(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia a crnica Anncio de Joo Alves, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), publicada originalmente em 1954. Figura o anncio em um jornal que o amigo me mandou, e est assim redigido: procura de uma besta. A partir de 6 de outubro do ano cadente, sumiu-me uma besta vermelho-escura com os seguintes caractersticos: calada e ferrada de todos os membros locomotores, um pequeno quisto na base da orelha direita e crina dividida em duas sees em consequncia de um golpe, cuja extenso pode alcanar de quatro a seis centmetros, produzido por jumento. Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comrcio, muito mansa e boa de sela, e tudo me induz ao clculo de que foi roubada, assim que ho sido falhas todas as indagaes. Quem, pois, apreend-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos notcia exata ministrar, ser razoavelmente remunerado. Itamb do Mato Dentro, 19 de novembro de 1899. (a)Joo Alves Jnior. Cinquenta e cinco anos depois, prezado Joo Alves Jnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, j p no p. E tu mesmo, se no estou enganado, repousas suavemente no pequeno cemitrio de Itamb. Mas teu anncio continua um modelo no gnero, se no para ser imitado, ao menos como objeto de admirao literria. Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. No escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condio rural. Pressa, no a tiveste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e s a 19 de novembro recorreste Cidade de Itabira. Antes, procedeste a indagaes. Falharam. Formulaste depois um raciocnio: houve roubo. S ento pegaste da pena, e traaste um belo e ntido retrato da besta. No disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste diz-lo de todos os seus membros locomotores. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa diviso da crina em duas sees, que teu zelo naturalista e histrico atribuiu com segurana a um jumento. Por ser muito domiciliada nas cercanias deste comrcio, isto , do povoado e sua feirinha semanal, inferiste que no teria fugido, mas antes foi roubada. Contudo, no o afirmas em tom peremptrio: tudo me induz a esse clculo. Revelas a a prudncia mineira, que no avana (ou no avanava) aquilo que no seja a evidncia mesma. clculo, raciocnio, operao mental e desapaixonada como qualquer outra, e no denncia formal. Finalmente deixando de lado outras excelncias de tua prosa til a declarao final: quem a apreender ou pelo menos notcia exata ministrar, ser razoavelmente remunerado. No prometes recompensa tentadora; no fazes praa de generosidade ou largueza; acenas com o razovel, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer mesmo no caso de bestas perdidas e entregues. J muito tarde para sairmos procura de tua besta, meu caro Joo Alves do Itamb; entretanto essa criao volta a existir, porque soubeste descrev-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e algum hoje a descobre, e muitos outros so informados da ocorrncia. Se lesses os anncios de objetos e animais perdidos, na imprensa de hoje, ficarias triste. J no h essa preciso de termos e essa graa no dizer, nem essa moderao nem essa atitude crtica. No h, sobretudo, esse amor tarefa bem-feita, que se pode manifestar at mesmo num anncio de besta sumida. (Fala, amendoeira, 2012.) Na crnica, Joo Alves descrito como
(UNESP - 2017/2 - 1FASE) Examine a charge do cartunista argentino Quino (1932- ). A charge explora, sobretudo, a oposio
(UNESP - 2017- 2 FASE) Leia o trecho de A divina comdia, escrita pelo poeta italiano Dante Alighieri (1265-1321), no incio do sculo XIV. Como, em seu 1Arsenal, os venezianos fervem, no inverno, o pegajoso 2pez, pra de seus 3lenhos consertar os danos, pois, no podendo navegar, ao invs h quem renove o lenho, ou 4calafete o casco que viagem muita fez; e um na proa, na popa outro arremete, um faz o remo, outro torce o cordame, um remenda a gr vela, outro o 5traquete. A divina comdia, 2009. 1arsenal: lugar de conserto de navios. 2pez: piche. 3lenho: barco. 4calafetar: vedar, fechar. 5traquete: mastro. Nos versos, o poeta refere-se ao trabalho de reparao dos navios venezianos. Descreva a natureza do trabalho desenvolvido no arsenal e explique o motivo da crise econmica das cidades italianas a partir do final do sculo XV.
(UNESP - 2017/2 - 2 FASE) Caracterize os sistemas administrativos de capitanias hereditrias e de governo geral empregados na colonizao brasileira. Indique duas diferenas entre esses sistemas.
