(UNESP - 2018/2 - 2 fase - Questo 1) [...] os romanos foram bem-sucedidos em unificar as regies por eles conquistadas. Isso no significou, no entanto, que essa imensa rea tenha deixado de possuir costumes e organizaes bem diferentes. [...] Especialmente no que diz respeito lngua, o Imprio permaneceu dividido, e isso acabou influindo nas diferentes culturas. Na prtica, podem-se observar duas grandes reas culturais, a ocidental e a oriental. O lado ocidental adotou como lngua o latim; no oriental, o grego foi a lngua mais difundida. [...] Mais importante do que a lngua era a diversidade religiosa. A maioria dos povos da Antiguidade era politesta, o que significa que admitiam a existncia de vrios deuses. Isso tornava mais fcil conviver com crenas diferentes, o que foi celebrado com a construo do Panteo: um enorme edifcio construdo em Roma para ser templo de todos os deuses. (Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu imprio, 2004.) a) Cite dois fatores que justifiquem a afirmao do texto de que os romanos foram bem-sucedidos em unificar as regies por eles conquistadas. b) possvel afirmar que a tolerncia diversidade religiosa no Imprio Romano era limitada? Explique e exemplifique.
(UNESP - 2018/2 -1 FASE) Examine a tira do cartunista Andr Dahmer. O conselho presente na primeira fala sugere falta de
(UNESP - 2018 - 1 FASE) Leia o excerto do Sermo do bom ladro, de Antnio Vieira (1608-1697), para responder (s) questo(es) a seguir. Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a ndia; e como fosse trazido sua presena um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em to mau ofcio; porm ele, que no era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladro, e vs, porque roubais em uma armada, sois imperador?. Assim . O roubar pouco culpa, o roubar muito grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar as significaes, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macednia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladro e o pirata; o ladro, o pirata e o rei, todos tm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. Quando li isto em Sneca, no me admirei tanto de que um filsofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentena em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evanglicos em tempo de prncipes catlicos, ou para a emenda, ou para a cautela, no preguem a mesma doutrina. Saibam estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que calam que com o que disserem; porque a confiana com que isto se diz sinal que lhes no toca, e que se no podem ofender; e a cautela com que se cala argumento de que se ofendero, porque lhes pode tocar. [...] Suponho, finalmente, que os ladres de que falo no so aqueles miserveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gnero de vida, porque a mesma sua misria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladro que furta para comer no vai nem leva ao Inferno: os que no s vo, mas levam, de que eu trato, so os ladres de maior calibre e de mais alta esfera [...]. No so s ladres, diz o santo [So Baslio Magno], os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vo banhar, para lhes colher a roupa; os ladres que mais prpria e dignamente merecem este ttulo so aqueles a quem os reis encomendam os exrcitos e legies, ou o governo das provncias, ou a administrao das cidades, os quais j com manha, j com fora, roubam e despojam os povos. Os outros ladres roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, so enforcados: estes furtam e enforcam. (Essencial, 2011.) Verifica-se o emprego de vrgula para indicar a elipse (supresso) do verbo em:
(UNESP - 2018/2 - 1 FASE) Leia o conto A moa rica, de Rubem Braga (1913-1990), para responder s questes de 02a 06. A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avanava no batelo1 velho; remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um rincho2 de cavalo; depois, numa choa de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina. Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moa que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabamos que era muito rica, filha de um irmo de um homem de nossa terra. A princpio a olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calas compridas, fazia caadas, dava tiros, saa de barco com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; tinha bebido cachaa, como todos ns, e cantou primeiro uma coisa em ingls, depois o Luar do serto e uma cano antiga que dizia assim: Esse algum que logo encanta deve ser alguma santa. Era uma cano triste. Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa adorao sbita, mas tmida, esse fervor confuso da adolescncia adorao sem esperana, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suter e sapato de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado, que j tinha ido at Europa e tinha um automvel e uma coleo de espingardas magnficas. No a mim, com minha pobre flaubert 3 , no a mim, de cala e camisa, descalo, no a mim, que no sabia lidar nem com um motor de popa, apenas tocar um batelo com meu remo. Duas semanas depois que ela chegou que a encontrei na praia solitria; eu vinha a p, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu corao bateu adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manh fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse bom-dia que no interior a gente d a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. So as duas imagens que se gravaram na minha memria, desse encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respirao animal no ar fino da manh. E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Sria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calas de palm-beach, relgio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha de no saber quase nada, no sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia e falou de minha irm, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara desde a ponta do Boi at perto da lagoa. De repente me fulminou: Por que voc no gosta de mim? Voc me trata sempre de um modo esquisito... Respondi, estpido, com a voz rouca: Eu no. Ela ento riu, disse que eu confessara que no gostava mesmo dela, e eu disse: No isso. Montou o cavalo, perguntou se eu no queria ir na garupa. Inventei que precisava passar na casa dos Lisboa. No insistiu, me deu um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora. Agora eu estava ali remando no batelo, para ir no Severone apanhar uns camares vivos para isca; e o relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moa bonita e rica. Eu disse comigo rema, bobalho! e fui remando com fora, sem ligar para os respingos de gua fria, cada vez com mais fora, como se isto adiantasse alguma coisa. (Os melhores contos, 1997.) 1batelo: embarcao movida a remo. 2rincho: relincho. 3flaubert: um tipo de espingarda. O espanto inicial demonstrado pelo narrador em relao moa deve-se ao fato de ela
(UNESP - 2018/2 - 2 fase - Questo 2) [...] as causas da guerra contra o Paraguai esto na prpria dinmica da construo dos Estados nacionais na regio do Rio da Prata. (Francisco Doratioto. A Guerra do Paraguai, 1991.) a) Quais pases lutaram contra o Paraguai no conflito que transcorreu entre 1864 e 1870? b) Justifique a afirmao de que as causas da guerra contra o Paraguai esto na prpria dinmica da construo dos Estados nacionais na regio do Rio da Prata.
(UNESP - 2018 - 1 FASE) Leia o excerto do Sermo do bom ladro, de Antnio Vieira (1608-1697), para responder (s) questo(es) a seguir. Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a ndia; e como fosse trazido sua presena um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em to mau ofcio; porm ele, que no era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladro, e vs, porque roubais em uma armada, sois imperador?. Assim . O roubar pouco culpa, o roubar muito grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar as significaes, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macednia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladro e o pirata; o ladro, o pirata e o rei, todos tm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. Quando li isto em Sneca, no me admirei tanto de que um filsofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentena em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evanglicos em tempo de prncipes catlicos, ou para a emenda, ou para a cautela, no preguem a mesma doutrina. Saibam estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que calam que com o que disserem; porque a confiana com que isto se diz sinal que lhes no toca, e que se no podem ofender; e a cautela com que se cala argumento de que se ofendero, porque lhes pode tocar. [...] Suponho, finalmente, que os ladres de que falo no so aqueles miserveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gnero de vida, porque a mesma sua misria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladro que furta para comer no vai nem leva ao Inferno: os que no s vo, mas levam, de que eu trato, so os ladres de maior calibre e de mais alta esfera [...]. No so s ladres, diz o santo [So Baslio Magno], os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vo banhar, para lhes colher a roupa; os ladres que mais prpria e dignamente merecem este ttulo so aqueles a quem os reis encomendam os exrcitos e legies, ou o governo das provncias, ou a administrao das cidades, os quais j com manha, j com fora, roubam e despojam os povos. Os outros ladres roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, so enforcados: estes furtam e enforcam. (Essencial, 2011.) Assinale a alternativa cuja citao se aproxima tematicamente do Sermo do bom ladro de Antnio Vieira.
(UNESP - 2018/2 - 2 fase - Questo 3) A foto, de janeiro de 1961, destaca o rompimento das relaes diplomticas entre Estados Unidos e Cuba. a) Caracterize a forma de relacionamento entre as grandes potncias mundiais nesse perodo e o contexto internacional em que tal rompimento se deu. b) Caracterize o contexto interno de Cuba no momento em que o rompimento ocorreu e cite um desdobramento desse rompimento.
