(UNICAMP - 2007)O poema abaixo pertence ao livro A rosa do povo (1945): Cidade prevista Irmos, cantai esse mundo que no verei, mas vir um dia, dentro em mil anos, talvez mais... no tenho pressa. Um mundo enfi m ordenado, uma ptria sem fronteiras, sem leis e regulamentos, uma terra sem bandeiras, sem igrejas nem quartis, sem dor, sem febre, sem ouro, um jeito s de viver, mas nesse jeito a variedade, a multiplicidade toda que h dentro de cada um. Uma cidade sem portas, de casas sem armadilha, um pas de riso e glria como nunca houve nenhum. Este pas no meu nem vosso ainda, poetas. Mas ele ser um dia o pas de todo homem. (Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo, em Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p.158-159.) a) A quem se dirige o eu lrico e com que finalidade? b) A que cidade se refere o ttulo do poema e como ela representada? c) Que caractersticas centrais de A Rosa do Povo se encontram nesse poema?
(UNICAMP - 2007)Leia a seguinte passagem de A hora e a vez de Augusto Matraga: O casal de pretos, que moravam junto com ele, era quem mandava e desmandava na casa, no trabalhando um nada e vivendo no estado. Mas, ele, tinham-no visto mourejar at dentro da noite de Deus, quando havia luar claro. Nos domingos, tinha o seu gosto de tomar descanso: batendo mato, o dia inteiro, sem sossego, sem espingarda nenhuma e nem nenhuma arma para caar; e, de tardinha, fazendo parte com as velhas corocas que rezavam o tero ou os meses dos santos. Mas fugia s lguas de viola ou sanfona, ou de qualquer outra qualidade de msica que escuma tristezas no corao. (Joo Guimares Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga, em Sagarana. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1984, p.359.) a) Identifique o casal que vive junto com o protagonista da narrativa. b) Explique o comportamento do protagonista no trecho acima, confrontando-o com sua trajetria de vida. c) O que h de contraditrio no descanso dominical a que o narrador se refere?
(UNICAMP - 2007)Leia o dilogo abaixo, de Auto da Barca do Inferno: DIABO Cavaleiros, vs passais e no perguntais onde is? CAVALEIRO Vs, Satans, presumis? Atentai com quem falais! OUTRO CAVALEIRO Vs que nos demandais? Siquer conhec-nos bem. Morremos nas partes dalm, e no queirais saber mais. (Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno, em Antologia do Teatro de Gil Vicente. Org. Cleonice Berardinelli, Rio de Janeiro: Nova Fronteira/ Braslia: INL, 1984, p.89.) a) Por que o cavaleiro chama a ateno do Diabo? b) Onde e como morreram os dois Cavaleiros? c) Por que os dois passam pelo Diabo sem se dirigir a ele?
(UNICAMP - 2007)Os versos abaixo pertencem a O guardador de rebanhos: O que ns vemos das coisas so as coisas. Por que veramos ns uma coisa se houvesse outra? Por que que ver e ouvir seriam iludirmo-nos Se ver e ouvir so ver e ouvir? O essencial saber ver, Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se v, E nem pensar quando se v Nem ver quando se pensa. Mas isso (tristes de ns que trazemos a alma vestida!), Isso exige um estudo profundo, Uma aprendizagem de desaprender E uma seqestrao na liberdade daquele convento De que os poetas dizem que as estrelas so as freiras eternas E as flores as penitentes convictas de um s dia, Mas onde afinal as estrelas no so seno estrelas Nem as flores seno flores, Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores ( Alberto Caeiro, O guardador de rebanhos, em Fernando Pessoa, Obra potica. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p.151-152.) a) Um dos principais recursos retricos empregados na poesia de Alberto Caeiro a tautologia. Identifique um exemplo desse recurso e explique como se relaciona com a viso de mundo de Alberto Caeiro. b) Qual o sentido da metfora empregada entre parnteses? c) Explique o sentido do paradoxo presente no 3. verso da 3. estrofe.
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE )Leia o trecho a seguir e responda: Vov, eu quero ver um cometa! Ele me levava at a janela. E me fazia voltar os olhos para o alto, onde o sol reinava sobre a Saracena. No h nenhum visvel no momento. Mas voc h de ver um deles, o mais conhecido, que, muito tempo atrs, passou no cu da Itlia. Muito tempo atrs...atrs de onde? Atrs de minha memria daquele tempo. E vov Leone continuava: Um dia, voc h de estar mocinha, e eu j estarei morando junto das estrelas. E voc h de ver a volta do grande cometa, l pelo ano de 2010... Eu me agarrava cauda daquele tempo que meu av astrnomo me mostrava com os olhos do futuro e saa de sua casa. Na rua, com a cabea nas nuvens, meus olhos brilhavam como estrelas errantes. S baixavam terra quando chegava casa de vov Vincenzo, o campons. (Ilke Brunhilde Laurito, A menina que fez a Amrica. So Paulo: FTD, 1999, p. 16.) No trecho Muito tempo atrs...atrs de onde? Atrs de minha memria daquele tempo. a) Identifique os sentidos de atrs em cada uma das trs ocorrncias. b) Compare Atrs de minha memria daquele tempo com Atrs do jardim da minha casa. Explique os sentidos de atrs em cada uma das frases.