(UNESP - 2017- 2 fase - Questo 2) Desde a escolha do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olmpicos e Paraolmpicos de 2016, inmeras reportagens sobre a qualidade das guas da Baa de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas foram veiculadas pelos meios de comunicao. Dentre as preocupaes, esto os episdios de mortandade de peixes na lagoa, local das provas de remo e canoagem da Rio 2016. Considerando o processo de eutrofizao, explique por que o despejo de esgoto nas guas da lagoa reduz a concentrao de oxignio na gua e explique qual a variao esperada no tamanho das populaes dos organismos vertebrados e no tamanho das populaes dos microrganismos anaerbicos que compem o ecossistema da lagoa.
(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia a crnica Anncio de Joo Alves, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), publicada originalmente em 1954. Figura o anncio em um jornal que o amigo me mandou, e est assim redigido: procura de uma besta. A partir de 6 de outubro do ano cadente, sumiu-me uma besta vermelho-escura com os seguintes caractersticos: calada e ferrada de todos os membros locomotores, um pequeno quisto na base da orelha direita e crina dividida em duas sees em consequncia de um golpe, cuja extenso pode alcanar de quatro a seis centmetros, produzido por jumento. Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comrcio, muito mansa e boa de sela, e tudo me induz ao clculo de que foi roubada, assim que ho sido falhas todas as indagaes. Quem, pois, apreend-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos notcia exata ministrar, ser razoavelmente remunerado. Itamb do Mato Dentro, 19 de novembro de 1899. (a)Joo Alves Jnior. Cinquenta e cinco anos depois, prezado Joo Alves Jnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, j p no p. E tu mesmo, se no estou enganado, repousas suavemente no pequeno cemitrio de Itamb. Mas teu anncio continua um modelo no gnero, se no para ser imitado, ao menos como objeto de admirao literria. Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. No escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condio rural. Pressa, no a tiveste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e s a 19 de novembro recorreste Cidade de Itabira. Antes, procedeste a indagaes. Falharam. Formulaste depois um raciocnio: houve roubo. S ento pegaste da pena, e traaste um belo e ntido retrato da besta. No disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste diz-lo de todos os seus membros locomotores. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa diviso da crina em duas sees, que teu zelo naturalista e histrico atribuiu com segurana a um jumento. Por ser muito domiciliada nas cercanias deste comrcio, isto , do povoado e sua feirinha semanal, inferiste que no teria fugido, mas antes foi roubada. Contudo, no o afirmas em tom peremptrio: tudo me induz a esse clculo. Revelas a a prudncia mineira, que no avana (ou no avanava) aquilo que no seja a evidncia mesma. clculo, raciocnio, operao mental e desapaixonada como qualquer outra, e no denncia formal. Finalmente deixando de lado outras excelncias de tua prosa til a declarao final: quem a apreender ou pelo menos notcia exata ministrar, ser razoavelmente remunerado. No prometes recompensa tentadora; no fazes praa de generosidade ou largueza; acenas com o razovel, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer mesmo no caso de bestas perdidas e entregues. J muito tarde para sairmos procura de tua besta, meu caro Joo Alves do Itamb; entretanto essa criao volta a existir, porque soubeste descrev-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e algum hoje a descobre, e muitos outros so informados da ocorrncia. Se lesses os anncios de objetos e animais perdidos, na imprensa de hoje, ficarias triste. J no h essa preciso de termos e essa graa no dizer, nem essa moderao nem essa atitude crtica. No h, sobretudo, esse amor tarefa bem-feita, que se pode manifestar at mesmo num anncio de besta sumida. (Fala, amendoeira, 2012.) O humor presente na crnica decorre, entre outros fatores, do fato de o cronista
(UNESP - 2017/2 - 2 fase - Questo 2) O movimento sufragista teve incio no final do sculo XIX, no Reino Unido. O que foi o movimento sufragista? Como tal movimento atuava? Relacione o movimento sufragista s mudanas provocadas pelo surgimento e expanso das fbricas.