(UNESP - 2018/2 - 1 FASE) Leia o conto A moa rica, de Rubem Braga (1913-1990), para responder questo. A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avanava no batelo1velho; remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um rincho2de cavalo; depois, numa choa de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina. Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moa que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabamos que era muito rica, filha de um irmo de um homem de nossa terra. A princpio a olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calas compridas, fazia caadas, dava tiros, saa de barco com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; tinha bebido cachaa, como todos ns, e cantou primeiro uma coisa em ingls, depois o Luar do serto e uma cano antiga que dizia assim: Esse algum que logo encanta deve ser alguma santa. Era uma cano triste. Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa adorao sbita, mas tmida, esse fervor confuso da adolescncia adorao sem esperana, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suter e sapato de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado, que j tinha ido at Europa e tinha um automvel e uma coleo de espingardas magnficas. No a mim, com minha pobre flaubert3, no a mim, de cala e camisa, descalo, no a mim, que no sabia lidar nem com um motor de popa, apenas tocar um batelo com meu remo. Duas semanas depois que ela chegou que a encontrei na praia solitria; eu vinha a p, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu corao bateu adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manh fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse bom-dia que no interior a gente d a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. So as duas imagens que se gravaram na minha memria, desse encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respirao animal no ar fino da manh. E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Sria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calas de palm-beach, relgio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha de no saber quase nada, no sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia e falou de minha irm, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara desde a ponta do Boi at perto da lagoa. De repente me fulminou: Por que voc no gosta de mim? Voc me trata sempre de um modo esquisito... Respondi, estpido, com a voz rouca: Eu no. Ela ento riu, disse que eu confessara que no gostava mesmo dela, e eu disse: No isso. Montou o cavalo, perguntou se eu no queria ir na garupa. Inventei que precisava passar na casa dos Lisboa. No insistiu, me deu um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora. Agora eu estava ali remando no batelo, para ir no Severone apanhar uns camares vivos para isca; e o relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moa bonita e rica. Eu disse comigo rema, bobalho! e fui remando com fora, sem ligar para os respingos de gua fria, cada vez com mais fora, como se isto adiantasse alguma coisa. (Os melhores contos, 1997.) 1batelo: embarcao movida a remo. 2rincho: relincho. 3flaubert: um tipo de espingarda. A fala rema, bobalho! (ltimo pargrafo) sugere, por parte do narrador,
(UNESP - 2018/2 - 2 fase - Questo 4) [...] a dcada de 1970 comeou repressiva, sanguinria e careta. [...] Os poucos heris que tentavam fazer a guerrilha foram se isolando, sem respaldo, nem dos camponeses, nem do proletariado. O pas estava triste e ufanista ao mesmo tempo. [...] Quando, em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi torturado at a morte e os militares tentaram fazer valer a verso de um suicdio, a oposio comeou a pegar fogo outra vez. (Maria Rita Kehl. As duas dcadas dos anos 70. In: Anos 70: trajetrias, 2005.) a) Explique a afirmao O pas estava triste e ufanista ao mesmo tempo. b) Caracterize e exemplifique a transformao que o texto sugere ocorrer no cenrio interno brasileiro aps 1975.
(UNESP - 2018/2 - 1 FASE) Leia o conto A moa rica, de Rubem Braga (1913-1990), para responder questo A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avanava no batelo1velho; remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um rincho2de cavalo; depois, numa choa de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina. Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moa que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabamos que era muito rica, filha de um irmo de um homem de nossa terra. A princpio a olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calas compridas, fazia caadas, dava tiros, saa de barco com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; tinha bebido cachaa, como todos ns, e cantou primeiro uma coisa em ingls, depois o Luar do serto e uma cano antiga que dizia assim: Esse algum que logo encanta deve ser alguma santa. Era uma cano triste. Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa adorao sbita, mas tmida, esse fervor confuso da adolescncia adorao sem esperana, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suter e sapato de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado, que j tinha ido at Europa e tinha um automvel e uma coleo de espingardas magnficas. No a mim, com minha pobre flaubert3, no a mim, de cala e camisa, descalo, no a mim, que no sabia lidar nem com um motor de popa, apenas tocar um batelo com meu remo. Duas semanas depois que ela chegou que a encontrei na praia solitria; eu vinha a p, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu corao bateu adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manh fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse bom-dia que no interior a gente d a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. So as duas imagens que se gravaram na minha memria, desse encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respirao animal no ar fino da manh. E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Sria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calas de palm-beach, relgio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha de no saber quase nada, no sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia e falou de minha irm, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara desde a ponta do Boi at perto da lagoa. De repente me fulminou: Por que voc no gosta de mim? Voc me trata sempre de um modo esquisito... Respondi, estpido, com a voz rouca: Eu no. Ela ento riu, disse que eu confessara que no gostava mesmo dela, e eu disse: No isso. Montou o cavalo, perguntou se eu no queria ir na garupa. Inventei que precisava passar na casa dos Lisboa. No insistiu, me deu um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora. Agora eu estava ali remando no batelo, para ir no Severone apanhar uns camares vivos para isca; e o relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moa bonita e rica. Eu disse comigo rema, bobalho! e fui remando com fora, sem ligar para os respingos de gua fria, cada vez com mais fora, como se isto adiantasse alguma coisa. (Os melhores contos, 1997.) 