(UNICAMP - 2006 - 2 FASE)Leia a seguinte passagem de Os Cus de Judas, de Antnio Lobo Antunes: Deito um centmetro mentolado de guerra na escova de dentes matinal, e cuspo no lavatrio a espuma verde-escura dos eucaliptos de Ninda, a minha barba a floresta do Chalala a resistir ao napalm da gillete, um grande rumor de trpicos ensanguentados cresce-me nas vsceras, que protestam. (Antonio Lobo Antunes, Os cus de Judas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003, p.213.) a) A que guerra se refere o narrador? b) Por que o narrador utiliza o presente do indicativo ao falar sobre a guerra? c) Que recurso estilstico ele utiliza para aproximar a guerra de seu cotidiano? Cite dois exemplos.
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 11) Leia o seguinte trecho extrado do romance Angstia: Onde andariam os outros vagabundos daquele tempo? Naturalmente a fome antiga me enfraqueceu a memria. Lembro-me de vultos bisonhos que se arrastavam como bichos, remoendo pragas. Que fim teriam levado? Mortos nos hospitais, nas cadeias, debaixo dos bondes, nos rolos sangrentos das favelas. Alguns, raros, teriam conseguido, como eu, um emprego pblico, seriam parafusos insignificantes na mquina do Estado e estariam visitando outras favelas, desajeitados, ignorando tudo, olhando com assombro as pessoas e as coisas. Teriam as suas pequeninas almas de parafusos fazendo voltas num lugar s. (Graciliano Ramos, Angstia. Rio de Janeiro:Ed. Record, 56.ed., 2003, p. 140-1). a) No momento da narrao, a posio social do narrador-personagem difere de sua condio de origem? Responda sim ou no e justifique. b) Na citao acima, o termo parafusos remete ao verbo parafusar que, alm do significado mais conhecido, tambm tem o sentido de pensar, cismar, refletir, matutar. Como esses dois sentidos podem ser relacionados ao modo de ser do narrador-personagem? c) De que maneira o segundo sentido do verbo parafusar est expresso na tcnica narrativa de Angstia?
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 1) (Folha de S. Paulo,11 de outubro de 2004). Na tira de Garfield, a comicidade se d por uma dupla possibilidade de leitura. a) Explicite as duas leituras possveis e explique como se constri cada uma delas. b) Use vrgula(s) para discernir uma leitura da outra.
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 2) Na primeira pgina da Folha de S. Paulo de 22 de outubro de 2004, encontramos uma seqncia de fotos a companhada de uma legenda cujo ttulo : A QUEDA DE FIDEL. No texto da legenda, o jornal explica: O ditador cubano, Fidel Castro, 78, se desequilibra e cai aps discursar em praa de Santa Clara (Cuba), em evento transmitido ao vivo pela TV; logo depois, ele disse achar que havia quebrado o joelho e talvez um brao, mas que estava inteiro; mais tarde, o governo divulgou que Fidel fraturou o joelho esquerdo e teve fissura do brao direito. a) O que a leitura desse ttulo provoca? Por qu? b) Proponha um outro ttulo para a legenda. Justifique
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 3) Foi no tempo em que a Bandeirantes recm-inaugurara suas novas instalaes no Morumbi. No havia transporte pblico at o nosso local de trabalho, e a direo da casa organizou um servio com viaturas prprias. (...) Paran era um dos motoristas. (...) Numa das subidas para o Morumbi fechou sem nenhuma maldade um automvel. O cidado que o dirigia estava com os filhos, era diretor do So Paulo F.C., e largou o verbo em cima do pobre do Paran. Que respondeu altura. Logo depois que a perua chegou ao Morumbi, todo mundo de ponto batido, o automvel pra em frente da porta dos funcionrios, e o seu condutor desce bufando: Onde est o motorista dessa perua? (e l vinha chegando o Paran). Voc me ofendeu na frente dos meus filhos. No tem o direito de agir dessa forma, me chamar do nome que me chamou. Vou falar ao Joo Saad, que meu amigo! E o Paran, j fuzilando, dedo em riste, tonitruou em seu sotaque mais que explcito: Le chamei e le chamo de novo... veado ... veado ... No houve reao da parte ofendida. (Flvio Arajo, O rdio, o futebol e a vida. So Paulo: Editora Senac So Paulo, 2001, p. 50-1). a) Na seqncia (...) e largou o verbo em cima do pobre do Paran. Que respondeu altura, se trocarmos o ponto final que aparece depois de Paran por uma vrgula, ocorrem mudanas na leitura? Justifique. b) O trecho da resposta de Paran Le chamei e le chamo de novo ... chama a ateno do leitor para a sintaxe da lngua. Explique. c) Substitua tonitruou por outra palavra ou expresso.
