(UNESP - 2022 - 2ª FASE)
A liberdade pouco valia para o indivíduo pobre que o mundo da produção e os aparelhos de poder esmagavam sem trégua, e no entanto ele era homem livre numa sociedade escravista. Aproveitado de modo intermitente mas regular pelo Estado e pelos homens bons, a sua utilidade real e empiricamente detectável era revestida por um ônus que o deixava sem razão de ser. A formulação dessa inutilidade justificava o sistema escravista, e o atributo da vadiagem passava a englobar toda uma camada social, desclassificando-a: no meio fluido dos homens livres pobres, todos passavam a ser vadios para a óptica dominante. Vadios e inúteis, era como se não existissem, como se o país não tivesse povo — pois, cativo, o escravo não era cidadão. E assim, inexistindo ou sendo identificado à animalidade, o homem livre pobre permaneceu esquecido através do século.
(Laura de Mello e Souza. Desclassificados do ouro:
a pobreza mineira no século XVIII, 2015. Adaptado.)
Ao tratar dos “desclassificados” na sociedade das Minas Gerais do século XVIII, o texto caracteriza-os como
uma camada marcada pela ambiguidade e que revelava os mecanismos de exclusão sociopolíticos do período.
uma classe potencialmente rebelde, que recorria a ações clandestinas e ilegais para subverter a ordem social.
um setor improdutivo da economia local, que gerava gastos para os governantes, mas sem produzir ganhos e rendimentos.
um grupo à margem da sociedade, que conseguia escapar dos tributos e dos rigores do trabalho.
um segmento de técnicos e profissionais liberais, que era socialmente desprezado, mas fundamental na exploração de ouro.