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Questões - IME 2019 | Gabarito e resoluções

Questão 1
2019Química

(IME - 2019/2020 - 1 FASE) Considere que a superfcie da Lua seja bombardeada a cada segundo por cerca de 100 bilhes de tomos de hidrognio por cm2 em funo da ao do vento solar. Supondo que esse fluxo se mantenha constante, a massa aproximada de hidrognio, que atingir 1 cm2da Lua nos prximos 5 milhes de anos ser: (Dado: NA = 6,0 x 1023)

Questão 1
2019Química

(IME - 2019/2020 - 2 FASE) Informaes de Tabela Peridica: Constantes: Constante de Faraday: 1 F = 96500 Nmero de Avogadro: 6,02 x 10 Constante Universal dos Gases = Equao de Nernst: Converso: T(K) = t(C) + 273 Calcule a variao de entalpia (em J) no processo de decomposio de 600 mg de nitroglicerina () que produz nitrognio, dixido de carbono e oxignio gasosos, alm de gua lquida. Dados:

Questão 1
2019Matemática

(IME - 2019/2020 - 2 FASE) Sejam e razes da equao , e razes da equao . Sabendo-se que e formam uma progresso geomtrica crescente, determine o valor de .

Questão 1
2019Matemática

(IME - 2019/2020 - 1 FASE) Seja U o conjunto dos 1000 primeiros nmeros naturais maiores que zero. Considere que zeros esquerda so omitidos. Seja o conjunto de nmeros cuja representao na base 10 tem o algarismo mais significativo igual a 1; e o conjunto de nmeros cuja representao na base 4 tem o algarismo mais significativo igual a 2. As cardinalidades de e de so, respectivamente: Cardinalidade de um conjunto finito o nmero de elementos distintos desse conjunto

Questão 1
2019Física

(IME - 2019/2020 - 1 FASE) Uma fonte sonora de frequncia arremessada verticalmente para cima, com velocidade inicial , de um ponto da superfcie terrestre no qual a acelerao da gravidade . Dados: acelerao da gravidade: ; e velocidade inicial da fonte sonora: . Nota: despreze a resistncia do ar e a variao da acelerao da gravidade com a altitude. A frequncia percebida 10 segundos mais tarde por um observador esttico situado no local do arremesso tal que:

Questão 1
2019Física

(IME - 2019/2020 - 2 FASE) A figura mostra um sistema usado em um laboratrio de fsica para demonstrar a difrao de luz por uma fenda. A luz de um laser de comprimento de onda passa por uma fenda de largura , formada pelo espao entre as extremidades de duas barras de comprimento . A outra extremidade de cada barra mantida fixa. Depois de passar pela fenda, a luz incide em uma tela distante, na qual observado um padro de difrao formado por regies claras e escuras. a) Dado que na tela so observados exatamente 3 mnimos de intensidade luminosa em cada lado do mximo central de intensidade, determine o intervalo de valores da largura da fenda que so compatveis com essa observao. b) A temperatura do laboratrio normalmente mantida em 24,0 C por um aparelho de ar condicionado. Em um dia no qual o experimento foi realizado com o aparelho de ar condicionado desligado, observou-se na tela apenas 1 mnimo de intensidade luminosa em cada lado do mximo central de intensidade, o que foi atribudo dilatao trmica das barras. Sabendo que o coeficiente de dilatao linear das barras , determine o intervalo de temperaturas do laboratrio, no dia em que o aparelho de ar condicionado foi desligado, que so compatveis com essa observao. Dados: comprimento de onda do laser: ; comprimento de cada barra a ; coeficiente de dilatao linear de cada barra: .

