TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Para responder à(s) questão(ões) a seguir, considere o texto abaixo.
A década de 1950 foi marcada pelo anseio de modernização do país, cujos reflexos se fazem sentir também no plano da cultura. É de se notar o amadurecimento da poesia de João Cabral, poeta que se rebelou contra o que considerava nosso sentimentalismo, nosso “tradicional lirismo lusitano”, bem como o surgimento de novas tendências experimentalistas, observáveis na linguagem renovadora de Ferreira Gullar e na radicalização dos poetas do Concretismo. As linhas geométricas da arquitetura de Brasília e o apego ao construtivismo que marca a criação poética parecem, de fato, tendências próximas e interligadas.
(MOUTINHO, Felipe. Inédito.)
(Puccamp 2016) Constituem exemplo do construtivismo e do rigor da poesia de João Cabral os seguintes versos:
A falta que me fazes não é tanto à hora de dormir
Quando dizias “Deus te abençoe”, e a noite abria em
sonho.
É quando, ao despertar, revejo a um canto
A noite acumulada de meus dias (...)
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
O arranha-céu sobe no ar puro lavado pela chuva
e desce refletido na poça de lama do pátio.
Entre a realidade e a imagem, no chão seco que as
separa,
quatro pombas passeiam.