(UNESP - 2017/2 - 1FASE) Leia a crnica Seu Afredo, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953. Seu Afredo (ele sempre subtraa o l do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: Afredo Paiva, um seu criado...) tornou-se inesquecvel minha infncia porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, no ia muito l das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha me ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada p, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernculo (1) e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho. Tratava-se de um mulato quarento, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupao lingustica perturbava s vezes a colocao pronominal. Um dia, numa fila de nibus, minha me ficou ligeiramente ressabiada (2) quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe queima-roupa, na segunda do singular: Onde vais assim to elegante? Ns lhe dvamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que j me foi dado ouvir. Uma vez, minha me, em meio lide (3) caseira, queixou-se do fatigante ramerro (4) do trabalho domstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse: Dona Ldia, o que a senhora precisa fazer ir a um mdico e tomar a sua quilometragem. Diz que muito bo. De outra feita, minha tia Graziela, recm-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe: Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo: , canto s vezes, de brincadeira... Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha me, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador: No, ele assim mesmo. Isso no falta de respeito, no. excesso de... gramtica. Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarado e falou: Olhe aqui, dona Ldia, no leve a mal, mas essa menina, sua irm, se ela pensa que pode cantar no rdio com essa voz, t redondamente enganada. Nem em programa de calouro! E, a seguir, ponderou Agora, piano diferente. Pianista ela ! E acrescentou: Eximinista pianista! (Para uma menina com uma flor, 2009.) (1) vernculo: a lngua prpria de um pas; lngua nacional. (2) ressabiado: desconfiado. (3) lide: trabalho penoso, labuta. (4) ramerro: rotina. Na crnica, o personagem seu Afredo descrito como uma pessoa
(UNESP - 2017- 2 FASE) Leia o trecho do romance Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis (1839-1908), em que o personagem Bento apresenta ao amigo Escobar os bens de sua famlia. No, agora no voltamos mais [a viver na fazenda]. Olhe, aquele preto que ali vai passando, de l. Toms! Nhonh! Estvamos na horta da minha casa, e o preto andava em servio; chegou-se a ns e esperou. casado, disse eu para Escobar. Maria onde est? Est socando milho, sim, senhor. [...] Bem, v-se embora. Mostrei outro, mais outro, e ainda outro, este Pedro, aquele Jos, aquele outro Damio... Todas as letras do alfabeto, interrompeu Escobar. Com efeito, eram diferentes letras, [...] distinguindo-se por um apelido ou da pessoa [...] ou de nao como Pedro Benguela, Antnio Moambique. E esto todos aqui em casa? perguntou ele. No, alguns andam ganhando na rua, outros esto alugados. No era possvel ter todos em casa. Nem so todos os da roa: a maior parte ficou l. Dom Casmurro, 1994. O enredo de Dom Casmurro transcorre na cidade do Rio de Janeiro, capital do Imprio brasileiro. A partir da anlise do trecho, explicite a viso do proprietrio sobre os seus escravos, as origens desses escravos e os tipos de explorao escravista na sociedade brasileira do sculo XIX.
(UNESP - 2017/2 - 2 fase - Questo 3) Enquanto a filosofia que declara uma raa superior e outra inferior no for finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada; enquanto no deixarem de existir cidados de primeira e segunda categoria de qualquer nao; enquanto a cor da pele de uma pessoa no for mais importante que a cor dos seus olhos; enquanto no forem garantidos a todos por igual os direitos humanos bsicos, sem olhar a raas, at esse dia, os sonhos de paz duradoura, cidadania mundial e governo de uma moral internacional iro continuar a ser uma iluso fugaz, a ser perseguida mas nunca alcanada. E igualmente, enquanto os regimes infelizes e ignbeis que suprimem os nossos irmos, em condies subumanas, em Moambique e na frica do Sul no forem superados e destrudos; enquanto o fanatismo, os preconceitos, a malcia e os interesses desumanos no forem substitudos pela compreenso, tolerncia e boa vontade; enquanto todos os Africanos no se levantarem e falarem como seres livres, iguais aos olhos de todos os homens como so no Cu, at esse dia, o continente Africano no conhecer a Paz. Ns, Africanos, iremos lutar, se necessrio, e sabemos que iremos vencer, pois somos confiantes na vitria do bem sobre o mal. Haile Selassie [Discurso proferido em 1963, ONU] apud Regina Claro. Olhar a frica, 2012. O discurso do imperador etope Haile Selassie destaca algumas noes centrais do Pan-Africanismo. A que filosofia o imperador se refere na primeira linha? Por que Selassie se refere ao regime sul-africano como infeliz e ignbil? Cite duas caractersticas do Pan-Africanismo.