Questão 1
2019Português

(IME - 2019/2020 - 2 FASE) A primeira publicao do conto O Alienista, de Machado de Assis, ocorreu como folhetim na revista carioca A Estao, entre os anos de 1881 e 1882. Nessa mesma poca, uma grande reforma educacional efetuou-se no Brasil, criando, dentre outras, a cadeira de Clnica Psiquitrica. nesse contexto de uma psiquiatria ainda embrionria que Machado prope sua crtica cida, reveladora da escassez de conhecimento cientfico e da abundncia de vaidades, concomitantemente. A obra deixa ver as relaes promscuas entre o poder mdico que se pretendia baluarte da cincia e o poder poltico tal como era exercido em Itagua, ento uma vila, distante apenas alguns quilmetros da capital Rio de Janeiro. O conto se desenvolve em treze breves captulos, ao longo dos quais o alienista vai fazendo suas experimentaes cientificistas at que ele mesmo conclua pela necessidade de seu isolamento, visto que reconhece em si mesmo a nica pessoa cujas faculdades mentais encontram-se equilibradas, sendo ele, portanto, aquele que destoa dos demais, devendo, por isso, alienar-se. Texto 1 Captulo IV UMA TEORIA NOVA 1 Ao passo que D. Evarista, em lgrimas, vinha buscando o Rio de Janeiro, Simo Bacamarte estudava por todos os lados uma certa ideia arrojada e nova, prpria a alargar as bases da psicologia. Todo o tempo que lhe sobrava dos cuidados da Casa Verde era pouco para andar na rua, ou de casa em casa, conversando as gentes, sobre trinta mil assuntos, e virgulando as falas de um olhar que metia medo aos mais heroicos. 5 Um dia de manh, eram passadas trs semanas, estando Crispim Soares ocupado em temperar um medicamento, vieram dizer-lhe que o alienista o mandava chamar. Tratava-se de negcio importante, segundo ele me disse, acrescentou o portador. 10 Crispim empalideceu. Que negcio importante podia ser, se no alguma notcia da comitiva, e especialmente da mulher? Porque este tpico deve ficar claramente definido, visto insistirem nele os cronistas; Crispim amava a mulher, e, desde trinta anos, nunca estiveram separados um s dia. Assim se explicam os monlogos que fazia agora, e que os fmulos lhe ouviam muita vez: Anda, bem feito, quem te mandou consentir na viagem de Cesria? Bajulador, torpe bajulador! S para adular ao Dr Bacamarte. Pois agora aguenta-te; anda; 15aguenta-te, alma de lacaio, fracalho, vil, miservel. Dizes amm a tudo, no ? A tens o lucro, biltre!. E muitos outros nomes feios, que um homem no deve dizer aos outros, quanto mais a si mesmo. Daqui a imaginar o efeito do recado um nada. To depressa ele orecebeu como abriu mo das drogas e voou Casa Verde. 20 Simo Bacamarte recebeu-o com a alegria prpria de um sbio, uma alegria abotoada de circunspeo at o pescoo. Estou muito contente, disse ele. Notcias do nosso povo?, perguntou o boticrio com a voz trmula. O alienista fez um gesto magnfico, e respondeu: Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma experincia cientfica. Digo experincia, 25 porque no me atrevo a assegurar desde j a minha ideia; nem a cincia outra coisa, Sr. Soares, seno uma investigao constante. Trata-se, pois, de uma experincia, mas uma experincia que vai mudar a face da terra. A loucura, objeto dos meus estudos, era at agora uma ilha perdida no oceano da razo; comeo a suspeitar que um continente. 30 Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do boticrio. Depois explicou compridamente a sua ideia. No conceito dele a insnia abrangia uma vasta superfcie de crebros; e desenvolveu isto com grande cpia de raciocnios, de textos, de exemplos. Os exemplos achou-os na histria e em Itagua mas, como um raro esprito que era, reconheceu o perigo de citar todos os casos de Itagua e refugiou-se na histria. Assim, apontou com especialidade alguns clebres, Scrates, que tinha um demnio familiar, Pascal, que via um 35abismo esquerda, Maom, Caracala, Domiciano, Calgula etc., uma enfiada de casos e pessoas, em que de mistura vinham entidades odiosas, e entidades ridculas. E porque o boticrio se admirasse de uma tal promiscuidade, o alienista disse-lhe que era tudo a mesma coisa, e at acrescentou sentenciosamente: A ferocidade, Sr. Soares, o grotesco a srio 40 Gracioso, muito gracioso!, exclamou Crispim Soares levantando as mos ao cu. Quanto ideia de ampliar o territrio da loucura, achou-a o boticrio extravagante; mas a modstia, principal adorno de seu esprito, no lhe sofreu confessar outra coisa alm de um nobre entusiasmo; declarou-a sublime e verdadeira, e acrescentou que era caso de matraca. Esta expresso no tem equivalente no estilo moderno. Naquele tempo, Itagua, que como as 45 demais vilas, arraiais e povoaes da colnia, no dispunha de imprensa, tinha dois modos de divulgar uma notcia: ou por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta da Cmara, e da matriz; ou por meio de matraca. Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mo. 50 De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, um remdio para sezes, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesistico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano etc. O sistema tinha inconvenientes para a paz pblica; mas era conservado pela grande energia de divulgao que possua. Por exemplo, um dos vereadores, aquele justamente que mais se opusera 55 criao da Casa Verde, desfrutava a reputao de perfeito educador de cobras e macacos, e alis nunca domesticara um s desses bichos; mas, tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses. E dizem as crnicas que algumas pessoas afirmavam ter visto cascavis danando no peito do vereador; afirmao perfeitamente falsa, mas s devida absoluta confiana no sistema. Verdade, verdade, nem todas as instituies do antigo regime 60 mereciam o desprezo do nosso sculo. H melhor do que anunciar a minha ideia, pratic-la, respondeu o alienista insinuao do boticrio. E o boticrio, no divergindo sensivelmente deste modo de ver, disse-lhe que sim, que era melhor comear pela execuo. 65 Sempre haver tempo de a dar matraca, concluiu ele. Simo Bacamarte refletiu ainda um instante, e disse: Suponho o esprito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, ver se posso extrair a prola, que a razo; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razo e da loucura. A razo o perfeito equilbrio de todas as faculdades; fora da insnia, 70insnia e s insnia. O Vigrio Lopes, a quem ele confiou a nova teoria, declarou lisamente que no chegava a entend-la, que era uma obra absurda, e, se no era absurda, era de tal modo colossal que no merecia princpio de execuo. Com a definio atual, que a de todos os tempos, acrescentou, a loucura e a razo 75esto perfeitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde a outra comea. Para que transpor a cerca? Sobre o lbio fino e discreto do alienista roou a vaga sombra de uma inteno de riso, em que o desdm vinha casado comiserao; mas nenhuma palavra saiu de suas egrgias entranhas. 80 A cincia contentou-se em estender a mo teologia, com tal segurana, que a teologia no soube enfim se devia crer em si ou na outra. Itagua e o universo beira de uma revoluo. ASSIS, Machado de. O Alienista. Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro / USP. Disponvel em: . Acesso em: 12/08/2019. O soneto XIII de Via-Lctea, coleo publicada em 1888 no livro Poesias, o texto mais famoso da antologia, obra de estreia do poeta Olavo Bilac. O texto, cuidadosamente ritmado, suas rimas e a escolha da forma fixa revelam rigor formal e estilstico caros ao movimento parnasiano; o tema do poema, no entanto, entra em coliso com o tema da literatura tpica do movimento, tal como concebido no continente europeu. Texto 2 XIII 1 Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, plido de espanto 5E conversamos toda a noite, enquanto A Via-lctea, como um plio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo cu deserto. 10Direis agora: Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando esto contigo? E eu vos direi: Amai para entend-las! Pois s quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas. BILAC, Olavo. Antologia: Poesias. Martin Claret, 2002. p. 37-55. Via-Lctea. Disponvel em: . Acesso em: 19/08/2019. Quanto aos textos apresentados, assinale a afirmativa que apresenta uma incorreo.

