(UNESP - 2015/2 - 2 fase - Questão 25)
As questões de 25 a 28 tomam por base um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
Fuga
De repente você resolve: fugir.
Não sabe para onde nem como
nem por quê (no fundo você sabe
a razão de fugir; nasce com a gente).
05 É preciso FUGIR.
Sem dinheiro sem roupa sem destino.
Esta noite mesmo. Quando os outros
estiverem dormindo.
Ir a pé, de pés nus.
10 Calçar botina era acordar os gritos
que dormem na textura do soalho1.
Levar pão e rosca para o dia.
Comida sobra em árvores infinitas,
do outro lado do projeto:
15 um verdor
eterno, frutescente (deve ser).
Tem à beira da estrada, numa venda.
O dono viu passar muitos meninos
que tinham necessidade de fugir
20 e compreende.
Toda estrada: uma venda
para a fuga.
Fugir rumo da fuga
que não se sabe onde acaba
25 mas começa em você, ponta dos dedos.
Cabe pouco em duas algibeiras2
e você não tem mais do que duas.
Canivete, lenço, figurinhas
de que não vai se separar
30 (custou tanto a juntar).
As mãos devem ser livres
para pessoas, trabalhos, onças
que virão.
Fugir agora ou nunca. Vão chorar?
35 vão esquecer você? ou vão lembrar-se?
(Lembrar é que é preciso,
compensa toda fuga.)
ou vão amaldiçoá-lo, pais da Bíblia?
Você não vai saber. Você não volta
40 nunca
(essa palavra nunca, deliciosa)
Se irão sofrer, tanto melhor.
Você não volta nunca nunca nunca.
E será esta noite,meia-noite
45 em ponto.
Você dormindo à meia noite.
(Menino antigo, 1973)
1soalho: o mesmo que "assoalho";
2algibeira: bolso de roupa.
Que fase da vida é explorada pelo poema? Explicite o plano descrito pelo poema e o que sugere o verso 42.