas; e que preciso v-la para conduzir-se com sabedoria na vida particular e na vida pblica. (Plato. A Repblica, texto escrito em V a.C. Adaptado.) Explique o significado filosfico da oposio entre as sombras no ambiente da caverna e a luz do sol.
(UNESP - 2011 - 1 FASE) Aquestoa seguir tomapor base uma passagem do romance regionalista Vidas secas, de Graciliano Ramos (1892-1953). Contas Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a tera dos cabritos. Mas como no tinha roa e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijo e milho, comia da feira, desfazia-se dos animais, no chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito. Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabea. Forjara planos. Tolice, quem do cho no se trepa. Consumidos os legumes, rodas as espigas de milho, recorria gaveta do amo, cedia por preo baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflio, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo com outro, no seria roubado to descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom pensar no futuro, criar juzo. Ficava de boca aberta, vermelho, o pescoo inchando. De repende estourava: Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ningum pode viver sem comer. Quem do cho no se trepa. Pouco a pouco o ferro do proprietrio queimava os bichos de Fabiano. E quando no tinha mais nada para vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma ninharia. Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a transao meio apalavrada e foi consultar a mulher. Sinha Vitria mandou os meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no cho sementes de vrias espcies, realizou somas e diminuies. No dia seguinte Fabiano voltou cidade, mas ao fechar o negcio notou que as operaes de Sinha Vitria, como de costume, diferiam das do patro. Reclamou e obteve a explicao habitual: a diferena era proveniente de juros. No se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. No se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mo beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria! O patro zangou-se, repeliu a insolncia, achou bom que, o vaqueiro fosse procurar servio noutra fazenda. A Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. No era preciso barulho no. Se havia dito palavra toa, pedia desculpa. Era bruto, no fora ensinado. Atrevimento no tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia l puxar questo com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorncia da mulher, provavelmente devia ser ignorncia da mulher. At estranhara as contas dela. Enfim, como no sabia ler (um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava no cair noutra. (Graciliano Ramos. Vidas secas. So Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.) Identifique, entre os quatro exemplos extrados do texto, aqueles que se apresentam em discurso indireto livre: I. Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a tera dos cabritos. II. Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ningum pode viver sem comer. III. Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria! IV. No era preciso barulho no.
(UNESP - 2011 - 2 FASE) Trs maneiras h de preservar a posse de Estados acostumados a serem governados por leis prprias; primeiro, devast-los; segundo, morar neles; terceiro, permitir que vivam com suas leis, arrancando um tributo e formando um governo de poucas pessoas, que permaneam amigas. Sucede que, na verdade, a garantia mais segura da posse a runa. Os que se tornam senhores de cidades livres por tradio, e no as destroem, sero destrudos por elas. Essas cidades costumam ter por bandeira, em suas rebelies, tanto a liberdade quanto suas antigas leis, jamais esquecidas, nem com o passar do tempo, nem por influncia dos favores que receberam. Por mais que se faa, e sejam quais forem os cuidados, sem promover desavena e desagregao entre os habitantes, continuaro eles a recordar aqueles princpios e a estes iro recorrer em quaisquer oportunidades e situaes. (Nicolau Maquiavel. Publicado originalmente em 1513. Adaptado.) Partindo de uma definio de moralidade como conjunto de regras de conduta humana que se pretendem vlidas em termos absolutos, responda se o pensamento de Maquiavel compatvel com a moralidade crist. Justifique sua resposta, comentando o teor prtico ou pragmtico do pensamento desse filsofo.