Questão 1
2019Inglês

(IME - 2019/2020 - 2 FASE) Texto 1 ON THE ORIGIN OF SPECIES BY MEANS OF NATURAL SELECTION, OR THE PRESERVATION OF FAVOURED RACES IN THE STRUGGLE FOR LIFE CHARLES DARWIN, M.A. Fellow of the Royal, Geological, Linnan, etc. societies; Author of Journal of researches during H. M. S. Beagles Voyage round the world. London: John Murray, Albemarle Street, 1859. Introduction ____(21)______ on board H.M.S. Beagle, as naturalist, I was much ____(22)______ with certain facts in the distribution of the inhabitants of South America, and in the geological relations of the present to the past inhabitants of that continent. These facts seemed to me to ___(23)_______ some light on the origin of speciesthat mystery of mysteries, as it has been called by one of our greatest philosophers. _____(24)_____ my return home, it occurred to me, in 1837, that something might perhaps be made out on this question by patiently accumulating and reflecting on all sorts of facts which could possibly have any bearing on it. After five years work I allowed myself to speculate on the subject, and drew up some short notes; these I enlarged in 1844 into a ____(25)______ of the conclusions, which ____(26)______ seemed to me probable: from that period to the present day I ____(27)______ the same object. I hope that I may be excused for entering on these personal details, as I give them to show that I have not been ____(28)______ in coming to a decision. My work is now nearly finished; but ___(29)_______ it will take me two or three more years to complete it, and as my health is far from strong, ____(30)______ to publish this Abstract. [...] Extrado de DARWIN, Charles Robert. On the Origin of Species. Disponvel em: . Acesso em: 02/08/2019. Fill in the blank (21):

Questão 2
2019Química

(IME - 2019/2020 - 1 FASE) A respeito das reaes abaixo: I. II. III. Assinale a alternativa INCORRETA.

Questão 2
2019Matemática

(IME - 2019/2020 - 2 FASE) Seja uma regio no plano complexo que consiste em todos os pontos tais que e possuem partes real e imaginria entre 0 e 1, inclusive. Determine a rea da regio . Obs: o conjugado do nmero complexo .

Questão 2
2019Inglês

(IME - 2019/2020 - 2 FASE) Texto 1 ON THE ORIGIN OF SPECIES BY MEANS OF NATURAL SELECTION, OR THE PRESERVATION OF FAVOURED RACES IN THE STRUGGLE FOR LIFE CHARLES DARWIN, M.A. Fellow of the Royal, Geological, Linnan, etc. societies; Author of Journal of researches during H. M. S. Beagles Voyage round the world. London: John Murray, Albemarle Street, 1859. Introduction ____(21)______ on board H.M.S. Beagle, as naturalist, I was much ____(22)______ with certain facts in the distribution of the inhabitants of South America, and in the geological relations of the present to the past inhabitants of that continent. These facts seemed to me to ___(23)_______ some light on the origin of speciesthat mystery of mysteries, as it has been called by one of our greatest philosophers. _____(24)_____ my return home, it occurred to me, in 1837, that something might perhaps be made out on this question by patiently accumulating and reflecting on all sorts of facts which could possibly have any bearing on it. After five years work I allowed myself to speculate on the subject, and drew up some short notes; these I enlarged in 1844 into a ____(25)______ of the conclusions, which ____(26)______ seemed to me probable: from that period to the present day I ____(27)______ the same object. I hope that I may be excused for entering on these personal details, as I give them to show that I have not been ____(28)______ in coming to a decision. My work is now nearly finished; but ___(29)_______ it will take me two or three more years to complete it, and as my health is far from strong, ____(30)______ to publish this Abstract. [...] Extrado de DARWIN, Charles Robert.On the Origin of Species. Disponvel em: . Acesso em: 02/08/2019. Fill in the blank (22):

Questão 2
2019Física

(IME - 2019/2020 - 1 FASE) Um sistema mecnico, composto por um corpo de massa conectado a uma mola, est inicialmente em equilbrio mecnico e em repouso sobre uma superfcie horizontal sem atrito, conforme mostra a figura. Um projtil esfrico de massa disparado na direo horizontal contra a massa , provocando um choque perfeitamente inelstico que inicia uma oscilao no sistema. Dados: = 10 kg; = 2 kg; amplitude de oscilao do sistema = 0,4 m; e frequncia angular = 2 rad/s A velocidade do projtil antes do choque entre as massas e , em m/s, :

Questão 2
2019Química

(IME - 2019/2020 - 2 FASE) Informaes de Tabela Peridica: Constantes: Constante de Faraday: 1 F = 96500 Nmero de Avogadro: 6,02 x 10 Constante Universal dos Gases = Equao de Nernst: Converso: T(K) = t(C) + 273 Determine a massa de hidrognio ionizado em 1 L de uma soluo 0,1 molar de um cido monoprtico em gua com constante de ionizao igual a 1,69 x . .

