(IME 2022/2023 - 2 fase) Texto 1 Erico Verissimo (1905 1975), nascido em Cruz Alta (RS), foi um dos escritores mais populares da chamada segunda fase modernista, que comeou na dcada de 1930. Sua obra mais conhecida o Tempo e o Vento, uma trilogia de romances, na qual ele narra a histria de um clfamiliar, os Terra Cambars, de 1745 at 1945, tendo como contexto formao da fronteira nacional na regio sul. O espao central desses romances a cidade fictcia de Santa F, situada no noroeste do Rio Grande do Sul. O texto O Sobrado, que integra o romance O Continente, versa sobre o chefe do cl, Licurgo Cambar, que resiste em casa ao cerco dos inimigos pertencentes ao cloposto, dos Amaral. Na obra, abordado um episdio da Revoluo Federalista (1893 1895), uma guerra civil entre dois grupos de ideias opostas: um que desejava aumentar os poderes do presidente da Repblica e outro que desejava uma maior autonomia aos estados. O SOBRADO 1 Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa F, que de to quieta e deserta parecia um cemitrio abandonado. Era tanto o silncio e to leve o ar, que se algum aguasse o ouvido talvez pudesse at escutar o sereno na solido. Agachado atras dum muro, Jos Lrio preparava-se para a ltima corrida. Quantos passos dali at a igreja? 5 Talvez uns dez ou doze, bem puxados. Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. Tenente Liroca, dissera-lhe o coronel, havia poucos minutos, suba pro alto do campanrio e fique de olho firme no quintal do Sobrado. Se algum aparecer pra tirar gua do poo, faa fogo sem piedade. Jos Lrio olhava a rua. Dez passos at a igreja. Mas quantos passos at a morte? Talvez cinco... ou 10 dois. Havia um atirador infernal na gua-furtada do Sobrado, espreita dos imprudentes que se aventurassem a cruzar a praa ou alguma rua a descoberto Os segundos passavam. Era preciso cumprir a ordem. Liroca no queria que ningum percebesse que ele hesitava, que era um covarde. Sim, covarde. Podia enganar os outros, mas nao conseguia iludir-se a si mesmo. Estava metido naquela revoluo porque era federalista e tinha vergonha na cara. Mas no se habituava nunca ao perigo. Sentira medo desde o primeiro dia, desde a primeira hora um medo que lhe vinha de baixo das tripas, e lhe subia pelo estomago at a goela, como uma geada, amolecendo-lhe as pernas, os braos, a vontade. Medo doena; medo febre. Engraado. A noite estava fria mas o suor escorria-lhe pela cara barbuda e entrava-lhe na boca, com gosto de salmoura. 20 O tiroteio cessara ao entardecer. Talvez a munio da gente do Sobrado tivesse acabado. Ele podia atravessar a rua devagarinho, assobiando e acendendo um cigarro. Seria at uma provocao bonita. Vamos, Liroca, honra o leno encarnado. Mas qual! L estava aquela sensao fria de vazio e enjoo na boca do estmago, o minuano gelado nos midos. Donde lhe vinha tanto medo? Decerto do sangue da me, pois as gentes do lado paterno eram corajosas 25 O av de Liroca fora um bravo em 35. O pai lhe morrera naquela mesma revoluo, havia pouco mais dum ano tombara estripado numa carga de lanca, mas lutando ate o ultimo momento. Lrio macho, murmurou Liroca para si mesmo. Lrio macho. Sempre que ia entrar num combate, repetia estas palavras: Lrio macho Levantou-se devagarinho, apertando a carabina com ambas as maos. Sentia o corpo dorido, a garganta 30 seca. Tornou a olhar para a igreja. Dez passos. Podia percorr-los nuns cinco segundos, quando muito. Era s um upa e estava tudo terminado. Fez avanar cautelosamente a cabea e, com a quina do muro a tocar-lhe o meio da testa e a ponta do nariz, fechou o olho direito e com o esquerdo ficou espiando o Sobrado que l estava, do outro lado da praa, com sua fachada branca, a dupla fileira de janelas, a sacada de ferro e os altos muros de fortaleza. Havia no casaro algo de terrivelmente humano que fez o corao de JosLrio pulsar com mais 35 fora. Os federalistas tinham tomado a cidade havia quase uma semana, mas Licurgo Cambara, o intendente e chefe poltico republicano do municpio, encastelara-se em sua casa com toda a famlia e um grupo de correligionrios, e de l ainda oferecia resistncia. Enquanto o Sobrado no capitulasse, os revolucionrios no poderiam considerar-se senhores de Santa F, pois os atiradores da gua-furtada praticamente dominavam 40 a praa e as ruas em derredor. Por alguns instantes JosLrio ficou a mirar a fachada do casaro, e de repente a lembrana de que Maria Valria estava l dentro lhe varou o peito como um pontao de lana. Soltou um suspiro fundo e entrecortado, que foi quase um soluo. De novo se encolheu atrs do muro e tornou a olhar para a igreja. Se conseguisse chegar a salvo at a parede lateral, ficaria fora do alcance do atirador do Sobrado, e poderia entrar no campanrio 45 pela porta da sacristia. Vamos, Liroca, so uma corrida. Que te pode acontecer? O homem te enxerga, faz pontaria, atira e acerta. Uma bala na cabea. Pronto! Cais de cara no cho e est tudo liquidado. Acaba-se a agonia. Dizem que quando a bala entra no corpo da gente, no primeiro momento no di. Depois que vem a ardncia, como se ela fosse de ferro em brasa. Mas quando o ferimento mortal no se sente nada. O pior arma branca. Vamos, Liroca 50 Dez passos. Cinco segundos. Lrio macho, Lrio macho. Jos Lrio continuava imvel, olhando a rua. Ainda ontem um companheiro seu ousara atravessar aquele trecho luz do dia, num momento em que o tiroteio cessara. Ia cantando e fanfarronando. Viu-se de repente na gua-furtada do sobrado um claro acompanhado dum estampido, e o homem tombou. O sangue comeou a borbotar-lhe do peito e a empapar a terra. 55 Vamos, menino! Quem falava agora nos pensamentos de Liroca era seu pai, o velho Maneco Lrio. Sua voz spera como lixa vinha de longe, de um certo dia da infncia em que Liroca faltara escola e ao chegar a casa encontrara o pai atras da porta com um rebenque na mo. Agora tu me pagas, salafrrio! Liroca sara a correr como um doido na direo do fundo do quintal. Espera, poltro! E de repente o que o velho Maneco tinha nas mos no era mais o chicote, e sim as prprias vsceras, que lhe escorriam moles e visguentas da 60 ferida do ventre. Vamos, covarde! De sbito, como tomado dum demnio, Liroca ergueu-se, apertou a carabina contra o peito e deitou a correr na direo da igreja. Seus passos soaram fofos na terra. Deu cinco passadas e a meio caminho, sem olhar para o Sobrado, numa voz frentica de quem pede socorro, gritou: Pica-paus do inferno! Sou homem!. Continuou a correr e, ao chegar ao ponto morto atras da parede lateral da igreja, rojou-se ao solo e ali ficou, arquejante, com 65 o peito colado terra, o corao a bater acelerado, e sentindo entrar-lhe na boca e nas narinas talos de grama umida de sereno. A la fresca!, murmurou ele. A la fresca! Estava inteiro, estava salvo. Fechou os olhos e deixou-se quedar onde estava, babujando a terra com sua saliva grossa, a garganta a arder, e o corpo todo amolentado por uma fraqueza que lhe dava um trmulo desejo de chorar. VERISSIMO, Erico. O tempo e o vento, parte I: O Continente. 4 ed. Sao Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 17- 19 (texto adaptado). Os vocbulos em destaque nos segmentos do texto 1: Medo doena (linha 17) O pior arma branca (linha 49) Apresentam, respectivamente, valores de:
(IME 2022/2023 - 2 fase) Texto 2 PENSAR A CIBERGUERRA 1 A ideia de ciberguerra tem sido questionada por alguns estudiosos, tanto militares quanto civis. Para Thomas Rid, por exemplo, no houve at o momento qualquer ciberataque que possa enquadrar na clssica definio de Clausewitz1 para o ato de guerra. Para o pensador prussiano, basicamente se pode classificar como ato de guerra algo relacionado a aes violentas. Alm disso, o ato de guerra sempre instrumental, isto , atravs 5 da violncia fsica ou da ameaa do uso da fora e possvel impelir o inimigo a realizar aquilo que o atacante deseja. E ainda no se deve esquecer uma terceira caracterstica do ato de guerra: o ataque deve ser algum tipo de ideia-noo ou inteno de meta poltica. Um dos problemas apresentados aqui e pensar aquilo que se entende por violncia. Nesse caso, conforme Jarno Limnll, estamos lidando com um conceito ambguo, que agrega mais do que causas fsicas ou a morte. 10 A ciberguerra compe parte daquilo que alguns chamam de guerra no convencional. A ocorrncia de um incidente envolvendo ataques rede de um determinado pas logo desperta comparaes com a vasta filmografia sobre revoltas de computadores, sobre os indomavis hackers. Mas, ao contrrio, talvez fosse interessante diminuir os excessos sobre o assunto e traz-lo cuidadosamente para o lugar da histria. O texto Cyberwar is coming!, de John Arquilla e David Ronfeldt, foi um dos primeiros a apontar a sin- 15 gularidade de novos modos de conflito. Publicado pela Rand Corporation, agncia reconhecida por subsidiar o Departamento de Defesa norte-americano, o trabalho da dupla repercutiu ao apresentar a necessidade de pensar as tecnologias da informao como aspecto central nas novas estratgias militares. Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo, revelam inspirao nos mongis do sculo XIII, afirmam a importncia de considerar a relao histrica entre mudanas tecnolgicas e novas formulaes para as 20 doutrinas militares. Anos depois, a mesma dupla de pesquisadores publicaria outro trabalho, procurando delimitar aquilo a que chamaram de netwar, a guerra em rede. Para eles, esse modo de conflito ganharia preponderancia, haja vista que, para levar adiante uma ciberguerra, seria necessaria uma quantidade maior de recursos financeiros e um repertorio menor de artefatos a serem utilizados. A netwar seria tpica de conflitos de baixa intensidade, sendo 25 perceptvel com maior nitidez nas aes de grupos como o Hamas e os zapatistas. Provavelmente, a diferena mais visvel entre os dois tipos de conflito, ciberguerra e guerra em rede, possa ser observada no fato de que o primeiro exige o uso de ambientes cibernticos, enquanto o segundo no. Sendo assim, as ciberguerras apresentam um maior potencial para serem empreendidas por agentes estatais, embora isso no seja uma regra. Os formatos em torno da ciberguerra tambm evidenciam a necessidade do uso das 30 redes de computadores para que os resultados esperados sejam atingidos. Nye Jr. chama a ateno para a fora que os conflitos cibernticos ganharam neste sculo. O fato de possibilitarem a participao de agentes no estatais e a insero cada vez mais profunda dos computadores e softwares na vida cotidiana somente refora a necessidade de considerarmos os influxos desse tipo de ao. Evidentemente, acompanhar a ideia de que existe ciberguerra envolve a compreensao das semelhanas e 35 diferenas em relao ao que classicamente consideramos uma guerra. Numa guerra do tipo clssico, o aspecto fsico exerce papel fundamental. Deve-se levar em conta o preparo de tropas fisicamente saudveis, habilidosas no manejo de armamentos e com a possibilidade de movimentao em diferentes terrenos. Em tal modalidade de guerra, os combates tendem a cessar a partir da exausto das tropas ou por seu desgaste. Por um lado, os governos dispem de um quase monoplio do uso da fora 40 em larga escala, e os defensores precisam conhecer muito bem o terreno de movimentao. Alm disso, preciso considerar que um combate desse tipo requer considerveis recursos de manuteno, mobilidade e investimentos financeiros. Afinal de contas, deslocar tropas do Atlntico Norte para o Pacfico ou da Amrica do Sul para a frica exige tempo e considervel gasto com combustveis, entre outros. Toda essa situao ganha contornos diferentes na ciberguerra. Nela podem atuar diversos atores, estatais 45 e no estatais, identificados e annimos. A distncia fsica e quase irrelevante, o ataque se sobrepe a defesa, j que a rede mundial de computadores n ao foi pensada como algo a ser necessariamente defendido. Outra caracterstica est no fato de que a parte maior, e oficialmente mais poderosa, tem capacidade limitada para desarmar ou destruir o inimigo, ocupar o territrio ou usar efetivamente estratgias de fora contrria. Em 2014, por exemplo, nos confrontos entre a Rssia e a Ucrnia, o sistema de comunicaes via telefone 50 celular ucraniano foi atacado. A companhia Ukrtelecom teve suas instalaes invadidas por homens armados que danificaram cabos de fibra tica, comprometendo seriamente o fornecimento do servio. Por outro lado, grupos de hackers ucranianos, a exemplo do Cyber-Berkut, atacaram as pginas russas. O site da agncia de comunicao estatal Russia Today foi invadido e nele a palavra russos foi substituda por nazistas Justamente por suas caractersticas, trata-se de um conflito que mais frequentemente se desenvolve nas 55 sombras, com certa discrio. Se h cibercomandos, eles so anunciados sempre como unidades de funo defensiva, no de ataque. Ao mesmo tempo, importante pensar que as intervenes cibernticas podem servir como ato de abertura de uma guerra mais convencional. Dito de outro modo, um ataque ciberntico pode ser o primeiro passo em uma ao maior. LEO, Kari; SILVA, Francisco.Por que a guerra?: Das batalhas gregas a ciberguerra - uma histria da violncia entre os homens. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2018, p. 469 - 472 (texto adaptado). 1Carl Von Clausewitz (1790 1831) foi um experiente militar prussiano, especialista em estratgias de batalhas e considerado um grande terico devido s suas definies amplamente difundidas sobre a guerra. Segundo o texto 2, e correto afirmar que