(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia a crnica Anncio de Joo Alves, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), publicada originalmente em 1954. Figura o anncio em um jornal que o amigo me mandou, e est assim redigido: procura de uma besta. A partir de 6 de outubro do ano cadente, sumiu-me uma besta vermelho-escura com os seguintes caractersticos: calada e ferrada de todos os membros locomotores, um pequeno quisto na base da orelha direita e crina dividida em duas sees em consequncia de um golpe, cuja extenso pode alcanar de quatro a seis centmetros, produzido por jumento. Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comrcio, muito mansa e boa de sela, e tudo me induz ao clculo de que foi roubada, assim que ho sido falhas todas as indagaes. Quem, pois, apreend-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos notcia exata ministrar, ser razoavelmente remunerado. Itamb do Mato Dentro, 19 de novembro de 1899. (a)Joo Alves Jnior. Cinquenta e cinco anos depois, prezado Joo Alves Jnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, j p no p. E tu mesmo, se no estou enganado, repousas suavemente no pequeno cemitrio de Itamb. Mas teu anncio continua um modelo no gnero, se no para ser imitado, ao menos como objeto de admirao literria. Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. No escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condio rural. Pressa, no a tiveste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e s a 19 de novembro recorreste Cidade de Itabira. Antes, procedeste a indagaes. Falharam. Formulaste depois um raciocnio: houve roubo. S ento pegaste da pena, e traaste um belo e ntido retrato da besta. No disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste diz-lo de todos os seus membros locomotores. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa diviso da crina em duas sees, que teu zelo naturalista e histrico atribuiu com segurana a um jumento. Por ser muito domiciliada nas cercanias deste comrcio, isto , do povoado e sua feirinha semanal, inferiste que no teria fugido, mas antes foi roubada. Contudo, no o afirmas em tom peremptrio: tudo me induz a esse clculo. Revelas a a prudncia mineira, que no avana (ou no avanava) aquilo que no seja a evidncia mesma. clculo, raciocnio, operao mental e desapaixonada como qualquer outra, e no denncia formal. Finalmente deixando de lado outras excelncias de tua prosa til a declarao final: quem a apreender ou pelo menos notcia exata ministrar, ser razoavelmente remunerado. No prometes recompensa tentadora; no fazes praa de generosidade ou largueza; acenas com o razovel, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer mesmo no caso de bestas perdidas e entregues. J muito tarde para sairmos procura de tua besta, meu caro Joo Alves do Itamb; entretanto essa criao volta a existir, porque soubeste descrev-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e algum hoje a descobre, e muitos outros so informados da ocorrncia. Se lesses os anncios de objetos e animais perdidos, na imprensa de hoje, ficarias triste. J no h essa preciso de termos e essa graa no dizer, nem essa moderao nem essa atitude crtica. No h, sobretudo, esse amor tarefa bem-feita, que se pode manifestar at mesmo num anncio de besta sumida. (Fala, amendoeira, 2012.) O cronista manifesta um juzo de valor sobre a sua prpria poca em:
(UNESP - 2017- 2 FASE) O caricaturista Benedito Carneiro Bastos Barreto, o Belmonte, publicou no jornal paulistano Folha da Noite essas caricaturas de Getlio Vargas. Elas retratam as reaes de Getlio s condies histricas de cada ano de seu governo, de 1930 a 1937. Escolha dois quadrinhos, cite o momento histrico que cada um representa e explique as razes das reaes emocionais de Getlio a esses momentos.
(UNESP - 2017/2 - 1FASE) Leia a crnica Seu Afredo, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953. Seu Afredo (ele sempre subtraa o l do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: Afredo Paiva, um seu criado...) tornou-se inesquecvel minha infncia porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, no ia muito l das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha me ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada p, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernculo (1) e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho. Tratava-se de um mulato quarento, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupao lingustica perturbava s vezes a colocao pronominal. Um dia, numa fila de nibus, minha me ficou ligeiramente ressabiada (2) quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe queima-roupa, na segunda do singular: Onde vais assim to elegante? Ns lhe dvamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que j me foi dado ouvir. Uma vez, minha me, em meio lide (3) caseira, queixou-se do fatigante ramerro (4) do trabalho domstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse: Dona Ldia, o que a senhora precisa fazer ir a um mdico e tomar a sua quilometragem. Diz que muito bo. De outra feita, minha tia Graziela, recm-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe: Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo: , canto s vezes, de brincadeira... Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha me, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador: No, ele assim mesmo. Isso no falta de respeito, no. excesso de... gramtica. Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarado e falou: Olhe aqui, dona Ldia, no leve a mal, mas essa menina, sua irm, se ela pensa que pode cantar no rdio com essa voz, t redondamente enganada. Nem em programa de calouro! E, a seguir, ponderou Agora, piano diferente. Pianista ela ! E acrescentou: Eximinista pianista! (Para uma menina com uma flor, 2009.) (1) vernculo: a lngua prpria de um pas; lngua nacional. (2) ressabiado: desconfiado. (3) lide: trabalho penoso, labuta. (4) ramerro: rotina. Em Mas, como linguista, cultor do vernculo e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho. (1o pargrafo), o cronista sugere que seu Afredo