1batelo: embarcao movida a remo. 2rincho: relincho. 3flaubert: um tipo de espingarda. O pleonasmo (do grego pleonasms, que quer dizer abundncia, excesso, amplificao) uma repetio de unidades lingusticas idnticas do ponto de vista semntico, o que implica que a repetio tautolgica (redundante). No entanto, ela uma extenso do enunciado com vistas a intensificar o sentido. (Jos Luiz Fiorin. Figuras de retrica, 2014. Adaptado.) Verifica-se a ocorrncia de pleonasmo em:
(UNESP - 2018 - 1 FASE) Leia o excerto do Sermo do bom ladro, de Antnio Vieira (1608-1697), para responder (s) questo(es) a seguir. Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a ndia; e como fosse trazido sua presena um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em to mau ofcio; porm ele, que no era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladro, e vs, porque roubais em uma armada, sois imperador?. Assim . O roubar pouco culpa, o roubar muito grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar as significaes, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macednia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladro e o pirata; o ladro, o pirata e o rei, todos tm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. Quando li isto em Sneca, no me admirei tanto de que um filsofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentena em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evanglicos em tempo de prncipes catlicos, ou para a emenda, ou para a cautela, no preguem a mesma doutrina. Saibam estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que calam que com o que disserem; porque a confiana com que isto se diz sinal que lhes no toca, e que se no podem ofender; e a cautela com que se cala argumento de que se ofendero, porque lhes pode tocar. [...] Suponho, finalmente, que os ladres de que falo no so aqueles miserveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gnero de vida, porque a mesma sua misria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladro que furta para comer no vai nem leva ao Inferno: os que no s vo, mas levam, de que eu trato, so os ladres de maior calibre e de mais alta esfera [...]. No so s ladres, diz o santo [So Baslio Magno], os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vo banhar, para lhes colher a roupa; os ladres que mais prpria e dignamente merecem este ttulo so aqueles a quem os reis encomendam os exrcitos e legies, ou o governo das provncias, ou a administrao das cidades, os quais j com manha, j com fora, roubam e despojam os povos. Os outros ladres roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, so enforcados: estes furtam e enforcam. (Essencial, 2011.) No primeiro pargrafo, Antnio Vieira caracteriza a resposta do pirata a Alexandre Magno como
(UNESP - 2018 - 1 FASE) Leia o trecho do conto Pai contra me, de Machado de Assis (1839-1908), para responder (s) questo(es). A escravido levou consigo ofcios e aparelhos, como ter sucedido a outras instituies sociais. No cito alguns aparelhos seno por se ligarem a certo ofcio. Um deles era o ferro ao pescoo, outro o ferro ao p; havia tambm a mscara de folha de flandres. A mscara fazia perder o vcio da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha s trs buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrs da cabea por um cadeado. Com o vcio de beber, perdiam a tentao de furtar, porque geralmente era dos vintns do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e a ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal mscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcana sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, venda, na porta das lojas. Mas no cuidemos de mscaras. O ferro ao pescoo era aplicado aos escravos fujes. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa tambm, direita ou esquerda, at ao alto da cabea e fechada atrs com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. H meio sculo, os escravos fugiam com frequncia. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravido. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia algum de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono no era mau; alm disso, o sentimento da propriedade moderava a ao, porque dinheiro tambm di. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, no raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganh-lo fora, quitandando. Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anncios nas folhas pblicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito fsico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificao. Quando no vinha a quantia, vinha promessa: gratificar-se- generosamente ou receber uma boa gratificao. Muita vez o anncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalo, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse. Ora, pegar escravos fugidios era um ofcio do tempo. No seria nobre, mas por ser instrumento da fora com que se mantm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implcita das aes reivindicadoras. Ningum se metia em tal ofcio por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inaptido para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir tambm, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pr ordem desordem. (Contos: uma antologia, 1998.) Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. (4 pargrafo) Na orao em que est inserido, o termo destacado um verbo que pede
(UNESP - 2018 - 1 FASE) Leia o excerto do Sermo do bom ladro, de Antnio Vieira (1608-1697), para responder (s) questo(es) a seguir. Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a ndia; e como fosse trazido sua presena um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em to mau ofcio; porm ele, que no era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladro, e vs, porque roubais em uma armada, sois imperador?. Assim . O roubar pouco culpa, o roubar muito grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar as significaes, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macednia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladro e o pirata; o ladro, o pirata e o rei, todos tm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. Quando li isto em Sneca, no me admirei tanto de que um filsofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentena em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evanglicos em tempo de prncipes catlicos, ou para a emenda, ou para a cautela, no preguem a mesma doutrina. Saibam estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que calam que com o que disserem; porque a confiana com que isto se diz sinal que lhes no toca, e que se no podem ofender; e a cautela com que se cala argumento de que se ofendero, porque lhes pode tocar. [...] Suponho, finalmente, que os ladres de que falo no so aqueles miserveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gnero de vida, porque a mesma sua misria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladro que furta para comer no vai nem leva ao Inferno: os que no s vo, mas levam, de que eu trato, so os ladres de maior calibre e de mais alta esfera [...]. No so s ladres, diz o santo [So Baslio Magno], os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vo banhar, para lhes colher a roupa; os ladres que mais prpria e dignamente merecem este ttulo so aqueles a quem os reis encomendam os exrcitos e legies, ou o governo das provncias, ou a administrao das cidades, os quais j com manha, j com fora, roubam e despojam os povos. Os outros ladres roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, so enforcados: estes furtam e enforcam. (Essencial, 2011.) No segundo pargrafo, Antnio Vieira torna explcito seu descontentamento com
(UNESP - 2018/2 - 1 FASE) Leia o conto A moa rica, de Rubem Braga (1913-1990), para responder s questes de 02 a 06. A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avanava no batelo1velho; remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um rincho2de cavalo; depois, numa choa de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina. Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moa que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabamos que era muito rica, filha de um irmo de um homem de nossa terra. A princpio a olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calas compridas, fazia caadas, dava tiros, saa de barco com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; tinha bebido cachaa, como todos ns, e cantou primeiro uma coisa em ingls, depois o Luar do serto e uma cano antiga que dizia assim: Esse algum que logo encanta deve ser alguma santa. Era uma cano triste. Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa adorao sbita, mas tmida, esse fervor confuso da adolescncia adorao sem esperana, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suter e sapato de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado, que j tinha ido at Europa e tinha um automvel e uma coleo de espingardas magnficas. No a mim, com minha pobre flaubert3, no a mim, de cala e camisa, descalo, no a mim, que no sabia lidar nem com um motor de popa, apenas tocar um batelo com meu remo. Duas semanas depois que ela chegou que a encontrei na praia solitria; eu vinha a p, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu corao bateu adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manh fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse bom-dia que no interior a gente d a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. So as duas imagens que se gravaram na minha memria, desse encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respirao animal no ar fino da manh. E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Sria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calas de palm-beach, relgio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha de no saber quase nada, no sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia e falou de minha irm, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara desde a ponta do Boi at perto da lagoa. De repente me fulminou: Por que voc no gosta de mim? Voc me trata sempre de um modo esquisito... Respondi, estpido, com a voz rouca: Eu no. Ela ento riu, disse que eu confessara que no gostava mesmo dela, e eu disse: No isso. Montou o cavalo, perguntou se eu no queria ir na garupa. Inventei que precisava passar na casa dos Lisboa. No insistiu, me deu um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora. Agora eu estava ali remando no batelo, para ir no Severone apanhar uns camares vivos para isca; e o relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moa bonita e rica. Eu disse comigo rema, bobalho! e fui remando com fora, sem ligar para os respingos de gua fria, cada vez com mais fora, como se isto adiantasse alguma coisa. (Os melhores contos, 1997.) 1batelo: embarcao movida a remo. 2rincho: relincho. 3flaubert: um tipo de espingarda. Ao se converter o trecho Ela ento riu, disse que eu confessara que no gostava mesmo dela (7pargrafo) para o discurso direto, o verbo confessara assume a forma:
(UNESP - 2018/2 - 2 fase - Questo 5) Considere a imagem e o excerto. (Renato Cruz. http://link.estadao.com.br, 04.09.2011. Adaptado) Aps dcadas de perplexidade e frustrao, o mundo ainda est tentando descobrir o segredo do sucesso dessa regio. Pases de todo o mundo esto fazendo o melhor que podem para copiar sua magia. Na China, por exemplo, empresas de vrios ramos da indstria aumentaram seus investimentos em setores considerados cruciais para o sucesso observado em aproximadamente 64% ao ano, durante os ltimos cinco anos. (Barry Jaruzelski. www2.uol.com.br. Adaptado.) a) O excerto e a imagem dialogam ao retratarem uma importante regio. Identifique que regio essa e cite uma de suas caractersticas. b) Cite dois setores considerados cruciais, nos quais se deveria investir, para tentar copiar a magia dessa regio.