Questão 2
2019Matemática

(IME - 2019/2020) O menor nmero natural mpar que possui o mesmo nmero de divisores que 1800 est no intervalo:

Questão 2
2019Português

(IME - 2019/2020 - 2 FASE) A primeira publicao do conto O Alienista, de Machado de Assis, ocorreu como folhetim na revista carioca A Estao, entre os anos de 1881 e 1882. Nessa mesma poca, uma grande reforma educacional efetuou-se no Brasil, criando, dentre outras, a cadeira de Clnica Psiquitrica. nesse contexto de uma psiquiatria ainda embrionria que Machado prope sua crtica cida, reveladora da escassez de conhecimento cientfico e da abundncia de vaidades, concomitantemente. A obra deixa ver as relaes promscuas entre o poder mdico que se pretendia baluarte da cincia e o poder poltico tal como era exercido em Itagua, ento uma vila, distante apenas alguns quilmetros da capital Rio de Janeiro. O conto se desenvolve em treze breves captulos, ao longo dos quais o alienista vai fazendo suas experimentaes cientificistas at que ele mesmo conclua pela necessidade de seu isolamento, visto que reconhece em si mesmo a nica pessoa cujas faculdades mentais encontram-se equilibradas, sendo ele, portanto, aquele que destoa dos demais, devendo, por isso, alienar-se. Texto 1 Captulo IV UMA TEORIA NOVA 1 Ao passo que D. Evarista, em lgrimas, vinha buscando o Rio de Janeiro, Simo Bacamarte estudava por todos os lados uma certa ideia arrojada e nova, prpria a alargar as bases da psicologia. Todo o tempo que lhe sobrava dos cuidados da Casa Verde era pouco para andar na rua, ou de casa em casa, conversando as gentes, sobre trinta mil assuntos, e virgulando as falas de um olhar que metia medo aos mais heroicos. 5 Um dia de manh, eram passadas trs semanas, estando Crispim Soares ocupado em temperar um medicamento, vieram dizer-lhe que o alienista o mandava chamar. Tratava-se de negcio importante, segundo ele me disse, acrescentou o portador. 10 Crispim empalideceu. Que negcio importante podia ser, se no alguma notcia da comitiva, e especialmente da mulher? Porque este tpico deve ficar claramente definido, visto insistirem nele os cronistas; Crispim amava a mulher, e, desde trinta anos, nunca estiveram separados um s dia. Assim se explicam os monlogos que fazia agora, e que os fmulos lhe ouviam muita vez: Anda, bem feito, quem te mandou consentir na viagem de Cesria? Bajulador, torpe bajulador! S para adular ao Dr Bacamarte. Pois agora aguenta-te; anda; 15aguenta-te, alma de lacaio, fracalho, vil, miservel. Dizes amm a tudo, no ? A tens o lucro, biltre!. E muitos outros nomes feios, que um homem no deve dizer aos outros, quanto mais a si mesmo. Daqui a imaginar o efeito do recado um nada. To depressa ele orecebeu como abriu mo das drogas e voou Casa Verde. 20 Simo Bacamarte recebeu-o com a alegria prpria de um sbio, uma alegria abotoada de circunspeo at o pescoo. Estou muito contente, disse ele. Notcias do nosso povo?, perguntou o boticrio com a voz trmula. O alienista fez um gesto magnfico, e respondeu: Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma experincia cientfica. Digo experincia, 25 porque no me atrevo a assegurar desde j a minha ideia; nem a cincia outra coisa, Sr. Soares, seno uma investigao constante. Trata-se, pois, de uma experincia, mas uma experincia que vai mudar a face da terra. A loucura, objeto dos meus estudos, era at agora uma ilha perdida no oceano da razo; comeo a suspeitar que um continente. 30 Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do boticrio. Depois explicou compridamente a sua ideia. No conceito dele a insnia abrangia uma vasta superfcie de crebros; e desenvolveu isto com grande cpia de raciocnios, de textos, de exemplos. Os exemplos achou-os na histria e em Itagua mas, como um raro esprito que era, reconheceu o perigo de citar todos os casos de Itagua e refugiou-se na histria. Assim, apontou com especialidade alguns clebres, Scrates, que tinha um demnio familiar, Pascal, que via um 35abismo esquerda, Maom, Caracala, Domiciano, Calgula etc., uma enfiada de casos e pessoas, em que de mistura vinham entidades odiosas, e entidades ridculas. E porque o boticrio se admirasse de uma tal promiscuidade, o alienista disse-lhe que era tudo a mesma coisa, e at acrescentou sentenciosamente: A ferocidade, Sr. Soares, o grotesco a srio 40 Gracioso, muito gracioso!, exclamou Crispim Soares levantando as mos ao cu. Quanto ideia de ampliar o territrio da loucura, achou-a o boticrio extravagante; mas a modstia, principal adorno de seu esprito, no lhe sofreu confessar outra coisa alm de um nobre entusiasmo; declarou-a sublime e verdadeira, e acrescentou que era caso de matraca. Esta expresso no tem equivalente no estilo moderno. Naquele tempo, Itagua, que como as 45 demais vilas, arraiais e povoaes da colnia, no dispunha de imprensa, tinha dois modos de divulgar uma notcia: ou por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta da Cmara, e da matriz; ou por meio de matraca. Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mo. 50 De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, um remdio para sezes, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesistico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano etc. O sistema tinha inconvenientes para a paz pblica; mas era conservado pela grande energia de divulgao que possua. Por exemplo, um dos vereadores, aquele justamente que mais se opusera 55 criao da Casa Verde, desfrutava a reputao de perfeito educador de cobras e macacos, e alis nunca domesticara um s desses bichos; mas, tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses. E dizem as crnicas que algumas pessoas afirmavam ter visto cascavis danando no peito do vereador; afirmao perfeitamente falsa, mas s devida absoluta confiana no sistema. Verdade, verdade, nem todas as instituies do antigo regime 60 mereciam o desprezo do nosso sculo. H melhor do que anunciar a minha ideia, pratic-la, respondeu o alienista insinuao do boticrio. E o boticrio, no divergindo sensivelmente deste modo de ver, disse-lhe que sim, que era melhor comear pela execuo. 65 Sempre haver tempo de a dar matraca, concluiu ele. Simo Bacamarte refletiu ainda um instante, e disse: Suponho o esprito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, ver se posso extrair a prola, que a razo; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razo e da loucura. A razo o perfeito equilbrio de todas as faculdades; fora da insnia, 70insnia e s insnia. O Vigrio Lopes, a quem ele confiou a nova teoria, declarou lisamente que no chegava a entend-la, que era uma obra absurda, e, se no era absurda, era de tal modo colossal que no merecia princpio de execuo. Com a definio atual, que a de todos os tempos, acrescentou, a loucura e a razo 75esto perfeitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde a outra comea. Para que transpor a cerca? Sobre o lbio fino e discreto do alienista roou a vaga sombra de uma inteno de riso, em que o desdm vinha casado comiserao; mas nenhuma palavra saiu de suas egrgias entranhas. 80 A cincia contentou-se em estender a mo teologia, com tal segurana, que a teologia no soube enfim se devia crer em si ou na outra. Itagua e o universo beira de uma revoluo. ASSIS, Machado de.O Alienista. Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro / USP. Disponvel em: . Acesso em: 12/08/2019. O soneto XIII de Via-Lctea, coleo publicada em 1888 no livro Poesias, o texto mais famoso da antologia, obra de estreia do poeta Olavo Bilac. O texto, cuidadosamente ritmado, suas rimas e a escolha da forma fixa revelam rigor formal e estilstico caros ao movimento parnasiano; o tema do poema, no entanto, entra em coliso com o tema da literatura tpica do movimento, tal como concebido no continente europeu. Texto 2 XIII 1 Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, plido de espanto 5E conversamos toda a noite, enquanto A Via-lctea, como um plio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo cu deserto. 10Direis agora: Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando esto contigo? E eu vos direi: Amai para entend-las! Pois s quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas. BILAC, Olavo.Antologia: Poesias. Martin Claret, 2002. p. 37-55. Via-Lctea. Disponvel em: . Acesso em: 19/08/2019. Sobre os Textos 1 e 2, analise as afirmaes abaixo: I. Os dois textos abordam tipos de estados alterados de conscincia que se contrapem experincia da vida cotidiana. II. Ambos os textos fazem uma apologia loucura, segundo a qual a condio de insanidade pode revelar as mazelas morais da sociedade e da cultura. III. Ambos estabelecem a apologia da razo compreendida como a faculdade superior do homem. IV. Os dois textos realizam uma crtica ao cientificismo que considera a possibilidade de estabelecer uma linha de fronteira entre a sanidade e a loucura. Em relao s afirmaes, est(o) correta(s):