(UNESP - 2015 - 1 FASE)
As questões tomam por base uma passagem de um romance de Autran Dourado (1926- 2012).
A gente Honório Cota
Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, tinha pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a não ser em certas ocasiões (batizado, morte, casamento — então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver:
O passo vagaroso de quem não tem pressa — o mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar.
Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados nem as trazia abertas, esticava-as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto.
Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros antigos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando iam para a guerra armados cavaleiros.
(Ópera dos mortos, 1970.)
Em seu conjunto, a descrição do coronel sugere uma figura que
exibe um temperamento tímido e fechado
manifesta desprezo por tudo à sua volta
demonstra humildade em tudo o que fazia
revela nos gestos e comportamento segurança e poder
inspira certo receio aos habitantes da cidade.