(AFA - 2008)
Leia atentamente o Texto I para responder às questões de 31
a 36.
Texto I
Hino nacional
Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás das florestas,
com a água dos rios no meio,
o Brasil está dormindo, coitado.
[5] Precisamos colonizar o Brasil.
O que faremos importando francesas
muito louras, de pele macia,
alemãs gordas, russas nostálgicas para
garçonettes dos restaurantes noturnos.
[10] E virão sírias fidelíssimas.
Não convém desprezar as japonesas...
Precisamos educar o Brasil.
Compraremos professores e livros,
assimilaremos finas culturas,
[15] abriremos dancings e subvencionaremos as elites.
Cada brasileiro terá sua casa
com fogão e aquecedor elétricos, piscina,
salão para conferências científicas.
E cuidaremos do Estado Técnico.
[20] Precisamos louvar o Brasil.
Não é só um país sem igual.
Nossas revoluções são bem maiores
do que quaisquer outras; nossos erros também.
E nossas virtudes? A terra das sublimes paixões...
[25] os Amazonas inenarráveis... os incríveis João-Pessoas...
Precisamos adorar o Brasil!
Se bem que seja difícil caber tanto oceano e tanta
[solidão
no pobre coração já cheio de compromissos...
Se bem que seja difícil compreender o que querem
[30] [esses homens,
por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão de seus
[sofrimentos.
Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
[35] O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?
(Andrade, Carlos Drummond de. Sentimento do Mundo – 12a ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.)
De acordo com o texto, assinale a alternativa INCORRETA.
A expressão se bem que (verso 27) determina uma mudança de direção na idéia desenvolvida no texto.
O eu-lírico apresenta duas posturas em relação ao brasileiro: a princípio otimista e por fim desalentada.
Até parte da sexta estrofe há no texto uma intensificação progressiva de significados e emoções.
A expressão terríveis carinhos (verso 34) apresenta um contra senso e foi utilizada para reforçar um aspecto negativo de nosso nacionalismo.