(IME 2022/2023 - 2 fase) Texto 2 PENSAR A CIBERGUERRA 1 A ideia de ciberguerra tem sido questionada por alguns estudiosos, tanto militares quanto civis. Para Thomas Rid, por exemplo, no houve at o momento qualquer ciberataque que possa enquadrar na clssica definio de Clausewitz1 para o ato de guerra. Para o pensador prussiano, basicamente se pode classificar como ato de guerra algo relacionado a aes violentas. Alm disso, o ato de guerra sempre instrumental, isto , atravs 5 da violncia fsica ou da ameaa do uso da fora e possvel impelir o inimigo a realizar aquilo que o atacante deseja. E ainda no se deve esquecer uma terceira caracterstica do ato de guerra: o ataque deve ser algum tipo de ideia-noo ou inteno de meta poltica. Um dos problemas apresentados aqui e pensar aquilo que se entende por violncia. Nesse caso, conforme Jarno Limnll, estamos lidando com um conceito ambguo, que agrega mais do que causas fsicas ou a morte. 10 A ciberguerra compe parte daquilo que alguns chamam de guerra no convencional. A ocorrncia de um incidente envolvendo ataques rede de um determinado pas logo desperta comparaes com a vasta filmografia sobre revoltas de computadores, sobre os indomavis hackers. Mas, ao contrrio, talvez fosse interessante diminuir os excessos sobre o assunto e traz-lo cuidadosamente para o lugar da histria. O texto Cyberwar is coming!, de John Arquilla e David Ronfeldt, foi um dos primeiros a apontar a sin- 15 gularidade de novos modos de conflito. Publicado pela Rand Corporation, agncia reconhecida por subsidiar o Departamento de Defesa norte-americano, o trabalho da dupla repercutiu ao apresentar a necessidade de pensar as tecnologias da informao como aspecto central nas novas estratgias militares. Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo, revelam inspirao nos mongis do sculo XIII, afirmam a importncia de considerar a relao histrica entre mudanas tecnolgicas e novas formulaes para as 20 doutrinas militares. Anos depois, a mesma dupla de pesquisadores publicaria outro trabalho, procurando delimitar aquilo a que chamaram de netwar, a guerra em rede. Para eles, esse modo de conflito ganharia preponderancia, haja vista que, para levar adiante uma ciberguerra, seria necessaria uma quantidade maior de recursos financeiros e um repertorio menor de artefatos a serem utilizados. A netwar seria tpica de conflitos de baixa intensidade, sendo 25 perceptvel com maior nitidez nas aes de grupos como o Hamas e os zapatistas. Provavelmente, a diferena mais visvel entre os dois tipos de conflito, ciberguerra e guerra em rede, possa ser observada no fato de que o primeiro exige o uso de ambientes cibernticos, enquanto o segundo no. Sendo assim, as ciberguerras apresentam um maior potencial para serem empreendidas por agentes estatais, embora isso no seja uma regra. Os formatos em torno da ciberguerra tambm evidenciam a necessidade do uso das 30 redes de computadores para que os resultados esperados sejam atingidos. Nye Jr. chama a ateno para a fora que os conflitos cibernticos ganharam neste sculo. O fato de possibilitarem a participao de agentes no estatais e a insero cada vez mais profunda dos computadores e softwares na vida cotidiana somente refora a necessidade de considerarmos os influxos desse tipo de ao. Evidentemente, acompanhar a ideia de que existe ciberguerra envolve a compreensao das semelhanas e 35 diferenas em relao ao que classicamente consideramos uma guerra. Numa guerra do tipo clssico, o aspecto fsico exerce papel fundamental. Deve-se levar em conta o preparo de tropas fisicamente saudveis, habilidosas no manejo de armamentos e com a possibilidade de movimentao em diferentes terrenos. Em tal modalidade de guerra, os combates tendem a cessar a partir da exausto das tropas ou por seu desgaste. Por um lado, os governos dispem de um quase monoplio do uso da fora 40 em larga escala, e os defensores precisam conhecer muito bem o terreno de movimentao. Alm disso, preciso considerar que um combate desse tipo requer considerveis recursos de manuteno, mobilidade e investimentos financeiros. Afinal de contas, deslocar tropas do Atlntico Norte para o Pacfico ou da Amrica do Sul para a frica exige tempo e considervel gasto com combustveis, entre outros. Toda essa situao ganha contornos diferentes na ciberguerra. Nela podem atuar diversos atores, estatais 45 e no estatais, identificados e annimos. A distncia fsica e quase irrelevante, o ataque se sobrepe a defesa, j que a rede mundial de computadores n ao foi pensada como algo a ser necessariamente defendido. Outra caracterstica est no fato de que a parte maior, e oficialmente mais poderosa, tem capacidade limitada para desarmar ou destruir o inimigo, ocupar o territrio ou usar efetivamente estratgias de fora contrria. Em 2014, por exemplo, nos confrontos entre a Rssia e a Ucrnia, o sistema de comunicaes via telefone 50 celular ucraniano foi atacado. A companhia Ukrtelecom teve suas instalaes invadidas por homens armados que danificaram cabos de fibra tica, comprometendo seriamente o fornecimento do servio. Por outro lado, grupos de hackers ucranianos, a exemplo do Cyber-Berkut, atacaram as pginas russas. O site da agncia de comunicao estatal Russia Today foi invadido e nele a palavra russos foi substituda por nazistas Justamente por suas caractersticas, trata-se de um conflito que mais frequentemente se desenvolve nas 55 sombras, com certa discrio. Se h cibercomandos, eles so anunciados sempre como unidades de funo defensiva, no de ataque. Ao mesmo tempo, importante pensar que as intervenes cibernticas podem servir como ato de abertura de uma guerra mais convencional. Dito de outro modo, um ataque ciberntico pode ser o primeiro passo em uma ao maior. LEO, Kari; SILVA, Francisco.Por que a guerra?: Das batalhas gregas a ciberguerra - uma histria da violncia entre os homens. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2018, p. 469 - 472 (texto adaptado). 1Carl Von Clausewitz (1790 1831) foi um experiente militar prussiano, especialista em estratgias de batalhas e considerado um grande terico devido s suas definies amplamente difundidas sobre a guerra. Assinale a alternativa em que o processo de formao de palavras dos vocbulos destacados est corretamenteindicado:
(IME 2022/2023 - 2 fase) Texto 1 Erico Verissimo (1905 1975), nascido em Cruz Alta (RS), foi um dos escritores mais populares da chamada segunda fase modernista, que comeou na dcada de 1930. Sua obra mais conhecida o Tempo e o Vento, uma trilogia de romances, na qual ele narra a histria de um clfamiliar, os Terra Cambars, de 1745 at 1945, tendo como contexto formao da fronteira nacional na regio sul. O espao central desses romances a cidade fictcia de Santa F, situada no noroeste do Rio Grande do Sul. O texto O Sobrado, que integra o romance O Continente, versa sobre o chefe do cl, Licurgo Cambar, que resiste em casa ao cerco dos inimigos pertencentes ao cloposto, dos Amaral. Na obra, abordado um episdio da Revoluo Federalista (1893 1895), uma guerra civil entre dois grupos de ideias opostas: um que desejava aumentar os poderes do presidente da Repblica e outro que desejava uma maior autonomia aos estados. O SOBRADO 1 Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa F, que de to quieta e deserta parecia um cemitrio abandonado. Era tanto o silncio e to leve o ar, que se algum aguasse o ouvido talvez pudesse at escutar o sereno na solido. Agachado atras dum muro, Jos Lrio preparava-se para a ltima corrida. Quantos passos dali at a igreja? 5 Talvez uns dez ou doze, bem puxados. Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. Tenente Liroca, dissera-lhe o coronel, havia poucos minutos, suba pro alto do campanrio e fique de olho firme no quintal do Sobrado. Se algum aparecer pra tirar gua do poo, faa fogo sem piedade. Jos Lrio olhava a rua. Dez passos at a igreja. Mas quantos passos at a morte? Talvez cinco... ou 10 dois. Havia um atirador infernal na gua-furtada do Sobrado, espreita dos imprudentes que se aventurassem a cruzar a praa ou alguma rua a descoberto Os segundos passavam. Era preciso cumprir a ordem. Liroca no queria que ningum percebesse que ele hesitava, que era um covarde. Sim, covarde. Podia enganar os outros, mas nao conseguia iludir-se a si mesmo. Estava metido naquela revoluo porque era federalista e tinha vergonha na cara. Mas no se habituava nunca ao perigo. Sentira medo desde o primeiro dia, desde a primeira hora um medo que lhe vinha de baixo das tripas, e lhe subia pelo estomago at a goela, como uma geada, amolecendo-lhe as pernas, os braos, a vontade. Medo doena; medo febre. Engraado. A noite estava fria mas o suor escorria-lhe pela cara barbuda e entrava-lhe na boca, com gosto de salmoura. 20 O tiroteio cessara ao entardecer. Talvez a munio da gente do Sobrado tivesse acabado. Ele podia atravessar a rua devagarinho, assobiando e acendendo um cigarro. Seria at uma provocao bonita. Vamos, Liroca, honra o leno encarnado. Mas qual! L estava aquela sensao fria de vazio e enjoo na boca do estmago, o minuano gelado nos midos. Donde lhe vinha tanto medo? Decerto do sangue da me, pois as gentes do lado paterno eram corajosas 25 O av de Liroca fora um bravo em 35. O pai lhe morrera naquela mesma revoluo, havia pouco mais dum ano tombara estripado numa carga de lanca, mas lutando ate o ultimo momento. Lrio macho, murmurou Liroca para si mesmo. Lrio macho. Sempre que ia entrar num combate, repetia estas palavras: Lrio macho Levantou-se devagarinho, apertando a carabina com ambas as maos. Sentia o corpo dorido, a garganta 30 seca. Tornou a olhar para a igreja. Dez passos. Podia percorr-los nuns cinco segundos, quando muito. Era s um upa e estava tudo terminado. Fez avanar cautelosamente a cabea e, com a quina do muro a tocar-lhe o meio da testa e a ponta do nariz, fechou o olho direito e com o esquerdo ficou espiando o Sobrado que l estava, do outro lado da praa, com sua fachada branca, a dupla fileira de janelas, a sacada de ferro e os altos muros de fortaleza. Havia no casaro algo de terrivelmente humano que fez o corao de JosLrio pulsar com mais 35 fora. Os federalistas tinham tomado a cidade havia quase uma semana, mas Licurgo Cambara, o intendente e chefe poltico republicano do municpio, encastelara-se em sua casa com toda a famlia e um grupo de correligionrios, e de l ainda oferecia resistncia. Enquanto o Sobrado no capitulasse, os revolucionrios no poderiam considerar-se senhores de Santa F, pois os atiradores da gua-furtada praticamente dominavam 40 a praa e as ruas em derredor. Por alguns instantes JosLrio ficou a mirar a fachada do casaro, e de repente a lembrana de que Maria Valria estava l dentro lhe varou o peito como um pontao de lana. Soltou um suspiro fundo e entrecortado, que foi quase um soluo. De novo se encolheu atrs do muro e tornou a olhar para a igreja. Se conseguisse chegar a salvo at a parede lateral, ficaria fora do alcance do atirador do Sobrado, e poderia entrar no campanrio 45 pela porta da sacristia. Vamos, Liroca, so uma corrida. Que te pode acontecer? O homem te enxerga, faz pontaria, atira e acerta. Uma bala na cabea. Pronto! Cais de cara no cho e est tudo liquidado. Acaba-se a agonia. Dizem que quando a bala entra no corpo da gente, no primeiro momento no di. Depois que vem a ardncia, como se ela fosse de ferro em brasa. Mas quando o ferimento mortal no se sente nada. O pior arma branca. Vamos, Liroca 50 Dez passos. Cinco segundos. Lrio macho, Lrio macho. Jos Lrio continuava imvel, olhando a rua. Ainda ontem um companheiro seu ousara atravessar aquele trecho luz do dia, num momento em que o tiroteio cessara. Ia cantando e fanfarronando. Viu-se de repente na gua-furtada do sobrado um claro acompanhado dum estampido, e o homem tombou. O sangue comeou a borbotar-lhe do peito e a empapar a terra. 55 Vamos, menino! Quem falava agora nos pensamentos de Liroca era seu pai, o velho Maneco Lrio. Sua voz spera como lixa vinha de longe, de um certo dia da infncia em que Liroca faltara escola e ao chegar a casa encontrara o pai atras da porta com um rebenque na mo. Agora tu me pagas, salafrrio! Liroca sara a correr como um doido na direo do fundo do quintal. Espera, poltro! E de repente o que o velho Maneco tinha nas mos no era mais o chicote, e sim as prprias vsceras, que lhe escorriam moles e visguentas da 60 ferida do ventre. Vamos, covarde! De sbito, como tomado dum demnio, Liroca ergueu-se, apertou a carabina contra o peito e deitou a correr na direo da igreja. Seus passos soaram fofos na terra. Deu cinco passadas e a meio caminho, sem olhar para o Sobrado, numa voz frentica de quem pede socorro, gritou: Pica-paus do inferno! Sou homem!. Continuou a correr e, ao chegar ao ponto morto atras da parede lateral da igreja, rojou-se ao solo e ali ficou, arquejante, com 65 o peito colado terra, o corao a bater acelerado, e sentindo entrar-lhe na boca e nas narinas talos de grama umida de sereno. A la fresca!, murmurou ele. A la fresca! Estava inteiro, estava salvo. Fechou os olhos e deixou-se quedar onde estava, babujando a terra com sua saliva grossa, a garganta a arder, e o corpo todo amolentado por uma fraqueza que lhe dava um trmulo desejo de chorar. VERISSIMO, Erico. O tempo e o vento, parte I: O Continente. 4 ed. Sao Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 17- 19 (texto adaptado). Texto 2 PENSAR A CIBERGUERRA 1 A ideia de ciberguerra tem sido questionada por alguns estudiosos, tanto militares quanto civis. Para Thomas Rid, por exemplo, no houve at o momento qualquer ciberataque que possa enquadrar na clssica definio de Clausewitz1 para o ato de guerra. Para o pensador prussiano, basicamente se pode classificar como ato de guerra algo relacionado a aes violentas. Alm disso, o ato de guerra sempre instrumental, isto , atravs 5 da violncia fsica ou da ameaa do uso da fora e possvel impelir o inimigo a realizar aquilo que o atacante deseja. E ainda no se deve esquecer uma terceira caracterstica do ato de guerra: o ataque deve ser algum tipo de ideia-noo ou inteno de meta poltica. Um dos problemas apresentados aqui e pensar aquilo que se entende por violncia. Nesse caso, conforme Jarno Limnll, estamos lidando com um conceito ambguo, que agrega mais do que causas fsicas ou a morte. 10 A ciberguerra compe parte daquilo que alguns chamam de guerra no convencional. A ocorrncia de um incidente envolvendo ataques rede de um determinado pas logo desperta comparaes com a vasta filmografia sobre revoltas de computadores, sobre os indomavis hackers. Mas, ao contrrio, talvez fosse interessante diminuir os excessos sobre o assunto e traz-lo cuidadosamente para o lugar da histria. O texto Cyberwar is coming!, de John Arquilla e David Ronfeldt, foi um dos primeiros a apontar a sin- 15 gularidade de novos modos de conflito. Publicado pela Rand Corporation, agncia reconhecida por subsidiar o Departamento de Defesa norte-americano, o trabalho da dupla repercutiu ao apresentar a necessidade de pensar as tecnologias da informao como aspecto central nas novas estratgias militares. Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo, revelam inspirao nos mongis do sculo XIII, afirmam a importncia de considerar a relao histrica entre mudanas tecnolgicas e novas formulaes para as 20 doutrinas militares. Anos depois, a mesma dupla de pesquisadores publicaria outro trabalho, procurando delimitar aquilo a que chamaram de netwar, a guerra em rede. Para eles, esse modo de conflito ganharia preponderancia, haja vista que, para levar adiante uma ciberguerra, seria necessaria uma quantidade maior de recursos financeiros e um repertorio menor de artefatos a serem utilizados. A netwar seria tpica de conflitos de baixa intensidade, sendo 25 perceptvel com maior nitidez nas aes de grupos como o Hamas e os zapatistas. Provavelmente, a diferena mais visvel entre os dois tipos de conflito, ciberguerra e guerra em rede, possa ser observada no fato de que o primeiro exige o uso de ambientes cibernticos, enquanto o segundo no. Sendo assim, as ciberguerras apresentam um maior potencial para serem empreendidas por agentes estatais, embora isso no seja uma regra. Os formatos em torno da ciberguerra tambm evidenciam a necessidade do uso das 30 redes de computadores para que os resultados esperados sejam atingidos. Nye Jr. chama a ateno para a fora que os conflitos cibernticos ganharam neste sculo. O fato de possibilitarem a participao de agentes no estatais e a insero cada vez mais profunda dos computadores e softwares na vida cotidiana somente refora a necessidade de considerarmos os influxos desse tipo de ao. Evidentemente, acompanhar a ideia de que existe ciberguerra envolve a compreensao das semelhanas e 35 diferenas em relao ao que classicamente consideramos uma guerra. Numa guerra do tipo clssico, o aspecto fsico exerce papel fundamental. Deve-se levar em conta o preparo de tropas fisicamente saudveis, habilidosas no manejo de armamentos e com a possibilidade de movimentao em diferentes terrenos. Em tal modalidade de guerra, os combates tendem a cessar a partir da exausto das tropas ou por seu desgaste. Por um lado, os governos dispem de um quase monoplio do uso da fora 40 em larga escala, e os defensores precisam conhecer muito bem o terreno de movimentao. Alm disso, preciso considerar que um combate desse tipo requer considerveis recursos de manuteno, mobilidade e investimentos financeiros. Afinal de contas, deslocar tropas do Atlntico Norte para o Pacfico ou da Amrica do Sul para a frica exige tempo e considervel gasto com combustveis, entre outros. Toda essa situao ganha contornos diferentes na ciberguerra. Nela podem atuar diversos atores, estatais 45 e no estatais, identificados e annimos. A distncia fsica e quase irrelevante, o ataque se sobrepe a defesa, j que a rede mundial de computadores no foi pensada como algo a ser necessariamente defendido. Outra caracterstica est no fato de que a parte maior, e oficialmente mais poderosa, tem capacidade limitada para desarmar ou destruir o inimigo, ocupar o territrio ou usar efetivamente estratgias de fora contrria. Em 2014, por exemplo, nos confrontos entre a Rssia e a Ucrnia, o sistema de comunicaes via telefone 50 celular ucraniano foi atacado. A companhia Ukrtelecom teve suas instalaes invadidas por homens armados que danificaram cabos de fibra tica, comprometendo seriamente o fornecimento do servio. Por outro lado, grupos de hackers ucranianos, a exemplo do Cyber-Berkut, atacaram as pginas russas. O site da agncia de comunicao estatal Russia Today foi invadido e nele a palavra russos foi substituda por nazistas Justamente por suas caractersticas, trata-se de um conflito que mais frequentemente se desenvolve nas 55 sombras, com certa discrio. Se h cibercomandos, eles so anunciados sempre como unidades de funo defensiva, no de ataque. Ao mesmo tempo, importante pensar que as intervenes cibernticas podem servir como ato de abertura de uma guerra mais convencional. Dito de outro modo, um ataque ciberntico pode ser o primeiro passo em uma ao maior. LEO, Kari; SILVA, Francisco.Por que a guerra?: Das batalhas gregas a ciberguerra - uma histria da violncia entre os homens. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2018, p. 469 - 472 (texto adaptado). 1Carl Von Clausewitz (1790 1831) foi um experiente militar prussiano, especialista em estratgias de batalhas e considerado um grande terico devido s suas definies amplamente difundidas sobre a guerra. Identifique a orao ou perodo, retirado dos textos 1 e 2, em que predomina o valor dissertativo-argumentativo:
(IME 2022/2023 - 2 fase) Texto 1 Erico Verissimo (1905 1975), nascido em Cruz Alta (RS), foi um dos escritores mais populares da chamada segunda fase modernista, que comeou na dcada de 1930. Sua obra mais conhecida o Tempo e o Vento, uma trilogia de romances, na qual ele narra a histria de um clfamiliar, os Terra Cambars, de 1745 at 1945, tendo como contexto formao da fronteira nacional na regio sul. O espao central desses romances a cidade fictcia de Santa F, situada no noroeste do Rio Grande do Sul. O texto O Sobrado, que integra o romance O Continente, versa sobre o chefe do cl, Licurgo Cambar, que resiste em casa ao cerco dos inimigos pertencentes ao cloposto, dos Amaral. Na obra, abordado um episdio da Revoluo Federalista (1893 1895), uma guerra civil entre dois grupos de ideias opostas: um que desejava aumentar os poderes do presidente da Repblica e outro que desejava uma maior autonomia aos estados. O SOBRADO 1 Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa F, que de to quieta e deserta parecia um cemitrio abandonado. Era tanto o silncio e to leve o ar, que se algum aguasse o ouvido talvez pudesse at escutar o sereno na solido. Agachado atras dum muro, Jos Lrio preparava-se para a ltima corrida. Quantos passos dali at a igreja? 5 Talvez uns dez ou doze, bem puxados. Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. Tenente Liroca, dissera-lhe o coronel, havia poucos minutos, suba pro alto do campanrio e fique de olho firme no quintal do Sobrado. Se algum aparecer pra tirar gua do poo, faa fogo sem piedade. Jos Lrio olhava a rua. Dez passos at a igreja. Mas quantos passos at a morte? Talvez cinco... ou 10 dois. Havia um atirador infernal na gua-furtada do Sobrado, espreita dos imprudentes que se aventurassem a cruzar a praa ou alguma rua a descoberto Os segundos passavam. Era preciso cumprir a ordem. Liroca no queria que ningum percebesse que ele hesitava, que era um covarde. Sim, covarde. Podia enganar os outros, mas nao conseguia iludir-se a si mesmo. Estava metido naquela revoluo porque era federalista e tinha vergonha na cara. Mas no se habituava nunca ao perigo. Sentira medo desde o primeiro dia, desde a primeira hora um medo que lhe vinha de baixo das tripas, e lhe subia pelo estomago at a goela, como uma geada, amolecendo-lhe as pernas, os braos, a vontade. Medo doena; medo febre. Engraado. A noite estava fria mas o suor escorria-lhe pela cara barbuda e entrava-lhe na boca, com gosto de salmoura. 20 O tiroteio cessara ao entardecer. Talvez a munio da gente do Sobrado tivesse acabado. Ele podia atravessar a rua devagarinho, assobiando e acendendo um cigarro. Seria at uma provocao bonita. Vamos, Liroca, honra o leno encarnado. Mas qual! L estava aquela sensao fria de vazio e enjoo na boca do estmago, o minuano gelado nos midos. Donde lhe vinha tanto medo? Decerto do sangue da me, pois as gentes do lado paterno eram corajosas 25 O av de Liroca fora um bravo em 35. O pai lhe morrera naquela mesma revoluo, havia pouco mais dum ano tombara estripado numa carga de lanca, mas lutando ate o ultimo momento. Lrio macho, murmurou Liroca para si mesmo. Lrio macho. Sempre que ia entrar num combate, repetia estas palavras: Lrio macho Levantou-se devagarinho, apertando a carabina com ambas as maos. Sentia o corpo dorido, a garganta 30 seca. Tornou a olhar para a igreja. Dez passos. Podia percorr-los nuns cinco segundos, quando muito. Era s um upa e estava tudo terminado. Fez avanar cautelosamente a cabea e, com a quina do muro a tocar-lhe o meio da testa e a ponta do nariz, fechou o olho direito e com o esquerdo ficou espiando o Sobrado que l estava, do outro lado da praa, com sua fachada branca, a dupla fileira de janelas, a sacada de ferro e os altos muros de fortaleza. Havia no casaro algo de terrivelmente humano que fez o corao de JosLrio pulsar com mais 35 fora. Os federalistas tinham tomado a cidade havia quase uma semana, mas Licurgo Cambara, o intendente e chefe poltico republicano do municpio, encastelara-se em sua casa com toda a famlia e um grupo de correligionrios, e de l ainda oferecia resistncia. Enquanto o Sobrado no capitulasse, os revolucionrios no poderiam considerar-se senhores de Santa F, pois os atiradores da gua-furtada praticamente dominavam 40 a praa e as ruas em derredor. Por alguns instantes JosLrio ficou a mirar a fachada do casaro, e de repente a lembrana de que Maria Valria estava l dentro lhe varou o peito como um pontao de lana. Soltou um suspiro fundo e entrecortado, que foi quase um soluo. De novo se encolheu atrs do muro e tornou a olhar para a igreja. Se conseguisse chegar a salvo at a parede lateral, ficaria fora do alcance do atirador do Sobrado, e poderia entrar no campanrio 45 pela porta da sacristia. Vamos, Liroca, so uma corrida. Que te pode acontecer? O homem te enxerga, faz pontaria, atira e acerta. Uma bala na cabea. Pronto! Cais de cara no cho e est tudo liquidado. Acaba-se a agonia. Dizem que quando a bala entra no corpo da gente, no primeiro momento no di. Depois que vem a ardncia, como se ela fosse de ferro em brasa. Mas quando o ferimento mortal no se sente nada. O pior arma branca. Vamos, Liroca 50 Dez passos. Cinco segundos. Lrio macho, Lrio macho. Jos Lrio continuava imvel, olhando a rua. Ainda ontem um companheiro seu ousara atravessar aquele trecho luz do dia, num momento em que o tiroteio cessara. Ia cantando e fanfarronando. Viu-se de repente na gua-furtada do sobrado um claro acompanhado dum estampido, e o homem tombou. O sangue comeou a borbotar-lhe do peito e a empapar a terra. 55 Vamos, menino! Quem falava agora nos pensamentos de Liroca era seu pai, o velho Maneco Lrio. Sua voz spera como lixa vinha de longe, de um certo dia da infncia em que Liroca faltara escola e ao chegar a casa encontrara o pai atras da porta com um rebenque na mo. Agora tu me pagas, salafrrio! Liroca sara a correr como um doido na direo do fundo do quintal. Espera, poltro! E de repente o que o velho Maneco tinha nas mos no era mais o chicote, e sim as prprias vsceras, que lhe escorriam moles e visguentas da 60 ferida do ventre. Vamos, covarde! De sbito, como tomado dum demnio, Liroca ergueu-se, apertou a carabina contra o peito e deitou a correr na direo da igreja. Seus passos soaram fofos na terra. Deu cinco passadas e a meio caminho, sem olhar para o Sobrado, numa voz frentica de quem pede socorro, gritou: Pica-paus do inferno! Sou homem!. Continuou a correr e, ao chegar ao ponto morto atras da parede lateral da igreja, rojou-se ao solo e ali ficou, arquejante, com 65 o peito colado terra, o corao a bater acelerado, e sentindo entrar-lhe na boca e nas narinas talos de grama umida de sereno. A la fresca!, murmurou ele. A la fresca! Estava inteiro, estava salvo. Fechou os olhos e deixou-se quedar onde estava, babujando a terra com sua saliva grossa, a garganta a arder, e o corpo todo amolentado por uma fraqueza que lhe dava um trmulo desejo de chorar. VERISSIMO, Erico. O tempo e o vento, parte I: O Continente. 4 ed. Sao Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 17- 19 (texto adaptado). Texto 2 PENSAR A CIBERGUERRA 1 A ideia de ciberguerra tem sido questionada por alguns estudiosos, tanto militares quanto civis. Para Thomas Rid, por exemplo, no houve at o momento qualquer ciberataque que possa enquadrar na clssica definio de Clausewitz1 para o ato de guerra. Para o pensador prussiano, basicamente se pode classificar como ato de guerra algo relacionado a aes violentas. Alm disso, o ato de guerra sempre instrumental, isto , atravs 5 da violncia fsica ou da ameaa do uso da fora e possvel impelir o inimigo a realizar aquilo que o atacante deseja. E ainda no se deve esquecer uma terceira caracterstica do ato de guerra: o ataque deve ser algum tipo de ideia-noo ou inteno de meta poltica. Um dos problemas apresentados aqui e pensar aquilo que se entende por violncia. Nesse caso, conforme Jarno Limnll, estamos lidando com um conceito ambguo, que agrega mais do que causas fsicas ou a morte. 10 A ciberguerra compe parte daquilo que alguns chamam de guerra no convencional. A ocorrncia de um incidente envolvendo ataques rede de um determinado pas logo desperta comparaes com a vasta filmografia sobre revoltas de computadores, sobre os indomavis hackers. Mas, ao contrrio, talvez fosse interessante diminuir os excessos sobre o assunto e traz-lo cuidadosamente para o lugar da histria. O texto Cyberwar is coming!, de John Arquilla e David Ronfeldt, foi um dos primeiros a apontar a sin- 15 gularidade de novos modos de conflito. Publicado pela Rand Corporation, agncia reconhecida por subsidiar o Departamento de Defesa norte-americano, o trabalho da dupla repercutiu ao apresentar a necessidade de pensar as tecnologias da informao como aspecto central nas novas estratgias militares. Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo, revelam inspirao nos mongis do sculo XIII, afirmam a importncia de considerar a relao histrica entre mudanas tecnolgicas e novas formulaes para as 20 doutrinas militares. Anos depois, a mesma dupla de pesquisadores publicaria outro trabalho, procurando delimitar aquilo a que chamaram de netwar, a guerra em rede. Para eles, esse modo de conflito ganharia preponderancia, haja vista que, para levar adiante uma ciberguerra, seria necessaria uma quantidade maior de recursos financeiros e um repertorio menor de artefatos a serem utilizados. A netwar seria tpica de conflitos de baixa intensidade, sendo 25 perceptvel com maior nitidez nas aes de grupos como o Hamas e os zapatistas. Provavelmente, a diferena mais visvel entre os dois tipos de conflito, ciberguerra e guerra em rede, possa ser observada no fato de que o primeiro exige o uso de ambientes cibernticos, enquanto o segundo no. Sendo assim, as ciberguerras apresentam um maior potencial para serem empreendidas por agentes estatais, embora isso no seja uma regra. Os formatos em torno da ciberguerra tambm evidenciam a necessidade do uso das 30 redes de computadores para que os resultados esperados sejam atingidos. Nye Jr. chama a ateno para a fora que os conflitos cibernticos ganharam neste sculo. O fato de possibilitarem a participao de agentes no estatais e a insero cada vez mais profunda dos computadores e softwares na vida cotidiana somente refora a necessidade de considerarmos os influxos desse tipo de ao. Evidentemente, acompanhar a ideia de que existe ciberguerra envolve a compreensao das semelhanas e 35 diferenas em relao ao que classicamente consideramos uma guerra. Numa guerra do tipo clssico, o aspecto fsico exerce papel fundamental. Deve-se levar em conta o preparo de tropas fisicamente saudveis, habilidosas no manejo de armamentos e com a possibilidade de movimentao em diferentes terrenos. Em tal modalidade de guerra, os combates tendem a cessar a partir da exausto das tropas ou por seu desgaste. Por um lado, os governos dispem de um quase monoplio do uso da fora 40 em larga escala, e os defensores precisam conhecer muito bem o terreno de movimentao. Alm disso, preciso considerar que um combate desse tipo requer considerveis recursos de manuteno, mobilidade e investimentos financeiros. Afinal de contas, deslocar tropas do Atlntico Norte para o Pacfico ou da Amrica do Sul para a frica exige tempo e considervel gasto com combustveis, entre outros. Toda essa situao ganha contornos diferentes na ciberguerra. Nela podem atuar diversos atores, estatais 45 e no estatais, identificados e annimos. A distncia fsica e quase irrelevante, o ataque se sobrepe a defesa, j que a rede mundial de computadores no foi pensada como algo a ser necessariamente defendido. Outra caracterstica est no fato de que a parte maior, e oficialmente mais poderosa, tem capacidade limitada para desarmar ou destruir o inimigo, ocupar o territrio ou usar efetivamente estratgias de fora contrria. Em 2014, por exemplo, nos confrontos entre a Rssia e a Ucrnia, o sistema de comunicaes via telefone 50 celular ucraniano foi atacado. A companhia Ukrtelecom teve suas instalaes invadidas por homens armados que danificaram cabos de fibra tica, comprometendo seriamente o fornecimento do servio. Por outro lado, grupos de hackers ucranianos, a exemplo do Cyber-Berkut, atacaram as pginas russas. O site da agncia de comunicao estatal Russia Today foi invadido e nele a palavra russos foi substituda por nazistas Justamente por suas caractersticas, trata-se de um conflito que mais frequentemente se desenvolve nas 55 sombras, com certa discrio. Se h cibercomandos, eles so anunciados sempre como unidades de funo defensiva, no de ataque. Ao mesmo tempo, importante pensar que as intervenes cibernticas podem servir como ato de abertura de uma guerra mais convencional. Dito de outro modo, um ataque ciberntico pode ser o primeiro passo em uma ao maior. LEO, Kari; SILVA, Francisco.Por que a guerra?: Das batalhas gregas a ciberguerra - uma histria da violncia entre os homens. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2018, p. 469 - 472 (texto adaptado). 1Carl Von Clausewitz (1790 1831) foi um experiente militar prussiano, especialista em estratgias de batalhas e considerado um grande terico devido s suas definies amplamente difundidas sobre a guerra. Em relao aos textos 1 e 2, considere as seguintes afirmaes: I. Em [...] amolecendo-lhe as pernas, os braos, a vontade. (texto 1, linha 16 e 17), o pronome oblquo destacado exerce a funo de objeto direto. II. Em [...] Por alguns instantes JosLrio ficou a mirar a fachada do casaro [...]. (texto 1, linha 41), substituindo o verbo em destaque por visar e realizando as alteraes necessrias para adequar a regncia verbal ao padro culto da lngua, teremos: Por alguns instantes JosLrio ficou a visar a fachada do casaro[...]. III. Em Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo [...]. (texto 2, linhas 17 e 18), a substituio da expresso destacada por conhecer-lhe apresenta uma construo inadequada de acordo com a gramtica normativa. Est(o) correta(s) apenas a(s) assertiva(s):
(IME 2022/2023 - 2 fase) Texto 1 Erico Verissimo (1905 1975), nascido em Cruz Alta (RS), foi um dos escritores mais populares da chamada segunda fase modernista, que comeou na dcada de 1930. Sua obra mais conhecida o Tempo e o Vento, uma trilogia de romances, na qual ele narra a histria de um clfamiliar, os Terra Cambars, de 1745 at 1945, tendo como contexto formao da fronteira nacional na regio sul. O espao central desses romances a cidade fictcia de Santa F, situada no noroeste do Rio Grande do Sul. O texto O Sobrado, que integra o romance O Continente, versa sobre o chefe do cl, Licurgo Cambar, que resiste em casa ao cerco dos inimigos pertencentes ao cloposto, dos Amaral. Na obra, abordado um episdio da Revoluo Federalista (1893 1895), uma guerra civil entre dois grupos de ideias opostas: um que desejava aumentar os poderes do presidente da Repblica e outro que desejava uma maior autonomia aos estados. O SOBRADO 1 Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa F, que de to quieta e deserta parecia um cemitrio abandonado. Era tanto o silncio e to leve o ar, que se algum aguasse o ouvido talvez pudesse at escutar o sereno na solido. Agachado atras dum muro, Jos Lrio preparava-se para a ltima corrida. Quantos passos dali at a igreja? 5 Talvez uns dez ou doze, bem puxados. Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. Tenente Liroca, dissera-lhe o coronel, havia poucos minutos, suba pro alto do campanrio e fique de olho firme no quintal do Sobrado. Se algum aparecer pra tirar gua do poo, faa fogo sem piedade. Jos Lrio olhava a rua. Dez passos at a igreja. Mas quantos passos at a morte? Talvez cinco... ou 10 dois. Havia um atirador infernal na gua-furtada do Sobrado, espreita dos imprudentes que se aventurassem a cruzar a praa ou alguma rua a descoberto Os segundos passavam. Era preciso cumprir a ordem. Liroca no queria que ningum percebesse que ele hesitava, que era um covarde. Sim, covarde. Podia enganar os outros, mas nao conseguia iludir-se a si mesmo. Estava metido naquela revoluo porque era federalista e tinha vergonha na cara. Mas no se habituava nunca ao perigo. Sentira medo desde o primeiro dia, desde a primeira hora um medo que lhe vinha de baixo das tripas, e lhe subia pelo estomago at a goela, como uma geada, amolecendo-lhe as pernas, os braos, a vontade. Medo doena; medo febre. Engraado. A noite estava fria mas o suor escorria-lhe pela cara barbuda e entrava-lhe na boca, com gosto de salmoura. 20 O tiroteio cessara ao entardecer. Talvez a munio da gente do Sobrado tivesse acabado. Ele podia atravessar a rua devagarinho, assobiando e acendendo um cigarro. Seria at uma provocao bonita. Vamos, Liroca, honra o leno encarnado. Mas qual! L estava aquela sensao fria de vazio e enjoo na boca do estmago, o minuano gelado nos midos. Donde lhe vinha tanto medo? Decerto do sangue da me, pois as gentes do lado paterno eram corajosas 25 O av de Liroca fora um bravo em 35. O pai lhe morrera naquela mesma revoluo, havia pouco mais dum ano tombara estripado numa carga de lanca, mas lutando ate o ultimo momento. Lrio macho, murmurou Liroca para si mesmo. Lrio macho. Sempre que ia entrar num combate, repetia estas palavras: Lrio macho Levantou-se devagarinho, apertando a carabina com ambas as maos. Sentia o corpo dorido, a garganta 30 seca. Tornou a olhar para a igreja. Dez passos. Podia percorr-los nuns cinco segundos, quando muito. Era s um upa e estava tudo terminado. Fez avanar cautelosamente a cabea e, com a quina do muro a tocar-lhe o meio da testa e a ponta do nariz, fechou o olho direito e com o esquerdo ficou espiando o Sobrado que l estava, do outro lado da praa, com sua fachada branca, a dupla fileira de janelas, a sacada de ferro e os altos muros de fortaleza. Havia no casaro algo de terrivelmente humano que fez o corao de JosLrio pulsar com mais 35 fora. Os federalistas tinham tomado a cidade havia quase uma semana, mas Licurgo Cambara, o intendente e chefe poltico republicano do municpio, encastelara-se em sua casa com toda a famlia e um grupo de correligionrios, e de l ainda oferecia resistncia. Enquanto o Sobrado no capitulasse, os revolucionrios no poderiam considerar-se senhores de Santa F, pois os atiradores da gua-furtada praticamente dominavam 40 a praa e as ruas em derredor. Por alguns instantes JosLrio ficou a mirar a fachada do casaro, e de repente a lembrana de que Maria Valria estava l dentro lhe varou o peito como um pontao de lana. Soltou um suspiro fundo e entrecortado, que foi quase um soluo. De novo se encolheu atrs do muro e tornou a olhar para a igreja. Se conseguisse chegar a salvo at a parede lateral, ficaria fora do alcance do atirador do Sobrado, e poderia entrar no campanrio 45 pela porta da sacristia. Vamos, Liroca, so uma corrida. Que te pode acontecer? O homem te enxerga, faz pontaria, atira e acerta. Uma bala na cabea. Pronto! Cais de cara no cho e est tudo liquidado. Acaba-se a agonia. Dizem que quando a bala entra no corpo da gente, no primeiro momento no di. Depois que vem a ardncia, como se ela fosse de ferro em brasa. Mas quando o ferimento mortal no se sente nada. O pior arma branca. Vamos, Liroca 50 Dez passos. Cinco segundos. Lrio macho, Lrio macho. Jos Lrio continuava imvel, olhando a rua. Ainda ontem um companheiro seu ousara atravessar aquele trecho luz do dia, num momento em que o tiroteio cessara. Ia cantando e fanfarronando. Viu-se de repente na gua-furtada do sobrado um claro acompanhado dum estampido, e o homem tombou. O sangue comeou a borbotar-lhe do peito e a empapar a terra. 55 Vamos, menino! Quem falava agora nos pensamentos de Liroca era seu pai, o velho Maneco Lrio. Sua voz spera como lixa vinha de longe, de um certo dia da infncia em que Liroca faltara escola e ao chegar a casa encontrara o pai atras da porta com um rebenque na mo. Agora tu me pagas, salafrrio! Liroca sara a correr como um doido na direo do fundo do quintal. Espera, poltro! E de repente o que o velho Maneco tinha nas mos no era mais o chicote, e sim as prprias vsceras, que lhe escorriam moles e visguentas da 60 ferida do ventre. Vamos, covarde! De sbito, como tomado dum demnio, Liroca ergueu-se, apertou a carabina contra o peito e deitou a correr na direo da igreja. Seus passos soaram fofos na terra. Deu cinco passadas e a meio caminho, sem olhar para o Sobrado, numa voz frentica de quem pede socorro, gritou: Pica-paus do inferno! Sou homem!. Continuou a correr e, ao chegar ao ponto morto atras da parede lateral da igreja, rojou-se ao solo e ali ficou, arquejante, com 65 o peito colado terra, o corao a bater acelerado, e sentindo entrar-lhe na boca e nas narinas talos de grama umida de sereno. A la fresca!, murmurou ele. A la fresca! Estava inteiro, estava salvo. Fechou os olhos e deixou-se quedar onde estava, babujando a terra com sua saliva grossa, a garganta a arder, e o corpo todo amolentado por uma fraqueza que lhe dava um trmulo desejo de chorar. VERISSIMO, Erico. O tempo e o vento, parte I: O Continente. 4 ed. Sao Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 17- 19 (texto adaptado). Texto 2 PENSAR A CIBERGUERRA 1 A ideia de ciberguerra tem sido questionada por alguns estudiosos, tanto militares quanto civis. Para Thomas Rid, por exemplo, no houve at o momento qualquer ciberataque que possa enquadrar na clssica definio de Clausewitz1 para o ato de guerra. Para o pensador prussiano, basicamente se pode classificar como ato de guerra algo relacionado a aes violentas. Alm disso, o ato de guerra sempre instrumental, isto , atravs 5 da violncia fsica ou da ameaa do uso da fora e possvel impelir o inimigo a realizar aquilo que o atacante deseja. E ainda no se deve esquecer uma terceira caracterstica do ato de guerra: o ataque deve ser algum tipo de ideia-noo ou inteno de meta poltica. Um dos problemas apresentados aqui e pensar aquilo que se entende por violncia. Nesse caso, conforme Jarno Limnll, estamos lidando com um conceito ambguo, que agrega mais do que causas fsicas ou a morte. 10 A ciberguerra compe parte daquilo que alguns chamam de guerra no convencional. A ocorrncia de um incidente envolvendo ataques rede de um determinado pas logo desperta comparaes com a vasta filmografia sobre revoltas de computadores, sobre os indomavis hackers. Mas, ao contrrio, talvez fosse interessante diminuir os excessos sobre o assunto e traz-lo cuidadosamente para o lugar da histria. O texto Cyberwar is coming!, de John Arquilla e David Ronfeldt, foi um dos primeiros a apontar a sin- 15 gularidade de novos modos de conflito. Publicado pela Rand Corporation, agncia reconhecida por subsidiar o Departamento de Defesa norte-americano, o trabalho da dupla repercutiu ao apresentar a necessidade de pensar as tecnologias da informao como aspecto central nas novas estratgias militares. Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo, revelam inspirao nos mongis do sculo XIII, afirmam a importncia de considerar a relao histrica entre mudanas tecnolgicas e novas formulaes para as 20 doutrinas militares. Anos depois, a mesma dupla de pesquisadores publicaria outro trabalho, procurando delimitar aquilo a que chamaram de netwar, a guerra em rede. Para eles, esse modo de conflito ganharia preponderancia, haja vista que, para levar adiante uma ciberguerra, seria necessaria uma quantidade maior de recursos financeiros e um repertorio menor de artefatos a serem utilizados. A netwar seria tpica de conflitos de baixa intensidade, sendo 25 perceptvel com maior nitidez nas aes de grupos como o Hamas e os zapatistas. Provavelmente, a diferena mais visvel entre os dois tipos de conflito, ciberguerra e guerra em rede, possa ser observada no fato de que o primeiro exige o uso de ambientes cibernticos, enquanto o segundo no. Sendo assim, as ciberguerras apresentam um maior potencial para serem empreendidas por agentes estatais, embora isso no seja uma regra. Os formatos em torno da ciberguerra tambm evidenciam a necessidade do uso das 30 redes de computadores para que os resultados esperados sejam atingidos. Nye Jr. chama a ateno para a fora que os conflitos cibernticos ganharam neste sculo. O fato de possibilitarem a participao de agentes no estatais e a insero cada vez mais profunda dos computadores e softwares na vida cotidiana somente refora a necessidade de considerarmos os influxos desse tipo de ao. Evidentemente, acompanhar a ideia de que existe ciberguerra envolve a compreensao das semelhanas e 35 diferenas em relao ao que classicamente consideramos uma guerra. Numa guerra do tipo clssico, o aspecto fsico exerce papel fundamental. Deve-se levar em conta o preparo de tropas fisicamente saudveis, habilidosas no manejo de armamentos e com a possibilidade de movimentao em diferentes terrenos. Em tal modalidade de guerra, os combates tendem a cessar a partir da exausto das tropas ou por seu desgaste. Por um lado, os governos dispem de um quase monoplio do uso da fora 40 em larga escala, e os defensores precisam conhecer muito bem o terreno de movimentao. Alm disso, preciso considerar que um combate desse tipo requer considerveis recursos de manuteno, mobilidade e investimentos financeiros. Afinal de contas, deslocar tropas do Atlntico Norte para o Pacfico ou da Amrica do Sul para a frica exige tempo e considervel gasto com combustveis, entre outros. Toda essa situao ganha contornos diferentes na ciberguerra. Nela podem atuar diversos atores, estatais 45 e no estatais, identificados e annimos. A distncia fsica e quase irrelevante, o ataque se sobrepe a defesa, j que a rede mundial de computadores no foi pensada como algo a ser necessariamente defendido. Outra caracterstica est no fato de que a parte maior, e oficialmente mais poderosa, tem capacidade limitada para desarmar ou destruir o inimigo, ocupar o territrio ou usar efetivamente estratgias de fora contrria. Em 2014, por exemplo, nos confrontos entre a Rssia e a Ucrnia, o sistema de comunicaes via telefone 50 celular ucraniano foi atacado. A companhia Ukrtelecom teve suas instalaes invadidas por homens armados que danificaram cabos de fibra tica, comprometendo seriamente o fornecimento do servio. Por outro lado, grupos de hackers ucranianos, a exemplo do Cyber-Berkut, atacaram as pginas russas. O site da agncia de comunicao estatal Russia Today foi invadido e nele a palavra russos foi substituda por nazistas Justamente por suas caractersticas, trata-se de um conflito que mais frequentemente se desenvolve nas 55 sombras, com certa discrio. Se h cibercomandos, eles so anunciados sempre como unidades de funo defensiva, no de ataque. Ao mesmo tempo, importante pensar que as intervenes cibernticas podem servir como ato de abertura de uma guerra mais convencional. Dito de outro modo, um ataque ciberntico pode ser o primeiro passo em uma ao maior. LEO, Kari; SILVA, Francisco.Por que a guerra?: Das batalhas gregas a ciberguerra - uma histria da violncia entre os homens. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2018, p. 469 - 472 (texto adaptado). 1Carl Von Clausewitz (1790 1831) foi um experiente militar prussiano, especialista em estratgias de batalhas e considerado um grande terico devido s suas definies amplamente difundidas sobre a guerra. Considere as assertivas a seguir: I. O texto 1 descreve os percalos e as agruras tpicas de uma situao de combate que se distingue do ato de guerra clssico, descrito por Clausewitz no texto 2. II. O texto 2 se apoia nas definies de guerra feitas por Clausewitz para criticar as novas formas de conflito armado, que ensejam a participao de atores no estatais em atuao sub-reptcia e a distncia. III. O texto 2 caracteriza os principais aspectos da ciberguerra, tambm chamada de netwar, como o tipo de conflito armado que se difundiu apos a criao da rede mundial de computadores. Est(o) correta(s) apenas a(s) assertiva(s):
(IME 2022/2023 - 2 fase) Texto 2 PENSAR A CIBERGUERRA 1 A ideia de ciberguerra tem sido questionada por alguns estudiosos, tanto militares quanto civis. Para Thomas Rid, por exemplo, no houve at o momento qualquer ciberataque que possa enquadrar na clssica definio de Clausewitz1 para o ato de guerra. Para o pensador prussiano, basicamente se pode classificar como ato de guerra algo relacionado a aes violentas. Alm disso, o ato de guerra sempre instrumental, isto , atravs 5 da violncia fsica ou da ameaa do uso da fora e possvel impelir o inimigo a realizar aquilo que o atacante deseja. E ainda no se deve esquecer uma terceira caracterstica do ato de guerra: o ataque deve ser algum tipo de ideia-noo ou inteno de meta poltica. Um dos problemas apresentados aqui e pensar aquilo que se entende por violncia. Nesse caso, conforme Jarno Limnll, estamos lidando com um conceito ambguo, que agrega mais do que causas fsicas ou a morte. 10 A ciberguerra compe parte daquilo que alguns chamam de guerra no convencional. A ocorrncia de um incidente envolvendo ataques rede de um determinado pas logo desperta comparaes com a vasta filmografia sobre revoltas de computadores, sobre os indomavis hackers. Mas, ao contrrio, talvez fosse interessante diminuir os excessos sobre o assunto e traz-lo cuidadosamente para o lugar da histria. O texto Cyberwar is coming!, de John Arquilla e David Ronfeldt, foi um dos primeiros a apontar a sin- 15 gularidade de novos modos de conflito. Publicado pela Rand Corporation, agncia reconhecida por subsidiar o Departamento de Defesa norte-americano, o trabalho da dupla repercutiu ao apresentar a necessidade de pensar as tecnologias da informao como aspecto central nas novas estratgias militares. Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo, revelam inspirao nos mongis do sculo XIII, afirmam a importncia de considerar a relao histrica entre mudanas tecnolgicas e novas formulaes para as 20 doutrinas militares. Anos depois, a mesma dupla de pesquisadores publicaria outro trabalho, procurando delimitar aquilo a que chamaram de netwar, a guerra em rede. Para eles, esse modo de conflito ganharia preponderancia, haja vista que, para levar adiante uma ciberguerra, seria necessaria uma quantidade maior de recursos financeiros e um repertorio menor de artefatos a serem utilizados. A netwar seria tpica de conflitos de baixa intensidade, sendo 25 perceptvel com maior nitidez nas aes de grupos como o Hamas e os zapatistas. Provavelmente, a diferena mais visvel entre os dois tipos de conflito, ciberguerra e guerra em rede, possa ser observada no fato de que o primeiro exige o uso de ambientes cibernticos, enquanto o segundo no. Sendo assim, as ciberguerras apresentam um maior potencial para serem empreendidas por agentes estatais, embora isso no seja uma regra. Os formatos em torno da ciberguerra tambm evidenciam a necessidade do uso das 30 redes de computadores para que os resultados esperados sejam atingidos. Nye Jr. chama a ateno para a fora que os conflitos cibernticos ganharam neste sculo. O fato de possibilitarem a participao de agentes no estatais e a insero cada vez mais profunda dos computadores e softwares na vida cotidiana somente refora a necessidade de considerarmos os influxos desse tipo de ao. Evidentemente, acompanhar a ideia de que existe ciberguerra envolve a compreensao das semelhanas e 35 diferenas em relao ao que classicamente consideramos uma guerra. Numa guerra do tipo clssico, o aspecto fsico exerce papel fundamental. Deve-se levar em conta o preparo de tropas fisicamente saudveis, habilidosas no manejo de armamentos e com a possibilidade de movimentao em diferentes terrenos. Em tal modalidade de guerra, os combates tendem a cessar a partir da exausto das tropas ou por seu desgaste. Por um lado, os governos dispem de um quase monoplio do uso da fora 40 em larga escala, e os defensores precisam conhecer muito bem o terreno de movimentao. Alm disso, preciso considerar que um combate desse tipo requer considerveis recursos de manuteno, mobilidade e investimentos financeiros. Afinal de contas, deslocar tropas do Atlntico Norte para o Pacfico ou da Amrica do Sul para a frica exige tempo e considervel gasto com combustveis, entre outros. Toda essa situao ganha contornos diferentes na ciberguerra. Nela podem atuar diversos atores, estatais 45 e no estatais, identificados e annimos. A distncia fsica e quase irrelevante, o ataque se sobrepe a defesa, j que a rede mundial de computadores no foi pensada como algo a ser necessariamente defendido. Outra caracterstica est no fato de que a parte maior, e oficialmente mais poderosa, tem capacidade limitada para desarmar ou destruir o inimigo, ocupar o territrio ou usar efetivamente estratgias de fora contrria. Em 2014, por exemplo, nos confrontos entre a Rssia e a Ucrnia, o sistema de comunicaes via telefone 50 celular ucraniano foi atacado. A companhia Ukrtelecom teve suas instalaes invadidas por homens armados que danificaram cabos de fibra tica, comprometendo seriamente o fornecimento do servio. Por outro lado, grupos de hackers ucranianos, a exemplo do Cyber-Berkut, atacaram as pginas russas. O site da agncia de comunicao estatal Russia Today foi invadido e nele a palavra russos foi substituda por nazistas Justamente por suas caractersticas, trata-se de um conflito que mais frequentemente se desenvolve nas 55 sombras, com certa discrio. Se h cibercomandos, eles so anunciados sempre como unidades de funo defensiva, no de ataque. Ao mesmo tempo, importante pensar que as intervenes cibernticas podem servir como ato de abertura de uma guerra mais convencional. Dito de outro modo, um ataque ciberntico pode ser o primeiro passo em uma ao maior. LEO, Kari; SILVA, Francisco.Por que a guerra?: Das batalhas gregas a ciberguerra - uma histria da violncia entre os homens. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2018, p. 469 - 472 (texto adaptado). 1Carl Von Clausewitz (1790 1831) foi um experiente militar prussiano, especialista em estratgias de batalhas e considerado um grande terico devido s suas definies amplamente difundidas sobre a guerra. A ciberguerra compoe parte daquilo que alguns chamam de guerra no convencional [...]. Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo, revelam inspirao nos mongis [...] para as doutrinas militares. (texto 2, linhas 10 a 20) Estrategias argumentativas so o resultado de como o autor organiza e apresenta seus argumentos ao longo de umtexto. Entre as estratgias argumentativas utilizadas para sustentar a tese apresentada no excerto acima, destaca-se a recorrncia de:
(IME 2022/2023 - 2 fase) Texto 2 PENSAR A CIBERGUERRA 1 A ideia de ciberguerra tem sido questionada por alguns estudiosos, tanto militares quanto civis. Para Thomas Rid, por exemplo, no houve at o momento qualquer ciberataque que possa enquadrar na clssica definio de Clausewitz1 para o ato de guerra. Para o pensador prussiano, basicamente se pode classificar como ato de guerra algo relacionado a aes violentas. Alm disso, o ato de guerra sempre instrumental, isto , atravs 5 da violncia fsica ou da ameaa do uso da fora e possvel impelir o inimigo a realizar aquilo que o atacante deseja. E ainda no se deve esquecer uma terceira caracterstica do ato de guerra: o ataque deve ser algum tipo de ideia-noo ou inteno de meta poltica. Um dos problemas apresentados aqui e pensar aquilo que se entende por violncia. Nesse caso, conforme Jarno Limnll, estamos lidando com um conceito ambguo, que agrega mais do que causas fsicas ou a morte. 10 A ciberguerra compe parte daquilo que alguns chamam de guerra no convencional. A ocorrncia de um incidente envolvendo ataques rede de um determinado pas logo desperta comparaes com a vasta filmografia sobre revoltas de computadores, sobre os indomavis hackers. Mas, ao contrrio, talvez fosse interessante diminuir os excessos sobre o assunto e traz-lo cuidadosamente para o lugar da histria. O texto Cyberwar is coming!, de John Arquilla e David Ronfeldt, foi um dos primeiros a apontar a sin- 15 gularidade de novos modos de conflito. Publicado pela Rand Corporation, agncia reconhecida por subsidiar o Departamento de Defesa norte-americano, o trabalho da dupla repercutiu ao apresentar a necessidade de pensar as tecnologias da informao como aspecto central nas novas estratgias militares. Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo, revelam inspirao nos mongis do sculo XIII, afirmam a importncia de considerar a relao histrica entre mudanas tecnolgicas e novas formulaes para as 20 doutrinas militares. Anos depois, a mesma dupla de pesquisadores publicaria outro trabalho, procurando delimitar aquilo a que chamaram de netwar, a guerra em rede. Para eles, esse modo de conflito ganharia preponderancia, haja vista que, para levar adiante uma ciberguerra, seria necessaria uma quantidade maior de recursos financeiros e um repertorio menor de artefatos a serem utilizados. A netwar seria tpica de conflitos de baixa intensidade, sendo 25 perceptvel com maior nitidez nas aes de grupos como o Hamas e os zapatistas. Provavelmente, a diferena mais visvel entre os dois tipos de conflito, ciberguerra e guerra em rede, possa ser observada no fato de que o primeiro exige o uso de ambientes cibernticos, enquanto o segundo no. Sendo assim, as ciberguerras apresentam um maior potencial para serem empreendidas por agentes estatais, embora isso no seja uma regra. Os formatos em torno da ciberguerra tambm evidenciam a necessidade do uso das 30 redes de computadores para que os resultados esperados sejam atingidos. Nye Jr. chama a ateno para a fora que os conflitos cibernticos ganharam neste sculo. O fato de possibilitarem a participao de agentes no estatais e a insero cada vez mais profunda dos computadores e softwares na vida cotidiana somente refora a necessidade de considerarmos os influxos desse tipo de ao. Evidentemente, acompanhar a ideia de que existe ciberguerra envolve a compreensao das semelhanas e 35 diferenas em relao ao que classicamente consideramos uma guerra. Numa guerra do tipo clssico, o aspecto fsico exerce papel fundamental. Deve-se levar em conta o preparo de tropas fisicamente saudveis, habilidosas no manejo de armamentos e com a possibilidade de movimentao em diferentes terrenos. Em tal modalidade de guerra, os combates tendem a cessar a partir da exausto das tropas ou por seu desgaste. Por um lado, os governos dispem de um quase monoplio do uso da fora 40 em larga escala, e os defensores precisam conhecer muito bem o terreno de movimentao. Alm disso, preciso considerar que um combate desse tipo requer considerveis recursos de manuteno, mobilidade e investimentos financeiros. Afinal de contas, deslocar tropas do Atlntico Norte para o Pacfico ou da Amrica do Sul para a frica exige tempo e considervel gasto com combustveis, entre outros. Toda essa situao ganha contornos diferentes na ciberguerra. Nela podem atuar diversos atores, estatais 45 e no estatais, identificados e annimos. A distncia fsica e quase irrelevante, o ataque se sobrepe a defesa, j que a rede mundial de computadores no foi pensada como algo a ser necessariamente defendido. Outra caracterstica est no fato de que a parte maior, e oficialmente mais poderosa, tem capacidade limitada para desarmar ou destruir o inimigo, ocupar o territrio ou usar efetivamente estratgias de fora contrria. Em 2014, por exemplo, nos confrontos entre a Rssia e a Ucrnia, o sistema de comunicaes via telefone 50 celular ucraniano foi atacado. A companhia Ukrtelecom teve suas instalaes invadidas por homens armados que danificaram cabos de fibra tica, comprometendo seriamente o fornecimento do servio. Por outro lado, grupos de hackers ucranianos, a exemplo do Cyber-Berkut, atacaram as pginas russas. O site da agncia de comunicao estatal Russia Today foi invadido e nele a palavra russos foi substituda por nazistas Justamente por suas caractersticas, trata-se de um conflito que mais frequentemente se desenvolve nas 55 sombras, com certa discrio. Se h cibercomandos, eles so anunciados sempre como unidades de funo defensiva, no de ataque. Ao mesmo tempo, importante pensar que as intervenes cibernticas podem servir como ato de abertura de uma guerra mais convencional. Dito de outro modo, um ataque ciberntico pode ser o primeiro passo em uma ao maior. LEO, Kari; SILVA, Francisco.Por que a guerra?: Das batalhas gregas a ciberguerra - uma histria da violncia entre os homens. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2018, p. 469 - 472 (texto adaptado). 1Carl Von Clausewitz (1790 1831) foi um experiente militar prussiano, especialista em estratgias de batalhas e considerado um grande terico devido s suas definies amplamente difundidas sobre a guerra. A companhia Ukrtelecom teve suas instalaes invadidas por homens armados que danificaram cabos de fibra tica, comprometendo seriamente o fornecimento do servio. (texto 2, linhas 50 e 51) Segundo os preceitos da gramtica normativa, considere as seguintes afirmaes relacionadas ao excerto do texto 2 apresentado: I. A expresso por homens armados exerce a funo sinttica de adjunto adverbial de causa. II. Em [...] que danificaram cabos de fibra tica, [...], a orao em destaque exerce a funo de adjunto adnominal. III. O voabulo que possui natureza morfolgica de pronome com a funo sinttica de agente da passiva. Est(o) correta(s) apenas a(s) assertiva(s):