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE )Leia o trecho a seguir e responda: Vov, eu quero ver um cometa! Ele me levava at a janela. E me fazia voltar os olhos para o alto, onde o sol reinava sobre a Saracena. No h nenhum visvel no momento. Mas voc h de ver um deles, o mais conhecido, que, muito tempo atrs, passou no cu da Itlia. Muito tempo atrs...atrs de onde? Atrs de minha memria daquele tempo. E vov Leone continuava: Um dia, voc h de estar mocinha, e eu j estarei morando junto das estrelas. E voc h de ver a volta do grande cometa, l pelo ano de 2010... Eu me agarrava cauda daquele tempo que meu av astrnomo me mostrava com os olhos do futuro e saa de sua casa. Na rua, com a cabea nas nuvens, meus olhos brilhavam como estrelas errantes. S baixavam terra quando chegava casa de vov Vincenzo, o campons. (Ilke Brunhilde Laurito, A menina que fez a Amrica. So Paulo: FTD, 1999, p. 16.) Releia o seguinte recorte: Eu me agarrava cauda daquele tempo que meu av astrnomo me mostrava com os olhos do futuro e saa de sua casa. Na rua, com a cabea nas nuvens, meus olhos brilhavam como estrelas errantes. S baixavam terra quando chegava casa de vov Vincenzo, o campons. a) Explique as relaes que as expresses cauda daquele tempo, olhos do futuro e cabea nas nuvens estabelecem entre si. b) No mesmo trecho, explique a relao do aposto com o movimento dos olhos do personagem.
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE )Os quadrinhos a seguir fazem parte de um material publicado na Folha de S. Paulo em 17 de agosto de 2005, relativo crise poltica brasileira, que teve incio em maio do mesmo ano. Na tira de Angeli, observamos um jogo de associaes entre a frase-ttulo O imundo animal e a sequncia de imagens. a) A frase-ttulo O imundo animal nos remete a uma outra frase. Indique-a e explicite as relaes de sentido entre as duas frases, fazendo referncia ao conjunto da tira. b) A frase-ttulo O imundo animal sugere um processo de prefixao. Explique.
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE ) Os quadrinhos a seguir fazem parte de um material publicado na Folha de S. Paulo em 17 de agosto de 2005, relativo crise poltica brasileira, que teve incio em maio do mesmo ano. No quadrinho de Caco Galhardo, outras associaes com a crise poltica podem ser observadas. a) Vossa Excelncia me permite um aparte uma expresso tpica de um espao institucional. Qual esse espao e quais as palavras que permitem essa identifi cao? b) A expresso um aparte pode ser segmentada de outra maneira. Qual a expresso resultante dessa segmentao? Explique o sentido de cada uma das expresses. c) Levando em considerao as relaes entre as imagens e as palavras, explique como se constri a interpretao do quadrinho.
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE )Na sua coluna diria do Jornal Folha de S. Paulo de 17 de agosto de 2005, Jos Simo escreve: No Brasil nem a esquerda direita!. a) Nessa afirmao, a polissemia da lngua produz ironia. Em que palavras est ancorada essa ironia? b) Quais os sentidos de cada uma das palavras envolvidas na polissemia acima referida? c) Comparando a afirmao No Brasil nem a esquerda direita com No Brasil a esquerda no direita, qual a diferena de sentido estabelecida pela substituio de nem por no?
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE )Na capa do caderno Alis do jornal O Estado de S. Paulo de 10 de julho de 2005, encontramos o seguinte conjunto de afirmaes que tambm fazem referncia crise poltica do Governo Lula: Getlio tanto sabia que preparou a carta-testamento. Juscelino sabia que seria absolvido pela Histria. Jnio sabia que sua renncia embutia um projeto autoritrio. Jango sabia o tamanho da conspirao ao seu redor. Mdici ia ao futebol, mas sabia de tudo. Geisel sabia que Golbery entendera o projeto de abertura. (...) a) Em todas as afirmaes, h um padro que se repete. Qual esse padro e como ele estabelece a relao com a crise poltica do atual governo? b) Apresente, por meio de parfrases, duas interpretaes para a palavra tanto na frase Getlio tanto sabia que preparou a carta-testamento.
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE )O soneto abaixo, de Machado de Assis, intitula-se Suave mari magno, expresso usada pelo poeta latino Lucrcio, que passou a ser empregada para defi nir o prazer experimentado por algum quando se percebe livre dos perigos a que outros esto expostos: Suave mari magno Lembra-me que, em certo dia, Na rua, ao sol de vero, Envenenado morria Um pobre co. Arfava, espumava e ria, De um riso esprio* e bufo, Ventre e pernas sacudia Na convulso. Nenhum, nenhum curioso Passava, sem se deter, Silencioso, Junto ao co que ia morrer, Como se lhe desse gozo Ver padecer. *esprio: no genuno; ilegtimo, ilegal, falsificado. Em medicina, diz respeito a uma enfermidade falsa, no genuna, a que faltam os sintomas caractersticos. a) Que paradoxo o poema aponta nas reaes do co envenenado? b) Por que se pode afirmar que os passantes, diante dele, tambm agem de forma paradoxal? c) Em vista dessas reaes paradoxais, justifique o ttulo do poema.
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE )O trecho abaixo corresponde ao desfecho do conto A causa secreta, de Machado de Assis: ... Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadver, mas ento no pde mais. O beijo rebentou em soluos, e os olhos no puderam conter as lgrimas, que vieram em borbotes*, lgrimas de amor calado, e irremedivel desespero. Fortunato, porta, onde ficara, saboreou tranqilo essa exploso de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa. (Machado de Assis, A causa secreta, em Obra Completa, Vol. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p. 519.) *em borbotes: em jorros, em grande quantidade a) Explique a reao de Garcia diante do cadver. b) Explique a repetio do adjetivo longa no desfecho do conto. c) Que relao h entre a atitude de Fortunato e o poema Suave mari magno?
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE )A novela de Guimares Rosa Uma estria de amor (Festa de Manuelzo), alm de ser ela prpria uma estria de vaqueiro, contm outras estrias de boi narradas pelas personagens. Uma delas a de Destemida e a vaquinha Cumbuquinha narrada por Joana Xaviel. Ao ouvirem a histria, as pessoas presentes na festa de Manuelzo tm a seguinte reao: Todos que ouviam, estranhavam muito: estria desigual das outras, danada de diversa. Mas essa estria estava errada, no era toda! Ah ela tinha de ter outra parte faltava a segunda parte? A Joana Xaviel dizia que no, que assim era que sabia, no havia doutra maneira. Mentira dela? A ver que sabia o restante, mas se esquecendo, escondendo. Mas uma segunda parte, o final tinha de ter! (Joo Guimares Rosa, Uma estria de amor (Festa de Manuelzo), em Manuelzo e Miguilim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p.181.) a) Por que os ouvintes tm a impresso de que a estria est inacabada? b) Cite outra estria de boi narrada dentro novela. c) A novela narrada em discurso indireto livre, misturando as falas e pensamentos das personagens com a fala do narrador. Identifique uma passagem do trecho citado acima em que essa mistura ocorre.
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE )Leia o seguinte dilogo de O demnio Familiar, de Jos de Alencar: Eduardo Assim, no amas a tua noiva? Azevedo No, decerto. Eduardo rica, talvez; casas por convenincias? Azevedo Ora, meu amigo, um moo de trinta anos, que tem, como eu, uma fortuna independente, no precisa tentar a chasse au mariage. Com trezentos contos pode-se viver. Eduardo E viver brilhantemente; porm no compreendo ento o motivo... Azevedo Eu te digo! Estou completamente blas, estou gasto para essa vida de flaneur dos sales; Paris me saciou. Mabille e Chteaudes Fleurs embriagaram-me tantas vezes de prazer que me deixaram insensvel. O amor hoje para mim um copo de Cliqcot que espuma no clice, mas j no me tolda o esprito! (Jos de Alencar, O demnio familiar (Cena XIII, Ato Primeiro), em Obra Completa, Vol. IV. Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1960, p. 92.) a) O que o dilogo acima revela sobre a viso que Azevedo tem do casamento? b) Em que essa viso difere da opinio de Eduardo sobre o casamento? c) Que ponto de vista prevalece no desfecho da pea? Justifi que sua resposta.
(UNICAMP - 2006 - 2 FASE )Leia o poema abaixo de Antnio Osrio: Ignio Meus versos, desejo-vos na rua, nas padiolas, pelo cho, encardidos como quem ganha com eles a vida, e o papel v escurecendo ao sol, a chuva o manche, a capa ganhe dedadas, a companhia aderente de um insecto, as palavras se humildem mais e chegue a sua vez de comoverem algum que compre, um faminto ajudando. Meus versos, desejo-vos nas bibliotecas itinerantes, gostareis de viajar por aldeias, praias, escolas primrias, despertar o rpido olhar das crianas, estar nas suas mos completamente indefeso e, sobretudo, que no vos compreendam. Oxal escrevam, risquem, atirem no recreio umas s outras como plas* os livros e sonhem, se possvel, com algum verso que sbito se esgueire pela sua alma * plas: bolas a) A quem o eu lrico se dirige no incio de cada estrofe? b) No incio da segunda estrofe, que reaes contraditrias ele espera das crianas? c) Ao final da segunda estrofe, que desejo ele manifesta a respeito do futuro da poesia?