(UNESP - 2022 - 2ª FASE)
Em uma democracia viva, as fronteiras do que é “o possível” estão constantemente em questão, deixam de ser óbvias e naturais. Questionar um aumento de tarifa de transporte significa também questionar como são elaborados os orçamentos públicos, como são executados, como são estabelecidas as prioridades. O mesmo vale para os protestos contra gastos com megaeventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada. [...]
Ao gritar e escrever “Não me representa”, quem se manifesta não quer apenas que o sistema político mude seu modo de funcionar: pretende mudar o jeito como a representação política é entendida.
(Marcos Nobre. Imobilismo em movimento:
da abertura democrática ao governo Dilma, 2013.)
O texto analisa sentidos dos protestos de junho de 2013 no Brasil e atesta
a prática de corrupção e desvio de dinheiro público, que sempre prevaleceu nos espaços decisórios da política brasileira, independentemente do grupo ou setor social hegemônico.
a manipulação dos manifestantes por partidos políticos, que desejavam derrubar a presidente e criar condições para uma mudança ideológica radical no comando político do país.
o esforço coletivo de segmentos políticos variados, que defendiam a redemocratização brasileira e a superação da herança autoritária oriunda do regime civil-militar.
o dinamismo das mobilizações, que combinavam reivindicações pontuais com processos econômicos estruturais e colocavam em debate a mecânica de representação e as formas possíveis de participação política.
a ingenuidade dos manifestantes, que restringiam seus questionamentos a temas superficiais, sem perceber que o funcionamento geral da política depende das decisões políticas institucionais.