(IME 2022/2023 - 2 fase) Texto 2 PENSAR A CIBERGUERRA 1 A ideia de ciberguerra tem sido questionada por alguns estudiosos, tanto militares quanto civis. Para Thomas Rid, por exemplo, no houve at o momento qualquer ciberataque que possa enquadrar na clssica definio de Clausewitz1 para o ato de guerra. Para o pensador prussiano, basicamente se pode classificar como ato de guerra algo relacionado a aes violentas. Alm disso, o ato de guerra sempre instrumental, isto , atravs 5 da violncia fsica ou da ameaa do uso da fora e possvel impelir o inimigo a realizar aquilo que o atacante deseja. E ainda no se deve esquecer uma terceira caracterstica do ato de guerra: o ataque deve ser algum tipo de ideia-noo ou inteno de meta poltica. Um dos problemas apresentados aqui e pensar aquilo que se entende por violncia. Nesse caso, conforme Jarno Limnll, estamos lidando com um conceito ambguo, que agrega mais do que causas fsicas ou a morte. 10 A ciberguerra compe parte daquilo que alguns chamam de guerra no convencional. A ocorrncia de um incidente envolvendo ataques rede de um determinado pas logo desperta comparaes com a vasta filmografia sobre revoltas de computadores, sobre os indomavis hackers. Mas, ao contrrio, talvez fosse interessante diminuir os excessos sobre o assunto e traz-lo cuidadosamente para o lugar da histria. O texto Cyberwar is coming!, de John Arquilla e David Ronfeldt, foi um dos primeiros a apontar a sin- 15 gularidade de novos modos de conflito. Publicado pela Rand Corporation, agncia reconhecida por subsidiar o Departamento de Defesa norte-americano, o trabalho da dupla repercutiu ao apresentar a necessidade de pensar as tecnologias da informao como aspecto central nas novas estratgias militares. Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo, revelam inspirao nos mongis do sculo XIII, afirmam a importncia de considerar a relao histrica entre mudanas tecnolgicas e novas formulaes para as 20 doutrinas militares. Anos depois, a mesma dupla de pesquisadores publicaria outro trabalho, procurando delimitar aquilo a que chamaram de netwar, a guerra em rede. Para eles, esse modo de conflito ganharia preponderancia, haja vista que, para levar adiante uma ciberguerra, seria necessaria uma quantidade maior de recursos financeiros e um repertorio menor de artefatos a serem utilizados. A netwar seria tpica de conflitos de baixa intensidade, sendo 25 perceptvel com maior nitidez nas aes de grupos como o Hamas e os zapatistas. Provavelmente, a diferena mais visvel entre os dois tipos de conflito, ciberguerra e guerra em rede, possa ser observada no fato de que o primeiro exige o uso de ambientes cibernticos, enquanto o segundo no. Sendo assim, as ciberguerras apresentam um maior potencial para serem empreendidas por agentes estatais, embora isso no seja uma regra. Os formatos em torno da ciberguerra tambm evidenciam a necessidade do uso das 30 redes de computadores para que os resultados esperados sejam atingidos. Nye Jr. chama a ateno para a fora que os conflitos cibernticos ganharam neste sculo. O fato de possibilitarem a participao de agentes no estatais e a insero cada vez mais profunda dos computadores e softwares na vida cotidiana somente refora a necessidade de considerarmos os influxos desse tipo de ao. Evidentemente, acompanhar a ideia de que existe ciberguerra envolve a compreensao das semelhanas e 35 diferenas em relao ao que classicamente consideramos uma guerra. Numa guerra do tipo clssico, o aspecto fsico exerce papel fundamental. Deve-se levar em conta o preparo de tropas fisicamente saudveis, habilidosas no manejo de armamentos e com a possibilidade de movimentao em diferentes terrenos. Em tal modalidade de guerra, os combates tendem a cessar a partir da exausto das tropas ou por seu desgaste. Por um lado, os governos dispem de um quase monoplio do uso da fora 40 em larga escala, e os defensores precisam conhecer muito bem o terreno de movimentao. Alm disso, preciso considerar que um combate desse tipo requer considerveis recursos de manuteno, mobilidade e investimentos financeiros. Afinal de contas, deslocar tropas do Atlntico Norte para o Pacfico ou da Amrica do Sul para a frica exige tempo e considervel gasto com combustveis, entre outros. Toda essa situao ganha contornos diferentes na ciberguerra. Nela podem atuar diversos atores, estatais 45 e no estatais, identificados e annimos. A distncia fsica e quase irrelevante, o ataque se sobrepe a defesa, j que a rede mundial de computadores no foi pensada como algo a ser necessariamente defendido. Outra caracterstica est no fato de que a parte maior, e oficialmente mais poderosa, tem capacidade limitada para desarmar ou destruir o inimigo, ocupar o territrio ou usar efetivamente estratgias de fora contrria. Em 2014, por exemplo, nos confrontos entre a Rssia e a Ucrnia, o sistema de comunicaes via telefone 50 celular ucraniano foi atacado. A companhia Ukrtelecom teve suas instalaes invadidas por homens armados que danificaram cabos de fibra tica, comprometendo seriamente o fornecimento do servio. Por outro lado, grupos de hackers ucranianos, a exemplo do Cyber-Berkut, atacaram as pginas russas. O site da agncia de comunicao estatal Russia Today foi invadido e nele a palavra russos foi substituda por nazistas Justamente por suas caractersticas, trata-se de um conflito que mais frequentemente se desenvolve nas 55 sombras, com certa discrio. Se h cibercomandos, eles so anunciados sempre como unidades de funo defensiva, no de ataque. Ao mesmo tempo, importante pensar que as intervenes cibernticas podem servir como ato de abertura de uma guerra mais convencional. Dito de outro modo, um ataque ciberntico pode ser o primeiro passo em uma ao maior. LEO, Kari; SILVA, Francisco.Por que a guerra?: Das batalhas gregas a ciberguerra - uma histria da violncia entre os homens. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2018, p. 469 - 472 (texto adaptado). 1Carl Von Clausewitz (1790 1831) foi um experiente militar prussiano, especialista em estratgias de batalhas e considerado um grande terico devido s suas definies amplamente difundidas sobre a guerra. Leia o excerto do texto 2: A idia de ciberguerra tem sido questionada por alguns estudiosos, tanto militares quanto civis. Para Thomas Rid, por exemplo, no houve ato momento qualquer ciberataque que possa enquadrar na clssica definio de Clausewitz para o ato de guerra. Para o pensador prussiano, basicamente se pode classificar como ato de guerra algo relacionado a aes violentas. Alm disso, o ato de guerra sempreinstrumental, isto e, atravs da violncia fsica ou da ameaa do uso da fora e possvel impelir o inimigo a realizar aquilo que o atacante deseja. E ainda no se deveesquecer uma terceira caracterstica do ato de guerra: o ataque deve ser algum tipo de ideia-noo ou inteno de meta poltica. (linhas 1 a 7) Os termos que poderiam substituir os vocbulos em negrito, respectivamente, sem perda significativa de sentido, so:
(IME 2022/2023 - 2 fase) Texto 2 PENSAR A CIBERGUERRA 1 A ideia de ciberguerra tem sido questionada por alguns estudiosos, tanto militares quanto civis. Para Thomas Rid, por exemplo, no houve at o momento qualquer ciberataque que possa enquadrar na clssica definio de Clausewitz1 para o ato de guerra. Para o pensador prussiano, basicamente se pode classificar como ato de guerra algo relacionado a aes violentas. Alm disso, o ato de guerra sempre instrumental, isto , atravs 5 da violncia fsica ou da ameaa do uso da fora e possvel impelir o inimigo a realizar aquilo que o atacante deseja. E ainda no se deve esquecer uma terceira caracterstica do ato de guerra: o ataque deve ser algum tipo de ideia-noo ou inteno de meta poltica. Um dos problemas apresentados aqui e pensar aquilo que se entende por violncia. Nesse caso, conforme Jarno Limnll, estamos lidando com um conceito ambguo, que agrega mais do que causas fsicas ou a morte. 10 A ciberguerra compe parte daquilo que alguns chamam de guerra no convencional. A ocorrncia de um incidente envolvendo ataques rede de um determinado pas logo desperta comparaes com a vasta filmografia sobre revoltas de computadores, sobre os indomavis hackers. Mas, ao contrrio, talvez fosse interessante diminuir os excessos sobre o assunto e traz-lo cuidadosamente para o lugar da histria. O texto Cyberwar is coming!, de John Arquilla e David Ronfeldt, foi um dos primeiros a apontar a sin- 15 gularidade de novos modos de conflito. Publicado pela Rand Corporation, agncia reconhecida por subsidiar o Departamento de Defesa norte-americano, o trabalho da dupla repercutiu ao apresentar a necessidade de pensar as tecnologias da informao como aspecto central nas novas estratgias militares. Arquilla e Ronfeldt destacam a necessidade de conhecer o campo inimigo, revelam inspirao nos mongis do sculo XIII, afirmam a importncia de considerar a relao histrica entre mudanas tecnolgicas e novas formulaes para as 20 doutrinas militares. Anos depois, a mesma dupla de pesquisadores publicaria outro trabalho, procurando delimitar aquilo a que chamaram de netwar, a guerra em rede. Para eles, esse modo de conflito ganharia preponderancia, haja vista que, para levar adiante uma ciberguerra, seria necessaria uma quantidade maior de recursos financeiros e um repertorio menor de artefatos a serem utilizados. A netwar seria tpica de conflitos de baixa intensidade, sendo 25 perceptvel com maior nitidez nas aes de grupos como o Hamas e os zapatistas. Provavelmente, a diferena mais visvel entre os dois tipos de conflito, ciberguerra e guerra em rede, possa ser observada no fato de que o primeiro exige o uso de ambientes cibernticos, enquanto o segundo no. Sendo assim, as ciberguerras apresentam um maior potencial para serem empreendidas por agentes estatais, embora isso no seja uma regra. Os formatos em torno da ciberguerra tambm evidenciam a necessidade do uso das 30 redes de computadores para que os resultados esperados sejam atingidos. Nye Jr. chama a ateno para a fora que os conflitos cibernticos ganharam neste sculo. O fato de possibilitarem a participao de agentes no estatais e a insero cada vez mais profunda dos computadores e softwares na vida cotidiana somente refora a necessidade de considerarmos os influxos desse tipo de ao. Evidentemente, acompanhar a ideia de que existe ciberguerra envolve a compreensao das semelhanas e 35 diferenas em relao ao que classicamente consideramos uma guerra. Numa guerra do tipo clssico, o aspecto fsico exerce papel fundamental. Deve-se levar em conta o preparo de tropas fisicamente saudveis, habilidosas no manejo de armamentos e com a possibilidade de movimentao em diferentes terrenos. Em tal modalidade de guerra, os combates tendem a cessar a partir da exausto das tropas ou por seu desgaste. Por um lado, os governos dispem de um quase monoplio do uso da fora 40 em larga escala, e os defensores precisam conhecer muito bem o terreno de movimentao. Alm disso, preciso considerar que um combate desse tipo requer considerveis recursos de manuteno, mobilidade e investimentos financeiros. Afinal de contas, deslocar tropas do Atlntico Norte para o Pacfico ou da Amrica do Sul para a frica exige tempo e considervel gasto com combustveis, entre outros. Toda essa situao ganha contornos diferentes na ciberguerra. Nela podem atuar diversos atores, estatais 45 e no estatais, identificados e annimos. A distncia fsica e quase irrelevante, o ataque se sobrepe a defesa, j que a rede mundial de computadores no foi pensada como algo a ser necessariamente defendido. Outra caracterstica est no fato de que a parte maior, e oficialmente mais poderosa, tem capacidade limitada para desarmar ou destruir o inimigo, ocupar o territrio ou usar efetivamente estratgias de fora contrria. Em 2014, por exemplo, nos confrontos entre a Rssia e a Ucrnia, o sistema de comunicaes via telefone 50 celular ucraniano foi atacado. A companhia Ukrtelecom teve suas instalaes invadidas por homens armados que danificaram cabos de fibra tica, comprometendo seriamente o fornecimento do servio. Por outro lado, grupos de hackers ucranianos, a exemplo do Cyber-Berkut, atacaram as pginas russas. O site da agncia de comunicao estatal Russia Today foi invadido e nele a palavra russos foi substituda por nazistas Justamente por suas caractersticas, trata-se de um conflito que mais frequentemente se desenvolve nas 55 sombras, com certa discrio. Se h cibercomandos, eles so anunciados sempre como unidades de funo defensiva, no de ataque. Ao mesmo tempo, importante pensar que as intervenes cibernticas podem servir como ato de abertura de uma guerra mais convencional. Dito de outro modo, um ataque ciberntico pode ser o primeiro passo em uma ao maior. LEO, Kari; SILVA, Francisco.Por que a guerra?: Das batalhas gregas a ciberguerra - uma histria da violncia entre os homens. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2018, p. 469 - 472 (texto adaptado). 1Carl Von Clausewitz (1790 1831) foi um experiente militar prussiano, especialista em estratgias de batalhas e considerado um grande terico devido s suas definies amplamente difundidas sobre a guerra. Provavelmente, a diferena mais visvel entre os dois tipos de conflito, ciberguerra e guerra em rede, possa ser observada no fato de que o primeiro exige o uso de ambientes cibernticos, enquanto o segundo no. (texto 2, linhas 26 e 27) Considere as afirmaes relacionadas ao excerto em destaque do texto 2: I. O excerto destacado possui um perodo composto por trs oraes. II. A expresso [...], ciberguerra e guerra em rede,[...] exerce a funo de aposto. III. Em [...] enquanto o segundo no., mantida a correo gramatical e as informaes originais do perodo ao substituir o conectivo ENQUANTO pelo conectivo PORQUANTO. Est(o) correta(s) apenas a(s) assertiva(s):