(UNESP - 2017 - 1 FASE) Leia a crnica Anncio de Joo Alves, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), publicada originalmente em 1954. Figura o anncio em um jornal que o amigo me mandou, e est assim redigido: procura de uma besta. A partir de 6 de outubro do ano cadente, sumiu-me uma besta vermelho-escura com os seguintes caractersticos: calada e ferrada de todos os membros locomotores, um pequeno quisto na base da orelha direita e crina dividida em duas sees em consequncia de um golpe, cuja extenso pode alcanar de quatro a seis centmetros, produzido por jumento. Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comrcio, muito mansa e boa de sela, e tudo me induz ao clculo de que foi roubada, assim que ho sido falhas todas as indagaes. Quem, pois, apreend-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos notcia exata ministrar, ser razoavelmente remunerado. Itamb do Mato Dentro, 19 de novembro de 1899. (a)Joo Alves Jnior. Cinquenta e cinco anos depois, prezado Joo Alves Jnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, j p no p. E tu mesmo, se no estou enganado, repousas suavemente no pequeno cemitrio de Itamb. Mas teu anncio continua um modelo no gnero, se no para ser imitado, ao menos como objeto de admirao literria. Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. No escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condio rural. Pressa, no a tiveste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e s a 19 de novembro recorreste Cidade de Itabira. Antes, procedeste a indagaes. Falharam. Formulaste depois um raciocnio: houve roubo. S ento pegaste da pena, e traaste um belo e ntido retrato da besta. No disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste diz-lo de todos os seus membros locomotores. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa diviso da crina em duas sees, que teu zelo naturalista e histrico atribuiu com segurana a um jumento. Por ser muito domiciliada nas cercanias deste comrcio, isto , do povoado e sua feirinha semanal, inferiste que no teria fugido, mas antes foi roubada. Contudo, no o afirmas em tom peremptrio: tudo me induz a esse clculo. Revelas a a prudncia mineira, que no avana (ou no avanava) aquilo que no seja a evidncia mesma. clculo, raciocnio, operao mental e desapaixonada como qualquer outra, e no denncia formal. Finalmente deixando de lado outras excelncias de tua prosa til a declarao final: quem a apreender ou pelo menos notcia exata ministrar, ser razoavelmente remunerado. No prometes recompensa tentadora; no fazes praa de generosidade ou largueza; acenas com o razovel, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer mesmo no caso de bestas perdidas e entregues. J muito tarde para sairmos procura de tua besta, meu caro Joo Alves do Itamb; entretanto essa criao volta a existir, porque soubeste descrev-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e algum hoje a descobre, e muitos outros so informados da ocorrncia. Se lesses os anncios de objetos e animais perdidos, na imprensa de hoje, ficarias triste. J no h essa preciso de termos e essa graa no dizer, nem essa moderao nem essa atitude crtica. No h, sobretudo, esse amor tarefa bem-feita, que se pode manifestar at mesmo num anncio de besta sumida. (Fala, amendoeira, 2012.) Cinquenta e cinco anos depois, prezado Joo Alves Jnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, j p no p. (2 pargrafo) Em relao ao perodo do qual faz parte, a orao destacada exprime ideia de
(UNESP - 2017/2 - 2 FASE) A campanha pela Constituinte foi extremamente importante para despertar a conscincia cvica dos brasileiros e estimular a organizao da sociedade, criando ambiente propcio manifestao objetiva e clara da vontade do povo quanto a pontos essenciais da organizao poltica e social. [...] A alegao de que ela [a Constituio] demasiado longa e minuciosa esconde, na realidade, a resistncia dos que no querem perder privilgios tradicionais e dos que desejam eliminar da Constituio os direitos econmicos, sociais e culturais, pois tais direitos exigem do Estado um papel positivo, de planejador e realizador, deixando para trs o Estado-Polcia, mero garantidor de privilgios, antes protegidos como direitos. Dalmo Dallari apud Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. Histria do Brasil: uma interpretao, 2008. A partir do depoimento do jurista Dalmo Dallari, cite duas caractersticas do momento histrico em que a Assembleia Constituinte de 1988 foi convocada e duas caractersticas da Carta que ela elaborou.