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 4) Em um jornal de circulao restrita, vemos, na capa, a seguinte chamada: Inspire sade! Sem fumar, respire aliviado! No interior do Jornal, a matria comea da seguinte forma: Desperte o no-fumante que h em voc!, seguida logo adiante de O fumante passivo aquele que no fuma, mas freqenta ambientes poludos pela fumaa do cigarro tambm tem sua sade prejudicada. (Jornal da Cassi Publicao da Caixa de Assistncia dos Funcionrios do Banco do Brasil, ano IX, n. 40, junho/julho de 2004). Levando em considerao os trechos citados, observamos, na chamada da capa, um interessante jogo polissmico. a) Apresente dois sentidos de Inspire em Inspire sade!. Justifique. b) Apresente dois sentidos de aliviado em respire aliviado!. Justifique.
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 5) . Em Angstia de Graciliano Ramos, encontramos seqncias instigantes: Penso em indivduos e em objetos que no tm relao com os desenhos: processos, oramentos, o diretor, o secretrio, polticos, sujeitos remediados que me desprezam porque sou um pobre-diabo. Tipos bestas. Ficam dias inteiros fuxicando nos cafs e preguiando, indecentes. (...) Fomos morar na vila. Meteram-me na escola de seu Antnio Justino, para desasnar, pois, como disse Camilo quando me apresentou ao mestre, eu era um cavalo de dez anos e no conhecia a mo direita. Aprendi leitura, o catecismo, a conjugao dos verbos. O professor dormia durante as lies. E a gente bocejava olhando as paredes, esperando que uma rstia chegasse ao risco de lpis que marcava duas horas. Saamos em algazarra. (Graciliano Ramos, Angstia. Rio de Janeiro: Ed. Record, 56.ed., 2003, p. 8-9 e 15). a) Que processos permitem as construes preguiando e desasnar na lngua? b) Se substituirmos preguiando por descansando e desasnar por aprender, observamos uma relao diferente com a poesia da lngua. Explicite essa diferena. c) O uso de desasnar pode nos remeter, entre outras palavras, a desemburrecer e desemburrar. No Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa (ed. Objetiva, 2001), o verbete desemburrar apresenta como acepes tanto livrarse da ignorncia, quanto perder o enfezamento, e marca sua etimologia como des + emburrar. Seguindo nossa consulta, encontramos no verbete emburrar o ano de 1647 que, segundo a Chave do Dicionrio Houaiss, indica a data em que [essa palavra] entrou no portugus. A fonte dessa datao a obra Thesouro da lingoa portuguesa composta pelo Padre D. Bento Pereyra, publicada em Lisboa. Embora desemburrecer no aparea no dicionrio, encontra mos emburrecer, cuja entrada no portugus, segundo o Houaiss, data de 1998, atestada pela obra de Celso Pedro Luft Dicionrio prtico de regncia verbal, publicada em So Paulo. O verbete desasnar data de 1713, atestado pela obra Vocabulrio portugueza e latino de Rafael Bluteau, publicada em CoimbraLisboa. Tendo em vista as observaes acima apresentadas a presena ou no desses verbetes no dicionrio, as datas de entrada no portugus e as fontes que atestam essas entradas o que se pode compreender sobre a relao entre o dicionrio e a lngua?
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 6) Mario Sergio Cortella, em sua coluna mensal Outras Idias escreve: (...) reconhea-se: a maior contribuio de Colombo no foi ter colocado um ovo em p ou ter aportado por aqui depois de singrar mares nunca dantes navegados. Colombo precisa ser lembrado como a pessoa que permitiu a ns, falantes do ingls, do francs ou do portugus, que tivssemos contato com uma lngua que, do Mxico at o extremo sul da Amrica, capaz de nos ensinar a dizer nosotros em vez de apenas we, nous, ns, afastando a arrogante postura do ns de um lado e do vocs do outro. Pode parecer pouco, mas ns quase barreira que separa, enquanto nosotros exige perceber uma viso de alteridade, isto , ver o outro como um outro, e no como um estranho. Afinal, quem so os outros de ns mesmos? O mesmo que somos para os outros, ou seja, outros! (Mario Sergio Cortella, Folha de S.Paulo, 9 de outubro de 2003). O texto acima nos faz pensar na distino entre um ns inclusivo e um ns excludente. a) Segundo o excerto, nosotros apresenta um sentido inclusivo. Justifique pela morfologia dessa palavra. b) Ns brasileiros falamos portugus apresenta um ns excludente. Explique.
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 7) Leia o seguinte trecho do conto O enfermeiro: Fui at a cama; vi o cadver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos sculos: Caim, que fizeste de teu irmo? (Machado de Assis, Vrias Histrias, em Obra Completa , v. II, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p.532). a) A qual episdio do conto essa citao bblica remete? b) O que leva o narrador a relacionar o episdio narrado com a citao bblica? c) De que modo o desfecho do cont o revela uma outra faceta do narrador-personagem?
