(AFA - 2007)
Texto V
ROMANCE XXVlll ou DA DENÚNCIA DE JOAQUIM SILVÉRIO
No Palácio da Cachoeira,
com pena bem aparada,
começa Joaquim Silvério
a redigir sua carta.
De boca já disse tudo
quanto soube e imaginava.
Ai, que o traiçoeiro invejoso
junta às ambições a astúcia.
Vede a pena como enrola
arabescos de volúpia,
entre as palavras sinistras
desta carta de denúncia!
Que letras extravagantes,
com falsos intuitos de arte!
Tortos ganchos de malícia,
grandes borrões de vaidade.
Quando a aranha estende a teia,
não se encontra asa que escape.
Vede como está contente,
pelos horrores escritos,
esse impostor caloteiro
que em tremendos labirintos
prende os homens indefesos
e beija os pés aos ministros!
(...)
(No grande espelho do tempo,
cada vida se retrata:
os heróis, em seus degredos
ou mortos em plena praça;
- os delatores, cobrando
o preço das suas cartas...)
Cecília Meireles
"Vede como a pena enrola arabescos de volúpia"
Os versos retirados do texto V podem ser reescritos, em termos atuais, sem que haja perda ou alteração de sentido, conforme a alternativa:
Contemplem como a caneta traça rabiscos de prazer.
Olhem o prazer com que a caneta traça os rabiscos.
Observem como os rabiscos são prazerosamente escritos.
Veja o prazer dos rabiscos traçados pela caneta.