Questões de História - UNICAMP | Gabarito e resoluções

(UNICAMP - 2022 - 2 fase) Transcrio da primeira legenda: Mas tambm, quando a gente se lembra que eles assentam um pobre cristo naquele prato que travam no beio e o engolem como se fosse feijoada!Que horror! Transcrio da segunda legenda:Mas quem diria! Esses antropfagos que ficaram com medo de serem devorados pela curiosidade pblica. S a muito custo o diretor do museu impediu que eles fugissem. (Angelo Agostini, Charge sobre a Exposio Antropolgica, Revista Ilustrada, n. 310, 1882, p. 4-5.) A Exposio Antropolgica Brasileira, ocorrida em 1882, insere-se no quadro das grandes Exposies Internacionais, bem como das exposies etnogrficas desenvolvidas ao longo do sculo XIX. Marcadas pela prtica colecionista e pela ambio de conhecer, colonizar e categorizar o mundo, as exposies etnogrficas expunham objetos e muitas vezes pessoas de culturas exticas e distantes. Na ocasio, sete ndios botocudos, acompanhados de intrprete, foram enviados para o Rio de Janeiro com a finalidade de serem expostos ao pblico e tambm estudados pelos pesquisadores do Museu Nacional. Os Botocudos pareciam estar ali para performar o mito do primeiro contato ao serem apresentados como selvagens, brbaros, violentos e grotescos. Apesar de terem vivido no aldeamento do Mutum, portanto sob o jugo e tutela do Estado, foram lidos pelos habitantes da corte como se estivessem tendo seu primeiro contato com os brancos naquele momento, j que, segundo os jornais, estavam com medo e queriam fugir. Nessa exposio os Botocudos representavam por definio o outro, a imagem que espelha exatamente o contrrio do Brasil civilizado. (Adaptado de Marina Cavalcanti Vieira, A Exposio Antropolgica Brasileira de 1882 e a exibio de ndios botocudos: performances de primeiro contato em um caso de zoolgico humano brasileiro, in Horizontes antropolgicos, n. 53, 2019, p. 317-357.) a) Considerando o contexto das exposies da poca, explique qual o objetivo de apresentar os indgenas em um zoolgico humano durante a Exposio Antropolgica, de 1882. Analise criticamente a proposta da Exposio. b) H uma contradio entre os esteretipos sobre os Botocudos representados na charge e sua situao concreta no contexto de 1882. Relacionando a imagem com o excerto, identifique os atores das aes violentas na charge e explique essa contradio.

(UNICAMP - 2022- 1 FASE) Giacomo Borlone de Buschis, O triunfo da morte a reunio dos trs vivos e dos trs mortos. Parte superior de afresco na cidade de Clusone (Itlia), sculo XV. Na Europa medieval crist, prevalecia a ideia de que a morte era a transio para uma vida espiritual plena. Os ritos fnebres buscavam assegurar uma passagem organizada para esse outro plano e evita-se mostrar o processo de decomposio dos corpos. A chegada da peste negra rompeu com essa concepo. De acordo com a historiadora Juliana Schmitt, a doena deixava marcas no corpo, as pessoas morriam de repente, algumas em locais pblicos. A ideia apaziguadora da morte, na concepo crist, foi substituda pela ideia de morte catica, causada pela peste. As imagens cotidianas relacionadas ao surto da doena passaram a ser reapresentadas no campo das imagens e na literatura, no que hoje se conhece como esttica macabra. O que caracteriza as obras macabras a nfase dada aos processos de decomposio do corpo. A esttica anterior ao perodo medieval, mas foi impulsionada pela peste negra. (Adaptado de Christina Queiroz, Pandemia como alegoria. Revista Pesquisa Fapesp. Edio 294. ago. 2020.) Com base na imagem e no excerto, assinale a alternativa correta:

(UNICAMP - 2022- 1 FASE) Na Antiguidade Clssica, os gregos sabiam que a terra era redonda. Supunha-se, porm, que, se existisse gente do outro lado do globo, elas viveriam de pernas para o ar, uma vez que, nessa poca, no havia ainda notcia da fora da gravidade. Sobre a percepo da Terra e a cincia nos Descobrimentos, h um pblico que pensa na modernidade cientfica como algo do sculo XVII, esquecendo que uma nova mentalidade emprica com implicaes tecnolgicas motivou os Descobrimentos portugueses. O norteamericano Washington Irving e o francs Antoine-Jean Letronne, em finais do sculo XIX e princpios do XX, difundiram o mito da terra plana, o que logo ganhou adeptos. De acordo com os autores desse mito, Colombo teria proposto a D. Joo II sua teoria supostamente revolucionria da esfericidade da terra. O rei teria reunido seus especialistas, que rejeitaram a proposta porque achavam que a terra era plana. A viagem de Colombo com a descoberta das Amricas, todavia, confirmaria a redondeza da Terra. O mito, porm, prevaleceu. No entanto, a realidade deveras fascinante. (Adaptado de Onsimo Teotnio Almeida, A cincia no Portugal da Expanso. Ideias. jornaldeletras. pt. 26 de setembro a 9 de outubro de 2018, p. 31-32.) Baseado no enunciado acima, correto afirmar:

(UNICAMP - 2022- 1 FASE) A rainha Nzinga (1624-1663), governante seiscentista do Ndongo, um reino da frica Central situado na atual Angola, chegou ao poder graas sua competncia militar, diplomacia bem sucedida, manipulao da religio e de conflitos entre potncias europeias. Ela criou as condies para a primeira sublevao popular mbundu contra a explorao portuguesa ao atrair para sua causa os chefes que estavam sob influncia europeia. Depois conquistou o reino vizinho de Matamba e o governou por trs dcadas junto com o que restou do poderoso reino Ndongo; desafiou treze governadores portugueses que regeram Angola entre 1622 e 1633. Apesar de seus feitos e o longo reinado, comparvel ao de Elizabeth I (15031603) da Inglaterra, ela foi desacreditada pelos contemporneos europeus e por autores posteriores. (Adaptado de Linda Heywood, Nzinga de Angola: a rainha guerreira de frica. Lisboa: Casa das Letras, 2017. p. 10-12; 82.) Com base no excerto e em seus conhecimentos, correto afirmar que a rainha Nzinga:

(UNICAMP - 2022 - 2 fase) A grande recusa do corpo no se d apenas no campo da sexualidade. A luxria passa a ser cada vez mais associada gula. Por isso, as recomendaes da Igreja passam a se dirigir tanto carne quanto boca. Os pecados da carne e os pecados da boca passam a caminhar de mos dadas. Assim, a embriaguez reprimida tambm como forma de controlar os camponeses e os brbaros, muito apreciadores de bebedeiras. A indigesto igualmente associada ao pecado. A abstinncia e o jejum do o ritmo, portanto, do homem medieval. Gordo oposto ao magro, Carnaval que se empanturra contra Quaresma que jejua. A tenso atravessa o corpo medieval. (Adaptado de Jacques Le Goff e Nicolas Truong, Uma histria do corpo na Idade Mdia. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2006, p. 58 e 59.) A partir da leitura do texto e de seus conhecimentos sobre Idade Mdia, responda s questes. a) Cite e explique as tenses, que o texto menciona, relacionadas, no perodo medieval, ao corpo. b) Cite e explique duas diferenas, entre a sociedade medieval e a sociedade contempornea, no que diz respeito percepo sobre o corpo ideal.

(UNICAMP - 2022 -1 FASE) A sociedade uma beno, mas o governo, mesmo em seu melhor estado, apenas um mal necessrio. No seu pior estado, um mal intolervel, pois quando sofremos ou ficamos expostos, por causa de um governo, s mesmas desgraas que poderamos esperar em um pas sem governo, nossa calamidade pesa ainda mais ao considerarmos que somos ns que fornecemos os meios pelos quais sofremos. H algo de muito ridculo na composio da monarquia; primeiro ela exclui um homem dos meios de informao, mas lhe permite agir em casos que requerem capacidade superior de julgamento. A posio de um rei o aparta do mundo; no entanto, a atividade de um rei exige que ele conhea perfeitamente o mundo. Com isso, as diferentes partes, opondo-se de forma antinatural e destruindo uma outra, provam que essa figura absurda e intil. (Adaptado de Thomas Paine, Senso comum e os direitos do homem. LPM Pocket. Edio do Kindle posio 32 a 138.) O trecho acima foi retirado do panfleto O Senso comum e Os direitos do homem, publicado de forma annima, em 1776. Com autoria assumida por Thomas Paine, a obra causou grande reao pblica. A partir do texto e das informaes fornecidas, correto dizer que o autor

(UNICAMP - 2022 - 2 fase) Mas, enquanto isso, e os escravos? Eles ouviam falar da Revoluo e conceberam-na sua prpria imagem. (...) Antes do final de 1789, houve levantes em Guadalupe e na Martinica. J em outubro, em Forte Dauphin, um dos futuros centros da insurreio de So Domingos, os escravos estavam se agitando e realizando reunies de massas nas florestas durante a noite. Na Provncia do Sul, observando a luta entre os seus senhores a favor e contra a Revoluo, eles mostraram sinais de inquietao. (...) Pela dura experincia, aprenderam que esforos isolados estavam condenados ao fracasso, e nos primeiros meses de 1791, dentro e nos arredores de Le Cap, eles estavam se organizando para a Revoluo. O vodu era o meio da conspirao. Apesar de todas as proibies, os escravos viajavam quilmetros para cantar, danar, praticar os seus ritos e conversar; e ento, desde a Revoluo, escutar as novidades polticas e traar os seus planos. (Adaptado de Cyrik Lionel Robert James, Os Jacobinos Negros. Toussaint LOuverture e a revoluo de So Domingos. 1.ed. So Paulo: Boitempo, 2010, p. 87-91.) Com base no excerto e em seus conhecimentos sobre as revolues atlnticas de finais do sculo XVIII e incio do XIX, a) cite e analise dois elementos caractersticos dos modos de ao poltica da populao escravizada do Haiti (So Domingos). b) identifique e explique dois impactos da revoluo haitiana no mundo Atlntico.

(UNICAMP - 2022 - 2 fase) Durante muito tempo e ainda hoje despejou-se um discurso moralizante sobre os ndios. Considerando os Aimors, no se trata apenas de uma tribo nem de um mesmo grupo etnolingustico; trata-se, antes, de uma denominao genrica que podia ser aplicada a vrios grupos, em geral Tapuias. Neste rol de Tapuias, incluam-se os que viriam a ser chamados de Botocudos durante o sculo XIX e Krenak no sculo XX. H uma carncia de fontes escritas em relao a esses Aimors. O nome foi a marca forte que os registros histricos deixaram sobre esses grupos indgenas. Essas nomeaes no eram assumidas por eles, sendo uma identidade atribuda pelos adversrios. (Adaptado de Marco Morel, A Saga dos Botocudos. Guerra, imagens e resistncia indgena. So Paulo: HUCITEC, 2018, p. 44-45.) De acordo com a leitura do texto e seus conhecimentos, responda s questes. a) Identifique e explique a crtica feita pelo autor do texto ao processo de construo da identidade Aimor. b) Explique a construo das identidades atribudas pelo romantismo brasileiro aos indgenas no sculo XIX.

(UNICAMP - 2022 -1 FASE) No parece ser obra do acaso a preservao da unidade territorial do Imprio do Brasil, quando comparada fragmentao poltica experimentada pelos antigos vice-reinos hispano-americanos, entre 1810 e 1825. Em Lisboa, no mbito da Sociedade Real Martima e Militar (1798- 1807), foram preparadas memrias histricas, corogrficas e roteiros hidrogrficos redigidos pelos engenheiros militares e navais. Esta documentao serviu diplomacia do Imprio brasileiro nos tribunais internacionais; mas tambm, muniu, internamente, a organizao das expedies de conquista territorial, levadas ao cabo pelas elites regionais antes e aps a Independncia. (Adaptado de Iris Kantor, Mapas em trnsito: projees cartogrficas e processo de emancipao poltica do Brasil (1779-1822). Araucaria. Ver. Iberoamericana de Filos., Polt. y Humanidades. 2010, 12, n. 24. p. 110.) Considerando o excerto acima e seus estudos, pode-se afirmar que

(UNICAMP - 2022 -1 FASE) No incio da dcada de 1920, o Brasil se preparou para celebrar os cem anos de sua independncia na Exposio Internacional do Centenrio da Independncia do Brasil, um de seus momentos simblicos mais significativos. Ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, entre 7 de setembro de 1922 e 2 de julho de 1923, o evento mobilizou grandes recursos financeiros e foi responsvel pela reordenao do espao urbano. O Estado, por meio da comisso organizadora do evento, incentivou pela primeira vez a realizao de documentrios flmicos. (Adaptado de Eduardo Morettin, Um apstolo do modernismo na Exposio Internacional do Centenrio: Armando Pamplona e a Independncia. Film. Significao, 2012, n. 37, p. 77.) A partir do texto, assinale a alternativa correta sobre o evento do centenrio da independncia.

(UNICAMP - 2022 - 2 fase) Lus Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882) foi um abolicionista, orador, jornalista e escritor brasileiro. Nascido de me negra e pai branco, foi, contudo, escravizado aos 10 anos de idade e permaneceu analfabeto at os 17 anos. Conquistou judicialmente sua liberdade e atuou na advocacia em prol dos escravizados. Entre seus poemas, l-se: Cincias e letras No so para ti Pretinho da Costa No gente aqui. Em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil, Seo So Paulo, concedeu-lhe o ttulo de advogado. Em 2018, seu nome foi inscrito no Livro de Ao dos heris nacionais, depositado no Panteo da Ptria e da Liberdade Tancredo Neves. (Adaptado de Ligia Fonseca Ferreira, Luiz Gama autor, leitor, editor: revisitando as Primeiras Trovas Burlescas de 1859 e 1861. Estudos Avanados. 2019, v. 33, n. 96.) A partir da leitura do texto e de suas reflexes, a) liste e explique dois aspectos da relao entre origem social e formas de acesso ao mundo das cincias e letras no perodo em que Gama atuou; b) cite e analise dois significados, no contexto do Brasil do sculo XXI, da concesso do ttulo de advogado a Luiz Gama.

(UNICAMP - 2022 - 2 fase) Trinta anos atrs, um muro veio abaixo, marcando o incio do que parecia ser uma nova era de abertura e internacionalismo. Em 1987, o presidente Ronald Reagan foi ao Porto de Brandemburgo, na Berlim dividida, e desafiou seu homlogo na Unio Sovitica: Sr. Gorbachev, derrube este muro!. Dois anos depois, o muro caiu. Berlim, a Alemanha e, por fim, a Europa estavam unidos de novo. Nos ltimos anos, o apelo Derrube este muro! tem perdido para a mentalidade de fortaleza. Pelo menos 65 pases, mais de um tero dos Estados-naes do planeta, construram barreiras ao longo de seus limites; metade das que foram erigidas desde a Segunda Guerra Mundial surgiram entre 2000 e agora. (Adaptado de Tim Marshall, A era dos muros. Rio de Janeiro: Zahar, 2018, p. 4-6.) A partir do texto e de seus conhecimentos, responda: a) Cite e explique duas caractersticas de Berlim dividida. b) Explique o sentido e as causas da mentalidade de fortaleza que, para o autor, tem imperado no mundo. Cite dois exemplos que ilustrem a mentalidade de fortaleza.

(UNICAMP - 2022 - 1 fase - Caderno R) uma tarefa difcil realizar um diagnstico do tempo presente. Definir o presente como poca? Os marcos cannicos (geralmente de natureza poltica) variam, sabidamente, ao gosto das experincias nacionais. Na Frana, na pennsula Ibrica e no Brasil, o marco que define o incio da histria contempornea a Revoluo Francesa. Na Alemanha e na Inglaterra, o historiador que se dedica histria contempornea trabalha preferencialmente com eventos posteriores II Guerra Mundial. Contempornea, na Rssia, a histria posterior a 1918. Na Itlia, por sua vez, trata-se do perodo que advm aps o Congresso de Viena (1814-1815). (Adaptado de Helena Miranda Mollo, Sergio da Mata, Mateus Henrique de Faria Pereira e Flvia Varella, Tempo presente usos do passado. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012. Posio Kindle: 107-111.) A partir da leitura do texto, correto afirmar que

(UNICAMP - 2022 - 1 fase - Caderno R) No Brasil, um exemplo de histria que precisa ser narrada a dos movimentos em defesa dos direitos que hoje reconhecemos como movimentos LGBTQIA+. Tais movimentos eclodiram como um ato de resistncia em plena ditadura civil-militar, marcada pela represso e por ideais conservadores. Naquele contexto, a busca por visibilidade passou a ser compreendida como um dos elementos fundamentais para a conquista da cidadania. Entre outras coisas, os ativistas defendiam que os direitos polticos, sociais e civis tornam-se socialmente legtimos para os cidados quando envolvem o direito aos meios de comunicao e livre expresso. (Baseado em Vinicius Ferreira e Igor Sacramento, Editorial: Movimento LGBT no Brasil: violncias, memrias e lutas. Reciis Rev Eletron Comun Inf Inov Sade. 2019 abr.-jun.13(2): p. 234-239.) A partir da leitura do texto, assinale a alternativa correta acerca da historicidade dos movimentos polticos identitrios e suas estratgias polticas de ao.

(UNICAMP - 2022 - 2 fase) E quando ouvir o silncio sorridente de So Paulo diante da chacina 111 presos indefesos Mas presos so quase todos pretos Ou quase pretos Ou quase brancos quase pretos de to pobres E pobres so como podres E todos sabem como se tratam os pretos (Em: Caetano Veloso e Gilberto Gil. Haiti. Tropiclia 2, 1993). A msica denuncia o massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, na cidade de So Paulo. A partir da letra e dos seus conhecimentos, a) explique por que, historicamente, a chacina do Carandiru um crime contra os direitos humanos, identificando o perfil das vtimas. b) cite e explique duas mudanas polticas, entre as dcadas de 1960 e 1990, em relao aos direitos humanos no Brasil.