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 10) Leia os dilogos abaixo da pea O Velho da Hortade Gil Vicente: (Mocinha) Ests doente, ou que haveis? (Velho) Ai! no sei, desconsolado, Que nasci desventurado. (Mocinha) No choreis; mais mal fadada vai aquela. (Velho) Quem? (Mocinha) Branca Gil. (Velho) Como? (Mocinha) Com centaoutes no lombo, e uma corocha por capela*. E ter mo; leva to bom corao,** como se fosse em folia. que grandes que lhos do!*** * (corocha) cobertura para a cabea prpria das alcoviteiras; (por capela) por grinalda. ** caminha to corajosa *** que grandes aoites que lhe do! (Gil Vicente, O Velho da Horta, em Cleonice Berardinelli (org.), Antologia do Teatro de Gil Vicente. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Braslia, INL, 1984, p. 274). a) A qual desventura refere-se o Velho neste dilogo com a Mocinha? b) A que se deve o castigo imposto a Branca Gil? c) Diante do castigo, Branca Gil adota uma atitude paradoxal. Por qu?
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 8) Leia o poema abaixo, de Manuel Antnio Pina, importante nome da lrica portuguesa contempornea: AGORA Agora diferente Tenho o teu nome o teu cheiro A minha roupa de repente ficou com o teu cheiro Agora estamos misturados No meio de ns j no cabe o amor J no arranjamos lugar para o amor J no arranjamos vagar para o amor agora isto vai devagar Isto agora demora (Manuel Antnio Pina, Poesia Reunida (1974-2001). Lisboa: Assrio Alvim, 2001, p. 49). a) O poema trata de uma transformao. Explique-a. b) Que palavra marca essa transformao? c) Qual a diferena introduzida por essa transformao no tratamento convencional dado ao tema?
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 9) Leia a seguinte passagem do conto A sociedade: O esperado grito do clxon fechou o livro de Henri Ardel e trouxe Teresa Rita do escritrio para o terrao. O Lancia passou como quem no quer. Quase parando. A mo enluvada cumprimentou com o chapu Borsalino. Uiiiiia-uiiiiia! Adriano Melli calcou o acelerador. Na primeira esquina fez a curva. Veio voltando. Passou de novo. Continuou. Mais duzentos metros. Outra curva. Sempre na mesma rua. Gostava dela. Era a Rua da Liberdade. Pouco antes do nmero 259-C j sabe: uiiiiia-uiiiiia! (Antnio de Alcntara Machado, Brs, Bexiga e Barra Funda, em Novelas Paulistanas. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1959, p. 25). a) No trecho acima, a linguagem e as imagens apontam para a influncia das vanguardas no primeiro momento modernista. Selecione dois exemplos e comente-os. b) O ttulo refere-se a mais de uma sociedade presente no conto. Quais so elas?
(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questo 12) Leia este poema de Ceclia Meireles: Desenho Traa a reta e a curva, a quebrada e a sinuosa Tudo preciso De tudo vivers. Cuida com exatido da perpendicular e das paralelas perfeitas. Com apurado rigor. Sem esquadro, sem nvel, sem fio de prumo, Traars perspectivas, projetars estruturas. Nmero, ritmo, distncia, dimenso. Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memria. Construirs os labirintos impermanentes que sucessivamente habitars. Todos os dias ests refazendo o teu desenho. No te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida. E nem para o teu sepulcro ters a medida certa. Somos sempre um pouco menos do que pensvamos. Raramente, um pouco mais. (Ceclia Meireles, O estudante emprico, em Antonio Carlos Secchin (org.), Poesia Completa. Tomo II. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 1455 - 56) a) Tanto o ttulo quanto as ima gens do poema remetem a um domnio do conhecimento humano. Que domnio esse? b) Em que sentido so empregadas tais imagens no poema? c) Esse sentido acaba por ser contrariado ao longo do poema? Responda sim ou no e justifique.
(UNICAMP - 2004 - 2 fase - Questo 12) Considere o seguinte poema de Hilda Hilst: Passar Tem passado Passa com a sua fina faca. Tem nome de ningum. No faz rudo. No fala. Mas passa com a sua fina faca. Fecha feridas, ungento. Mas pode abrir a tua mgoa Com a sua fina faca. Estanca ventura e voz Silncio e desventura. Imvel Garrote Algoz No corpo da tua gua passar Tem passado Passa com a sua fina faca. (Hilda Hilst, Da morte. Odes mnimas. So Paulo: Globo, 2003, p. 72). a) Tendo em vista que esse poema faz parte de uma srie intitulada Tempo-morte, indique de que maneira a primeira estrofe exprime certo sentido de absoluto associado ao ttulo. b) Nesse poema h pronomes de segunda e terceira pessoas. Transcreva uma estrofe em que constem ambas as pessoas pronominais e diga a que se referem.
(UNICAMP - 2004 - 2 fase - Questo 5) Em 28/11/2003, quando muito se noticiava sobre a reforma ministerial, a Folha de S. Paulo publicou uma matria intitulada Lula sugere que Walfrido e Agnelo ficam.. Considerando as relaes entre as palavras que compem o ttulo da matria, justifique o uso do verbo ficar no presente do indicativo.