(IME - 2021/2022 - 2 FASE) ENGENHEIROS DA VITRIA Soluo de problemas na histria [...] Quando se fala na eficincia em conseguir equipamentos decombate e transferir combatentes de A paraB, os britnicos socampees; certamente isso no foi por causa de alguma inteligncia especial, mas pela ampla experincia em organizao e senso crtico depois de enfrentar chances adversas em 1940, juntamentecom a perspectiva de derrota. Aqui a necessidade foi a mae da inveno. Eles tinham que defender suas cidades, transportar tropas ato Egito, apoiar os gregos, proteger as fronteiras dandia, trazer os Estados Unidos paraguerra e depois levar aquele imenso potencial americano para a rea da Europa. Era mais um problema a serresolvido. Como foi possvel fazer com que 2 milhes de soldados americanos, depois de chegar s bases de Clyde, fossem para bases no sul da Inglaterra preparando-se para o ataque a Normandia, quando a maior parte das ferrovias9 britnicas estava ocupada em transportar vages de carvopara as fbricas de ferro e ao queno podiam parar de produzir? Como se viu, uma organizao composta por pessoas que cresceram decorando os horrios da estrada de ferro de Bradshaw como passatempo pode fazer isso, enquanto os altos comandantes consideravam que tudo estava garantido porque confiavam na capacidade de seus administradores de nvel mdio. Churchill acreditava que o melhor era no se preocupar demais com os problemas, pois tudo se resolveria, isto , uma maneira haviade ser encontrada, passo a passo. Huma outra forma de pensar sobre essa histria de solues de problemas, e ela vem de um exemplobem contemporneo. Em novembro de 2011, enquanto o genial lder6 da Apple, Steve Jobs, recebia inmeras homenagens pstumas, um artigo intrigante foi publicado na revista New Yorker. Nele o autor, Malcom Gladwell, argumentava que8 Jobs nao era o inventor de uma mquina ou de uma ideia que mudou o mundo; poucos seres o so (exceto talvez Leonardo da Vinci e Thomas Edison). Na verdade, seu brilhantismo estava em adotar invenes alheias que no deram certo, a partir das quais construa, modificava e fazia aperfeioamentos constantes. Para usar uma linguagem atual, ele era um tweaker, e sua genialidade impulsionou como nunca o aumento de eficincia dos produtos de sua companhia. A histria do sucesso de Steve Jobs, contudo, no era nova. A chegada da Revoluo Industrial do sculoXVIII na Gr-Bretanha muito provavelmente a maior revoluopara explicar a ascenso do Ocidente ocorreu porque o pas possua uma imensa coleo de tweakers em sua cultura que encorajaram o progresso [...] A histria da evoluo do tanque T-34 sovitico, de um grande pedaode metal mal projetado e fraco parauma arma de guerra mortfera, segura e de grande mobilidade, no foi uma histria contnua de tweaking? No foi esse tambm o caso do grande bombardeiro americano, o B-29, que no incio estava tomergulhado emdificuldades que chegou a se propor seu cancelamento atque as equipes da Boeing resolveram os problemas? Eas miraculosas histrias do P-51 Mustang, dos tanques de Percy Hobart e de um poderoso sistema de radar to pequeno que poderia ser inserido no nariz de um avio patrulha de longa distncia e virar a marna Batalha do Atlntico? Depois que se unem os diversos pedaos espalhados, tudo se encaixa. Mas todos esses projetos exigiram tempo e apoio. Na verdade1, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente se surpreendam diante, digamos2, do planejamento e orquestrao do almirante Ramsay nos cincos desembarques simultneos no Dia D e gostariam de poder realizar um dcimo do que ele fez. Em suma3, a vitria em grandes guerras sempre requer organizao superior, o que, por sua vez4, exige pessoas que possam dirigir essas organizaes, no com um interesse apenas moderado, mas5 da maneira mais competente possvel e com estilo que permitirs pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitria. Os chefes no podem fazer isso tudo sozinhos, por mais que sejam criativos e dotados de energia. necessrio haver um sistema de apoio, uma cultura de encorajamento, feedbacks eficientes, uma capacidade de aprender com os revezes, uma habilidade de fazer as coisas acontecerem. E tudo isto tem de ser feito de uma maneira que seja melhor do que aquela do inimigo. assim que as guerras so vencidas. [...] O mesmo reconhecimento merecem, por certo, os militares de nvel mdio que mudaram a Segunda Guerra Mundial, transformando as agressoes do Eixo em 1942 em avanos irreversveis dos Aliados em 1943-44, e finalmente destruindo a Alemanha e o Japo. verdade, alguns desses indivduos, armamentos e organizaes so reconhecidos, mas em geral de uma forma fragmentada e popularizada. raro que esses fios isolados sejam tecidos em conjunto para mostrar como os avanos afetaram as muitas campanhas, fazendo a balana pender para o lado dos Aliados durante o conflito global. Mais raro ainda e a compreenso de como o trabalho desses vrios solucionadores de problemas tambm precisa ser includo7 numa importante cultura do encorajamento para garantir que simples declaraes e intenes estratgicas de grandes lderes se tornem realidade e no murchem nas tempestades da guerra. Se isso o que acontece, ento vivemos com uma grande lacuna em nossa compreenso de como a Segunda Guerra Mundial foi vencida em seus anos cruciais. KENNEDY, Paul. Engenheiros da Vitria: Os responsveis pela reviravolta na Segunda Guerra Mundial. 1 ed. So Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 407- 428 (texto adaptado). Com base no primeiro paragrafo do texto 1, o qual apresenta vrias solues de problemas prticos realizadas pelosbritnicos na Segunda Guerra Mundial, pode-se afirmar que:
(IME - 2021/2022 - 2 FASE) ENGENHEIROS DA VITRIA Soluo de problemas na histria [...] Quando se fala na eficincia em conseguir equipamentos decombate e transferir combatentes de A paraB, os britnicos socampees; certamente isso no foi por causa de alguma inteligncia especial, mas pela ampla experincia em organizao e senso crtico depois de enfrentar chances adversas em 1940, juntamentecom a perspectiva de derrota. Aqui a necessidade foi a mae da inveno. Eles tinham que defender suas cidades, transportar tropas ato Egito, apoiar os gregos, proteger as fronteiras dandia, trazer os Estados Unidos paraguerra e depois levar aquele imenso potencial americano para a rea da Europa. Era mais um problema a serresolvido. Como foi possvel fazer com que 2 milhes de soldados americanos, depois de chegar s bases de Clyde, fossem para bases no sul da Inglaterra preparando-se para o ataque a Normandia, quando a maior parte das ferrovias9britnicas estava ocupada em transportar vages de carvopara as fbricas de ferro e ao queno podiam parar de produzir? Como se viu, uma organizao composta por pessoas que cresceram decorando os horrios da estrada de ferro de Bradshaw como passatempo pode fazer isso, enquanto os altos comandantes consideravam que tudo estava garantido porque confiavam na capacidade de seus administradores de nvel mdio. Churchill acreditava que o melhor era no se preocupar demais com os problemas, pois tudo se resolveria, isto , uma maneira haviade ser encontrada, passo a passo. Huma outra forma de pensar sobre essa histria de solues de problemas, e ela vem de um exemplobem contemporneo. Em novembro de 2011, enquanto o genial lder6da Apple, Steve Jobs, recebia inmeras homenagens pstumas, um artigo intrigante foi publicado na revistaNew Yorker. Nele o autor, Malcom Gladwell, argumentava que8Jobs nao era o inventor de uma mquina ou de uma ideia que mudou o mundo; poucos seres o so (exceto talvez Leonardo da Vinci e Thomas Edison). Na verdade, seu brilhantismo estava em adotar invenes alheias que no deram certo, a partir das quais construa, modificava e fazia aperfeioamentos constantes. Para usar uma linguagem atual, ele era umtweaker, e sua genialidade impulsionou como nunca o aumento de eficincia dos produtos de sua companhia. A histria do sucesso de Steve Jobs, contudo, no era nova. A chegada da Revoluo Industrial do sculoXVIII na Gr-Bretanha muito provavelmente a maior revoluopara explicar a ascenso do Ocidente ocorreu porque o pas possua uma imensa coleo detweakersem sua cultura que encorajaram o progresso [...] A histria da evoluo do tanque T-34 sovitico, de um grande pedaode metal mal projetado e fraco parauma arma de guerra mortfera, segura e de grande mobilidade, no foi uma histria contnua de tweaking? No foi esse tambm o caso do grande bombardeiro americano, o B-29, que no incio estava tomergulhado emdificuldades que chegou a se propor seu cancelamento atque as equipes da Boeing resolveram os problemas? Eas miraculosas histrias do P-51 Mustang, dos tanques de Percy Hobart e de um poderoso sistema de radar to pequeno que poderia ser inserido no nariz de um avio patrulha de longa distncia e virar a marna Batalha do Atlntico? Depois que se unem os diversos pedaos espalhados, tudo se encaixa. Mas todos esses projetos exigiram tempo e apoio. Na verdade1, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente se surpreendam diante, digamos2, do planejamento e orquestrao do almirante Ramsay nos cincos desembarques simultneos no Dia D e gostariam de poder realizar um dcimo do que ele fez. Em suma3, a vitria em grandes guerras sempre requer organizao superior, o que, por sua vez4, exige pessoas que possam dirigir essas organizaes, no com um interesse apenas moderado, mas5da maneira mais competente possvel e com estilo que permitirs pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitria. Os chefes no podem fazer isso tudo sozinhos, por mais que sejam criativos e dotados de energia. necessrio haver um sistema de apoio, uma cultura de encorajamento, feedbacks eficientes, uma capacidade de aprender com os revezes, uma habilidade de fazer as coisas acontecerem. E tudo isto tem de ser feito de uma maneira que seja melhor do que aquela do inimigo. assim que as guerras so vencidas. [...] O mesmo reconhecimento merecem, por certo, os militares de nvel mdio que mudaram a Segunda Guerra Mundial, transformando as agressoes do Eixo em 1942 em avanos irreversveis dos Aliados em 1943-44, e finalmente destruindo a Alemanha e o Japo. verdade, alguns desses indivduos, armamentos e organizaes so reconhecidos, mas em geral de uma forma fragmentada e popularizada. raro que esses fios isolados sejam tecidos em conjunto para mostrar como os avanos afetaram as muitas campanhas, fazendo a balana pender para o lado dos Aliados durante o conflito global. Mais raro ainda e a compreenso de como o trabalho desses vrios solucionadores de problemas tambm precisa ser includo7numa importante cultura do encorajamento para garantir que simples declaraes e intenes estratgicas de grandes lderes se tornem realidade e no murchem nas tempestades da guerra. Se isso o que acontece, ento vivemos com uma grande lacuna em nossa compreenso de como a Segunda Guerra Mundial foi vencida em seus anos cruciais. KENNEDY, Paul.Engenheiros da Vitria:Os responsveis pela reviravolta na Segunda Guerra Mundial. 1 ed. So Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 407- 428 (texto adaptado). Leia atentamente o excerto abaixo do texto 1: Na verdade, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente apenas fiquem maravilhados diante, digamos, do planejamento e orquestraodo almirante Ramsay nos cincos desembarques simultneos no DiaD e gostariam de poder realizar um dcimo do que ele fez. Em suma, a vitoria em grandes guerras sempre requer organizao superior, o que, por sua vez, exige pessoas que possam dirigir essas organizaes, no com um interesse apenas moderado, mas da maneira mais competente possvel e com estilo que permitirs pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitria. (ref. 1 a 5) A coeso refere-se aos mecanismos de encadeamento lgico-semntico do contedo apresentado, que criam relaes entre o que dito, de modo a orientar o leitor na construo do significado geral de um texto. Ela inclui os operadores argumentativos. Isso posto, considera-se que a anlise desses elementos em negrito no texto mostra que o operador:
(IME - 2021/2022 - 2 FASE) ENGENHEIROS DA VITRIA Soluo de problemas na histria [...] Quando se fala na eficincia em conseguir equipamentos decombate e transferir combatentes de A paraB, os britnicos socampees; certamente isso no foi por causa de alguma inteligncia especial, mas pela ampla experincia em organizao e senso crtico depois de enfrentar chances adversas em 1940, juntamentecom a perspectiva de derrota. Aqui a necessidade foi a mae da inveno. Eles tinham que defender suas cidades, transportar tropas ato Egito, apoiar os gregos, proteger as fronteiras dandia, trazer os Estados Unidos paraguerra e depois levar aquele imenso potencial americano para a rea da Europa. Era mais um problema a serresolvido. Como foi possvel fazer com que 2 milhes de soldados americanos, depois de chegar s bases de Clyde, fossem para bases no sul da Inglaterra preparando-se para o ataque a Normandia, quando a maior parte das ferrovias9britnicas estava ocupada em transportar vages de carvopara as fbricas de ferro e ao queno podiam parar de produzir? Como se viu, uma organizao composta por pessoas que cresceram decorando os horrios da estrada de ferro de Bradshaw como passatempo pode fazer isso, enquanto os altos comandantes consideravam que tudo estava garantido porque confiavam na capacidade de seus administradores de nvel mdio. Churchill acreditava que o melhor era no se preocupar demais com os problemas, pois tudo se resolveria, isto , uma maneira haviade ser encontrada, passo a passo. Huma outra forma de pensar sobre essa histria de solues de problemas, e ela vem de um exemplobem contemporneo. Em novembro de 2011, enquanto o genial lder6da Apple, Steve Jobs, recebia inmeras homenagens pstumas, um artigo intrigante foi publicado na revistaNew Yorker. Nele o autor, Malcom Gladwell, argumentava que8Jobs nao era o inventor de uma mquina ou de uma ideia que mudou o mundo; poucos seres o so (exceto talvez Leonardo da Vinci e Thomas Edison). Na verdade, seu brilhantismo estava em adotar invenes alheias que no deram certo, a partir das quais construa, modificava e fazia aperfeioamentos constantes. Para usar uma linguagem atual, ele era umtweaker, e sua genialidade impulsionou como