(UNESP - 2015/2 - 2 fase - Questão 32)
As questões de 29 a 32 focalizam um trecho de uma crônica do escritor Eça de Queirós (1845-1900) e uma tira da cartunista Ciça (Cecília Whitaker Alves Pinto).
XXIV
O Parlamento vive na idade de ouro. Vive nas idades inocentes em que se colocam as lendas do Paraíso – quando o mal ainda não existia, quando Caim era um bom rapaz, quando os tigres passeavam docemente par a par com os cordeiros, quando ninguém tinha tido o cavalheirismo de inventar a palavra calúnia! – e a palavra mente! não atraía a bofetada!
Senão vejam! Todos os dias aqueles ilustres deputados se dizem uns aos outros: É falso! É mentira! E não se esbofeteiam, não se enviam duas balas! Piedosa inocência! Cordura1 evangélica! É um Parlamento educado por S. Francisco de Sales!
O ilustre deputado mente!
Ah, minto? Pois bem, apelo...
Cuidam que apela para o espalmado da sua mão direita ou para a elasticidade da sua bengala? – Não, meus caros senhores, apela – para o País!
Quanta elevação cristã num diploma de deputado! Quando um homem leva em pleno peito, diante de duzentas pessoas que ouvem e de mil que leem, este rude encontrão: É falso! – e diz com uma terna brandura: Pois bem, apelo para o País! – este homem é um santo! Não entrará decerto nunca no Jockey-Club, donde a mansidão é excluída, mas entrará no reino do Céu, onde a humildade é glorificada.
É uma escola de humildade este Parlamento! Nunca em parte nenhuma, como ali, o insulto foi recebido com tão curvada paciência, o desmentido acolhido com tão sentida resignação! Sublime curso de caridade cristã. E veremos os tempos em que um senhor deputado, esbofeteado em pleno e claro Chiado2 , dirá modestamente ao agressor, mostrando o seu diploma: –“Sou deputado da Nação Portuguesa! Apelo para o País! Pode continuar a bater!”
(Uma campanha alegre. Agosto, 1871.)
Indique a semelhança e a diferença entre a tira de Ciça e a crônica de Eça de Queirós, no que diz respeito aos alvos da crítica que fazem, e identifique a intenção dessa crítica nos dois textos.