nunca o aumento de eficincia dos produtos de sua companhia. A histria do sucesso de Steve Jobs, contudo, no era nova. A chegada da Revoluo Industrial do sculoXVIII na Gr-Bretanha muito provavelmente a maior revoluopara explicar a ascenso do Ocidente ocorreu porque o pas possua uma imensa coleo detweakersem sua cultura que encorajaram o progresso [...] A histria da evoluo do tanque T-34 sovitico, de um grande pedaode metal mal projetado e fraco parauma arma de guerra mortfera, segura e de grande mobilidade, no foi uma histria contnua de tweaking? No foi esse tambm o caso do grande bombardeiro americano, o B-29, que no incio estava tomergulhado emdificuldades que chegou a se propor seu cancelamento atque as equipes da Boeing resolveram os problemas? Eas miraculosas histrias do P-51 Mustang, dos tanques de Percy Hobart e de um poderoso sistema de radar to pequeno que poderia ser inserido no nariz de um avio patrulha de longa distncia e virar a marna Batalha do Atlntico? Depois que se unem os diversos pedaos espalhados, tudo se encaixa. Mas todos esses projetos exigiram tempo e apoio. Na verdade1, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente se surpreendam diante, digamos2, do planejamento e orquestrao do almirante Ramsay nos cincos desembarques simultneos no Dia D e gostariam de poder realizar um dcimo do que ele fez. Em suma3, a vitria em grandes guerras sempre requer organizao superior, o que, por sua vez4, exige pessoas que possam dirigir essas organizaes, no com um interesse apenas moderado, mas5da maneira mais competente possvel e com estilo que permitirs pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitria. Os chefes no podem fazer isso tudo sozinhos, por mais que sejam criativos e dotados de energia. necessrio haver um sistema de apoio, uma cultura de encorajamento, feedbacks eficientes, uma capacidade de aprender com os revezes, uma habilidade de fazer as coisas acontecerem. E tudo isto tem de ser feito de uma maneira que seja melhor do que aquela do inimigo. assim que as guerras so vencidas. [...] O mesmo reconhecimento merecem, por certo, os militares de nvel mdio que mudaram a Segunda Guerra Mundial, transformando as agressoes do Eixo em 1942 em avanos irreversveis dos Aliados em 1943-44, e finalmente destruindo a Alemanha e o Japo. verdade, alguns desses indivduos, armamentos e organizaes so reconhecidos, mas em geral de uma forma fragmentada e popularizada. raro que esses fios isolados sejam tecidos em conjunto para mostrar como os avanos afetaram as muitas campanhas, fazendo a balana pender para o lado dos Aliados durante o conflito global. Mais raro ainda e a compreenso de como o trabalho desses vrios solucionadores de problemas tambm precisa ser includo7numa importante cultura do encorajamento para garantir que simples declaraes e intenes estratgicas de grandes lderes se tornem realidade e no murchem nas tempestades da guerra. Se isso o que acontece, ento vivemos com uma grande lacuna em nossa compreenso de como a Segunda Guerra Mundial foi vencida em seus anos cruciais. KENNEDY, Paul.Engenheiros da Vitria:Os responsveis pela reviravolta na Segunda Guerra Mundial. 1 ed. So Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 407- 428 (texto adaptado). Em relao ao uso dos pronomes relativos, marque a alternativa correta:
(IME - 2021/2022 - 2 FASE) ENGENHEIROS DA VITRIA Soluo de problemas na histria [...] Quando se fala na eficincia em conseguir equipamentos decombate e transferir combatentes de A paraB, os britnicos socampees; certamente isso no foi por causa de alguma inteligncia especial, mas pela ampla experincia em organizao e senso crtico depois de enfrentar chances adversas em 1940, juntamentecom a perspectiva de derrota. Aqui a necessidade foi a mae da inveno. Eles tinham que defender suas cidades, transportar tropas ato Egito, apoiar os gregos, proteger as fronteiras dandia, trazer os Estados Unidos paraguerra e depois levar aquele imenso potencial americano para a rea da Europa. Era mais um problema a serresolvido. Como foi possvel fazer com que 2 milhes de soldados americanos, depois de chegar s bases de Clyde, fossem para bases no sul da Inglaterra preparando-se para o ataque a Normandia, quando a maior parte das ferrovias9britnicas estava ocupada em transportar vages de carvopara as fbricas de ferro e ao queno podiam parar de produzir? Como se viu, uma organizao composta por pessoas que cresceram decorando os horrios da estrada de ferro de Bradshaw como passatempo pode fazer isso, enquanto os altos comandantes consideravam que tudo estava garantido porque confiavam na capacidade de seus administradores de nvel mdio. Churchill acreditava que o melhor era no se preocupar demais com os problemas, pois tudo se resolveria, isto , uma maneira haviade ser encontrada, passo a passo. Huma outra forma de pensar sobre essa histria de solues de problemas, e ela vem de um exemplobem contemporneo. Em novembro de 2011, enquanto o genial lder6da Apple, Steve Jobs, recebia inmeras homenagens pstumas, um artigo intrigante foi publicado na revistaNew Yorker. Nele o autor, Malcom Gladwell, argumentava que8Jobs nao era o inventor de uma mquina ou de uma ideia que mudou o mundo; poucos seres o so (exceto talvez Leonardo da Vinci e Thomas Edison). Na verdade, seu brilhantismo estava em adotar invenes alheias que no deram certo, a partir das quais construa, modificava e fazia aperfeioamentos constantes. Para usar uma linguagem atual, ele era umtweaker, e sua genialidade impulsionou como nunca o aumento de eficincia dos produtos de sua companhia. A histria do sucesso de Steve Jobs, contudo, no era nova. A chegada da Revoluo Industrial do sculoXVIII na Gr-Bretanha muito provavelmente a maior revoluopara explicar a ascenso do Ocidente ocorreu porque o pas possua uma imensa coleo detweakersem sua cultura que encorajaram o progresso [...] A histria da evoluo do tanque T-34 sovitico, de um grande pedaode metal mal projetado e fraco parauma arma de guerra mortfera, segura e de grande mobilidade, no foi uma histria contnua de tweaking? No foi esse tambm o caso do grande bombardeiro americano, o B-29, que no incio estava tomergulhado emdificuldades que chegou a se propor seu cancelamento atque as equipes da Boeing resolveram os problemas? Eas miraculosas histrias do P-51 Mustang, dos tanques de Percy Hobart e de um poderoso sistema de radar to pequeno que poderia ser inserido no nariz de um avio patrulha de longa distncia e virar a marna Batalha do Atlntico? Depois que se unem os diversos pedaos espalhados, tudo se encaixa. Mas todos esses projetos exigiram tempo e apoio. Na verdade1, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente se surpreendam diante, digamos2, do planejamento e orquestrao do almirante Ramsay nos cincos desembarques simultneos no Dia D e gostariam de poder realizar um dcimo do que ele fez. Em suma3, a vitria em grandes guerras sempre requer organizao superior, o que, por sua vez4, exige pessoas que possam dirigir essas organizaes, no com um interesse apenas moderado, mas5da maneira mais competente possvel e com estilo que permitirs pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitria. Os chefes no podem fazer isso tudo sozinhos, por mais que sejam criativos e dotados de energia. necessrio haver um sistema de apoio, uma cultura de encorajamento, feedbacks eficientes, uma capacidade de aprender com os revezes, uma habilidade de fazer as coisas acontecerem. E tudo isto tem de ser feito de uma maneira que seja melhor do que aquela do inimigo. assim que as guerras so vencidas. [...] O mesmo reconhecimento merecem, por certo, os militares de nvel mdio que mudaram a Segunda Guerra Mundial, transformando as agressoes do Eixo em 1942 em avanos irreversveis dos Aliados em 1943-44, e finalmente destruindo a Alemanha e o Japo. verdade, alguns desses indivduos, armamentos e organizaes so reconhecidos, mas em geral de uma forma fragmentada e popularizada. raro que esses fios isolados sejam tecidos em conjunto para mostrar como os avanos afetaram as muitas campanhas, fazendo a balana pender para o lado dos Aliados durante o conflito global. Mais raro ainda e a compreenso de como o trabalho desses vrios solucionadores de problemas tambm precisa ser includo7numa importante cultura do encorajamento para garantir que simples declaraes e intenes estratgicas de grandes lderes se tornem realidade e no murchem nas tempestades da guerra. Se isso o que acontece, ento vivemos com uma grande lacuna em nossa compreenso de como a Segunda Guerra Mundial foi vencida em seus anos cruciais. KENNEDY, Paul.Engenheiros da Vitria:Os responsveis pela reviravolta na Segunda Guerra Mundial. 1 ed. So Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 407- 428 (texto adaptado). Assinale a alternativa em que as palavras recebem o acento grfico de acordo com as mesmas regras de acentuao das palavras abaixo transcritas, respectivamente: LDER (texto 1, ref. 6), INCLUDO (texto 1, ref. 7)
(IME - 2021/2022 - 2 FASE) ENGENHEIROS DA VITRIA Soluo de problemas na histria [...] Quando se fala na eficincia em conseguir equipamentos decombate e transferir combatentes de A paraB, os britnicos socampees; certamente isso no foi por causa de alguma inteligncia especial, mas pela ampla experincia em organizao e senso crtico depois de enfrentar chances adversas em 1940, juntamentecom a perspectiva de derrota. Aqui a necessidade foi a mae da inveno. Eles tinham que defender suas cidades, transportar tropas ato Egito, apoiar os gregos, proteger as fronteiras dandia, trazer os Estados Unidos paraguerra e depois levar aquele imenso potencial americano para a rea da Europa. Era mais um problema a serresolvido. Como foi possvel fazer com que 2 milhes de soldados americanos, depois de chegar s bases de Clyde, fossem para bases no sul da Inglaterra preparando-se para o ataque a Normandia, quando a maior parte das ferrovias9britnicas estava ocupada em transportar vages de carvopara as fbricas de ferro e ao queno podiam parar de produzir? Como se viu, uma organizao composta por pessoas que cresceram decorando os horrios da estrada de ferro de Bradshaw como passatempo pode fazer isso, enquanto os altos comandantes consideravam que tudo estava garantido porque confiavam na capacidade de seus administradores de nvel mdio. Churchill acreditava que o melhor era no se preocupar demais com os problemas, pois tudo se resolveria, isto , uma maneira haviade ser encontrada, passo a passo. Huma outra forma de pensar sobre essa histria de solues de problemas, e ela vem de um exemplobem contemporneo. Em novembro de 2011, enquanto o genial lder6da Apple, Steve Jobs, recebia inmeras homenagens pstumas, um artigo intrigante foi publicado na revistaNew Yorker. Nele o autor, Malcom Gladwell, argumentava que8Jobs nao era o inventor de uma mquina ou de uma ideia que mudou o mundo; poucos seres o so (exceto talvez Leonardo da Vinci e Thomas Edison). Na verdade, seu brilhantismo estava em adotar invenes alheias que no deram certo, a partir das quais construa, modificava e fazia aperfeioamentos constantes. Para usar uma linguagem atual, ele era umtweaker, e sua genialidade impulsionou como nunca o aumento de eficincia dos produtos de sua companhia. A histria do sucesso de Steve Jobs, contudo, no era nova. A chegada da Revoluo Industrial do sculoXVIII na Gr-Bretanha muito provavelmente a maior revoluopara explicar a ascenso do Ocidente ocorreu porque o pas possua uma imensa coleo detweakersem sua cultura que encorajaram o progresso [...] A histria da evoluo do tanque T-34 sovitico, de um grande pedaode metal mal projetado e fraco parauma arma de guerra mortfera, segura e de grande mobilidade, no foi uma histria contnua de tweaking? No foi esse tambm o caso do grande bombardeiro americano, o B-29, que no incio estava tomergulhado emdificuldades que chegou a se propor seu cancelamento atque as equipes da Boeing resolveram os problemas? Eas miraculosas histrias do P-51 Mustang, dos tanques de Percy Hobart e de um poderoso sistema de radar to pequeno que poderia ser inserido no nariz de um avio patrulha de longa distncia e virar a marna Batalha do Atlntico? Depois que se unem os diversos pedaos espalhados, tudo se encaixa. Mas todos esses projetos exigiram tempo e apoio. Na verdade1, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente se surpreendam diante, digamos2, do planejamento e orquestrao do almirante Ramsay nos cincos desembarques simultneos no Dia D e gostariam de poder realizar um dcimo do que ele fez. Em suma3, a vitria em grandes guerras sempre requer organizao superior, o que, por sua vez4, exige pessoas que possam dirigir essas organizaes, no com um interesse apenas moderado, mas5da maneira mais competente possvel e com estilo que permitirs pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitria. Os chefes no podem fazer isso tudo sozinhos, por mais que sejam criativos e dotados de energia. necessrio haver um sistema de apoio, uma cultura de encorajamento, feedbacks eficientes, uma capacidade de aprender com os revezes, uma habilidade de fazer as coisas acontecerem. E tudo isto tem de ser feito de uma maneira que seja melhor do que aquela do inimigo. assim que as guerras so vencidas. [...] O mesmo reconhecimento merecem, por certo, os militares de nvel mdio que mudaram a Segunda Guerra Mundial, transformando as agressoes do Eixo em 1942 em avanos irreversveis dos Aliados em 1943-44, e finalmente destruindo a Alemanha e o Japo. verdade, alguns desses indivduos, armamentos e organizaes so reconhecidos, mas em geral de uma forma fragmentada e popularizada. raro que esses fios isolados sejam tecidos em conjunto para mostrar como os avanos afetaram as muitas campanhas, fazendo a balana pender para o lado dos Aliados durante o conflito global. Mais raro ainda e a compreenso de como o trabalho desses vrios solucionadores de problemas tambm precisa ser includo7numa importante cultura do encorajamento para garantir que simples declaraes e intenes estratgicas de grandes lderes se tornem realidade e no murchem nas tempestades da guerra. Se isso o que acontece, ento vivemos com uma grande lacuna em nossa compreenso de como a Segunda Guerra Mundial foi vencida em seus anos cruciais. KENNEDY, Paul.Engenheiros da Vitria:Os responsveis pela reviravolta na Segunda Guerra Mundial. 1 ed. So Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 407- 428 (texto adaptado). O conectivo QUE, utilizado em Nele, o autor, Malcon Gladwel argumentava que Jobs no era o inventor de uma mquina ou de uma ideia [...] (texto 1, ref. 8), correto afirmar que: